A Livraria Cultura pode ter a falência decretara ainda esta semana após o pedido para apresentar um novo plano de recuperação judicial ter sido negado pelo juiz Marcelo Sacramone, da 2ª Vara de Falências de São Paulo. A decisão judicial obriga ainda a empresa a comprovar o cumprimento do plano de recuperação em até cinco dias. O prazo foi iniciado na última sexta-feira (18).

Segundo informações do portal IG, a dívida da livraria gira em torno de R$ 285 milhões. Os credores também já rejeitaram a possibilidade de um novo plano.

Ainda conforme a publicação, a Livraria Cultura alega que o plano de recuperação precisa ser revisto, por causa do impacto causado pela pandemia do novo coronavírus no fluxo financeiro. A empresa afirmou que irar recorrer da decisão.

Caso a falência da Cultura seja decretada, todo o dinheiro será utilizado para quitar as dívidas já existentes.

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O grupo Roupa Nova se apresenta gratuitamente nesta quarta-feira (14) na Praça da Matriz, em Lauro de Freitas, às 21h30, como parte das homenagens ao Padroeiro Santo Amaro de Ipitanga. Em duas horas de apresentação, a banda promete relembrar grandes sucessos, como "Whisky a Go-go", "Dona" e "A Viagem". A homenagem, que acontece há 407 anos, este ano tem uma ampla programação, que se estende até quinta-feira (15), dia do padroeiro, com uma missa solene, além de dois shows de música gospel, com Irmã Carol e Cassiano, às 20h.

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O Réveillon já passou, mas a programação gratuita para celebrar o Ano-Novo segue em Salvador. Hoje, a partir das 18h, na Barra, começa o Festival Salvador Jazz, evento promovido pela prefeitura e totalmente dedicado à música instrumental. As atrações do primeiro dia são o bandolinista carioca Hamilton de Holanda, o guitarrista mineiro Toninho Horta e os grupos baianos Garagem e o I.F.Á. Afrobeat.

“É importante quebrar paradigmas. A ideia é sair da história da música cantada e partir para mostrar a diversidade de Salvador”, afirma o curador do Salvador Jazz e diretor comercial da Orkestra Rumpilezz, Alex Pinto, 38 anos.

“Adoro Salvador, é um lugar que tenho um carinho muito grande. Conseguir inserir esse tipo de música no dia a dia das pessoas é uma iniciativa fantástica. Fico orgulhoso”, elogia o bandolinista Hamilton de Holanda, 38. Em sua apresentação, Hamilton aposta em músicas inéditas, releituras e “muita improvisação”. Ele estará acompanhado por André Vasconcelos (contrabaixo) e Thiago da Serrinha (percussão).

Em seguida, a atração é o guitarrista Toninho Horta. Internacionalmente reconhecido, Horta mostra clássicos extraídos de seus 26 discos. “Acho ótimo trazer uma música diferente para o Farol, acostumado com trios elétricos. A cidade precisa de eventos que tragam diversidade”, diz Rowney Scott, 50, que integra o Garagem, primeira atração do dia. Por fim, o público confere o afrobeat da banda I.F.Á.

Amanhã, também às 19h, a festa reúne o violonista gaúcho Yamandu Costa, o multi-instrumentista alagoano Hermeto Pascoal, o pianista mineiro Wagner Tiso e a Sanbone Pagode Orquestra, representante da Bahia.

“Acho maravilhoso. A gente fica numa felicidade total de reunir essa turma toda. Nessa coisa que a gente ama fazer. É muito bom começar o ano dessa forma”, diz Yamandu, 34, que se apresenta com o violão 7 cordas e comanda um trio de violões e acordeom formado por Arthur Bonilla, Guto Wirtti e Samuel Costa.

Outra atração do sábado é Hermeto Pascoal, que vem acompanhado de banda e da mulher, a cantora Aline Morena, e criará o repertório na hora, com participação do público. Para encerrar o segundo dia do Salvador Jazz, a Sanbone Pagode Orquestra mostra seu pagode com arranjo sinfônico, com regência do maestro Hugo Sanbone.

Instrumental
Domingo, último dia do evento, as atrações são Ed Motta, Orkestra Rumpilezz e Núcleo de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia (Neojiba). No show Ed Motta Instrumental, o cantor usa seu marcante timbre como uma espécie de instrumento, que o acompanha no teclado.

“Ed Motta participou do nosso disco, temos uma ligação muito próxima. Vamos fazer uma surpresa juntos na noite”, entrega o maestro Letieres Leite, 55, que também se apresenta, na sequência, com a Orkestra Rumpilezz.

O grupo de metais e percussão do Neojiba completa a noite de despedida. Composições de Shostakovich (1906-1975), Moraes Moreira e Gonzagão (1912-1989) estão no repertório do programa, regido pelo maestro Helder Passinho Jr.

Outros palcos
Além dos shows principais, a programação do Festival conta com 32 artistas de música, teatro e dança, que se apresentam em três palcos menores, das 14h às 18h. Mas quem quiser chegar mais cedo poderá curtir performances na rua, a partir das 10h.

O secretário de Desenvolvimento, Turismo e Cultura Guiherme Bellintani considera que o festival tem perfil complementar aos outros produtos do Réveillon 2015. “Apesar de consagrados, são artistas menos comerciais, menos conhecidos do grande público. É um festival quase independente”, afirma Bellintani, que vê grandes possibilidade de manter o projeto nos próximos anos. “Se der certo, vamos manter, sim. Tem tudo pra virar um projeto autônomo”, diz.

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Quinta, 06 Novembro 2014 21:00

Confraria III, o bar do "seu" Treme Treme

Confraria III, o bar do "seu" Treme Treme
Depois que Salomão Caetano do Rosário, o Saló Mão de Luva, ameaçou matar Demetrinho, o pai resolveu fechar o bar, pegar dona Conchita e a filha e levar todo mundo de volta para a Galícia.

Demetrinho, na ingenuidade dos 18 anos ainda incompletos, olhos verdes, garoto bonito, malhado, era cortejado por todas as mulheres da Ruy Barbosa, Padre Vieira e adjacências. Quando não estava na escola, passava o tempo atrás do balcão no bar ajudando o pai. Bom menino, sorriso permanente na cara imberbe, gozava da simpatia e consideração geral dos clientes, malandros, putas, policiais que filavam a bóia e, claro, da nossa confraria à qual dedicava atenção especial, no que, aliás, imitava o pai em gentileza, sempre prestativo.
Ocorre que mulher é o cão de saias, gosta de carne nova, já dizia Demetrius, preocupado com as incursões fortuitas do menino pelas camas cheias de chato e banheiros sujos da vizinhança. Apesar de se esforçar para ser discreto e ficar de bico fechado por determinação do pai, vez por outra Demetrinho deixava escapar uma inconfidência sobre alguma criatura sentada às mesas ao nosso derredor.
- Aquela com o fortão ali é Celeste. Gostosa, já peguei. E tem mais, foi ela que me cantou.
Ato contínuo aparece Demetrius.
- Venha cá me erman, arrastou o menino pela orelha até uma distância segura.
- Cê quer se foder me erman? Fala besteira e ainda fala alto pro bar inteiro ouvir.
- Não senhor, não falei de ninguém, estava falando baixinho aqui com o pessoal, tão baixo que o único que ouviu e olhou foi Victor, os outros nem ligaram.
- Baixinho uma porra me erman, Pepe ouviu e veio me avisar. Sabe quem é aquele sarará? É campeão de queda de braço no Ocê é que Sabe (bar de Jaime radialista, na Rua Ruy Barbosa). É gente ruim, tem a natureza ruim. Se ele ouve isso pode até te matar. Celeste é a nega dele, a única que ele dá proteção, as outras só usam o nome dele para se defender.

Palavra dita, sina cumprida.

Mão de Luva soube da história, Celeste negou, chorou, gemeu, jurou que não. É sabido que mulher-dama não bota chifres, mas os que ele carregava na testa caíram no domínio da malandragem local. Precisava lavar a honra e a respeitabilidade de cafetão. Que mulher ia querer pagar para usar o nome de um corno como garantia de segurança no trabalho? As leis da rua não estão escritas, mas costumam ser cruéis. E corno ninguém respeita. Geralmente quem paga pelo crime é a mulher e não o pé de pano. Só que Saló era apaixonado por Celeste. No dia que soube da galhada, vagueou e bebeu a noite inteira de cara amarrada, sem falar, sem olhar nos olhos de ninguém. Amanheceu na calçada da Caixa Econômica defronte ao bar.

Má sorte de Demetrius, muita sorte de Demetrinho. Alguém o ouviu resmungar e sentenciar o destino do menino: “Vai morrer quando aparecer hoje. Se ele não vier, descubro onde mora e vou atrás”.

Ao chegar para abrir o estabelecimento, por volta das 8 horas, Demetrius foi avisado: ainda bêbado e com cara de ontem, Saló rondava por perto e jurando de morte Demetrinho.

Assustado, entrou e fechou atrás de si a porta de garagem, em vez de deixá-la à meia altura como sempre fazia. O coração batia descontrolado, parecia querer sair do peito. Atarantado, deixou de lado a primeira tarefa diária de separar as carnes do freezer, o peixe e o feijão para a chegada de Maria Preta, a cozinheira. Correu ao telefone e começou a ligar para os amigos da polícia. Só conseguiu falar com Manoel Baleiro, comissário que vivia permanentemente de licença saúde e vendia munição a quem tinha revólver calibre 38. Não gostou do que ouviu do outro lado da linha, a preocupação aumentou.

- Isso não é caso de polícia porque o elemento não fez nada, é só suposição de ameaça. Conselho de amigo, o melhor é você desaparecer com a madame e os meninos por uns dias enquanto a gente fica de olho. Ele tem ficha, se der sopa a gente pega e aí vocês voltam. Ação da polícia agora só se Demetrinho fosse baleado, tomasse porrada, ou sofresse algum tipo de agressão, é o que diz o código.

O sumiço de Demetrius e o fechamento do bar geraram uma crise sem precedentes na existência da confraria, que nem a ditadura nos seus anos mais duros conseguira. A turma ficou sem local de encontro, até que Victor lembrou-se do bar do “seu” Treme-Treme aonde ele, Paolo, Bel e alguns mais renitentes terminavam a noite depois que Demetrius fechava. Boteco em que, antes da meia noite, ninguém era mandado embora.

“Seu” Treme-Treme, também espanhol e civilmente registrado na Galícia com o nome de Basílio, já tinha uma certa idade, calculávamos mais de 70 anos, e aparentemente sofria do mal de Parkinson. Baixo, atarracado, ainda forte, cabelos grisalhos encarapinhados, cara de poucos amigos, falava mais embolado que Demetrius. Sabia-se que lutara na guerra civil espanhola, portanto deveria ser herói. Só havia dúvidas em qual trincheira pelejara, se na de Franco ou na dos republicanos.

O bar ficava na Rua Carlos Gomes, entre a Tuiuti, ladeira que desce para a Avenida do Contorno, e o Quartel dos Aflitos, em uma região mais perigosa que o nosso habitat original no coração da Rua da Ajuda. Era um ponto estratégico com várias rotas de fuga. De um lado, descidas por ruelas na direção da Cidade Baixa. Do outro lado ficava o convento das Mercês, na Avenida Sete, em cujas laterais haviam duas ou três saídas para o Vale dos Barris. Tem até uma delegacia de polícia no vale, mas quem é que fica na porta de delegacia para correr atrás de batedor de carteira que por ali passe chispado?

A nossa temporada no “seu” Treme-Treme era por assim dizer uma proteção da chuva, temporária, enquanto tomássemos novo rumo, porque o local era um típico e acanhado pé sujo, bem longe do conforto do amplo espaço oferecido por Demetrius. Um vão único de quatro metros de largura, por sete de frente a fundo, abrigando três mesas espremidas entre o balcão e a parede do lado esquerdo de quem entra, em no máximo um metro e meio de largura.

A confraria foi se desfazendo, os encontros escasseando. O perigo maior do bar é que só o atacavam bandidos amadores, pés de chinelo. Assaltavam, às vezes, para roubar as lingüiças fritas e a farofa, que ficavam sobre o balcão, e os trocados da féria da noite de seu Treme-Treme. A féria do dia ele guardava em casa, pois morava com a mulher no andar de cima. O bar, batizado de Frutibel, não tinha prestígio. Entre a clientela não havia policiais, mulheres, nem travestis, nem malandros. Até o final da tarde era ponto de camelôs da Avenida Sete, frentistas de um posto de combustíveis que fica na esquina defronte ao quartel PM, comerciários do quarteirão e passantes. Noite adentro só os bêbados, a ralé noturna em busca de grana, um trago, um xaro, uma cafungada em cola de sapateiro. Completavam o quadro de freqüência trabalhadores tardiços na volta ao lar, garçons das lanchonetes e restaurantes do Largo Dois de Julho e a bandidagem amadora e perigosa. No meio dessa patuléia, nós os incautos.

O dono do bar preferia mantê-lo aberto, mesmo sem clientes. Era melhor do que ficar em casa. “Não tenho paciência, não gosto de não fazer nada. Aqui, vejo o povo passar, distrai enquanto cato o feijão de amanhã”, respondia sempre que perguntávamos, depois de um ataque, ou alguma contrariedade no balcão: “Por que não fecha e sobe para descansar”?

Não demorou muito, em um desses assaltos foi selado o nosso afastamento definitivo do botequim e a dissolução da confraria por um bom par de anos. Passava da meia noite e, além do proprietário do estabelecimento e de Vangogue, o auxiliar de cozinha, os únicos clientes da casa eram Jorginho, Victor, Bel, Teixeirinha e Paolo tomando a quinta saideira.

Aí eles chegaram. Dois molecotes de não mais que 15 anos, um deles um mulato alto e forte, o outro, que estava com o 38, nanico e fracote, que parecia comandar a dupla, ficou na porta e arrochou o pessoal. O desarmado encostou no balcão e pediu a grana do caixa, quer dizer do bolso da calça de “seu” Treme-Treme. O pivete do revólver gritou: “Passa o dinheiro e os redondo”.

O que dois baratos e bons velho oito com gelo, mais uns copos de cerveja, não fazem para elevar a auto-estima e a coragem de um cidadão.
- Amigo, nós somos jornalistas, estamos do seu lado. Nós combatemos essa sociedade pernóstica e infecta que tanto malefício causa às camadas menos favorecidas, redargüiu, depois de levantar de chofre expondo-se a um sério risco de ser baleado, o tribuno Jorginho, acostumado a grandes tertúlias oratórias em Cachoeira, a heróica cidade do Recôncavo, abençoada pelo Rio Paraguaçu.

O jovem, surpreendido pela reação e sem entender direito o que o orador bradava, comandou a retirada.
- Pinota, pinota, vombora que jornalista é uma turma muito lisa.
E os dois caíram fora antes mesmo de Jorginho engatilhar a tréplica.
Saíram correndo, na primeira esquina embicaram para a Avenida Sete, desceram pela esquina do quarteirão das Mercês pela Clóvis Spínola até chegar ao Vale dos Barris. Passaram apressados pela porta da 1ª Delegacia e se malocaram em um terreno baldio ao lado para dividir os 32 reais da féria noturna.

No bar, já elevados à categoria de heróis por Vangogue, a quem faltava o pedaço de uma orelha e não parava de elogiar o sangue frio e a eloqüência de Jorginho, os confrades comemoravam o acerto de manter os relógios nos bolsos sempre que freqüentavam o local. Na oitava saideira, decidiram ressarcir o prejuízo do espanhol antes de ir embora.

Antes porém, intuindo o que seria a despedida definitiva do bar, decisão que foi tomada nos dias seguintes, Victor tomou a palavra e filosofou.
- Vejam o que faz a ditadura. Olha o nível desses ladrões. Meninos abandonados pela vida, analfabetos, esfomeados, movidos a cola de sapateiro e cachaça, com uma arma na mão. Essa milicada não tem noção do mal que faz a este país. Este é o retrato da nossa realidade social. E da nossa própria decadência, porque em Demetrius tínhamos segurança, os ladrões eram malandros simpáticos e policiais corruptos. Ninguém ameaçava ninguém. Aqui eles roubam ovo cozido e lingüiça do balcão. Realmente, uma decadência.

Ninguém contestou, apenas um comentário de Vangogue.
- Falou bonito.
- Você sabe o que é ditadura Vangogue?
- Não senhor, mas já sei que faz mal.
P.S.: “Seu” Treme-Treme morreu oito meses depois, baleado durante mais um assalto ao bar.

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Ellen Oléria volta a Salvador, desta vez, para apresentar o show do álbum lançado após vencer a primeira edição do The Voice Brasil. Em entrevista ao Bahia Notícias, Ellen contou sobre sua relação com a Bahia e os artistas baianos, shows internacionais, planos futuros para a carreira, participação no The Voice e também sobre a apresentação na sede do Ilê Aiyê, no encerramento da Semana da Mãe Preta, que acontece neste sábado (27) em Salvador. Confira!

BN: Você já veio fazer show em Salvador em diversas ocasiões: no Festival de Verão, como convidada da Orquestra Rumpilezz, no Carnaval, no Sarau Blackitude... E agora, é convidada do Ilê Aiyê, que tem extrema importância na cultura baiana... Quais são suas expectativas para esta apresentação em especial?

Ellen Oléria: Então, olha só, nosso disco novo, mesmo com a Bahia abraçando a gente há tanto tempo, ainda não conseguimos fazer o show aí na Bahia. Então a gente está voltando com o gás todo. O carro-chefe do show é o disco “Ellen Oléria”, que leva o meu nome. É uma celebração muito grande porque é o nosso primeiro disco lançado por uma grande gravadora, que é a Universal Music no Brasil. A gente está com muito gás porque a gente acabou de chegar. A gente apresentou esse mesmo show em Barcelona, apresentamos em Paris, no norte da Espanha, em Luanda, então chegar à Bahia depois de sentir esse abraço do ‘mundão véio’ é muito gratificante.

BN: Como foram esses shows internacionais que você fez?
EO: Fizemos shows em Barcelona, ficamos no Día de Brasíl de lá. Tinha uma muvuca, numa praça linda pertinho da orla, em Paris nós fomos convidados pela Orquestra do Fubá, que são músicos brasileiros e músicos franceses fazendo experimentações com a música brasileira. Elas tocam forró, funk e me convidaram para chegar com o show do disco novo, então a gente lançou o disco junto com a Orquestra do Fubá. Com o nosso projeto, a gente foi convidado para tocar no Festival de San Mateo, no norte da Espanha. Foi bem bacana, foi lindo o show. Era uma programação com vários palcos, na cidade toda, a gente tocou em uma programação de música brasileira, foi muito bonito o show, a gente foi bem recebido pela imprensa e pelo público de lá. Da nossa passagem por Luanda, trouxe outros frutos, porque em parceria com Kizua Gourgel, que é um artista angolano muito querido. A gente entrou no estúdio e gravamos uma canção pelo projeto Ponte Cultural, que nos convidou para essa ida. Gravamos em estúdio e fizemos, inclusive, uma versão para uma música, que até Djavan gravou, uma música, que é uma música tradicional, cantada em kimbundu. O Felipe Mukenga, que é um artista de lá também, fez uma versão um pouco mais melodiosa. A gente rodou de norte a sul com esse show e agora vamos chegar mais uma vez no Nordeste, desta vez na Bahia querida, amada, adoro ir pra Bahia.

BN: Como é sua relação com a nossa terra, com os artistas e o próprio público daqui? Você é amiga de Nelson Maca...
EO: Nelson Maca é um querido. Inclusive, depois da nossa apresentação aí, a gente vai estar com ele em São Paulo e vamos fazer um Sarau bem bonito lá, falar um pouquinho de literatura divergente e vamos cantar, essa é minha vida mesmo, é o que eu sei fazer. Não só Nelson Maca: eu aprendi a apreciar os sons baianos e sou influenciada por eles. Eu curto muito o som desta nova geração também. Adoro o Baiana System, já vi três shows do Baiana, quando eles vem pra cá pra Brasília e eu não posso ver os shows fico chateada (risos). Eu acho que a gente tem uma conexão bem bacana juntos. Eu adoro a Orquestra Rumpilezz, o Gabi Guedes é um músico que eu admiro demais, adoro ele junto com as percussões e o Leitieres Leite é um querido, ele comandando a massa é a coisa mais linda de ver. E chegar na Bahia através de uma casa que é tão tradicional e que nos inspirou a todos, como o Ilê Aiyê, é uma honra.

BN: O repertório do show vai ser baseado no seu último álbum, mas pode rolar algo fora do script que você pode adiantar pra nós?
EO: Com certeza! Se a gente não passear, não sair um pouco da rotina, a gente fica louca. A rotina vai matar-nos a todos e todas. Vou te contar, eu já sou super fã do Milton Nascimento, é uma referência para nós e além das músicas dele que a gente gravou no disco, a gente vai fazer algumas outras canções dele. Uma delas é “Caxangá”, que eu sou completamente apaixonada. Jorge Bem Jor, além da “Zumbi”, que é uma música que anda conosco também, vamos fazer “Há cinco minutos”, que é uma música muito embalada, muito dançante, que Marisa Monte gravou também. O que mais eu posso dizer? Vamos fazer uma música que Paula Lima gravou que também é maravilhosa, chama-se “Negras Perucas”. A ideia é que o show seja muito dançante, a gente tem momentos mais intimistas, mas com certeza muito pulsante, a ideia é que o show fique pulsando o tempo todo e que as pessoas não parem de se mover e sejam abraçadas pelo embalo do suingue dessa banda, que já está comigo há muito tempo. Sérgio Maciel na bateria, Felipe Guedes no teclado, Sandro de Adão no baixo e no vocal.

BN: Como é sua relação com a questão abraçada pela Semana da Mãe Preta, que homenageia a mulher negra?
EO: Eu acho que chegar para cantar em homenagem a essas mulheres que são tão importantes e determinantes em nossa trajetória é sempre olhar num espelho. A gente está chegando com essa carga, sempre ando emocionada pela estrada carregando as falas da minha mãe, da minha irmã, da minha esposa, das minhas amigas que me cobrem com carinho, me protegendo e chegar na Senzala do Barro Preto para homenagear Mãe Preta é um privilégio, eu estou muito feliz.

BN: Muita gente não sabe que você tem uma carreira de mais de 10 anos na música, que foi bastante premiada e já trabalhou com grandes nomes. Eu gostaria de saber qual é a diferença da Ellen antes do The Voice e da Ellen pós-reality. Qual foi o impacto de sair vencedora de um programa com tanta repercussão em sua carreira e como isso mexeu em você como artista?
EO: Nossa vida é o trabalho, já disse o querido cearense Fagner, quando ele fala que sem o trabalho a pessoa não tem honra. O nosso sonho é o nosso trabalho. A gente vem trabalhando bastante, eu trabalho desde muito cedinho e a música se tornou minha profissão muito cedo também, com 17 anos. Acontece algo muito formidável, por isso eu tenho um coração grato, porque a música foi muito generosa comigo, me levou pra muitos lugares, eu conheci muitos pedacinhos de chão levada pela música. Eu acho que esse abraço que eu recebi da música é um abraço que eu dei nela também. Eu me agarrei na música e ela não me largou. Depois de 13, 14 anos de carreira poder dizer que fui querida na minha cidade, o que é raro, geralmente os artistas tem que sair da sua cidade natal para poder mostrar sua música, porque santo de casa não faz milagre. Eu não posso dizer isso nunca porque Brasília me recebeu com muito carinho, desde sempre, desde os festivais universitários, dos bares, casas noturnas e nos teatros daqui. Chegar a uma super exposição como foi o The Voice Brasil, que é um programa de visibilidade, é um palco fantástico, com uma iluminação maravilhosa, com uma equipe de figurinistas e maquiadores incríveis, com uma direção criteriosa e envolvida com o projeto, apaixonada pelo projeto que é o The Voice Brasil, foi muito fera mesmo. Eu acho que fiz uma boa escolha na minha vida quando decidi que ia participar disso, porque eu fui apresentada para milhões e milhões de brasileiros e brasileiras. Quando eu cheguei em Angola, soube que o The Voice Brasil fez bastante sucesso por lá também, fiquei reconhecida como a voz do Brasil lá, sou muito grata por essa trajetória e pelas bênçãos que neste palco do The Voice Brasil.

BN: Você foi vencedora do programa, bem como o Sam Alves, na segunda edição. Ambos têm perfis muito distintos musicalmente. O que você acha que é preciso para conquistar um programa como esses? Por que o público abraçou seu projeto, em sua opinião?

EO: Eu acho que tem duas coisas muito importantes. Uma delas é uma verdade. Quem canta precisa cantar algo com o coração de fato. As pessoas sentem isso e respondem a isso. Eu acho que não somos os únicos a fazer desta maneira, eu e o Sam. Eu acredito que o programa é um sucesso, porque apresenta muitas versões desta fórmula: verdade no coração, por parte dos participantes, que são de altíssimo nível, que são grandes profissionais, o que transforma a mostra em um grande espetáculo mesmo. Não é só uma mostra competitiva, é um grande espetáculo onde em ganha, antes de todos nós, é o público. Outra coisa que não pode faltar para um vitorioso do The Voice Brasil é um mistério. Porque a música age com mistério, não existe uma fórmula para a gente seguir, acertada. A gente tem sorte, a gente tem indicação, uma alta performance, isso não adianta nada. Quem vai agir é o mistério que envolve a canção. O que é que tem em uma canção que faz você escutar e ficar arrepiado? Pode ser a letra da música, o groove, os timbres dos instrumentos, super bem alinhados, um arranjo formidável, pode ser uma voz com uma extensão incrível ou pode ser o mistério. Porque se não fosse isso, aquela voz que você escuta naquela esquina, sem uma grande potência de som, sem uma pessoa cantando um português que contém na gramática normativa, ela só tá cantando te emociona. Ou aquela pessoa que canta uma coisa que você não consegue entender o que é, você só sabe se emocionar, eu acho que isso é o mistério da música.

BN: Quais foram os frutos do The Voice e como é sua relação Carlinhos Brown?
EO: O The Voice não gera frutos, quem gera frutos são as pessoas que participam da programação. Os frutos são nossos, vem do trabalho. Sobre os encontros, o Brown sempre foi pra mim, mesmo antes de encontrá-lo pessoalmente, não só na sua performance como artista, nas suas composições, nas suas produções, mas também no jeito dele se articular com a comunidade dele, eu acho muito bonito a responsabilidade social que ele tem de devolver pros lugares que recebem ele com muitas ações. Isso eu sempre tomei pra mim também, acho que ele é uma inspiração neste sentido. Brown é uma gracinha também, toda vez que eu encontro com ele é alto astral. Boa energia, boa vibração e muito axé.

BN: Você também tem uma veia compositora muito forte. Podemos esperar composições suas, futuramente, em algum novo trabalho? O que você vem preparando para seus fãs?
EO: Com certeza. Tenho escrito... Escrever na verdade é parte do pacote que eu ganhei (risos). Eu tô escrevendo bastante, compus muito, coisas mais antigas que eu fiz e que acabaram não tendo muito espaço ainda. Demorei a me identificar como compositora, mas depois que o fiz estou bem segura disso. Estou compondo bastante e com certeza nos próximos projetos as pessoas vão encontrar mais letras assinadas por mim, assim como no primeiro disco e no DVD ao vivo [trabalhos independentes lançados antes do The Voice], esses discos são basicamente autorais.

BN: Deixa um recado para os soteropolitanos que vão te prestigiar no seu show.
EO: Primeiro quero agradecer a você por abrir essa janela para falar com o público soteropolitano, com o povo da Bahia. Quero agradecer ao povo da Bahia por me abraçar e por me envolver com carinho, por receber a mim, a minha canção, a minha equipe, com o carinho que só vocês têm com a gente. Por isso é tão especial voltar praí. Agradeço demais e convido vocês para comparecem no sábado, lá na Senzala do Barro Preto, lá no Curuzu na casa do Ilê Aiyê. Vai ser uma festa muito bonita em homenagem a essas mulheres guerreiras e nós somos uma delas.

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Anipólitan traz atrações da cultura pop oriental para Salvador na próxima semanaFoto: Divulgação
Com diversas atrações e personalidades referência da cultura pop oriental, o Anipólitan será realizado nos dias 15 e 16 de novembro, das 10h às 20h, na Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB). O evento contará com a presença de Daniela Witchiko, uma das maiores cosplayers da América Latina; e o youtuber Muca Muriçoca, com quase 500 mil inscritos e especializado na cobertura bem humorada de eventos por todo o Brasil. Também participará da feira, o dublador Mauro Ramos, que faz as vozes de Shrek e Pumba, do Rei Leão, e a banda Anime Voices Brasil. A programação do Anipólitan prevê ainda a Batalha Campal e Arquearia, Batalha de Cotonetes Gigantes, o espaço temático em comemoração aos 25 anos de Cavaleiros do Zodíaco, além do concurso Cosplay – com premiação de R$ 4 mil, e o Anipólitan Dance Contest – concurso de dança com premiação de R$ 1500 e vaga para o NE K-Pop Contest. O evento contará também com o Aniquest, um quis sobre o universo pop oriental; o Aniokê, um karaokê de músicas orientais; e oficinas de mangá e origami, moda urbana japonesa e baseball.

Serviço
O QUÊ: Anipólitan 2014
QUANDO: 15 e 16 de Novembro, das 10h às 20h (sab. dom.)
ONDE: AABB (Associação Atlética Banco do Brasil)
QUANTO: R$20 antecipado, R$25 no dia. Meia entrada garantida para todos com 1kg de alimento não perecível ou comprovação.

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Formação atual do Quarteto em Cy: Cyva, Sonya, Cynara e Keyla (da esq. para a dir.)

Nome clássico da MPB brasileira, o grupo vocal Quarteto em Cy retorna a Salvador para shows neste final de semana com a turnê "Olhos nos Olhos", em homenagem aos 70 anos do cantor Chico Buarque e que também coincide com a celebração dos 50 anos do grupo formado em 1964 pelas irmãs Cylene, Cynara, Cybele e Cyva, nascidas em Ibirataia, no interior da Bahia. A apresentação, que contará com uma retrospectiva das canções da carreira de Chico, acontece entre os dias 26 (sexta) a 28 (domingo), no Café Teatro Rubi, situado no Hotel Sheraton, no Campo Grande. Esta será a primeira apresentação na Bahia após a morte no último mês de agosto de Cybele, uma das irmãs, que fazia parte da formação original do grupo e havia se afastado dos palcos em 2013. Em entrevista ao Bahia Notícias, a cantora Cynara fala da história e influências do quarteto baiano, batizado por Vinicius de Moraes e atualmente radicado no Rio de Janeiro, que tem na sua formação atual as cantoras Sonya e Keyla, além da fundadora Cyva. Além de lamentar o fato da sua música – e seu contemporâneos – não ter mais a mesma importância no seu estado natal. “Quando a gente pensa na música baiana hoje, pensa em alegria, músicas fortes, mas de teor carnavalesco, axé, muita festa. Mudou muito essa coisa da música na Bahia, depois do axé, ficou tudo muito ligado a esse gênero. Então a gente vê poucas nuances na música. Tem a música de Gil, do Caetano, mais ligada na MPB, mas o que fica mesmo é a música da Ivete, dessa turma toda, Daniela, Carlinhos Brown. Acho até que a música brasileira, que é a que a gente faz, a chamada MPB de Chico e Vinicius, do próprio Gil, Caetano, essa rapaziada tem pouca entrada em Salvador, principalmente, mas na Bahia como todo. Tanto é que a gente vem pouco a Salvador. E como baianas sentimos um pouco a falta de um contato maior com nossa terra, através da música”.

Cybele: Vivemos no Rio desde anos 60. Inicialmente, éramos quatro irmãs: Cyva, Cybele, Cynara - que sou eu - e Cylene. A gente começou aqui no Rio como Quarteto em Cy, nome dado por Vinicius de Moraes e Carlos Lyra. Agora não somos mais quatro irmãs. Somos eu, Cyva, Sonya e Keila Fogaça, que entrou no lugar de Cybele, há um ano. A nossa relação com a Bahia é que é nossa terra. A gente ama a Bahia, a gente sempre quer voltar, ser reconhecida, na cidade de Salvador, principalmente, onde a gente morou e estudou. É um barato voltar à Bahia sempre, rever os amigos, a própria cidade, que nós amamos muito. É muito bom voltar e cantar na nossa terra. Nossa relação musical com a Bahia, inclusive, foi anterior ao Quarteto em Cy, porque fomos descobertas por Vinicius através de um filme, que a gente cantou na trilha sonora. O filme se chama “Sol sobre a Lama”, dirigido por Alex Viany e tinha produção de João Palma Neto, que é um baiano amigo nosso, que nos convidou para cantar. E foi ali que conhecemos Vinicius, porque a trilha era de Pixinguinha com Vinicius. Entao a nossa ligação musical com a Bahia foi através desse filme, todo rodado em Salvador, que falava da feira de Água de Meninos, e era muito dentro do espírito da cidade de Salvador. A partir daí tivemos nossos primeiros arranjos musicas com musicas de Dorival Caymmi, que foi também nosso amicíssimo. E inclusive fizemos um show com ele e Vinicius nos anos 60, em duas temporadas de muito sucesso. Chamou-se “Vinicius e Caymmi no Zum Zum”, que era uma boate aqui no Rio.

Cyva, Cylene, Cybele e Cynara na boate ZumZum com Vinícius Foto: Site oficial

BN: Vocês tiveram essa relação próxima com artistas que cantaram muito bem a Bahia, como vocês percebem o estado musicalmente hoje, vocês conhecem novos nomes dessa safra musical baiana?

C: Quando a gente pensa na música baiana hoje, pensa em alegria, músicas fortes, mas de teor carnavalesco, axé, muita festa. Mudou muito essa coisa da música na Bahia, depois do axé, ficou tudo muito ligado a esse gênero. Então a gente vê poucas nuances na música. Tem a música de Gil, do Caetano, mais ligada na MPB, mas o que fica mesmo é a música da Ivete, dessa turma toda, Daniela, Carlinhos Brown. Acho até que a música brasileira, que é a que a gente faz, a chamada MPB, de Chico, Vinicius, do próprio Gil e Caetano, essa rapaziada tem pouca entrada em Salvador, principalmente, mas na Bahia como todo. Porque ficou muito marcada essa música alegre e de festa. Acho difícil essa entrada, tanto é que a gente vem pouco a Salvador. E como baianas sentimos um pouco a falta de um contato maior com nossa terra, através da música.

BN: Quando foi ultima apresentação na Bahia?

C: Faz sete meses e foi exatamente no Café Teatro Rubi, para fazer o centenário de Vinicius, com o show “Como dizia o Poeta”, que teve a presença de Georgiana de Moraes, filha do poeta, porque ficamos o ano inteiro cantando esse show, em 2013. Em outros espaços a gente nunca mais foi. A gente costumava fazer muito TCA, no começo de carreira, inclusive com o próprio Caymmi e MPB4. Fizemos muitos shows em salvador, mas agora está difícil.

BN: Por que nos 50 anos da carreira do grupo, dentre todos os compositores que influenciaram o trabalho de vocês, vocês decidiram homenagear justamente Chico Buarque?

C: Chico fez 70 anos de carreira em junho, o mesmo mês que nós fizemos os 50. São duas datas redondas e a gente já estava com vontade de fazer a celebração dupla. Pelo fato da gente ter gravado um CD em 1991, o “Chico em Cy”, com a obra de Chico, então a gente faz agora o show, mas não é em cima do disco. Tem algumas músicas que a gente fez no CD, mas tem outras bem diferentes. É uma outra visão da obra de Chico. Incluímos músicas que nunca mais tínhamos cantado e coisas que nunca cantamos, como “Olhos nos Olhos”, “Futuros Amantes”, “Tamandaré”, que foi censurada e ele não gravou, quem guardou foi o Quarteto em Cy, em 91, uma musica fala sobre a desvalorização do cruzeiro, moeda da época. E têm coisas interessantes no show, que são “Sabiá”, “Carolina”, que são musicas de festivais, e também “A Banda”, que nós gravamos em 65, e coisas interessantes que nós o gravamos no CD de 91, mas estamos voltando a tocar com arranjos novos.

Cynara e Cybele entre Tom Jobim e Chico Buarque Festival Internacional da Canção

BN: Qual é a relação de vocês com Chico Buarque?

C: Somos amigos. Temos uma relação muito forte com ele, principalmente eu. Meus dois filhos jogam futebol com ele nas segundas e quintas, sempre vou lá no Politeama, que é o campo onde ele joga com os amigos e a gente tem muitos papos. Chico é o maior compositor brasileiro, depois de Tom Jobim, que não está mais com a gente. Ele é um cara muito inteligente e musical, grande poeta, e junta isso tudo na música dele. A gente percebe também que é um cara popular, as pessoas cantam junto. Acho que Chico é o grande do Brasil, não desfazendo de todos outros. Acho Gil e Caetano sensacionais, Dorival fora de série, Vinicius de Moraes tem aquela coisa do poeta, cada um tem sua característica, mas Chico preenche essa coisa de letra e música de forma sensacional, bate direto no povo e nos nossos corações. A gente se conheceu no ano de 1965, em São Paulo, apresentados por outro Chico, o dramaturgo Chico de Assis. E ai a gente ficou logo apaixonada pela música, e quando ele cantou "Pedro Pedreiro" a gente falou: 'essa aí queremos gravar!'. Então gravamos, e foi nosso primeiro sucesso. É uma amizade da vida inteira. Em todos os shows que a gente faz sempre vai ter música do Chico, como vai ter do Vinicius, do Caymmi, e agora é uma coisa especifica, é o momento de celebrar os nossos 50 anos e os 70 dele. Eu fui ao campo falar com ele que a gente ia fazer essa homenagem, gravei até depoimentos que estão no show, mas que não vamos poder exibir na apresentação na Bahia, porque o teatro não tem os equipamentos necessários para as projeções que fazemos durante a turnê. No lugar das imagens, então, vamos falar e comentar as músicas.

Cynara e Chico Buarque no campo do Politeama, onde o cantor costuma jogar futebol com os amigos | Foto: Blog do Quarteto em Cy

BN: Em agosto, Cybele, uma das irmãs integrantes da formação inicial do grupo, faleceu. Está prevista alguma homenagem a ela, nesse show que celebra os 50 anos do Quarteto em Cy?

C: A gente não quer especificar isso. Já tem muita emoção guardada, e a hora que a gente canta as músicas "Sabiá" e "Carolina", que cantei em festivais com ela, já é uma emoção represada. A gente não quer muito ficar falando nisso, porque a gente não vai conseguir cantar. Está muito recente, ela faleceu há um mês. Na prática, todos os show que estamos fazendo são pra ela. A gente não precisa explicitar isso. Porque é um apelo que a gente não quer fazer, justamente para nos proteger um pouco do excesso emocional. No palco a gente fica muito vulnerável, já tem aspecto emocional do próprio público, que está percebendo as coisas. São músicas muito emocionantes, que a gente cantou com ela a vida inteira, e ainda ficar falando nisso, ao vivo, é uma coisa que não vai fazer bem pra gente, para o show e pra ela, até. Acho que ficar falando, chorando, não é legal. A gente tem isso, nós somos espiritistas, então a gente tem uma coisa de não ficar remoendo isso. É uma coisa muito particular, de não ficar batendo nessa tecla. A gente já sofreu muito, foi um baque muito grande a ida dela para outro plano. A gente acha que ela está muito bem, muito melhor que todos nós, porque a gente acredita nisso. Eu acho que a gente faz as coisas pensando nas pessoas que são amigas, são queridas. E neste caso, é ela. Ela vai estar presente no show, com certeza. Pelo fato dela ter cantado essas músicas todas a vida inteira com a gente, ela deve estar espiritualmente lá.

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