O roubo da relíquia santa do Bonfim

O roubo da relíquia santa do Bonfim

O Bonfim foi incluído semana passada pela Prefeitura de Salvador na lista de bairros com medidas restritivas em consequência do avanço do novo coronavírus. A pandemia não respeita nem a casa do Senhor do Bonfim, o santo mais popular entre os baianos, embora ele já tenha sido desrespeitado outras vezes. Em 2004, por exemplo, sete funcionários da Igreja foram presos depois de confessarem que vinham saqueando, havia anos, o óbulo, o cofre de doações do templo. O roubo mais inusitado, entretanto, ocorreu no século 19 e foi de uma relíquia santa que pertencia à Irmandade do Bonfim.

Relíquias santas são fragmentos de corpos de santos e seus objetos pessoais. A Igreja acredita que onde elas repousam há proteção contra demônios e espíritos maléficos. A razão de sepultamentos em igreja se explica em parte pelo fato dela ser solo sagrado, geralmente, por possuir um dessas relíquias. É um assunto que trataremos com mais detalhes em outra ocasião. Ocorre que a Basílica do Bonfim ganhou uma preciosa relíquia (para quem acredita nos poderes dela) em 1867: nada menos que uma lasca do “santo lenho”, a cruz onde Jesus foi martirizado.

Presente do papa Pio IX ao arcebispo de Salvador, dom Manoel Silveira que a repassou à Irmandade do Bonfim. O lenho estava num relicário dourado cravejado de esmeraldas e suspenso por correntão de ouro. Foi colocado no pescoço da imagem do Senhor do Bonfim situada na capela-mor.

Pouco tempo depois, “mão sacrílega” (nos dizeres do ex-tesoureiro da Irmandade do Bonfim, José Freire de Carvalho) surrupiou o relicário. O ladrão estava interessado na verdade na embalagem. Para completar, os membros da irmandade, em vez de recorrerem à polícia, procuraram um centro espírita para descobrir o destino do objeto.

Um proceder considerado “ridículo” pelo ex-tesoureiro Carvalho. Talvez por isso, misturar as duas religiões, a relíquia nunca foi achada.

 

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Biaggio Talento é jornalista, e colaborador do O Jornal da Cidade.

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