O festival de misoginia praticado pelas das ordens mendicantes entre o fim da Idade Média e início da Idade Moderna, funcionava como um verdadeiro apelo para os homens se engajarem na guerra santa contra uma inimiga poderosa: a mulher, considerada a “aliada do diabo”. Era um período em que frades dominicanos e franciscanos estavam preocupados com a decadência da igreja, procurando bodes expiatórios para os desmandos da Santa Sé.
São vários livros e manuais, evidentemente escritos por homens da igreja, listando a “sordidez” feminina, sua infinita capacidade de levar o “macho” da espécie à perdição. Os franciscanos, por exemplo, diziam que além de todos os vícios do homem, as mulheres tinham seus próprios, “diagnosticados pelas Escrituras” como a de ser enganadora, perversa e por aí vai.
Por essa postura, não é difícil entender porque a grande maioria das pessoas queimadas por bruxaria, foi do gênero feminino. “Ela atrai os homens por meio de chamarizes mentirosos para depois arrastá-los para o abismo da sensualidade”, diz o trecho do livro “De Planctu Ecclesiae” (o lamento da igreja, em tradução livre) de 1330, do franciscano Alvaro Pelayo cardeal que presidia a Penitenciária Apostólica na corte de Avignon.
De tudo que esse Pelayo escreveu, creio que o destaque, sem dúvida, é quando ele se aventura a analisar uma posição sexual que a mulher passou a adotar: “Ela coloca-se sobre o homem no ato do amor, vício que teria provocado o dilúvio”. Realmente, muito poderosa essa mulher.
Biaggio Talento é jornalista, e colaborador do O Jornal da Cidade.