Na Bahia, a polícia acumula cada vez mais um número elevado de mortes. Só em 2020, foram 1.137 óbitos causados por policias em ou fora de serviço, o que é 47% maior do encontrado em 2019, quando 773 pessoas foram mortas pelos agentes de segurança. Esse aumento é superior aos 0,3% de leve crescimento registrado na média nacional. Os dados são do anuário 2021 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgado nesta quinta-feira (21).

Alguns locais do país conhecidos pela letalidade policial, isto é, a frequência com que ocorrem mortes de civis em função de ações policiais, como o Rio de Janeiro, tiveram redução em 2020 no número de óbitos por intervenções policiais. No estado fluminense, essa queda foi de 31,8%. Lá, cerca de 1,2 mil mortes foram causadas por policiais em 2020, o que representa 7,2 mortes para cada 100 mil habitantes. Já na Bahia, a taxa de mortalidade é de 7,6, deixando o estado como o quarto com mais violência policial, atrás apenas de Amapá, Goiás e Sergipe.

De acordo com David Marques, coordenador de projetos do FBSP, já há alguns anos a Bahia tem se destacado negativamente no cenário nacional. Ele destaca alguns fatores que, no geral, contribuem com essa violência policial, como a cultura organizacional da corporação, frágil controle dos mecanismos policiais e a forma como a liderança política ou gestores da segurança pública enxergam esse problema.

“Muitas vezes, eles têm a utilização de discursos que são arcaicos, retrógrados, que diz que para a polícia controlar a violência tem que agir com mais violência, o que não é verdade. Precisamos ter uma visão qualificada da segurança pública e desfazer esses mitos que rodeiam o tema”, defendeu.

Especialistas apontam ações para reduzir violência policial
David Marques também apontou elementos que podem reduzir a letalidade policial. “No Rio de Janeiro e São Paulo, houve a implementação de mecanismos de controle que podem ter contribuído com a redução e que vai contribuir para a redução da violência na forma geral”, relatou. O pesquisador se referia a proibição do Supremo Tribunal Federal (STF) da realização de ações policiais em favelas do Rio de Janeiro durante a pandemia de covid-19.

Outro bom exemplo apontado foi a instalação de câmeras no uniforme de policias militares de São Paulo esse ano. Em junho de 2021, nos 18 batalhões em que o equipamento foi utilizado no estado, ninguém morreu em confrontos com policiais, ou seja, a letalidade foi zero.

“Vejo essa ação com bons olhos, pois o policial pode produzir provas a favor e contra a ele, ou seja, aumenta o cuidado nas ações”, defende o coronel Antônio Jorge, especialista em segurança pública e coordenador do curso de Direito do Centro Universitário Estácio da Bahia. Mas, para ele, é preciso pensar ainda em outras ações que contribuam na redução da violência policial.

“Não encontro no Brasil uma ação integrada a nível federal, estadual ou com as diversas forças de segurança. Não consigo enxergar uma unidade de ação. Temos também efetivos defasados. Por mais que você tenha a possibilidade de potencializar a ação das forças através da tecnologia, é a presença física da polícia que inibe ou dificulta determinados delitos. E o trabalho de inteligência tem que ser aplicado em todos os níveis, como a financeira, de modo que se combata também a corrupção policial”, defende.

Bahia tem sete cidades na lista das com mais mortes geradas pela polícia
Das 55 cidades brasileiras com mais mortes decorrentes de intervenções policiais, sete ficam na Bahia: Salvador, Feira de Santana, Camaçari, Vitória da Conquista, Luís Eduardo Magalhães, Santo Antônio de Jesus e Jequié. Só nesses municípios baianos, foram 524 óbitos gerados por policiais em 2020, o que representa quase a metade de toda letalidade policial do estado.

"Isso mostra que a violência policial está concentrada em determinadas cidades brasileiras, o que reflete na cultura organizacional das corporações que atuam nesses locais. É preciso a instituição de políticas públicas de redução na letalidade focada nas policias dessas cidades”, disse a pesquisadora Samira Bueno, diretora executiva do FBSP.

Os pesquisadores também destacaram que a violência policial pode ser medida se comparada a quantidade de mortes gerada pela polícia com o total de mortes violentas ocorridas (morte de policiais, homicídio doloso, latrocínio e lesão corporal seguida de morte). Na Bahia, foram 6,7 mil óbitos violentos, 17% destes causados por policiais. O índice é superior aos 12,8% da média nacional e coloca a Bahia no sétimo lugar do ranking.

Para Luciene Santana, cientista social e pesquisadora de rede de Observatório de Segurança pela Bahia através da Iniciativa Negra, os dados mostram que o estado escolheu investir na letalidade do que na prevenção da violência. “Quando a gente fala em ações policiais, a gente imagina que haja planejamento para evitar mortes. Mas, infelizmente, a maior marca que se destaca na polícia da Bahia é a letalidade. O Rio de Janeiro, onde esse sistema já se mostra como falido, conseguiu ser menos letal que a Bahia”, destaca.

“Nós nos preocupamos com a forma que a segurança pública tem se constituído na Bahia e quais os territórios mais afetados. Na pandemia, em bairros como Mata Escura, Valeria e Sussuarana, aconteceram grandes operações policiais. É preciso organização do estado acerca do orçamento público. Alguns bairros possuem investimento em educação, saúde e cultura e outros em operações policiais que geram alto índice de mortes”.

O coronel Antônio Jorge concorda que essas operações contribuem para o aumento da letalidade policial. “As forças de segurança tiveram que agir para evitar os conflitos entre as facções ligadas ao tráfico. Quando a polícia age, maior a possibilidade de confrontos e assim maior a possibilidade de mortes, inclusive de policiais”, declarou. Só em 2020, um policial militar foi assassinado em confronto e outros 10 fora de serviço, totalizando 11 policiais mortos, número maior do que os oito registrados em 2019.

Guerra às drogas motiva operações e aumento de mortes
Ainda para Antônio Jorge, o confronto entre facções rivais ligadas ao Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC) em Salvador motivaram mais ações policiais nas favelas, na chamada guerra ao tráfico. “A maioria das mortes são dos grupos que estão em conflito, mas também há mortes de inocentes. Recentemente, duas mulheres morreram no Curuzu. São as consequências dessa guerra”, lamenta.

O coronel se referiu aos óbitos de Viviane Soares, 40 anos, e Maria Célia Santana, 73, baleadas no bairro do Curuzu no dia 4 de junho de 2021. Segundo informações de moradores, a polícia perseguia bandidos em um carro roubado, quando uma troca de tiros foi iniciada. Moradores e amigos das vítimas alegam que os tiros que atingiram as mulheres partiram da polícia. As duas eram vizinhas e conversavam na frente de casa - Viviane era manicure e fazia a unha da colega.

Embora Viviane e Maria Célia sejam negras, as mortes delas correspondem a uma exceção no padrão de vítimas da letalidade policial no Brasil. O alvo mais comum dos policias são homens negros de 18 a 24 anos. Já os policias que mais são vítimas de crimes letais violentos também são pessoas do sexo masculino e da raça negra, mas com idade diferente: 35 a 39 anos.

Para Luciene Santana, não há dúvidas que há elementos de racismo estrutural que fazem com que tenha mais vítimas negras. “O policial que aponta o gatilho é negro e o que morre também é negro, pois ele está na frente do processo e é tratado com a ponta descartável do sistema. É preciso entender que essas mortes só acontecem, pois o estado legitima que ela aconteça. Segue, portanto, uma lógica estrutural do racismo”, lamenta.

Na própria rede de estudos que a pesquisadora faz parte, em dezembro de 2020 foi publicado o relatório A Cor da Violência Policial: a Bala não Erra o Alvo, que mostra que, na Bahia, 97% das mortes geradas por policiais são de pessoas negras. Isso coloca a polícia do estado no primeiro lugar na lista das que mais matam a população negra, acima dos outros estados pesquisados pelo grupo: Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo.

“Quando colocamos que na Bahia tem mais morte de pessoas negras, as pessoas tendem a pensar que isso tem relação com o fato de existirem mais negros no estado. Só que, segundo o último censo do IBGE, a população negra aqui é de 76,5%. Os negros estão sempre liderando os indicadores de pobreza ou violência, infelizmente”, lembra Luciene.

Bahia tem a segunda maior taxa de mortes violentas intencionais do país
Além de todas as mortes por covid-19 que os baianos precisaram lidar em 2020, houve um crescimento na quantidade de mortes violentas intencionais no estado. No total, foram 6,7 mil óbitos registrados no ano passado, um número 11% maior dos 6 mil óbitos registrados em 2019 e o recorde desde 2017, quando 6,9 mil pessoas foram vítimas de crimes violentos.

Em termos proporcionais, a Bahia teve, em 2020, 44,9 mortes violentas para cada 100 mil habitantes, o que põe o estado na vice-liderança da violência no Brasil, atrás apenas do Ceará. Nessa quantidade de mortes violentas estão presentes as mortes dos policiais, as causadas por policiais e também os crimes letais como homicídio doloso, latrocínio e lesão corporal seguida de morte. De todos esses, a Bahia teve redução apenas no número de latrocínios. Em 2019, foram registrados 142 frente aos 108 de 2020.

No Brasil, a quantidade de mortes violentas intencionais também cresceu, mas abaixo do nível baiano. Foi um aumento de 4% (de 47,7 mil óbitos em 2019 para 50 mil óbitos em 2020). O estado baiano tem ainda 17 cidades entre as que população igual ou superior a 100 mil habitantes com taxas de Mortes Violentas Intencionais superiores à média nacional. Dessas, com 89,9 mortes para cada 100 mil habitantes, Feira de Santana é a cidade baiana mais violenta, seguida logo depois por Simões Filho, com 89,8 mortes por 100 mil habitantes.

Todo esse crescimento dos óbitos violentos na Bahia aconteceu apesar da queda nos registros de todos os tipos de roubos no estado. A quantidade de furtos de veículos, por exemplo, caiu 16,5% de 2019 para 2020. Já o roubo a estabelecimento comercial teve a queda mais significativa nesse período: 26%. Também houve queda nos registros de tráficos de drogas (-8,9%) e posse de drogas (-33,8%). Para o coronel Antônio Jorge, essa queda de crimes menos violentos é explicada pela pandemia.

“Era óbvio que ia cair, pois diminuiu o número de pessoas na rua. Agora que a vida tá voltando a normalidade, é esperado que aumente. Mas por que a pandemia não fez com que houvesse diminuição nos crimes mais letais? Bem, houve a liberação de pessoas dos presídios, alguns ligados a facções criminosas e que se enveredaram em conflitos que geraram o aumentando da letalidade. Também tem o fato de que crimes letais estão ligados a convivência. Com as pessoas em casa, confinadas, há aumento de lesões corporais, agressões e inclusive homicídio”, argumenta.

Policiais morreram mais por covid do que por confronto
Na Bahia, em 2020, um policial morreu em confronto e outros 10 foram assassinados fora do serviço, totalizando 11 mortes violentas na categoria. O número é menor do que os 33 policiais mortos pela covid-19 no estado. Isso coloca a Bahia no quinto lugar da lista de estados que mais tiveram agentes de segurança vítimas da covid, atrás apenas do Rio de Janeiro, Pará, Amazonas e São Paulo.

Além do alto índice de mortes, outros 10 mil policiais baianos precisaram se afastar do serviço por terem contraído a doença. Por serem categoria essencial, esses profissionais não pararam de trabalhar em nenhum momento da pandemia. Dos afastados, 8,6 mil eram policiais militares e os demais foram civis. Já entre os mortos, 22 eram militares e 11 civis.

Um dos policiais vítimas da covid-19 foi o coronel Siegfrid Frazão Keysselt, que tinha 70 anos e toda uma vida de serviço prestado à Policia Militar da Bahia. Ele morreu na madrugada do dia 26 de fevereiro de 2021, quando a Bahia sofria com uma segunda onda de contaminações. Ele estava internado no Hospital Aliança.

O militar entrou na corporação em 1971 e entre as funções que exerceu está o cargo de diretor do Departamento de Comunicação Social da PM (DCS). Na época que Siegfrid morreu, os agentes de segurança ainda não podiam receber a vacina da covid-19, o que só foi acontecer na Bahia no final de março de 2021. Por esse prazo, todos os agentes de segurança já estão imunizados com as duas doses da vacina.

Em nota, SSP-BA também apontou a guerra às drogas como causa do aumento das mortes
A Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) divulgou uma nota na qual defende a ideia de que o aumento das mortes violentas, em 2020, tem relação direta com o acirramento das disputas por territórios entre organizações criminosas envolvidas com o tráfico de drogas. A pasta também destacou que a medida que colocou mais de 3 mil detentos em prisão domiciliar, por conta da pandemia, a maior parte integrantes de bandos que comercializam entorpecentes, potencializou os embates.

“Diante desse cenário, a SSP determinou que as polícias Militar e Civil ampliassem as ações ostensivas e de inteligência, buscando mapear novas lideranças e agir para evitar confrontos, entre criminosos, e também com as polícias”, disseram.

A pasta também afirmou que investe anualmente em treinamento das policias Militar e Civil para utilizar a força, de forma escalonada, quando existe a necessidade, durante operações, abordagens e blitze. “O uso de arma letal é sempre a última opção, utilizada quando existe a necessidade de proteger a vida dos policiais envolvidos no confronto e de inocentes. A SSP destaca ainda que todos os autos de resistências são investigados pelas Corregedorias que atuam de forma rígida, quando existe indício de excesso”, apontaram.

Para encontrar uma forma de diminuir a letalidade policial e buscar maior transparência na apuração dos fatos, a SSP enviou para São Paulo, nessa quarta-feira (14), um grupo de policiais para acompanhar o uso de câmeras, nos fardamentos, pela polícia paulista. “O objetivo é, de forma célere, avaliar os impactos e benefícios do uso deste tipo de equipamento e os resultados na redução das mortes”, explicaram.

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Os cartórios baianos registraram o primeiro semestre com mais óbitos e menor número de nascimentos em toda a história do estado. Nunca se morreu tanto e nem se nasceu tão pouco como no primeiro semestre de 2021, segundo apontam estatísticas da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen).

Os dados certamente têm relação com a pandemia de covid-19, que já tirou a vida de mais de 24,7 mil baianos e impôs temor a quem planejava constituir família.

A diferença recorde entre nascimentos e óbitos altera a demografia e, no futuro, pode levar a impactos na economia. Até o final de junho, os cartórios do estado registraram 52.834 mortes de todo tipo de natureza. Maior número da história para um primeiro semestre, esse dado é também 22% maior do que o ocorrido no mesmo período do ano passado, quando a pandemia já estava instalada há quatro meses.

Quando comparado com 2019, ano anterior à pandemia, o aumento no número de mortes foi de 18,4%. Os dados são compilados pelos cartórios desde 2003.

Presidente da Arpen-BA, Daniel Sampaio detalha que o que se verificou na prática é que os nascimentos, que vinham em crescimento constante, deram uma desacelerada significativa — ao passo que as mortes, que vinham crescendo na mesma proporção do crescimento populacional, tiveram um aumento exponencial.

Com relação aos nascimentos, a Bahia registrou o menor número de nascidos vivos em um primeiro semestre desde o início da série histórica em 2003. Até o final do mês de junho foram registrados 89.960 nascimentos, número 18% menor que a média de nascidos no estado desde 2003, e 2% menor que no ano passado. Com relação a 2019, ano anterior à chegada da pandemia, o número de nascimentos caiu 13% na Bahia.

“A constatação não é outra senão a de que, com a pandemia, as famílias ficaram com um pouco de receio de fazer o planejamento familiar”, diz o presidente. Neste período de intranquilidade no país, provavelmente as pessoas entenderam que o tempo é arriscado para a saúde de bebês, grávidas e puérperas, o que fez com que casais adiassem ou desistissem do plano de ter filhos, acredita ele.

O presidente regional da Arpen-BA explica que esse desbalanço pode promover impactos no desenvolvimento econômico do país lá na frente. Quando fatores como a covid-19 influenciam negativamente na demografia, cria-se aí um risco para o avanço, podendo, no futuro, ocorrer problemas como oneração da previdência e falta de mão de obra qualificada no mercado de trabalho, por exemplo.

O resultado da equação entre o maior número de óbitos da série histórica em um primeiro semestre versus o menor número de nascimentos da série no mesmo período é o menor crescimento vegetativo da população em um semestre na Bahia, aproximando, como nunca antes, o número de nascimentos do número de óbitos.

A diferença entre nascimentos e óbitos que sempre esteve na média de 72.276 mil nascimentos a mais caiu para apenas 37.126 mil em 2021, uma redução de 49% na variação em relação à média histórica. Em relação a 2020, a queda foi de 23%, e em relação a 2019 foi de 37%.

Por trás dos números
As estatísticas não são suficientes para dimensionar o tamanho do drama. Por trás delas há histórias como a do comunicador esportivo Flávio Gomes, 43 anos, que perdeu três amigos num intervalo de três dias na semana passada. O primeiro deles tinha 45 anos, vinha se recuperando de um câncer e era seu grande amigo de infância. Juntos, compuseram músicas que cantavam nas festas.

A segunda vítima foi sua colega de trabalho, uma gerente de marketing que, com 49 anos, foi infectada ao cuidar da mãe, que também teve a doença. O terceiro amigo deu entrada no hospital para uma cirurgia de vesícula, pegou covid-19 na unidade e faleceu.

“Isso me abalou porque foi um após o outro. Quando eu ainda estava incrédulo com a perda de um amigo, recebi a notícia de outra amiga e, depois, do terceiro. Sou muito religioso, estou tentando me acostumar com a ideia da perda das pessoas. A gente fica incrédulo, mas precisamos seguir. Foram muitas histórias, chorei bastante. O plano de imunização tem que acelerar porque senão vamos perder mais gente. Temos que lutar e exigir vacina, não tem outro caminho”, diz Flávio.

Conhecido por tratar de forma acessível a psicanálise através das redes sociais, Lucas Liedke escreveu sobre como as pessoas estão passando pela perda ambígua — um termo cunhado pela psicóloga Pauline Boss para explicar quando se vive o luto pela metade. O que Lucas observa é que o mundo continua aí, fisicamente presente, mas é impossível não sentir a ausência de uma vida que não existe mais, ou milhares de vidas.

“São tempos estranhos. Dias em que a gente se sente meio fora da realidade, como num sonho ou pesadelo que continua se repetindo”, diz.

O psicanalista avalia que, desde o início da pandemia, parece que tão difícil quanto enfrentar as perdas em si, é lidar com diferentes formas que cada um enfrenta o que está acontecendo: uns se deprimem, outros enraivecem, há quem se negue a aceitar os fatos. “Não estamos acostumados a essa dimensão do luto coletivo e a um período tão longo de incertezas”, completa ele.

Publicado em Bahia

Nos primeiros três meses de 2021, 678 pessoas perderam um emprego de carteira assinada na Bahia. O motivo antes fosse uma demissão. Esses baianos morreram e entraram na estatística de desligamentos por mortes. O número assusta, pois no mesmo período de 2020 houve apenas 484 desligamentos do tipo. Isso significa que, em um ano, cresceu em 40,1% o número de contratos de trabalho encerrados por causa de óbitos dos funcionários.

Esse cálculo foi feito num levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) a partir de dados de trabalho formal do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia. A diferença entre um período e outro estudado é a pandemia de covid-19, que ainda estava no começo no primeiro trimestre de 2020. Na Bahia, por exemplo, apenas duas pessoas morreram por covid nesse período.

Já em 2021, foram 6,2 mil mortes pela doença no primeiro trimestre, de acordo com a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab). No total, em toda pandemia, a Bahia já apresenta 22.513 mortes por covid. No Brasil, o crescimento de desligamentos por mortes é maior do que o do estado. Foram 13.2 mil contratos encerrados no primeiro trimestre de 2020 para 22,6 mil no mesmo período de 2021, um salto de 71,6%.

A Bahia, por sinal, é o quarto estado com menor índice de crescimento nos casos de desligamentos por morte, perdendo apenas para o Amapá, Pernambuco e Rio de Janeiro. Já o estado campeão é o Amazonas, que, no início do ano, viveu um colapso no sistema de saúde com falta de oxigênio hospitalar. O resultado foi um crescimento percentual de desligamentos de 437,7%, indo de 114 para 613, entre o primeiro trimestre de 2020 e o de 2021.

Os 678 desligamentos por mortes na Bahia no primeiro trimestre de 2021 também representam o recorde estadual de toda a pandemia e um crescimento de 31,4% em comparação com o último trimestre de 2020, quando 516 pessoas foram desligadas por esse motivo. A nível nacional, o recorde também foi batido nesse ano e o salto em comparação com o período anterior é de 48,1% (De 15,3 mil desligamentos por morte para 22,6 mil).

Para os especialistas, embora os dados não identifiquem a causa dos óbitos, ele indica o quanto a pandemia voltou a causar mais mortes em 2021 com a chamada ‘segunda onda’. Atualmente, todo o país vive o temor de uma terceira onda de contaminações tomar conta do território. Na Bahia, o governador Rui Costa chegou a declarar que tem medo de o mês de julho apresentar números epidemiológicos piores do que o de março desse ano.

Impactos econômicos
Todas as vidas importam. Para o economista e integrante do Conselho Regional de Economia (Corecon-BA), Edval Landulfo, isso é um fato. Mas ele alerta que além do luto envolvido na perda de um colega de trabalho ou ente querido, é necessário lembrar dos prejuízos econômicos que são gerados por causa dessas mortes.

“Até porque cada pessoa é única. Há um custo altíssimo para preparar um funcionário para assumir uma determinada função. Quanto mais especializado for, quanto mais difícil for a função por ele executada, mais cursos preparatórios serão necessários. E algumas vezes são as próprias empresas que bancam essa formação. Perder um funcionário não é bom para qualquer organização”, explica.

E se levar em consideração que essas pessoas também tem uma família e seu emprego de carteira assinada contribuía com a renda da casa, há outros problemas que são gerados com a morte de um indivíduo. “Os recursos financeiros da família vão ficar mais escasso. A gente não imagina que perder um parente às vezes é perder alguém que sustenta toda a casa. Não há depois auxílios ou pensões que substituam integralmente o que ele ganhava como CLT”, diz.

Landulfo também alerta que o mercado informal não está incluído no estudo, mas eles também são afetados nesse sentido. Para evitar problemas financeiros futuros, o economista, que também é educador financeiro, recomenda que as pessoas adquiram o hábito de fazer um seguro de vida. “É ter uma proteção patrimonial para casos de mortes ou invalidez permante. Isso livra sua família da dependência total do INSS e protege quando surge uma eventualidade”, argumenta.

Técnicos de enfermagem e enfermeiros lideram afastamentos
Os impactos no mercado de trabalho não ficam somente nos casos de funcionários que morrem por covid, mas também aqueles que se recuperam com sequelas. Algumas tão complicadas que obrigam esses trabalhadores a se afastarem do serviço através do auxílio por incapacidade temporária, o antigo auxílio-doença do INSS. Em 2020, os técnicos de enfermagem e os enfermeiros foram os que mais precisaram requerer esse benefício, de acordo com o Observatório de Saúde e Segurança do Trabalho.

No total, foram 168 afastamentos de técnicos e 56 de enfermeiros, seguidos logo depois por faxineiros (41), auxiliar de escritório (39). Auxiliar administrativo (39) e auxiliar de enfermagem (21). Confira o top 10:

1º tecnico de enfermagem: 168 (18%)
2º Enfermeiro: 56 (6%)
3º Faxineiro: 41 (4%)
4º Auxiliar de escritório em geral: 39 (4%)
4º Auxiliar administrativo: 39 (4%)
5º Auxiliar de enfermagem: 21 (2%)
6º Vendedor de comércio varejista: 18 (2%)
7º Recepcionista em geral: 16 (2%)
7º Operador de caixa: 16 (2%)
7º Porteiro de edifícios: 16 (2%)
8º Vigilante: 15 (2%)
9º Fisioterapeuta: 13 (1%)
9° Operador de telemarketing ativo e receptivo: 13 (1%)
10º Motorista de caminhão (rotas regionais e internacionais): 12 (1%)

Para Jimi Medeiros, presidente do Conselho Regional de Enfermagem da Bahia (Coren-BA), os números indicam como sua categoria tem sido afetada pela covid.

“A enfermagem fica 24 horas ao lado do paciente, seja na UTI ou na atenção básica à saúde. É o trabalho mais exposto ao adoecimento e a morte. E também é o menos valorizado. Hoje lutamos para a aprovação no Senado Federal do Projeto de Lei (PL) 2564 que visa instituir o piso salarial da categoria. Nem isso temos”, explica.

Segundo o Coren, os trabalhadores da enfermagem compõem 70% da força de trabalho do sistema de saúde. Na Bahia, os técnicos de enfermagem e enfermeiros são os profissionais da saúde mais contaminados por covid-19. São 14,5 mil casos em técnicos e 11,6 mil em enfermeiros, de acordo com a Sesab. O Coren registrou ainda 40 óbitos de profissionais.

Já o Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Crefito) registrou apenas duas mortes. Mas o presidente da instituição, Gustavo Vieira, os números estão subestimados. “Toda empresa de fisioterapia e terapia ocupacional tem que ter um responsável técnico, que são nossos parceiros e fazem as notificações. Mas tem casos de unidades de saúde que contratam profissionais para prestar serviços de forma individual e isso acaba não sendo mapeado muito bem por não ter uma empresa responsável ali. E aí não há a notificação. Na prática, acredito que o número de mortes é maior”, lamenta.

O que você precisa saber sobre o Auxilio por Incapacidade Temporária:

O que é? É o antigo auxílio-doença. Segundo Marcela Caetano, chefe da divisão de benefício do INSS, o nome foi mudado justamente para que ficasse bem claro: o benefício é destinado ao segurado da previdência que tem alguma necessidade relativa à uma doença que traga incapacidade temporária ao trabalho. Se ele tem que ficar afastado por mais de 15 dias, pode dar entrada no pedido.

Quem tem direito? O segurado deve ter, no mínimo, 12 meses de contribuição na previdência e deve estar em dia com seu pagamento.

Quanto é o benefício? O valor varia conforme a contribuição de cada pessoa. Primeiro é calculado a média de pagamento desde julho de 1994 até o mês do requerimento. O benefício é 91% dessa média. Isso significa que, quanto maior for a contribuição do trabalhador, maior será o benefício.

Como solicitar? Primeiro, a pessoa deve ter uma avaliação do seu médico atestando a necessidade do afastamento do trabalho e por quanto tempo. Depois, ela deve ir no aplicativo Meu INSS e agendar uma perícia, onde outro médico vai avaliar se a condição do trabalhador, de fato, requer esse afastamento e pelo período estipulado. Se o perito aprovar, o benefício será concedido.

O prazo pode ser prorrogado? Sim e por tempo indeterminado. Mas para haver prorrogação, é necessário um novo laudo médico e uma nova avaliação do médico perito. No caso do problemas de saúde causar uma incapacidade para a vida toda, é possível pedir a aposentadoria por incapacidade permanente.

Publicado em Bahia

O boletim extraordinário do Observatório Covid-19, divulgado nesta quarta-feira (28 pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), aponta queda no número de casos e de óbitos e redução das taxas de ocupação de leitos de UTI covid-19 para adultos.

No entanto, os níveis permanecem em patamares críticos, e a taxa de letalidade preocupa. Os dados comparativos mostram que, no fim do ano passado, esse indicador em 2%, mas aumentou para 3% na Semana Epidemiológica 11 (14 a 20 de março) e, na última semana, subiu para 4,4%. A análise do boletim é referente à Semana Epidemiológica 15, período entre 18 e 24 de abril.

Segundo o boletim, o número de casos confirmados diminuiu à taxa de 1,5 % ao dia, enquanto o de óbitos pela doença caiu 1,8 % ao dia, “mostrando tendência de ligeira queda, mas ainda não de contenção, da epidemia”.

Quanto à taxa de ocupação de leitos, chamam a atenção a queda nos estados de Rondônia (de 94% para 85%) e do Acre (de 94% para 83%), ainda que ambos continuem na zona de alerta crítico; a passagem de Alagoas da zona de alerta crítico para a de alerta intermediário (de 83% para 76%); e a saída da Paraíba da zona de alerta (de 63% para 53%).

De acordo com os pesquisadores do Observatório Covid-19, o quadro atual pode representar uma desaceleração da pandemia, com a formação de um novo patamar, como o ocorrido em meados de 2020, porém com números muito mais elevados de casos graves e de óbitos, que revelam a intensa circulação do vírus no país. “Esse conjunto de indicadores, que vêm sendo monitorados pelo Observatório Covid-19 Fiocruz, mostram que a pandemia pode permanecer em níveis críticos ao longo das próximas semanas.”

Diante desse cenário, os responsáveis pelo estudo alertam que a flexibilização sem um controle rigoroso das medidas de distanciamento físico e social pode retomar o ritmo de aceleração da transmissão, com a “produção” de novos casos, vários deles graves, e elevação das internações e taxas de ocupação de leitos.

“A integração entre atenção primária à saúde e a vigilância em saúde deve ser intensificada para otimizar os processos de triagem de casos graves, seu encaminhamento para serviços de saúde mais complexos, bem como a identificação e aconselhamento de contatos para medidas de proteção e quarentena. Além disso, a reorganização e ampliação da estratégia de testagem é essencial para evitar novos casos, bem como reduzir a pressão sobre os serviços hospitalares”, acrescentam os pesquisadores.

Publicado em Saúde

O mês que marca um ano da decretação de pandemia também será lembrado, até então, como o mais mortal na Bahia e também no Brasil. Faltando ainda nove dias para acabar, março já é o mês com o maior número de registros de óbitos de covid-19 de todo o histórico. Esta situação já havia sido prevista e alertada por cientistas brasileiros antes mesmo de acontecer. Foram 2.280 vidas perdidas no estado em março, ultrapassando agosto do ano passado, quando mais de 1,9 mil morreram pela doença. Um aumento de 20% em relação ao recorde anterior. Ao todo, 14.099 baianos vieram a óbito, segundo números da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab).

Desde o começo do mês, foram raros os dias em que não houve mais de 100 mortes por dia computadas no estado. Se continuar nesse ritmo, março pode encerrar com mais de 3 mil óbitos. A data com maior número de vidas perdidas foi a última quarta-feira (18), com 153. Entre as pessoas públicas estão o cantor e vereador de Salvador Irmão Lázaro (PSC), 54 anos, e o prefeito reeleito de Vitória da Conquista, Herzem Gusmão (MDB), de 72 anos.

Esta última semana foi a mais mortal de março, com 860 registros de mortes, contra 709 e 711 das duas anteriores, respectivamente. Coordenador do laboratório de Biossistemas do Instituto de Física da Ufba e pesquisador do projeto Geocovid, José Garcia lembra que, no começo da pandemia, os modelos matemáticos previam um crescimento de casos e mortes próximo ao que estamos vivenciando, mas foi possível “achatar a curva” graças à adesão das pessoas ao isolamento social.

No entanto, no último semestre o isolamento caiu com o movimento das eleições, festas de fim de ano, Carnaval e, por fim, encerramento do auxílio, relembra. “Deu no que estamos vendo agora, especialmente com a nova variante”, observa.

Os pesquisadores do projeto estão refazendo o modelo de cálculo das projeções, incluindo agora esses cenários de novas variantes e chegada de vacinas. O que já se sabe é que os valores são “assustadores” para um quadro em que o isolamento não seja respeitado. Para Garcia, agora não faz tanta diferença interromper o fluxo intermunicipal porque as novas cepas do vírus já estão espalhadas por todo o país. O que poderia ajudar, neste momento, seria o esforço nacional de manter as pessoas em casa, mas sem um auxílio-emergencial isso seria muito cruel para os mais vulneráveis.

Quanto ao status da campanha de vacinação em andamento, o pesquisador opina que, pelo que se sabe do comportamento do vírus, é muito provável que, antes de terminar de vacinar a população, já tenhamos uma nova variante resistente ao imunizante. “Pois o vírus está tendo muitas chances de se modificar no nível de reprodução [de casos] que está tendo agora. O pior é que todos os modelos já previam isso”, diz.

Há quatro dias, pesquisadores do grupo Observatório Covid-19 BR, um dos que reúnem mais cientistas no país, escreveram uma carta aberta classificando o momento não apenas como “catástrofe sanitária”, mas também humanitária. A entidade destacou que a situação atual reúne colapso do sistema hospitalar, sobrecarga do sistema de saúde e impasses quanto ao auxílio emergencial. Os signatários disseram que a situação poderia ter sido evitada se os governantes tivessem ouvido a ciência e adotado políticas públicas com antecedência.

“A falta de ações de mitigação ou supressão em tempo hábil resultou no estado de emergência no qual, lamentavelmente, nos encontramos”, afirmaram.

O quadro brasileiro é considerado alarmante, mas existem diferenças na forma como a pandemia foi combatida em cada estado que podem ser observadas para efeito de análise. Médico infectologista e especialista da Fiocruz, Júlio Croda detalha que quatro estados têm registrado menor mortalidade para cada 100 mil habitantes, segundo dados do Ministério da Saúde desse domingo (21): Alagoas (99,4), Bahia (94,1), Maranhão (80,3) e Minas Gerais (102,8). No Brasil, a taxa geral é bem acima, com 139,3 mortes para cada 100 mil habitantes.

“Alguns estados responderam melhor do que outros muito por conta da gestão local. Não houve uma recomendação técnica e nem apoio do Governo Federal, então estados e municípios fizeram ações específicas em relação a essas intervenções de cunho mais coletivo. No geral, o Brasil respondeu muito mal à pandemia e, por isso, chegamos a esse momento”, comenta Croda, que acrescenta ainda que o discurso que polariza economia e saúde não é real. “Se a gente faz essas medidas efetivas, a economia se recupera mais rápido”, argumenta.

O infectologista adianta que chegamos onde chegamos principalmente por falta de postura comprometida do presidente Jair Bolsonaro, que, em diversos momento, se manifestou contra a vacina, colocando-a em dúvida, como na ocasião em que disse que quem tomasse poderia “virar jacaré”. Bolsonaro também desincentivou o uso de máscaras e estimulou publicamente o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença. Estes fatos levaram a uma condução não baseada em evidências e “bastante enfraquecida do ponto de vista da gestão da crise, sendo que desde o início a gente sabia quais são as medidas efetivas individuais e coletivas”, completa ele.

O que mais fez aumentar as mortes?

Por trás da alta no número de mortes em todo o país estão, segundo o observatório, fatores como o tempo de espera por vagas em UTIs, esgotamento dos estoques de medicamentos, dificuldades na reposição de oxigênio nos hospitais por causa do aumento do consumo. A tudo isso, soma-se, ainda, a escassez de profissionais da saúde para atuar em UTIs, unidades porta-aberta e emergências, bem como esgotamento físico e mental destes trabalhadores.

Em parte, a evolução a óbito acontece porque milhares de pessoas com indicação de necessidade de cuidado intensivo estão internadas fora de UTIs, sem assistência adequada e sem a possibilidade de transferência, nem mesmo para outras regiões do país, já que quase todas estão colapsadas.

Ainda assim, mesmo quem tem acesso a UTI tem alto risco de morte. E não adianta apenas abrir novos leitos, dizem os cientistas, porque isso não detém o espalhamento do vírus. “Em resumo, se mantido o crescimento acelerado atual do número de casos, não há possibilidade de atendimento hospitalar adequado e o número de mortes evitáveis vai aumentar ainda mais”, prevê o Observatório Covid BR.

Dentre as medidas sugeridas pelos cientistas do grupo estão: investir em vacinação em massa da população, conter a transmissão do vírus com a redução da circulação de pessoas, assegurar expansão de leitos e contratação de profissionais treinados, fechamento de estabelecimentos que não prestem serviços essenciais, restrição de viagens não essenciais entre municípios e estados, reforçar a comunicação sobre a necessidade de proteção individual; proteção de pessoas mais vulneráveis com um auxílio de R$ 600 para garantir a subsistência das famílias nesse momento de alta inflação nos itens da cesta básica e oferta de linhas de crédito e redução de impostos para empresas.

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A fila de espera por leitos de Unidade de Terapia Intensiva na Bahia não diminui e o tempo de espera tem sido cada vez maior. Se, na primeira onda da pandemia o aguardo durava entre 12 e 18 horas; agora, a média passou a ser até 48h, diz a subsecretária de saúde da Bahia, Tereza Paim. Em Mata de São João, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), um paciente morreu, nesta quinta-feira, 18, após 9 dias esperando leito de UTI. Segundo a Sesab, nessa segunda onda já ocorreu de, em um único dia, 24 pessoas morrerem na expectativa de uma vaga. A média de mortes no aguardo por atendimento especializado era de seis por mês, na primeira onda.

Em Rio de Contas, no Centro-Sul do estado, a paciente Eva Rosa de Jesus, 68 anos, esperou sete dias por uma vaga de UTI no centro de covid da cidade. A idosa tinha obesidade e cardiopatia. Também tomava remédios para a depressão. Deixou uma filha e dois netos. Entre os 24 mortos na fila contabilizados pela Sesab no espaço de 24 horas, havia pacientes com outras doenças além da covid-19.

“Por desconhecimento, algumas pessoas procuram o serviço de saúde mais tarde e muitas vezes chegam em franca insuficiência respiratória. Eles não conseguem aguardar esse momento de acolhimento no próprio pronto-atendimento ou intra-hospitalar”, explicou Tereza Paim ao Jornal da Manhã de quinta-feira, 18.

A subsecretária informou ainda que há um protocolo para inserção dos pacientes nos leitos. A Central Estadual de Regulação define, junto com o médico assistente, a prioridade, ou seja, quem é o paciente mais grave e elegível. Às vezes, é um paciente idoso, mas está melhor que um jovem com um quadro tão grave que não vai conseguir sobreviver. “Todos os dias, em todas as unidades e todos os leitos de UTI, as pessoas e os profissionais têm de fazer escolhas. E pacientes muito graves, às vezes, não conseguem chegar ao êxito”, explicou.

O CORREIO entrou com um pedido, ontem, através da Lei de Acesso à Informação (LAI), para saber quantas pessoas já morreram, ao todo, no estado, esperando UTI. A Sesab explicou que “existem diversas variáveis que podem influenciar o dado, uma vez que a doença pode evoluir de forma muito rápida no paciente. Às vezes, sequer dá tempo de o profissional fazer a avaliação completa, dar o diagnóstico e devidos encaminhamentos”, diz a nota.

Na manhã de quinta-feira, 18, a Bahia tinha 446 doentes de covid-19 na fila por UTI. Outros 177 pedidos eram para leitos clínicos de adultos. O maior número foi registrado na última sexta-feira (12), quando 513 solicitações para internamento de UTI chegaram à Central Estadual de Regulação. São, ao todo, 2.861 leitos ativos, entre UTI e clínicos. O número máximo foi alcançado em agosto de 2020, época em que a Bahia dispunha de 2.923 leitos, de UTI e clínicos. A secretaria disse que o número de UTI foi superado em relação a agosto, já os leitos clínicos não houve ainda a necessidade de expandir para a quantidade anterior, pois a ocupação está abaixo de 70%

Já a taxa de ocupação somente para a UTI adulto chegou a 86%. A região do estado com a maior taxa é o Sul, com 92%. A menor é no Centro-norte, com 57%. Os dados são da Sesab e organizados pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) - veja em detalhes no final da matéria. De acordo com o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde, a Bahia conta com 4.588 respiradores e ventiladores. Destes, 3.893 na rede do Sistema Únido de Saúde (SUS).

Filhas perdem mães por falta de leito
Maria Rosa Novais, 36, filha de Eva Rosa de Jesus, conta que a mãe morreu em 3 de março. Após colocar marca-passo, em dezembro passado, ela começou a ter constantes episódios de falta de ar e cansaço. Foi duas vezes na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Rio de Contas, onde fez exames e recebeu medicamentos.

No processo, foi descoberto um cisto no rim e gordura no fígado. Com a piora do quadro, Maria levou a mãe ao hospital e ela fez dois testes de covid-19: o de sangue deu negativo e o RT-PCR positivo. Ela foi então transferida para o centro de covid para aguardar o leito de UTI. “Todos os dias o médico falava que ela precisava de UTI, que a situação era grave e que ela tinha que fazer exames. Ela não teve melhora nenhuma do primeiro dia ao último”, conta a filha.

Maria Rosa ficou no centro de covid os sete dias que a mãe recebeu o atendimento. “Foi muito difícil, fiz tudo por amor. Eu vi que ela não estava bem desde o dia que cheguei. Só sei que pela espera de um leito de UTI eu perdi minha mãe e é algo muito triste, porque a gente vem naquela esperança, todo dia chegava um médico dizendo ‘estamos correndo atrás’, e ela só piorando. A gente se sente culpada, sente aquele aperto no coração, mas tudo é pela vontade de Deus”, diz ela.

Outra mulher, também de nome Rosa, faleceu em 28 de fevereiro na fila da regulação para um leito de UTI. Ela tinha 76 anos, era hipertensa, diabética e depressiva há 9 anos. Após três dias à espera de transferência, Maria Rosa Brito morreu, na UPA de Ribeira do Pombal.

“É um sentimento de impotência, da gente querer fazer alguma coisa e não conseguir. As UPAs tinham mais de 190 pessoas na frente, esperando regulação. Essas coisas a gente vê nos jornais e acha que não vai acontecer com a gente”, conta a professora Joelma Brito, 51, filha da paciente. Antes disso, a idosa tinha ido ao hospital da cidade, após parada cardíaca. Quando os médicos testaram para covid-19 e deu positivo, ela teve que sair de lá e esperar a vaga de UTI na UPA.

“Foi um sofrimento muito grande, infelizmente, ela não resistiu e não deu tempo de ser transferida. Foi muito doloroso ver uma pessoa morrendo, aos poucos, precisando de oxigênio, de um melhor atendimento, e nós não termos conseguido”, acrescenta.

Maria Rosa Brito deixa, além de Joelma, dois filhos e dois netos. Após ter testado positivo para a covid-19, ela também contaminou alguns dos filhos. “Quando ela morreu, já estava constatado que minha família estava contaminada, então nem velório teve direito, a gente não pôde se despedir direito, abraçar os irmãos, ficou cada um chorando sua dor no seu canto”, descreve Joelma.

Atualmente, são 6 pacientes de Ribeira do Pombal que aguardam regulação, quatro para leitos de UTI e dois para enfermaria. Há mais de três dias que eles aguardam a vaga. “Normalmente, a gente conseguia uma transferência em 24 horas, mas esses últimos dias, está demorando três a quatro dias. A gente está tendo uma dificuldade muito grande de transferência, o que antes a gente conseguia com tranquilidade”, conta a secretária de saúde da cidade, Lakcelma Costa.

Em Itaberaba, 9 pessoas aguardam leitos de UTI ou de enfermaria atualmente. Em Mata de São Joao são seis esperando vaga de UTI e três para enfermaria. Em Anguera, Cachoeira e Santa Cruz Cabrália, um paciente morreu nesse aguardo.

Colapso do sistema
O governador Rui Costa (PT), afirmou em entrevista ao BA TV, na noite de quarta-feira, 17, que acredita que o sistema de saúde baiano já está em colapso porque, na visão dele, uma demora de 24 horas ou mais para regular um paciente para leito hospitalar já indicaria a sobrecarga.

Para a infectologista da Secretaria Municipal da Saúde de Salvador (SMS), Adielma Nazarela, apesar de não haver um medidor preciso, já se pode sim afirmar que um colapso do sistema de saúde. “Se um sistema tem mais demanda do que ele consegue absorver, ele é um sistema que, por hora, está colapsado, porque está tendo uma falta de leitos de UTI. Mas é preciso se dizer que não está faltando assistência em Salvador. Nós não teremos o que aconteceu em Manaus, que as portas das UPAs ficaram fechadas”, enfatiza a médica.

Adielma Nazarela ainda acrescenta: “eu posso não conseguir atender de imediato o paciente que precisar, hoje, de UTI, mas, em mais ou menos 24 horas ele terá esse leito, é algo muito dinâmico. Do ponto de vista de leitos de UTI, a rede está saturada, mas, do ponto de vista da assistência, não tenho esse colapso, porque consigo atender todos os pacientes”.

A infectologista também pontua que, se um paciente morrer na fila da regulação, não quer dizer que ele morreu por falta de leito de UTI. “A falta de leito não é causa da morte do paciente, se o quadro é grave, ele morreria na UPA ou na UTI. Tudo que se oferta nos leitos de UTI de hospitais a gente é capaz de ofertar, nossa função é dar condições para que ele dê continuidade ao tratamento na UTI”, esclarece.

A diferença, segundo a médica, da estrutura de um gripário para uma UPA e uma UTI no hospital é a concentração de vários serviços e médicos especialistas em um só lugar. Ela ainda diz que sempre houve uma demanda grande e o tempo de espera, mesmo antes da pandemia, também era grande. Tenho 20 anos de formada e faz 20 anos que vivencio isso, não é uma realidade de agora. E você tinha um perfil específico de pacientes com prioridade, os acamados, neuropatas, por exemplo", afirma.

A média de regulação hoje em Salvador é de 24 a 36 horas. Antes, era de no máximo 12 horas. A movimentação nas UPAs também cresceu exponencialmente: agora são 400 pacientes por dia em cada uma das 17 unidades. Antes, a média era 250 por dia em cada pronto atendimento. Nas últimas 24 horas, a SMS registrou 204 solicitações de regulação. Desse total, 117 aguardavam leito clínico e 85, UTI.

Taxa de ocupação de leitos de covid-19 por região da Bahia (fonte: Sesab/SEI)
Centro-leste - 76% enfermaria e 82% de UTI
Centro-norte - 25% enfermaria e 57% UTI
Extremo-sul - 50% enfermaria e 75% UTI
Leste - 72% enfermaria e 86% UTI
Nordeste - 69% enfermaria e 88% UTI
Norte - 20% enfermaria e 84% UTI
Oeste - 51% enfermaria e 88% UTI
Sudoeste - 58% enfermaria e 91% UTI
Sul - 66% enfermaria e 92% UTI

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A Bahia manteve a alta no número de mortes por covid-19, que vem ocorrendo desde o final de fevereiro, e registrou 153 óbitos nesta quinta (18). Esse é o maior número de mortes registrado na Bahia desde o começo da pandemia, superando os 137 mortos registrados em 26 de fevereiro.

Nesta semana o estado já havia registrado altos números de mortes. 130 na quarta (17) e 118 na terça (16), terceiro e quarto maiores números de mortes da pandemia no estado.

Além disso, o estado registrou 4.584 novos casos de covid-19 (taxa de crescimento de +0,6%), em 24h, de acordo com o boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), no final da tarde desta quinta. No mesmo período, 4.202 pacientes foram considerados curados da doença (+0,6%).

Apesar das 153 mortes terem ocorrido em diversas datas, a confirmação e registro foram contabilizados nesta quinta. E demonstram o crescimento de casos graves, o que tem ampliado a taxa de ocupação nas UTIs. Na começo da noite desta quinta, a taxa de ocupação de leitos de UTIs para adultos é de 87%. Das 153 mortes, 148 ocorreram em 2021.


Se analisados apenas os boletins divulgados nesta semana, entre segunda-feira (15) e esta quinta (18), é possível afirmar que pelo menos 123 morreram nas últimas 96h na Bahia por covid, número que tende a aumentar com as atualizações dos dados da Sesab.

De acordo com o órgão estadual, a existência de registros tardios e/ou acúmulo de casos deve-se à sobrecarga das equipes de investigação, pois há doenças de notificação compulsória para além da Covid-19. Outro motivo é o aprofundamento das investigações epidemiológicas por parte das vigilâncias municipais e estadual a fim de evitar distorções ou equívocos, como desconsiderar a causa do óbito um traumatismo craniano ou um câncer em estágio terminal, ainda que a pessoa esteja infectada pelo coronavírus.

O número total de óbitos por Covid-19 na Bahia desde o início da pandemia é de 13.742, representando uma letalidade de 1,81%. Dos 758.168 casos confirmados desde o início da pandemia, 726.504 já são considerados recuperados e 17.922 encontram-se ativos. Na Bahia, 44.629 profissionais da saúde foram confirmados para Covid-19.

Situação da regulação de Covid-19
Às 15h desta quinta-feira, 446 solicitações de internação em UTI Adulto Covid-19 constavam no sistema da Central Estadual de Regulação. Outros 177 pedidos para internação em leitos clínicos adultos Covid-19 estavam no sistema. Este número é dinâmico, uma vez que transferências e novas solicitações são feitas ao longo do dia.

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No cemitério municipal de Plataforma, coveiros limpam uma área. Em breve, ali vai abrir espaço para novos corpos. É que, com o crescente número de mortes pela covid-19, a prefeitura decidiu criar 1.125 novas vagas. Os números não param de crescer. Fevereiro foi o segundo mês com mais mortes na Bahia. E, se continuar nesse ritmo, março pode ultrapassá-lo.

A média histórica de sepultamentos anterior a pandemia era em torno de 12 por dia. Agora, 17 pessoas chegam a ser enterradas diariamente em Salvador. Marise Chastinet, secretária Municipal de Ordem Pública (Semop), avalia que esse é o pior momento da pandemia no ponto de vista funeral, pois o número de mortes está crescendo e de forma acelerada. No entanto, ela garante que a capital não corre o risco de colapso na rede.

“Estamos nos planejando justamente para isso não ocorrer. Aumentou muito o quantitativo de mortes, tanto por covid-19 como por mortes naturais. Mas a gente escolheu o cemitério de Plataforma por lá ser o único local que tem área disponível para construir novas gavetas. A entrega deve acontecer em torno de 60 a 90 dias. A gente vai tentar acelerar para qualquer eventualidade”, diz.

Nesse momento, os cemitérios municipais de Salvador têm apenas 1.050 vagas disponíveis para o mês de março. Dessas, 750 são gavetas já prontas para utilização imediata. As outras 300 são de covas rasas liberadas mensalmente por conta de exumações dos corpos. “A exumação acontece após três anos e meio do enterro. A família é chamada nesse momento para destinar o corpo a um lugar específico e apropriado”, explica Chastinet.

Dor
Nos cemitérios públicos, os coveiros não são autorizados a dar entrevista, mas um deles aceitou falar com a reportagem sem ser identificado. “São muitas as mortes por covid-19 que temos que lidar e já passaram para a gente para nos prepararmos para um aumento. É triste, pois esse tipo de enterro é o mais difícil. Temos que usar todo o equipamento de proteção e lidar com a família que muitas vezes não aceita ou entende”.

No momento em que o CORREIO esteva no local, uma mulher identificada apenas como Jucilene, vítima da covid-19, foi enterrada. Sua mãe, esposo e filhos acompanharam o sepultamento. Eles afirmaram à reportagem que a causa da morte não foi essa e não quiseram passar mais informações. Mesmo assim, os coveiros garantiram que tinha sido o vírus e o sepultamento teve que ser realizado com todas as restrições: sem velório, com caixão lacrado e em apenas dois minutos de duração, divididos em duas partes.

Na primeira, o caixão foi transportado do carro da funerária até a gaveta. Nesse momento, o choro e palavras de lamentações dos familiares começam a ser ouvidos. “Eu quero minha mãe”, disse uma filha. “Eu não vou conseguir”, afirmou outra pessoa, virando-se de costas e abraçando um rapaz. Ela preferiu não olhar o momento que os coveiros colocaram rapidamente a urna na gaveta. Uma música gospel começou a ser cantada. Outro familiar passou a andar de um lado para outro, balançando a cabeça em sinal negativo.

Depois, na segunda parte, os coveiros iniciam o fechamento da gaveta. Colocam uma placa e usam cimento para tapar. Um pastor interrompe a música para proferir uma mensagem de conforto.

Tudo isso durou dois minutos. Após fechar a gaveta, os coveiros são os primeiros a deixar o local. Vão direto lavar os equipamentos de proteção usados no enterro: luvas, botas, macacão, dentre outros. Os familiares começam a se dispersar logo depois. Eram 33 pessoas que acompanhavam o sepultamento, embora o permitido fosse apenas 10, para não gerar aglomeração. “A gente explica para eles a limitação, mas não podemos impedir das pessoas entrarem, pois não temos poder de polícia”, explica o coveiro.

Por mais que a família tenha negado que a causa seja covid-19, ela não reclamou pela forma como o enterro aconteceu, sem velório. Infelizmente, isso não é sempre o que acontece. “Alguns começam a questionar. Querem que seja mais demorado, que abra o caixão. Mas isso dentro do cemitério não acontece, pois é o nosso emprego que está em jogo. Tem gente que acha que nós que somos os culpados”, disse o coveiro, cujo salário é de R$ 1,1 mil. “Trabalhamos na linha de frente e expostos. Tive colegas que pegaram o vírus e ficaram afastados. Só Deus para proteger”, completou.

Enterros

Outra possibilidade de funeral pelo setor municipal é a cremação gratuita de corpos provenientes de mortes naturais. Isso acontece graças a um contrato firmado entre a Semop com o cemitério Jardim da Saudade. No entanto, a secretária Marise Chastinet afirma que essa opção é ainda pouco utilizada pelas pessoas. “O serviço é ofertado à medida que é solicitado. Acredito que falta divulgação”.

Salvador tem atualmente 10 cemitérios municipais e todos eles estão aptos a atender e realizar sepultamentos por covid-19. As unidades ficam nos bairros de Brotas, Itapuã, Pirajá, Plataforma, Periperi, Paripe e nas ilhas de Bom Jesus dos Passos, de Maré, Paramana e Ponta de Nossa Senhora. Segundo a Semop, em dias de sepultamento por covid-19, equipes realizam a desinfecção com hipoclorito de sódio.

Em nota, a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) afirmou que administra apenas uma parte do cemitério Quinta dos Lázaros, onde só faz enterros de cova rasa para corpos de indigentes (pessoas que não tem família) encaminhados pela polícia, através do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues. As outras áreas do cemitério são administradas por outras instituições.

Procurados, os cemitérios Jardim da Saudade, Bosque da Paz e Campo Santo, confirmaram o aumento no sepultamento de vítimas da covid-19.

Contêiner

Outro sinal que expressa o aumento de mortes por covid-19 na cidade é o aluguel de contêineres refrigerados para armazenar corpos em Salvador. O Governo da Bahia já realizou o aluguel de quatro desses equipamentos, que estão espalhados nos hospitais Instituto Couto Maia, Espanhol, Ernesto Simões Filho e o de Campanha da Arena Fonte Nova.

O CORREIO também esteve no estádio, mas não verificou o equipamento. O segurança informou que ele fica na parte de cima do local, não visível para as pessoas. Em nota, a Sesab explicou que esse contêiner é necessário pois a Fonte Nova não possui um necrotério.

“Por ser uma estrutura adaptada para funcionar como unidade hospitalar, não possui necrotério. Sendo assim, o contêiner funciona como tal. Os corpos só ficam o tempo de serem preparados e liberados para a família/serviço funerário. Para as demais unidades, os contêineres foram colocados para o caso de a capacidade do necrotério ser excedida”.

Como agendar sepultamentos e cremações em Salvador?
É só entrar em contato com a Central de Agendamento pelos telefones: (71) 3322-1037, 3266-2194, 3202-5429 ou 3202-5472. O serviço funciona diariamente das 8h às 16h30 e os documentos necessários são: RG, CPF, comprovante de residência do falecido e do familiar responsável, além de certidão de óbito e guia de sepultamento ou cremação, fornecidas pelos cartórios de registro civil.

Taxas:
Cova Rasa Adulto: R$36
Cova Rasa Criança: R$18
Gaveta: R$122
Cremação: Gratuita

 

 

Fonte: Correio24horas

O Governo do Estado da Bahia alugou dez contêineres refrigerados para armazenar corpos de vítimas da covid-19 em Salvador.

Os equipamentos foram distribuídos entre o hospital de campanha da Arena Fonte Nova, Instituto Couto Maia e os hospitais Ernesto Simões e Espanhol.

A Secretária de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) afirmou que a medida é comum, e que os contêineres são "espaços adaptados para locais adaptados", como o próprio hospital de campanha da Arena Fonte Novo.

Em relação à utilização nos hospitais tradicionais, os contêineres serão utilizados em caso de sobrecarga dos espaços utilizados pelos centros médicos.

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A Bahia manteve a alta no número de mortes e registrou 137 óbitos nesta sexta (26). Além disso, o estado registrou 4.563 novos casos de covid-19 (taxa de crescimento de +0,7%), em 24h, de acordo com o boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), no final da tarde desta sexta.

No mesmo período, 3.635 pacientes foram considerados curados da doença (+0,6%).

Esse é o maior número de mortes registradas na Bahia desde o começo da pandemia, superando os 100 mortos registrados nesta quinta (25). Antes dos números das últimas 48 horas, o maior número de mortes por dia no estado era 24 de agosto, quando foram contabilizados 77 óbitos.

Apesar das 137 mortes terem ocorrido em diversas datas, a confirmação e registro foram contabilizados nesta sexta. E demonstram o crescimento de casos graves, o que tem ampliado a taxa de ocupação nas UTIs. Das 137 mortes, 130 ocorreram em 2021.

Analisando os boletins divulgados nos últimos sete dias, é possível ver que pelo menos 61 pessoas morreram no estado entre sábado (20) e esta sexta (26). Número que ainda pode aumentar após detalhamento da Sesab.

De acordo com o órgão estadual, a existência de registros tardios e/ou acúmulo de casos deve-se à sobrecarga das equipes de investigação, pois há doenças de notificação compulsória para além da Covid-19. Outro motivo é o aprofundamento das investigações epidemiológicas por parte das vigilâncias municipais e estadual a fim de evitar distorções ou equívocos, como desconsiderar a causa do óbito um traumatismo craniano ou um câncer em estágio terminal, ainda que a pessoa esteja infectada pelo coronavírus.

O número total de óbitos por Covid-19 na Bahia desde o início da pandemia é de 11.625, representando uma letalidade de 1,72%.

UTIs e número de ativos

Após sete dias de aumento seguidos na ocupação das UTIs, essa sexta não teve registro de mais um recorde negativo. Ainda assim, até as 18h de hoje, 943 pacientes adultos e pediátricos se encontram em estado grave, ocupando leitos de terapia intensiva nas diversas regiões da Bahia. A taxa de ocupação é de 81%.

Dos 674.384 casos confirmados desde o início da pandemia, 642.921 já são considerados recuperados.

Na Bahia, 42.501 profissionais da saúde foram confirmados para Covid-19.

A taxa de ativos segue alta no estado. Ainda de acordo com informações da Sesab, 19.838 encontram-se ativos.


Desde a última sexta (19), o estado tem toque de recolher. A medida, válida por sete dias, teve horário ampliado na segunda (22) - de 20 às 5h- e tem possibilidade de prorrogação.

Desde às 17h desta sexta, todo o estado da Bahia está em 'lockdown' das atividades não essenciais, em vigor até segunda (1º).

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