A liminar que a Livraria Cultura conseguiu, em fevereiro deste ano, para manter o processo de falência suspenso, foi revogada. A empresa teve a falência decretada novamente pela Justiça de São Paulo.

O recurso foi negado para manter o pedido de recuperação judicial. Segundo o G1, o juiz Ralpho Waldo De Barros Monteiro Filho citou na liminar que houve o "descumprimento do plano de recuperação judicial".

O desembargador J.B. Franco de Godoi, da 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo, atendeu o pedido da livraria para que o recurso fosse analisado.

"A falência da agravante, diante do global inadimplemento do plano de recuperação, tem como objetivo proteger o mercado e a sociedade, assim como fomentar o empreendedorismo e socializar as perdas provocadas pelo risco empresarial", afirma a decisão.

Vale lembrar que, desde 2015, a Cultura vem enfrentando uma forte crise após o mercado editorial encolher significavelmente. As lojas espalhadas pelo país, inclusive em Salvador, foram fechadas, restando apenas em São Paulo e Porto Alegre. Já o site, permanece realizando as vendas.

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A empresa apontou a queda de vendas de livros e a crise econômica brasileira desde 2014 como os motivos que selaram seu destino

A Justiça decretou a falência da Livraria Cultura nesta quinta-feira, 9. A empresa apontou a queda de vendas de livros e a crise econômica brasileira desde 2014 como os motivos que selaram seu destino. A companhia ainda pode recorrer da decisão

A sentença foi do juiz Ralpho Waldo De Barros Monteiro Filho, da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo. Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, a Livraria Cultura dava sinais de que não conseguiria honrar os pagamentos previstos no plano de recuperação judicial desde 2019.

"É uma convolação clássica: descumprimento de plano. O juiz deu oportunidades para se manifestarem, mas eles não apresentaram elementos fortes para manter a recuperação judicial", afirma Renato Leopoldo e Silva, líder de contencioso empresarial cível, recuperação judicial e arbitragem do escritório DSA Advogados.

O pagamento de direitos trabalhistas e demais credores dependerá do caixa da empresa. "Na falência, a ordem estabelecida em lei diz que há preferência nos pagamentos. Primeiro, vem os trabalhadores (150 salários mínimos por credor), e depois os créditos com garantia real, os créditos tributários e os quirografários (fornecedores e prestadores de serviço)", afirma Adriana Conrado Zamponi, sócia de Wald, Antunes, Vita e Blattner Advogados. "A falência é sempre a pior situação para todos. Na recuperação judicial, mesmo com deságio no pagamento de valores, é melhor do que a falência."

A Livraria Cultura tem uma unidade em São Paulo, no Conjunto Nacional, e outra em Porto Alegre (RS). Se a decisão de falência for mantida, as lojas devem ser lacradas em breve.

No pedido de recuperação judicial, a empresa declarou ter R$ 285,4 milhões em dívidas. A companhia terá dois dias para identificar e avaliar seus bens. Podem ser vendidos imóveis, estoque e até sua marca. O processo de falência será feito pela Laspro Consultores.

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Os frequentadores da Livraria Cultura vão ter que buscar outro lugar para comprar seus livros. O espaço, que ficava no Salvador Shopping, fechou as portas na última quarta-feira (30). No local ocupado pela livraria, que já tinha sido reduzido em março de 2019, será inaugurada uma loja de artigos esportivos. Mas, para os amantes da leitura, nem tudo está perdido. O shopping vai passar a contar com uma unidade da Livraria Leitura. A abertura deve acontecer até setembro.

O Salvador Shopping já tinha perdido, em setembro de 2020, a Livraria Saraiva, que se despediu da Bahia fechando também as lojas nos shoppings Barra, Paralela e antigo Iguatemi. A unidade da Livraria Cultura no Salvador Shopping foi inaugurada em novembro de 2010 e era a única da cidade e do estado. A rede, que já chegou a ter mais de 13 lojas no país, agora conta com apenas seis.

Em nota, a Cultura informou que encerrou as atividades no local por questões financeiras. Em 2020, a rede assinou um contrato com o grupo JCPM para mudar a localização da loja para um espaço novo, de 700m², mas voltou atrás na decisão. “Avaliando o cenário para os próximos meses, a rentabilidade prevista até o fim deste ano, e com o prolongamento da crise sanitária, resolvemos devolver o novo espaço e rescindir o acordo”, diz a resposta.

A livraria também ressaltou que as lojas físicas então enfrentando grandes desafios, mas prometeu retornar a Salvador no futuro. “Nosso foco continua na rentabilidade da empresa e na introdução de novos serviços com o objetivo de nos adequarmos às novas demandas do consumidor. A nova realidade traz desafios importantes para o modelo de lojas físicas e principalmente para as livrarias que tinham parte importante de suas receitas provenientes de atividades socioculturais. No momento adequado, retornaremos à praça de Salvador com um novo modelo de loja, mais completo e preparado às exigências de nossos clientes. Estamos criando uma nova empresa”, conclui.

Além do momento de expansão de lojas virtuais, o mercado de livros já vinha apresentando queda. Uma pesquisa feita pela Nielsen Book para a Câmara Brasileira do Livro e Sindicato Nacional de Editores de Livros aponta que o mercado editorial encolheu 20% de 2006 para 2019 - com a crise se acentuando depois de 2015. Com a pandemia, a situação ficou ainda pior. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o segmento de livros do varejo baiano em 2020 registrou o pior desempenho dos últimos anos, com quedas de -44,1% no mês e de 42% no acumulado de janeiro a outubro.

O comportamento de alguns amantes dos livros ajuda a explicar esse cenário. O estudante Guilherme Hohenfeld, de 22 anos, não podia ir ao shopping sem passar na Livraria Cultura. Mesmo tão apegado aos livros físicos a ponto de não emprestar nenhum deles e exibi-los numa estante que ninguém além dele podia mexer, ele mudou seu hábito de leitura, deixando de lado as livrarias.

“Eu acabei comprando um Kindle que facilitou muito a minha vida, até porque os preços são bem mais em conta. Mas eu continuo preferindo os livros físicos, só que esses eu acabo comprando pela internet pela facilidade de encontrar os que eu quero e pela comodidade mesmo”, conta ele.

Frequentador assíduo da Livraria Cultura desde adolescente, Guilherme diz que a loja vai deixar saudades, por ser, além de um ponto de venda de livros, um ambiente que fez parte de sua vida. “Uma vez eu fui lá para uma sessão de autógrafos com Raphael Draccon, um escritor por quem eu sou apaixonado. Foi lá na Cultura que eu pude encontrar e falar com ele e isso foi bem marcante e especial”, diz.

O estudante Leonardo Lima, de 20 anos, também vai sentir falta da loja. Ele costumava ir até lá ao menos três vezes por mês e também coleciona histórias vividas na livraria. “Era um lugar legal pra encontrar com os amigos e eu também já tive alguns encontros no café de lá. Quando eu não ia comprar livro ou encontrar alguém, eu ao menos dava uma conferida nos preços e comprava revistas que não encontrava nas bancas de rua”.

O sentimento, agora, é de tristeza. “Quando a Cultura teve aquela redução de espaço eu já tinha ficado triste. E agora que fecharam de vez eu sinto que perdi um lugarzinho meu, sabe? Eu adoro o ambiente de livrarias em si, me passa uma sensação de aconchego”, explica Leonardo.

Mas o estudante é mais um que, mesmo com o apego às livrarias, se rendeu às facilidades da internet. Com a quarentena, ele teve tempo para colocar em dia as leituras atrasadas e adquirir novos livros, mas as compras foram pela internet. “Em 2019, eu li 12 livros e, em 2020, foram 27. Mesmo tendo um Kindle, eu prefiro mil vezes o livro físico, mas acabo comprando agora pela internet”, completa.

Cadê a livraria que estava aqui?

Em 21 de setembro de 2020, a Saraiva fechou todas quatro Mega Stores da Livraria Saraiva na capital baiana, após 13 anos de operação na cidade. Ainda em maio, quando as lojas físicas estavam impedidas de funcionar por conta da pandemia, a Saraiva já havia anunciado o fechamento de diversas livrarias em São Paulo, no Distrito federal, Minas Gerais e no Rio Grande do Sul.

O diretor de negócios do grupo, Deric Guilhen, havia divulgado um comunicado aos funcionários da rede, anunciando o fechamento de algumas das lojas, associando a causa aos prejuízos causados pela suspensão das atividades devido à crise do coronavírus. No segundo trimestre de 2020, o prejuízo da Saraiva cresceu 64% com perda de R$ 118,2 milhões, no período. A receita entre os meses de abril a junho caiu 82%.

O Shopping Piedade, Shopping Center Lapa, Shopping Itaigara e Shopping Bela Vista informaram que não possuem livrarias. Este último afirmou que está em processo de negociação com uma livraria para implementação no estabelecimento. No Shopping Salvador Norte, há uma unidade da Livraria Leitura, assim como no Shopping da Bahia. O Shopping Paralela, além de também contar com uma loja da Leitura, possui uma Livraria Nobel. O Shopping Paseo conta com a Livraria LDM e, por fim, o Shopping Barra abriga a unidade da Livraria Escariz, inaugurada em dezembro de 2020. Vale ressaltar que há alguns sebos, bancas, estantes e revistarias em alguns shoppings citados.

Os sebos, mesmo com preços mais em conta do que os ofertados pelas livrarias, não escapam dos obstáculos impostos à compra de livros físicos. O Sebo J.E. possuía três unidades em Salvador e, agora, mantém somente uma. Em 2016, as lojas da Barroquinha e da Lapa foram fechadas e a proprietária, Elizabeth Ferreira, foi tocando o negócio apesar das dificuldades. Em 2019, a situação estava tão apertada que ela decidiu implementar as vendas online, contando com a ajuda da plataforma Estante Virtual. Mas, quando a pandemia chegou, a crise veio junto.

“Com a pandemia, as vendas caíram em 50%, eu tive que trocar de ponto em busca de um aluguel mais barato e demiti três funcionários. Mesmo com a liberação de abertura, os clientes sumiram porque muitos ficaram com medo e ainda estão, essa volta está caminhando a passos lentos. A venda online é o que está segurando a gente hoje”, diz Elizabeth.

Para ela, o futuro dos livros físicos não é promissor e o fim da crise causada pela pandemia não deve dar alívio ao setor. “Eu percebo que os livros físicos estão sendo deixados para trás. Não é que as pessoas não estão lendo, mas estão indo muito pelo caminho dos livros digitais. Tem livros na internet com preços muito baixos e até gratuitos, então fica bem complicado. Eu não sou pessimista, mas eu não acredito que, com o fim da crise da pandemia, o mercado de livros físicos vá se recuperar totalmente”, opina.

Na contramão da crise dos livros

No sentido oposto do momento de fechamento das livrarias Saraiva e Cultura, a Livraria Leitura, mesmo com o encerramento das atividades da unidade do Shopping Bela Vista em março de 2020, está inaugurando mais duas lojas na cidade. Além da nova loja no Salvador Shopping com a saída da Cultura, a rede continua com a unidade do Salvador Norte Shopping, aberta em 2011, e vai inaugurar uma loja no Shopping Pararela, em agosto, e também no Shopping da Bahia, em setembro. Neste último, a rede ocupa, desde maio, um espaço provisório e agora irá migrar para o espaço que antes era ocupado pela Saraiva.

A sócia da livraria e gerente das unidades de Salvador, Liliane Zebral, explica que a Livraria Leitura está em momento de expansão e aproveitando as oportunidades deixadas pelas Saraiva e Cultura. “O shopping abriu esse espaço e nós, que estávamos esperando essa oportunidade, abraçamos a ideia. A Leitura está em expansão, abrindo novas lojas, num movimento de contramão em meio a outras marcas, pois acreditamos na importância de manter as lojas físicas. Os nossos leitores necessitam manusear os livros”, revela Liliane.

Outra livraria em expansão é a Escariz. Com cinco unidades em Aracaju, a loja chegou a Salvador em dezembro de 2020, no Shopping Barra, ocupando o lugar da antiga Saraiva. A diretora de vendas da empresa, Fátima Escariz, explica que também encontrou no fechamento das livrarias um espaço promissor. Para ela, o setor ainda tem um grande futuro pela frente.

“A gente acredita muito no potencial do livro.Tem décadas que a gente escuta que o livro vai acabar por causa do mundo digital. E vimos, nessa pandemia, o quanto o livro é importante como companhia, entretenimento, ocupação. O público infanto-juvenil, por exemplo, nunca leu tanto quanto agora, nós percebemos um crescimento. Nesta pandemia, aumentamos muito nossas vendas por delivery. As pessoas foram atrás de uma alternativa”, coloca Fátima.

Onde comprar livros online?

Cantinho Sebo - Unidades na Pituba e no Shopping Center Lapa. O catálogo fica disponível no perfil do Instagram @sebopituba e, através do WhatsApp (71) 9956-6222, o cliente pode realizar a compra e receber o produto em casa.
Estante Virtual - Plataforma que reúne sebos e vendedores individuais de todo o país, que ofertam livros semi-novos e usados.
Amazon - Uma das maiores revendedoras de livros online, possuindo uma enorme variedade de exemplares físicos e digitais. Além disso, ela permite que qualquer autor publique seus livros na plataforma.
Americanas - A Lojas Americanas atua em diversas áreas, inclusive no ramo de eletrônicos, produtos pessoais e entretenimento, também ofertando livros. A loja possui um site de vendas, além de um aplicativo para iPhone (iOS) e Android.
Submarino Livros - A plataforma de e-commerce conta com um extenso catálogo de produções editoriais de diversos assuntos.
Travessa - A Travessa conta com cerca de oito pontos físicos no Brasil, concentrados na região sudeste, mas também possui uma loja virtual.
Leiturinha - Loja online de livros infantis que também possui um clube de leitura com opções de planos de assinatura.
Livraria Escariz - Rede de livraria com unidades físicas que também possui opção de vendas online, através de site.
Livraria Saraiva - Rede de livraria com unidades físicas que também possui opção de vendas online, através de site.
Livraria Cultura - Rede de livraria com unidades físicas que também possui opção de vendas online, através de site.
Livraria Leitura - Rede de livraria com unidades físicas que também possui opção de vendas online, através de site.

A Livraria Cultura pode ter a falência decretara ainda esta semana após o pedido para apresentar um novo plano de recuperação judicial ter sido negado pelo juiz Marcelo Sacramone, da 2ª Vara de Falências de São Paulo. A decisão judicial obriga ainda a empresa a comprovar o cumprimento do plano de recuperação em até cinco dias. O prazo foi iniciado na última sexta-feira (18).

Segundo informações do portal IG, a dívida da livraria gira em torno de R$ 285 milhões. Os credores também já rejeitaram a possibilidade de um novo plano.

Ainda conforme a publicação, a Livraria Cultura alega que o plano de recuperação precisa ser revisto, por causa do impacto causado pela pandemia do novo coronavírus no fluxo financeiro. A empresa afirmou que irar recorrer da decisão.

Caso a falência da Cultura seja decretada, todo o dinheiro será utilizado para quitar as dívidas já existentes.

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