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O uso de feitiços pela classe política

O uso de feitiços pela classe política

A classe política sempre foi atraída pelo sobrenatural e não era raro no passado (e quiçá no presente) a utilização de “trabalhos” na área espiritual como reforço para vencer eleições difíceis e atacar inimigos. Alguns autores famosos que estudaram a formação do povo brasileiro, registraram em suas obras, exemplos dessa intimidade entre políticos e ditos representantes de religiões que vendiam seus supostos poderes para promover a ascensão de quem os contratava.

O pernambucano Gilberto Freyre, no seu livro Ordem e Progresso, conta que entre o final do século 19 e meados do 20 eram comuns os relatos das ligações dos políticos com a classe religiosa, “através de promessas a santos a Igreja, feitiços, despachos e bruxedos”.

Um dos exemplos foi o boato surgido no final da década de 1940 da suposta tentativa de envenenamento do governador de Pernambuco, Barbosa Lima, com uma fritada, preparada pelo seu inimigo politico José Mariano com a ajuda de um cozinheiro, o que se provou ser uma calúnia pouco tempo depois. Mas, na boca do povo, ficou a versão de que se tratou de um atentado sobrenatural.

No livro Religiões do Rio, o escritor Paulo Barreto, conhecido como João do Rio, revela a existência de uma grande intimidade dos feiticeiros cariocas com as figuras importantes do país no século 19 como o imperador d.Pedro Segundo, o Barão de Cotegipe e presidentes da República. Os informantes do escritor disseram que o poder desses sacerdotes era tanto que bastava lançar um olhar quando o presidente aparecia na janela do Palácio e dias depois ele caía doente.

João do Rio indica haver no final do século 19, grupos de feiticeiros de origem africana e outro composto de brasileiros, que alimentavam a guerra espiritual dos políticos: uma facção fazia um trabalho contra determinada figura eminente, enquanto a outra milícia espiritual era contratada para desfazer o feitiço lançado.

O etnógrafo baiano Edison Carneiro, personalidade que tive a honra de biografar, conta uma versão curiosa que recolheu nas suas andanças por Salvador, sobre a morte do senador Ruy Barbosa. Uma feiticeira teria sido contratada por 12 contos de réis pra fazer um trabalho visando eliminar o nosso “Águia de Haia”. Quando ela se dirigiu à sua divindade espiritual para dizer o que queria, ele respondeu que se levasse o projeto adiante ela poderia morrer. Como tinha dado a palavra ao contratante, a feiticeira decidiu arriscar e teria sido responsável pela morte do eminente baiano, mas nas palavras de Edison Carneiro “viajou também”.

Nesse início de campanha eleitoral, alguém duvida que muitos candidatos já procuraram seus mentores espirituais para realizar suas libações e pedir uma ajudadinha pra vencer a eleição? Fazendo, como diz a música de João Bosco, “Um jogo cercado pelos sete lados”?

 

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Biaggio Talento é jornalista, e colaborador do O Jornal da Cidade.

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