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A dificuldade para desfazer um feitiço

A dificuldade para desfazer um feitiço

Infeliz da pessoa vítima de algum “feitiço” no passado. Mais até que no presente. É que, se nos dias de hoje, as pessoas que acreditam nos “trabalhos” podem recorrer a algum especialista nas coisas do sobrenatural para encomendar um antídoto, um contrafeitiço, no passado procurar a cura através do mesmo método, ou seja, com a ajuda de uma bruxa ou um bruxo era considerado tão nocivo para a alma quanto o sortilégio que o alvejou.

Esse assunto gerou debates entre teólogos e autoridades clericais. São Tomás de Aquino, São Boaventura e Santo Alberto, por exemplo, vetavam qualquer tipo de antídoto que implicasse na evocação do “auxílio diabólico”. Eles permitiam apenas exorcismos, orações aos santos e penitência genuína que poderiam remover (ou não) os malefícios de forma “lícita”. Senão, consideravam que era “melhor morrer” pois, pelo menos, a vítima salvaria a alma.

Outra vertente, defendida pelos teólogos Duns Scoto e Henrique de Segúsio, considerava, no entanto, ser possível remover bruxarias com as mesmas armas. “Aquele que destrói a obra do diabo não há de ser partícipe dessa mesma obra”, argumentavam. O método de cura usado era transferir o malefício para a bruxa que o provocou. Na diocese de Constance, Germânia, um bruxo “do bem” chamado Hengst, no século XV, atraía multidões formadas por vítimas de sortilégios à busca de curas. Inquisidores chegaram a lamentar que santuários católicos não atraiam tanta gente...

Isso explica em parte, a oposição da igreja e dos governos a curandeiros e adivinhos na Idade Media. Ou seja, os padres e dirigentes estavam, na verdade, preocupados com a concorrência dos adivinhos, bem mais requisitados pelas pessoas pra resolver seus problemas.. Aliás, como ocorre nos dias de hoje.

 

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Biaggio Talento é jornalista, e colaborador do O Jornal da Cidade.

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