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Destaque do Cinema Baiano, Thiago Gomes Lança Filme no Canal Brasil e Prepara curta para Festivais Destaque do Cinema Baiano, Thiago Gomes Lança Filme no Canal Brasil e Prepara curta para Festivais Destaque do Cinema Baiano, Thiago Gomes

Destaque do Cinema Baiano, Thiago Gomes Lança Filme no Canal Brasil e Prepara curta para Festivais

O jovem cineasta Thiago Gomes, nascido em Feira de Santana, é um dos novos nomes de destaque do audiovisual baiano. Tem em seu currículo trabalhos como assistente de direção do cultuado diretor local Edgard Navarro no longa-metragem “O Homem Que Não Dormia” e assistente de Joel Zito Araújo e Lázaro Ramos, no Programa "Espelho" exibido no Canal Brasil, nas temporadas de 2013 e 2014. Formado em cinema pela FTC, pós-graduado em roteiros e com passagem pelo curso de Direção Teatral da Ufba, Thiago está em pleno fervor criativo, com pequenos, médios e grandes projetos.

Este ano, ele estreou no campo de longa-metragem com “Tudo Que Move”, um trabalho produzido pela Lata Filmes (RJ) e exibido em meados de julho no Canal Brasil, que também assina a coprodução do projeto. O filme, que tem como ponto de partida a vida do autor e o ciclo que se fecha aos 30 anos, conta com depoimentos de personalidades com o dobro da sua idade, como o teatrólogo Amir Haddad, o cirurgião plástico Ivo Pitanguy, escritora Nélida Piñon, o cineasta Edgard Navarro, a cantora Beth Carvalho, e dos atores Zezé Motta, Elke Maravilha, Stênio Garcia e Hugo Carvana. O filme pode ainda ser visto nesta terça (22), através do serviço Now, da Net.

Thiago Gomes, jovem cineasta baiano estreante em longas com “Tudo que Move”

Em 2013, o cineasta lançou o curta-metragem “Braseiro”, inspirado na obra teatral de Marcos Barbosa. O filme, que levou quatro anos para ser concluído e contou com a colaboração do diretor Edgard Navarro, conta a história de uma família nordestina e representa tantas outras que vivem onde as leis são relativas para os mais fortes, e a justiça é feita com as próprias mãos. Para o cinema, a cidade escolhida como plano de fundo dessa história sertaneja foi Milagres, no interior da Bahia, que já havia sido cenário para filmes de grandes nomes como Glauber Rocha e Walter Salles. “Braseiro” já levou nove prêmios, entre eles o de Melhor curta pelo juri da Associação Baiana de Cinema e Vídeo (ABCV) no Panorama Internacional Coisa de Cinema em 2013; Melhor Roteiro no Festival internacional World Auteur Shorts Film Festival 2013 e de Melhor Filme no IV Festival de Cinema Baiano (Feciba). O próximo desafio para a produção é o Festival Sergipe de Audiovisual (Sercine), que acontece até 25 de julho em Aracaju.

Seu próximo projeto que acaba de finalizar é o curta “Cassiano”, um documentário autoral para TV, mais uma parceria com Lata Filmes (RJ) e o Canal Brasil. O filme protagonizado pelo ator Flávio Bauraqui será lançado em festivais ainda este ano. Thiago ainda está envolvido atualmente em outros três projetos de longa-metragem, cada um em uma fase diferente. Para falar sobre o audiovisual baiano e do processo de produção dos seus projetos, o cineasta concedeu entrevista ao Bahia Notícias.

BN: Sobre “Tudo Que Move”, como você transformou um projeto autoral em uma coprodução com um canal de TV?
Thiago Gomes: O projeto surgiu no final de 2013, como uma ideia minha e de Tânia Rocha, sócia da Lata Filmes, produtora carioca que acolheu como projeto a ideia de fazer um filme sobre esse cara (que sou eu), que ao acabar de fazer trinta anos vai conversar com homens e mulheres com o dobro ou mais idade que ele, sobre as nossas mudanças na vida, numa espécie de jornada. Este foi um projeto feito em coprodução com o Canal Brasil, uma exibidora com perfil de projetos mais autorais, com mais liberdade artística para os realizadores. Cada projeto tem suas característica, perfil de público, linguagem, então é preciso saber identificar quais os melhores caminhos de realização e exibição. O legal desse projeto é que é um documentário autoral, mas feito pra televisão.

Stênio Garcia é uma das personalidades que participam de "Tudo Que Move"

BN: Como foi esse contato e a parceria com o canal Brasil ?
TG: Eu e Tânia Rocha escrevemos um projeto do filme e apresentamos ao Canal Brasil, que gostou da ideia e virou coprodutor do filme.

BN: Porque usou essa estratégia de exibir primeiro na TV e não nos circuitos de festivais, foi uma contrapartida?
TG: Na verdade, a exibição na TV, em julho, já foi programada durante o acordo de coprodução. Foram somente duas exibições neste primeiro momento. A quantidade de mensagens que recebemos de pessoas querendo rever, ou que não assistiram e queriam ter acesso ao filme, o chamado boca-a-boca, nos ajuda a saber como ele sensibiliza as pessoas, o que nos mobiliza a trabalhar para que o filme tenha a melhor carreira possível e possa ser visto por mais pessoas. É um filme com um ponto de partida bem pessoal, mas que acaba falando pra muitos, tocando as pessoas. Foi muito boa a repercussão dessas exibições pelo Canal Brasil, serviu quase como uma exibição teste.

BN: Você pretende inscrever o filme em festivais?
TG: Sim, já estamos inscrevendo. Não dá pra falar em quais festivais, porque as seleções não foram divulgadas, mas alguns deles são específicos para documentários, no Brasil e no exterior. Estamos aguardando. Hoje estamos com ele na busca do circuito de festivais e, claro, da distribuição.

BN: Quando e onde ele será exibido novamente?
TG: Ele será exibido através do serviço NOW, da Net, até esta terça (22 de julho). Além disso, ainda não temos novas exibições marcadas, torcemos para que seja em breve!

Confira o trailer de "Tudo Que Move":

BN: Agora falando de “Braseiro”, de quem foi a ideia e porque gravar essa adaptação do texto teatral de Marcos Barbosa?
TG: Em 2005, eu assisti a uma montagem da peça, dirigida por Felipe Assis. Imediatamente quis fazer esse filme, na época eu estava concluindo a graduação em cinema e fazendo uma pós-graduação em roteiros e, por coincidência, Marcos Barbosa (confira o texto teatral) foi meu professor na pós e depois também na faculdade de Direção Teatral, o projeto foi sendo formatado ao longo de alguns anos.

BN: O enredo da história criada por Barbosa se passa em uma cidade qualquer do sertão nordestino, porque a escolha de Milagres para rodar o filme?
TG: A peça é bem aristotélica, acontece toda dentro da casa, com apenas uma pequena introdução em off, mas no filme eu optei por uma estrutura diferente, realizei cenas externas que no original eram só narradas e temos outras que foram criadas pro filme e por isso eu precisava de um ambiente que tivesse a casa em ruínas, da qual o texto falava e que tinha uma força tremenda, mas um local que também tivesse um cenário externo igualmente forte. Durante as pesquisas, fomos em muitas cidades do interior, eu e Susan Kalik, a produtora executiva do filme, e não sentíamos que era aquela até que chegamos a Milagres, foi perfeito, e por essas felizes coincidências, a cidade tinha uma relação estreita com o cinema, tendo sido cenário para filmes de Glauber, Ruy Guerra, Nelson Pereira e Walter Salles.

A cidade de Milagres, no interior da Bahia, foi escolhida para as filmagens do filme

BN: Você convidou a jovem diretora de teatro Fernanda Julia para participar do projeto, foi importante esse apoio para adaptar o texto teatral para o cinema? Como foi a participação dela?
TG: Na verdade, a adaptação é minha com colaboração de Susan Kalik e Edgard Navarro. Fernanda Júlia foi a assistente de direção ligada ao elenco, o projeto era bem segmentado, tinha ainda o Paulo Fernandes e o Valter Bruno que faziam a ponte com a produção e a técnica.

BN: Quanto tempo e qual orçamento foi necessário para concluir o filme?
TG: O filme foi contemplado no edital de produção de curta-metragens do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (Irdeb) com R$ 50 mil. Além destes, mais R$ 10 mil de investimento próprio e mais R$ 10 mil de investimento feito pela coprodutora do filme para a finalização, mas te garanto que esse valor é muito aquém do que realmente custou esse filme. A nossa arte ainda é tirar leite de pedra, fazer um virar cinco. Foram trinta e cinco pessoas alojadas por 10 dias em uma escola pública, a equipe total era de umas 60 pessoas, enfim, dá pra imaginar. Preparamos tudo na cidade em cinco dias e rodamos em cinco dias. Entre inscrição no edital, em 2009, e lançamento, em 2013, foram quatro anos, além de ser complexo em sua produção, nós primamos muito pela finalização (cor, som, mixagem), o que demandou mais tempo.

Cena do filme "Braseiro", que aborda as relações de poder no nordeste do país

BN: Como foi feita a escolha do elenco?
TG: Neyde Moura e Rui Manthur fazem os mesmos papéis que fizeram no teatro, nunca pensei em outros atores, adoro o que eles fazem. Sérgio Telles fazia o garoto, era um homem fazendo um menino, isso funcionava muito bem no teatro, mas no cinema ele virou o Zé seco, o antagonista, personagem que existe, mas que não aparece na peça, só é citado. Evelyn Buchegger eu conheci durante um trabalho e a convidei, já Ícaro Vilanova é um garoto incrivelmente talentoso, filho do ator Carlos Betão. Me falaram dele, fui conferir e não teve outra. E tem ainda outros atores como Mariana Damásio, Bruno de Sousa e Gil Teixeira, que escrevi pra eles as cenas, e figurações especiais de Francisco Xavier (ator/produtor), Luiz Guimarães (ator/iluminador) e Leonardo Brito (cenotécnico), que são artistas e técnicos parceiros na Kalik Produções e deram vida aos jagunços do filme.

BN: Você se cercou de uma equipe de jovens talentos pra fazer essa produção. Como você escolhe o pessoal com quem trabalha?
TG: As escolhas foram feitas na tentativa sempre de juntar afetividade, competência e profissionalismo. Quando você consegue juntar tudo isso numa equipe é lindo e foi muito bom porque consegui trabalhar com amigos e amigos dos amigos.

Amigos do diretor fizeram a figuração no curta-metragem

BN: O filme foi exibido para o público baiano no fim de 2013, como funciona a divulgação?
TG: A primeira exibição, em Salvador, foi no Panorama Internacional Coisa de Cinema do ano passado e não podia ser melhor, a exibição foi linda. Foi a primeira vez que a equipe assistiu. Eu tinha receio, ele já tinha ganhado uns prêmios, mas eu ainda não tinha conversado muito sobre o filme, ainda não tinha ouvido as pessoas falarem sobre ele, ainda vinham timidamente falar comigo, era uma coisa só dos mais próximos, então, a recepção ainda era uma incógnita até ali, era a hora de mostrar pra todo mundo, aos amigos e à classe. E foi bacana, pois tanto no Panorama quanto no Feciba os prêmios foram especiais pra mim por isso. Um foi o Prêmio de Melhor Curta Baiano do Júri ABCV e o outro de Melhor Filme do Júri Técnico, e ambos traduzem um reconhecimento da classe cinematográfica, que respeito por demais.

BN: Como você vê a atual produção baiana de cinema?
TG: Acho que a Bahia tem essa característica da pluralidade, seja na música, na dança, no teatro ou nas artes plásticas, e no cinema não pode ser diferente. Temos gerações se encontrando, estilos de filmar diferentes, diretores mais autorais ou menos autorais, ambos fazendo. Muita gente boa pensando e fazendo, tem mais liberdade, e mais chance, eu acho. Tudo isso e mais um pouco torna a Bahia um caldeirão efervescente, mas a bem da verdade é que ainda produzimos pouco na tradição do longa, conseguimos menos ainda distribuir de maneira mais competitiva e temos consciência desse gargalo. Os realizadores estão mais preparados e os que estão conseguindo ultrapassar as barreiras têm tido resultados positivos, mas ainda são poucos. Existem projetos maravilhosos que eu tenho conhecimento e que demorarão muito tempo para serem feitos, ou nunca serão, pois a nossa roda de realização de longas gira lentamente e pérolas vão se perdendo no caminho, talvez isso tenha que mudar pra esse caldeirão transbordar. Esse é um sentimento que tenho.

Veja o trailer do filme:

BN: O que falta para que mais filmes de qualidade sejam produzidos e difundidos na Bahia?
TG: A Bahia produz filmes de muita qualidade e não é de hoje, o que falta para produzirmos mais e difundirmos mais é dinheiro, não é outra coisa. O que penso é que precisamos de mais investimentos para que façamos mais filmes, dessa maneira o mercado fica seguro e constante. Outro ponto é que precisamos entrar no mercado televisivo, canais fechados, somos muito tímidos ainda nesse setor e esse mercado nos parecem distantes.

BN: Você tem novos projetos? Quais são?
TG: Esse ano lanço nos festivais o curta-metragem Cassiano, com o Flávio Bauraqui, e estou trabalhando em outros três projetos de longa-metragem, cada um numa fase diferente, um deles inclusive com o próprio Marcos Barbosa, um roteiro dele e de Claudia Barral, mas também não posso falar muito sobre eles, senão pode dar “zica”. E tenho tantos outros, tenho muitos esperando a hora certa, afinal, cinema é sonho também.

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