Com mercados devastados pelas chuvas, cidades baianas vivem de doação de comida

Com mercados devastados pelas chuvas, cidades baianas vivem de doação de comida

Prateleiras caídas, sujeira por todos os lados e produtos revirados e cobertos de lama. Esse é o cenário dos mercados em cidades baianas atingidas pela chuva intensa de dezembro, como Dário Meira, Ubaíra, Medeiros Neto e Itabuna. Muitos estabelecimentos ainda estão com as portas fechadas. A maioria já foi limpa, mas segue sem funcionar por falta de dinheiro dos comerciantes para recomeçar o negócio do zero. Com isso, muitos locais estão desabastecidos e moradores dependem de doações para comer.

Dona Eunice Barbosa, de 53 anos, é dona do Restaurante da Dó, em Dário Meira. O local, que fica no Mercado Municipal, no centro da cidade, foi destruído pela água e segue fechado. Todos os produtos foram perdidos. “O centro foi a região mais crítica. No Mercado Municipal, todos os estabelecimentos foram invadidos pela água das chuvas”, conta Dona Eunice.

A empresária diz que, nem que tivesse dinheiro para comprar novos produtos e reabrir o restaurante, isso seria possível. Dário Meira foi uma das cidades mais afetadas pelas chuvas, com 90% do território submerso. Dos sete supermercados, não sobrou nenhum.

“Não tem mercado, estamos vivendo de doações. Está tudo fechado, todos foram afetados. As ruas ainda estão cheias de alimentos e outros produtos espalhados que foram perdidos por causa da água e da lama; aí só estão esperando o lixo passar e recolher”, acrescenta.

“A prioridade é se alimentar. A reabertura do restaurante fica em segundo plano”, ressalta a moradora. Eunice diz que a rotina agora é pegar fila no ponto montado no início da cidade para buscar doações e correr o risco de voltar para casa de mãos vazias. “Nesta segunda (3) eu fui e já não tinha mais alimento disponível, nem produto de limpeza, nada. Só água mineral porque o abastecimento de água voltou ontem. Estou aqui com o que peguei no domingo (2)”, finaliza.

Outro morador de Dário Meira, Helder Costa, de 40 anos, também está dependendo de doações. "Todo o comércio foi afetado e fica muito difícil limpar porque a água cai, mas a demanda é alta porque todo mundo quer limpar os estabelecimentos e casas, aí acaba a água de novo e fica nessa. Não tem mercado aberto, mesmo quem tem dinheiro está precisando de doações", diz Helder, que teve a residência afetada pela água e está abrigado na casa de amigos.

"Só a praça principal se salvou porque é um local mais elevado. A devastação foi grande. As ruas ainda estão até hoje cheias de entulho, lixo, lama. A prefeitura está recolhendo, mas é muita coisa. Todo mundo ainda tem muito trabalho pela frente para reerguer a cidade", acrescenta o morador.

Quem teve o negócio invadido pela água, ainda não sabe quando vai reabrir as portas. Uberlan Ribeiro, de 48 anos, é dono da Padaria Novo Pão, também em Dário Meira. No local, a água atingiu a altura de 2,5m e levou embora todos os produtos. “A gente perdeu tudo porque a água chegou muito rápido, não deu tempo de tirar nada”, diz.

“Eu preciso levar um técnico para olhar a situação das máquinas e também comprar novos produtos, mas não tenho condições de fazer isso agora e não sei quando vai dar. Isso depende de dinheiro e as coisas estão muito caras; a situação não estava boa, com essa chuva aí piorou de vez”, acrescenta Uberlan, que morava em um quartinho nos fundos da padaria e precisou ser acolhido na casa de amigos.

Medeiros Neto

Em Medeiros Neto, dos três grandes mercados da cidade, dois foram atingidos pela chuva, os que ficam na região central. Um deles é o Supermercado Oceano, onde a água destruiu todo o estoque. O local, que tem faturamento mensal de R$600 mil, teve um prejuízo de mais de R$2 milhões de um dia para o outro.

“Quando a chuva veio, a gente estava muito abastecido porque era uma preparação para o Natal e Ano Novo, compramos quase tudo dobrado no início de dezembro. Estava tudo estocado e o nosso estoque fica na parte mais baixa aqui; a água atingiu tudo. Foi tudo muito rápido, não deu tempo de tirar as coisas de dentro. A gente tinha ilhas de freezer com 500 chesters e não sobrou nada”, conta o gerente, Gilson Oliveira.

Segundo o gerente, o estabelecimento já está com as portas abertas, mas ainda com poucos produtos nas prateleiras. “Já voltamos a funcionar, mas não 100%. Não estamos totalmente abastecidos porque estamos tendo dificuldades com fornecedores já que muitas empresas estão em recesso de final de ano”, explica.

A Padaria Só Pão, que fica na mesma região, também está na mesma situação. O dono, Wilter Gomes, diz que pegou uma linha de crédito para conseguir comprar novos produtos e reabrir o local, mesmo que parcialmente.

“A água atingiu mais de 2m de altura e tudo que estava embaixo disso foi perdido. A gente conseguiu salvar pouca coisa de produto. Também perdemos equipamentos como liquidificador, fatiador de frios, refresqueira, relógio de ponto, etc. A nossa sorte foi que as máquinas da linha de produção ficam numa parte mais alta e se salvaram”, diz o proprietário.

Itabuna

Em Itabuna, o proprietário do Mercado Miranda diz que somente com o auxílio prometido pelo Governo Estadual vai conseguir colocar o estabelecimento para funcionar novamente. Paulo Vitor Miranda, de 36 anos, conta que perdeu 100% das mercadorias quando o Rio Cachoeira transbordou, o que significa 6 mil itens e um prejuízo de mais de R$250 mil. “O prejuízo foi muito grande; neste momento, é inviável reabrir. Eu vou tentar conseguir a ajuda que o Governo Estadual vai dar a moradores e comerciantes para ver se, assim, consigo comprar as coisas e retomar as atividades”.

Por lá, moradores também sobrevivem de doações. A professora Maria das Neves, de 58 anos, é uma das pessoas que se mobilizam para ajudar quem precisa. “A gente ficou sem água e sem alimento. O bom é que o povo é solidário. É com essa solidariedade que a gente consegue fazer café da manhã e outras refeições para distribuir. Montamos pontos na igreja, um na minha casa e outros em casas de outras pessoas”, conta.

Ubaíra

Em Ubaíra, 80% do comércio ainda segue fechado e, no centro da cidade, não há mercados funcionando. O prefeito Lúcio Passos afirma que só não há desabastecimento por conta das doações que a cidade está recebendo. “Não estamos com falta de alimentos por conta das doações que estão chegando porque cerca de 80% dos estabelecimentos comerciais estão com as portas fechadas. No centro da cidade, a situação é pior; em outras regiões, há mercados funcionando, mas são poucos”, diz.

Os dois grandes mercados que abasteciam a cidade ficam justamente no centro, na Avenida Presidente Vargas, a mais afetada pela chuva em Ubaíra. Os estabelecimentos ficaram destruídos e tiveram as portas arrancadas com a força da água. Os proprietários ainda estão contabilizando os prejuízos e separando as mercadorias que se salvaram.

“Com as doações, estamos ajudando a população em geral, mesmo aquela que não foi afetada diretamente pelas chuvas. A prefeitura recebe e, junto com voluntários, distribui alimentos e água, priorizando quem mais precisa. A Embasa já retomou o abastecimento em alguns locais, mas ainda há bairros sem água”, completa o prefeito.

Outras localidades

Sônia Rauédys, que mora em Salvador, mas nasceu em Jiquiriçá e está na cidade para ajudar parentes que tiveram casas e lojas atingidas pelas chuvas, conta que por lá também ainda há muitos mercados fechados, principalmente no centro. “Os que estão abertos estão com pouca mercadoria, que foi aquilo que conseguiram salvar da água, seja porque estava mais no alto ou porque deu para limpar”, diz.

Em Itamaraju, o morador Carlos Eduardo de Oliveira, de 50 anos, conta que na região mais afetada, Baixa Fria, há mercados, açougues, padarias e restaurantes fechados. Itamaraju foi o município onde mais choveu no Brasil em dezembro de 2021, com 769,8mm de chuva, segundo dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

“Um restaurante popular foi bastante atingido e hoje está funcionando só com uma parte, em situação precária”, diz. Como nem todos os bairros ficaram em situação crítica por conta da chuva e a cidade está recebendo doações, também não há desabastecimento.

Produções agrícolas afetadas

Segundo o presidente da Associação Baiana de Supermercados (Abase), José Humberto Souza, a associação não foi procurada pelos supermercados afetados pelas chuvas. “Tivemos supermercados invadidos pela água em diversas cidades, mas isso chegou ao nosso conhecimento através da imprensa, não fomos contatados oficialmente pelos estabelecimentos”, disse. O presidente acrescentou que a Abase enviou doações de alimentos para as regiões mais críticas da Bahia.

Souza afirmou que o maior problema foi em relação ao abastecimento dos supermercados, já que as produções agrícolas foram afetadas, mas que isso já está sob controle. “As chuvas interromperam algumas linhas de abastecimento, principalmente na semana passada, mas isso já está sendo normalizado. A região mais afetada foi a Chapada, com batata e cenoura, por exemplo, em Irecê”.

Balanço das chuvas

De acordo com a Superintendência de Proteção e Defesa Civil da Bahia (Sudec), até esta terça (4), eram 29.243 desabrigados, 73.518 desalojados, 26 mortos e 520 feridos. O número total de atingidos chega a 796.882 pessoas. No total, 168 municípios foram afetados e 157 estão com situação de emergência decretada.

O governador Rui Costa anunciou que abrirá linha de crédito para comerciantes que tiveram prejuízos com as chuvas nos moldes do que foi feito, no começo de dezembro, para os comerciantes do Extremo Sul da Bahia. A linha de crédito será feita pela Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia).

As concessões permitem parcelamento em até 48 meses, incluindo carência de até 12 meses para pagamento da primeira parcela, sem juros para financiamentos de até R$150 mil. Costa também informou que haverá auxílio para agricultores que perderam plantações e maquinários.

Doações

Para Ubaíra:
Ag 1163-0
CC 18.545-0 (Banco do Brasil)
Chave Pix/CNPJ 97.527.945/0001-06
Colégios Balbino Muniz Barreto e Anísio Teixeira (Em Ubaíra)
Loja Garoupa, na Avenida Paulo VI - Pituba (Em Salvador)
Loja Garoupa, na Avenida Euclydes da Cunha - Graça (Em Salvador)
Galpão do Armazém da Construção, na Rua Dr. Jorge Costa Andrade - Águas Claras (Em Salvador)

Para Jiquiriçá:
Ag 4188-2
CC 13465-1 (Banco do Brasil)
Chave Pix/CNPJ 14.923.893/0001-51

Para Itabuna:
Ag 0070-1
CC 131.740-7 (Banco do Brasil)
Chave Pix 14147490000168

Para Dário Meira:
Entrar em contato com o telefone (73)991865480

Para Itamaraju:
As doações podem ser feitas na sede da 43ª Companhia Independente da Polícia Militar (43ª CIPM/Itamaraju) ou em qualquer unidade do Corpo de Bombeiros da Bahia

Para Medeiros Neto:
Ag 2293-4
CC 60100-4 (Banco do Brasil)
Chave Pix/CNPJ 19.750.233/0001-30
Ou entrar em contato através do telefone (73)999943474

O Governo do Estado também disponibilizou uma conta geral para ajudar as cidades atingidas. A conta bancária do Banco do Brasil tem como número de agência 3832-6 (setor público) e conta número 993.602-5, identificada como BA Estado Solidário. Para depósitos via PIX, os doadores devem usar o CNPJ da Sudec – Superintendência de Proteção e Defesa Civil do Estado: 13.420.302/0001-60.

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    A Bahia registra um aumento significativo de casos de Dengue, com 16.771 casos prováveis até 24 de fevereiro de 2024, quase o dobro em comparação ao mesmo período do ano anterior. Atualmente, 64 cidades estão em estado de epidemia, com a região Sudoeste sendo a mais afetada. Além disso, foram confirmados cinco óbitos decorrentes da doença nas localidades de Ibiassucê, Jacaraci, Piripá e Irecê.

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    Drones

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