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O pecado da simonia

O pecado da simonia

Simonia é uma expressão bíblica que significa o comércio de coisas sagradas. Mas era usada como metáfora por alguns integrantes da classe política. O senador Antonio Carlos Magalhães, por exemplo, gostava da palavra e, tendo oportunidade, a introduzia para florear uma frase de efeito. Em 1999, por exemplo, quando presidia o Senado, ao ser entrevistado pela revista Época e se referir à remuneração dos juízes, declarou: “Remunerar bem o juiz é dever do Estado. O que não pode é o juiz, bem ou mal remunerado, praticar o pecado da simonia, que é negociar com a coisa sagrada. Na Bahia uma juíza conseguiu uma indenização de R$ 3 milhões por supostos danos morais referentes a uma conta de água de R$ 15”.

A lenda sobre o surgimento da simonia é bem curiosa e nos remete a um duelo nos tempos bíblicos. Pedro, o apóstolo cujo nome significa pedra, sobre a qual Jesus disse que construiria sua igreja, teve no confronto com Simão, o mago, um dos episódios que mais gerou versões “paralelas” na história do cristianismo. A Bíblia se refere a esse confronto de forma econômica. Diz que Simão era conhecido em Samaria (no Oriente Médio) por suas mágicas. Certo dia, os apóstolos Pedro e João foram à cidade e começaram a converter as pessoas. Simão, o mago, ficou impressionado e ofereceu dinheiro para que os apóstolos lhes concedessem o mesmo dom de convencimento, o que foi negado. A expressão “simonia” surgiu dessa passagem, significando, portanto, o comércio de coisas santas.

Mas, evangelhos apócrifos e livros populares sobre a vida de santos contam outras versões desse confronto, que teria ocorrido, dizem, em Roma, quando Nero era o imperador e amigo de Simão. Nos vários embates, Pedro sempre humilhava o mago. Num deles, a disputa era para ressuscitar um jovem. Simão fez gestos com as mãos e quem assistia ao evento teve a impressão que a cabeça do defunto se moveu. “Se o morto está vivo que levante”, reagiu Pedro desmascarando a farsa. Na sua vez, o apóstolo ordenou que o rapaz levantasse e andasse, o que teria ocorrido.

O duelo teve um desfecho trágico para Simão. Num outro desafio, ele subiu numa torre e começou a voar. Lá de baixo, Pedro determinou que “os anjos de Satanás que o sustentam nos ares, por Nosso Senhor Jesus Cristo, deixem-no cair”. E Simão se estatelou no chão.

Assim, Simão, o mago morreu, mas deixou como legado a simonia.

 

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Biaggio Talento é jornalista, e colaborador do O Jornal da Cidade.

 

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