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Conheça o Som Folk de Benjamin, Músico de Conquista que Lança seu Primeiro Disco, ‘Last’ Conheça o Som Folk de Benjamin, Músico de Conquista que Lança seu Primeiro Disco, ‘Last’ Folk de Benjamin

Conheça o Som Folk de Benjamin, Músico de Conquista que Lança seu Primeiro Disco, ‘Last’

Vem da fria Vitória da Conquista um dos lançamentos mais quentes da música baiana em 2014, um biscoito fino ainda pouco conhecido e degustado pelo público, mas que começa a ganhar seus fãs pela internet. É o folk de Diego Oliveira, 28 anos, que em seu projeto assume a alcunha de Benjamin. Há pouco mais de um mês, Diego, melhor, Benjamin, lançou seu primeiro álbum, ‘Last’, com dez composições próprias em inglês que conseguem quebrar em sua audição até mesmo barreiras linguísticas por suas belas melodias. Atualmente residindo em São Caetano do Sul, cidade do ABC paulista, para melhor divulgar sua obra, este músico conquistense conversou com o Bahia Notícias sobre sua formação musical, com influências distintas que vão dos ‘sertanejos’ Elomar e Almir Sater, o pop/rock de Ryan Adams e até mesmo o heavy metal, a importância da internet na divulgação da sua música, além de sua vida em Conquista antes de partir para viver em São Paulo, entre outros assuntos. Leia a entrevista completa.

O conquistense Diego Oliveira, 28, usa a alcunha Benjamin em seu projeto folk, lançou em 2014 seu 1° disco, o Last

Bahia Notícias: Vamos primeiro a pergunta mais óbvia: por que Diego Oliveira é Benjamin em seu projeto folk? E quem é Diego Oliveira?

Benjamin: A distinção entre os nomes fica apenas na escrita mesmo, na titulação, na verdade Benjamin é um retrato e reflexo quase integral do que eu sou como pessoa, o Diego, músico independente, headbanger, com um início de história bem parecido com a maioria dos meninos que fazem música por aí. Eu nasci em Conquista e fui criado por lá. Venho de um lar expressivamente feminino, onde minha mãe era a pedra de tudo, e minha irmã era a pessoa mais especial pra se ter por perto, duas guerreiras. Quando ia pra casa de minha 'vó, minha outra heroína, eu sempre tocava o violão do meu avô que ficava pela casa. Não demorou pra começar uns acordes, lá pelos onze (agora estou com 28 anos), guiado por meu pai, músico maravilhoso, de ouvido absoluto, que provavelmente nunca fez um show em sua vida, e por meu tio, que amava música clássica, e quem me apresentou (o violonista) Dilermando Reis, indiscutivelmente minha primeira influência na coisa de musica.

BN: Li que em seu trabalho como músico e produtor, você já fez trabalhos com artistas renomados a exemplo de Paulinho Pedra Azul, Elomar Figueira Melo, Wander Wildner e Pepeu Gomes. Queria que comentasse como foi sua participação com cada um desses artistas.
Benjamin: Eu tive a felicidade de tocar com alguns artistas muito bons, esses que você citou foram alguns deles, onde em sua maioria eu acompanhei como músico, foi o caso do Pepeu, que acompanhei como guitarrista, em alguns shows em Salvador, numa banda de apoio, e do Wander com quem toquei bateria em um show apenas. No caso do Paulinho e do Elomar, eu participei de forma bem pontual, em estúdio, em algumas produções feitas em parceria com outro artista talentosíssimo de Vitória da Conquista, o Janio Arapiranga, de quem produzi um dos discos mais bonitos que podia, o "Nosso Tempo", terceiro disco do Janio.

BN: Falando em Elomar, vocês dois são de Conquista. Ele, um reconhecido cantor da ‘música sertaneja’ (melhor falar ‘música sobre o sertanejo’). Você um cantor de ‘folk’. Sua aproximação com o ‘folk’ vem mais do estilo ou também está presente nas letras? De alguma forma, você também é influenciado pelo trabalho do Elomar? 

Benjamin: Adorei sua fala ‘música sobre o sertanejo’! Então, eu acredito que a música de Elomar ecoe por Conquista do roçado até o Candeias, não importa em que medida, mas a música dele vai sim ressoar em qualquer conquistense, minha 'vó era da Gameleira como ele, e me contou tanta história dessa gente que quando ouvi a música de Elomar a primeira vez, eu ouvia a voz dela junto, e trago isso comigo até hoje. Ele traz o sertão pra sua música com muita unha, com muita experiência, mesmo quando é fantasioso, eu sou mais um admirador disso tudo, vivi pouco pra achar que posso cantar a respeito, nesse sentido eu sou mais moderno, me permito apreciar suas referências, e trazê-las pra minha música quando convém, quando cabe, mas na maioria do tempo a semelhança que existe entre as duas abordagens é simplesmente o fato de sermos cantadores de nossa crença, seja na vida ou no que for, crença em tudo que 'tá a sua volta mesmo quando você duvida cegamente de tudo isso.

BN: Ainda sobre influências, pelo o que li em matérias sobre seu trabalho, vi referências que vão do violonista Dilermando Reis até o heavy metal, passando pelo regional Almir Sater e o rock/pop de Ryan Adams e Pink Floyd. Como cada um deles entra no “Benjamin” e em sua formação pessoal? Algum outro artista que gostaria de citar neste processo?
Benjamin: Eu não sei o que chega a ser influência musical, ou o que simplesmente me inspira, te digo com certeza que Pink Floyd e Dilermando estão cravados em meu DNA como compositor, porque é o que ouço desde moleque, é a herança da minha mãe na casa de minha 'vó. O Almir foi um artista que entrou na minha vida pra imprimir uma beleza simples, algo que dou muito valor. Acho lindo como ele veio se desvencilhando ao longo de sua carreira de costumes que compositores do mesmo estilo traziam com eles, esse sertanejo que se conhecia, gosto de como ele saiu disso, como ele "Bluegrasseou" todo o seu repertório e cobriu com aquela voz de anjo que tem, o Sater fala muito em meu coração, é um cabra que ainda quero conhecer, sentar e trocar uma idéia. Por último o Ryan Adams, esse foi um daqueles artistas que você conhece e sabe que não vai mais conseguir parar de ouvir. Eu ouço Ryan Adams, virtualmente, todos os dias dos últimos sete anos, e o admiro demais por fazer tudo o que fez na música, e ele realmente fez de tudo, de hip-hop a Heavy Metal, e tudo com extremo bom gosto, pra 'cabar de inteirar o cara é fã "die-hard" de Black Metal, não tem como não respeitar.

BN: Também em uma das suas entrevistas, você diz que “o que mais influência a composição em Benjamin não vem da música”. O que seria então?

Benjamin: Quando falo disso falo das experiências, da vida, como disse antes, Benjamin é a minha história com esse mundo, como vejo a vida se desenrolando entre os dias, as ruas, os rostos. Eu aprecio a experiência das coisas mais do que propriamente a coisa em si, e percebo isso nos outros, na energia das pessoas por ai, como elas interagem com o outro e com os lugares, os espaços, quando vejo isso me sinto inspirado, pro bem ou pro mal, e o que escrevo como Benjamin é um reator disso, dessas experiências, dessa observação.

BN: Como foi o início do projeto em Conquista? E a mudança para São Paulo, como se deu? Como a internet ajudou na divulgação de suas músicas? Que momentos você pode destacar que a internet ajudou nesse caminho?
Benjamin: Tudo começou na Internet, dou muito valor a isso, e acredito que o uso consciente da Internet a justifica com toda a sua grandeza. Eu gravei umas musicas com um gravador portátil, e sem mixagem alguma, e separei algumas pra lançar como um EP, sem reparo algum, literalmente cheio de erros, subi as músicas pra Web e divulguei entre amigos, esses foram gostando e ouvindo, e compartilhando entre eles e outros, e com um pouco de coragem eu enviei pra alguns outros lugares, foi entre essas manobras que conheci o portal Folk Music Brazil, regido pela Juliana Guinsani. A Juliana me respondeu de maneira super respeitosa e apoiadora, o que já era uma vitória pra mim, visto que o EP foi gravado em condições precárias e não tinha lá uma das melhores apresentações, mesmo assim ela em toda a sua sensibilidade abriu espaço e logo convidou pra uns shows em SP, vim por uma semana, toquei em ótimos lugares, e resolvi me mudar de vez, encarar a coisa, desde então tem sido sempre esse trabalho, que mesmo difícil sempre compensou, a mim e a ela, que assumiu de vez as rédeas de tudo, e eu não poderia estar mais feliz com o rumo que tem tomado.

BN: Seu primeiro álbum, o “Last”, foi lançado primeiro com exclusividade pela plataforma de streaming Deezer e agora também está disponível em outras plataformas. Por que essa escolha de lançar por uma plataforma de streaming e não antes de forma física ou até mesmo disponibilizar para download? Quando sai e onde o disco nas outras plataformas? 

Benjamin: O disco foi lançado pelo selo M4Music, que nesse segundo semestre está trazendo ótimos lançamentos pro mercado, é um selo recente, fruto de mais uma das manobras da Juliana, que já vem conseguindo parcerias muito expressivas, uma delas foi com o Deezer. Eles me convidaram pra fazer um lançamento exclusivo com eles, 15 dias antes do disco sair em outras lojas on-line, fizeram a oferta pra Juliana através do selo, e com isso a parceria se consolidou, foi uma experiência muito válida pra mim. Escolhemos essa estratégia de lançamento porque o Deezer é aberto, o lançamento foi mundial, e as pessoas poderiam ouvir o disco na íntegra de forma gratuita. Fisicamente o disco vai ser lançado logo, e por agora ele pode ser comprado no iTunes e Amazon, e dessa forma estamos conseguindo cobrir todo tipo de consumidor.

BN: Como estão os convites nacionais e internacionais para shows? Salvador, já esteve na cidade? Algum show na lista? Já se apresentou aqui?
Benjamin: Salvador ainda não me chamou pra tocar. Mas vai, eu tô mandando energia pra lá (risos). Tenho alguns shows marcados sim, alguns deles ainda não posso divulgar por ser em festivais. Recentemente, toquei em uma noite folk na Casa do Mancha, junto com os artistas Arthur Matos e Filipe C., e em Agosto aconteceu a segunda edição do Inverno Cultural do Folk Music Brazil, na Livraria Cultura, em SP, toquei no dia 9. Um dia antes, dia 8, toquei no MIS (Museu da Imagem e do Som), também em SP. Sei que existem outras datas pros próximos meses, mas eu nunca me lembro de todas, mas sempre apareço (risos). Fora do Brasil existe o interesse de algumas casas e produtoras, e a gente 'tá analisando o melhor momento, eu acredito que em 2015 aconteça.

BN: Por que a predominância de letras em inglês? Você compõe diretamente na língua inglesa? Pensa em fazer algo em português? Acha que isso afasta parte do público?

Benjamin: Eu escrevo em inglês, o que acontece nisso tudo é que a maioria de minhas músicas vem de poemas que escrevi, ou versos que deixei soltos em cadernos por aí, e alguns deles se acham na música, mas quando penso em música pro Benjamin, a escrita vem em inglês naturalmente, mesmo que beba na fonte daquele poema antigo que não virou nada. Sobre escrever em inglês no Brasil, acho que não afasta o público, a música desperta o interesse do ser humano pelo corpo, pelo pulsar, depois rebate n'alma, no intelecto, mas é algo muito visceral pra se dispor dessas amarras, acho que quando não gostam realmente não gostariam de jeito algum, em língua alguma, e quando gostam ouvem, mesmo quem não entendam, me pedem a letra e tudo se resolve. Essas músicas eu escrevo só, no geral, mas nesse disco eu contei com a ajuda de minha noiva em algumas músicas, ela me deu versos maravilhosos, e acompanhou muito de perto o processo de gravação de todo o disco, então a impressão dela era sempre algo que eu buscava na decisão final. Nesse disco tem também uma música inspirada num poema de Querino, poeta também de Conquista, li esse poema e deu vontade de escrever a música, saiu muito rápido e até hoje dividimos muitas conversas sobre isso.

BN: Que outros artistas de “folk” nacionais você pode indicar? Identifica-se com iniciativas de artistas como o Vanguart e a Mallu Magalhães, que começaram no folk em inglês e a cada dia se aproximam mais de influências da MPB?
Benjamin: Indico os artistas que conheço, que sei que são do corre – o Arthur Matos de Sergipe que acabou de lançar um disco lindo demais, Rafael Elfe do Rio que tem tocado bastante divulgando o seu “Perro Negro” e que deve vir esse ano ainda com novidades, o Phillip Nutt, que agora vem experimentando em outros estilos e isso deve aparecer no seu próximo disco– inclusive esses três artistas são também do selo M4Music. Na Bahia tem também outros artistas de Folk que são muito bons – o Diego Schaun, que também tem disco novo na praça, e o malungo Ian Kelmer, que vem dividindo seu trabalho entre a Irlanda e o Brasil, enfim, tem uma moçada ótima por aí. Sobre começar em Folk cantando em inglês e ir partindo pra MPB, cara, eu nem sei onde a barreira cai, não acredito que uma mudança brusca de estilo seja algo de todo mal, se isso acontecer honestamente 'tá valendo. Não sei se pra esses dois artistas que você citou foi uma coisa natural, uma manobra comercial necessária, ou mesmo uma maturação artística como podemos atribuir à Mallu, sei que se soar bem não importa o resto, no caso da Mallu Magalhães eu vejo uma beleza muito grande no que ela tem feito, mas ouvi pouco, Vanguart eu nunca ouvi muito, mas sei que tem tempo de banda, espero que sejam verdadeiros, se for 'ta tudo certo.

Capa do disco "Last"

BN: Como tem sido a vida em São Paulo, uma fácil adaptação? Você já morou fora de Conquista antes? Ainda vai a Conquista? Há reconhecimento do seu trabalho por lá?
Benjamin: Vou à Conquista menos do que gostaria, de verdade, morro de saudades, especialmente de minha família que 'tá por lá, mas a vida em SP me consumiu, positivamente. Aqui comecei uma vida novinha, e ela tem sido difícil como tem de ser, mas tenho tido presentes cada vez mais doces pra compensar. Morei fora por períodos curtos, nunca fora do Brasil, em outros estados apenas, e a experiência era tocar, nada como o que vivo hoje, então chego aqui de peito aberto, mas sou de fácil adaptação, tenho trabalhado muito e isso gera outra perspectiva. Conquista veio comigo no coração, e os amigos ficaram por lá, junto ficou sim algum reconhecimento, pelo qual sou grato até o ultimo fio de cabelo, pessoas que admiro muito me admiram também, e isso é muito bonito.

BN: O que a capa de “Last” representa?
Benjamin: A capa de Last representa o encontro, um ponto de sintonia entre formas diferentes de vida. A fotografia, do Caio Resende, (outro poeta de Conquista, irmão eterno) me dá essa sensação, os elementos dessa foto, pensando que elas estão num cruzamento de avenida, me traz muitas imagens à cabeça, como quando a gente para num semáforo e espera, um ato diário tão comum, e nada nosso, e que desperta tantas e tantas e tantas angústias no homem, por algo tão simples e bonito que é esperar, enfim… Chego a falar dessa cena num verso em “Ceilings,” música que abre o disco, onde digo "traffic lights put queens and kings on hold" (nota do editor: “semáforos colocam reis e rainhas em espera, em tradução livre”). É por aí, o disco inteiro segue essa vibe.

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