A capital baiana e sua região metropolitana já registraram 39 chacinas com 159 mortos em 2023, de acordo com dados do Instituto Fogo Cruzado até essa quarta-feira (4) . O Fogo Cruzado usa o mesmo critério adotado pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo que considera chacinas como eventos onde há 3 ou mais mortos civis em uma mesma situação — mesmo que o motivo dos disparos seja outro, como assaltos, ataques, operações, etc.

“Na etiologia das chacinas, inegavelmente, destacam-se as derivadas de atuações em facções criminosas e tráfico de drogas. Acertos de contas, queimas de arquivo, vinganças, retaliação por mortes de agentes do estado, feminicídios, extermínios por milicianos e conflitos agrários seguem entre as demais causas”, explica o coronel Antônio Jorge, especialista em segurança pública.

Ainda segundo dados do Fogo Cruzado, 126 pessoas foram baleadas em suas residências, sendo que 113 foram mortas e 13 ficaram feridas. Foi ressaltado pelo Instituto que este número inclui todas as situações, desde balas perdidas, chacinas e execuções.

“A maioria dos assassinatos ocorre em vias públicas ou no interior de veículos, mas ambientes residenciais constituem o segundo local mais frequente para os homicídios em série. Bares, casas noturnas, locais ermos, penitenciárias, lojas e hotéis também aparecem nessa lista”, relata o especialista.

Na manhã dessa quinta-feira (5), uma família de origem cigana foi morta em uma residência localizada no bairro Loteamento Amaralina, no município de Jequié - cidade mais violenta do país em 2022. Segundo a Polícia Civil, as mortes estão sendo investigadas por equipes da Delegacia Territorial (DT/Jequié) e da Coordenadoria Regional de Polícia do Interior (9ª Coorpin). Conforme as informações da Polícia Civil, ainda não se sabe qual a motivação por trás do crime ou a sua autoria.

Os autores armados invadiram a casa e efetuaram disparos de arma de fogo, atingindo Natiele Andrade de Cabral, de 22 anos, e grávida de nove meses; Laiane Andrade Barreto, cinco anos; Elismar Cabral Barreto, 23; Sulivan Cabral Barreto, 35; Maiane Cabral Gomes, 45 e Lindinoval de Almeida Cabral, 66.

A reportagem não conseguiu contato de familiares ou amigos das vítimas.

O Instituto Fogo Cruzado contabiliza os dados da cidade de Salvador e mais 12 cidades da Região Metropolitana de Salvador. Foi pedido ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública, responsável pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o número atualizado de chacinas e de pessoas baleadas em suas residências em todo o estado em 2023, mas foi indicado por eles o uso dos dados do Fogo Cruzado.

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Ações e operações policiais, como a que culminou na morte do policial federal Lucas Caribé, 42 anos, na última sexta-feira (15), não são novidade para quem vive em Valéria. De acordo com dados do Fogo Cruzado, ao longo de 2023, o bairro já registrou 24 tiroteios, 22 mortes e cinco feridos em episódios de violência armada. Ainda segundo informações do instituto, que monitora casos com disparos em Salvador e Região Metropolitana (RMS), 15 trocas destas 24 ocorrências foram durante ações das polícias, sejam elas Militar, Civil ou Federal. Ou seja, 62,5% dos tiroteios no bairro ocorreram durante ações em que a polícia se confrontou com homens ou grupos armados.

Ao longo dos últimos meses, inclusive, há um aumento na letalidade dos casos de violência armada de maneira geral no bairro. Isso porque, até 30 de junho, Valéria tinha registrado 15 tiroteios e 9 mortos. De 1° de julho até domingo (17), houve nove tiroteios que, juntos, somaram 13 pessoas mortas ou 59% dos registros letais no local.

O alvo da operação deflagrada na sexta-feira era a facção Katiara, que tem o domínio da região de Boca da Mata, localidade de Valéria próxima à Estrada do Derba, onde ocorreu o confronto. No entanto, o grupo que trocou tiros com os policiais é da facção Bonde do Maluco (BDM), que havia sido expulsa do local uma semana antes pelos rivais.

Uma fonte da polícia, que não se identifica, diz que Valéria é centro de uma disputa intensa entre facções, já que a proximidade com a BR-324 e a facilidade logística para escoamento de drogas e armas interessam qualquer facção criminosa. "Ali há uma ação contínua desses grupos. Entra ano, sai ano e tem guerra. Então, é claro que a polícia age quando recebe denúncias e também de maneira planejada, porque tirar das facções uma área tão estratégica como essa seria um golpe para o crime", explica Antônio Jorge de Melo, especialista em segurança pública.

Valéria é um dos últimos bairros de Salvador às margens da BR-324. De lá, é possível pegar a via em direção a Feira de Santana, que é um entrocamento rodoviário que liga a Bahia com vias que dão acesso e estados do Norte e Nordeste do país.

Com aulas suspensas, postos de saúde sem funcionar e ônibus com circulação restriata, o prefeito Bruno Reis comentou ontem a situação. Ele disse que, se fosse ele o governador, solicitaria o apoio do Exército para lidar com o caso.

"Se eu fosse governante, pediria o apoio do Exército sob a minha liderança para acabar com as guerras de facções. Deixaria o Exército lá [em Valéria] atuando para garantir a tranquilidade e iria avançando em outros locais. Porém, cada governo tem sua estratégia e sua forma de proceder", falou Reis.

O prefeito lembrou ainda o caso recente do Calabar/ Alto das Pombas como argumento para essa solicitação de apoio das forças armadas. "No meu Calabar, onde houve confrontos, o Exército está atuando e garantindo a segurança e eu não vejo nada demais nisso. Buscar apoio e pedir reforço não é um ato de fraqueza", argumentou.

Em coletiva dada sobre os confrontos armados no Calabar/Alto das Pombas, o titular da Secretaria de Segurança Pública do Estado, Marcelo Werner, já havia negado a possibilidade de pedir reforço em escala federal. "Negativamente, de forma alguma. A gente mostra pelas ações de inteligência e investimentos que há um avanço na melhora da segurança pública do estado", afirmou na época.

Em evento ontem, o vice-governador da Bahia, Geraldo Júnior, representando o governador Jerônimo Rodrigues (PT), informou que o policiamento foi intensificado, que o governo está investindo nas polícias Militar, Civil e no Departamento de Polícia Técnica e que a intervenção do Exército não é a solução.

Blindados

Mais três blindados da Polícia Federal chegarão à Bahia nesta semana para reforçar o combate ao crime organizado. Os veículos, utilizados por outras Superintendências Regionais, já estavam na programação da instituição.

As viaturas foram embarcadas em um navio da Marinha, no porto do Rio de Janeiro. Os blindados serão utilizados por equipes do Comando de Operações Táticas (COT) e do Grupo de Pronta Intervenção (GPI).

"As viaturas já estavam definidas para reforçar o nosso trabalho. Não se trata de uma medida nova. Outros estados têm os seus blindados e agora a Bahia está sendo contemplada", explicou o superintendente regional da PF na Bahia, Flávio Albergaria.

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A Reitoria da Universidade Federal da Bahia recomendou a suspensão das aulas e atividades administrativas nesta segunda-feira (4), nos campi de Ondina, Canela, São Lázaro e Federação, "para garantir uma maior tranquilidade à comunidade". A decisão é por conta da insegurança nas regiões do Alto das Pombas e no Calabar, que registram tiroteios desde a madrugada.

No campus de Ondina, alguns professores também já estavam optando por liberar os alunos, segundo informações dos próprios estudantes, antes mesmo da orientação.

"Já entramos em contato com a Secretaria de Segurança Publica solicitando reforço de policiamento no entorno de todos os campi da Universidade", diz nota da reitoria.

Ameaça de um toque de recolher imposto nas duas regiões a partir da tarde de hoje circulam entre os moradores e também nas redes sociais. "Quem trabalha chegue cedo porque não vai entrar nem sair ninguém", diz uma das ameaças.

No Alto das Pombas, tiroteios foram registrados durante a madrugada e na manhã de hoje houve novo confronto em frente ao Cemitério Campo Santo entre suspeitos armados e policiais militares. Além disso, um homem armado faz uma família refém no bairro.

No Calabar, houve tiroteios na noite de ontem e na madrugada de hoje. Uma bala perdida atingiu um apartamento no 13º andar de um prédio na Graça.

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Três suspeitos de manter pessoas reféns foram presos nesta segunda-feira (4), no Alto das Pombas. Os presos haviam invadido dois imóveis na Rua Teixeira Mendes para se esconder da polícia depois de uma troca de tiros em frente ao cemitério do Campo Santo.

"Permanecemos desde ontem fazendo intensificação de policiamento. Logo de manhã nossa guarnição foi surpreendida por esse indíduos que deflagraram disparos contra eles", disse o major Márcio Adriano, comandante da 41ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/Federação).

A primeira residência tinha cinco reféns e um suspeito - que transmitiu boa parte da situação ao vivo pela internet. Na segunda, estavam dois reféns e dois suspeitos. Os três criminosos se entregaram e foram presos após horas de negociação.

"Tanto os reféns quanto os perpetradores incólumes", acrescentou ele. Eles foram levados para a delegacia para formalização do caso.

“O mais importante nessa ação da Polícia Militar foi a preservação de todas as vidas, além da prisão de três perpetradores. A PM continuará intensificando o policiamento em toda a área do Calabar e Alto das Pombas, com o apoio das tropas especializadas e de outras operações para manter o clima de paz nessa localidade", acrescentou o comandante.

O Alto das Pombas vive mais um dia de insegurança depois de tiroteios que vêm sendo registrados desde a sexta-feira. Situação similar acontece no Calabar. Em meio ao clima de violência e ameaça de toque de recolher, a reitoria da Universidade Federal da Bahia (Ufba) orientou suspensão das aulas nos campi de Ondina, Canela, São Lázaro e Federação, "para garantir uma maior tranquilidade à comunidade".

Equipes da 41ª CIPM, do Batalhão de Operações Policias Especiais (Bope), da Companhia Independente de Policiamento Tático (CIPT)/ Rondesp Atlântico, do Batalhão de Patrulhamento Tático Móvel (BPatamo) e do Grupamento Aéreo (Graer) estão no local reforçando o policiamento da região, informou a Polícia Militar.

Transmissão

Uma cena de moradores sendo feito reféns foi transmitida ao vivo pela internet nesta segunda-feira (4). Um homem armado mantém uma família na casa, na Rua Teixeira Mendes, no Alto das Pombas, enquanto um policial militar tentava negociar a libertação. Inicialmente, quando a transmissão começou, eram seis reféns, incluindo duas crianças, mas moradores afirmaram que antes havia mais gente na casa.

"Espera meu advogado chegar", dizia o suspeito, que também exigia presença da imprensa. "Estou querendo me render, só estou esperando meu advogado entrar", acrescentou. Em determinado momento da negociação, o homem chegou a liberar uma menina que passou mal durante o episódio.

O sequestrador depois negou a liberação de uma outra criança, um menino, dizendo que ele estava "bem cuidado" e que se fosse soltando os reféns o PM invadiria a casa e o mataria. "Não tá traumatizado não, está todo mundo aqui bem", garantiu.

"Tem 4 mil pessoas na live", avisa ele em determinado momento - no pico, bateu em 8 mil. O policial continua tentando convencê-lo a sair, afirmando dar sua "palavra de homem" que nada aconteceria. "Queria confiar em você", diz o bandido. Depois da chegada do advogado e da mãe do suspeito, a transmissão foi interrompida, por volta das 11h.

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As portas dos colégios no bairro de Cosme de Farias amanheceram fechadas na manhã desta terça-feira (1°). Isso porque ao menos quatro instituições de ensino optaram pela suspensão das atividades após quatro homens morrerem em troca de tiros contra agentes da Polícia Militar (PM-BA), na Rua Jaguarari, na tarde dessa segunda-feira (31).

A Secretaria Municipal de Educação de Salvador (Smed) informou que as gestões das escolas municipais Lélis Piedade, Saturnino Cabral e Olga Figueiredo suspenderam as atividades no turno matutino por conta do clima de insegurança que se formou no bairro após a mortes dos quatro suspeitos.

Com as três unidades fechadas, ao menos 458 alunos que estudam pela manhã ficaram prejudicados. A Secretaria de Educação do Estado da Bahia (SEC) também foi procurada para informar sobre suspensão de aulas, mas não retornou até o fechamento desta matéria.

No entanto, a reportagem apurou que o Colégio Estadual de Cosme de Farias, localizado no fim de linha do bairro, também suspendeu as atividades. Segundo dados do Censo Escolar 2022, a escola tinha 866 alunos matriculados. Em frente ao colégio, um morador, que prefere não dizer o nome, contou que os estudantes que apareceram foram orientados a retornar para casa.

"Vieram até alguns desavisados, mas precisaram voltar porque não teve aula. Eles suspendem sempre que acontece esse tipo de coisa porque o medo é de que haja resposta por parte dos criminosos. Então, é até melhor mesmo porque boa parte já não iria comparecer. Eu, se sou pai, não deixo filho meu ir estudar nesse risco", falou

De janeiro até o momento, de acordo com a Smed, 48 escolas tiveram que suspender as atividades por um ou quatro dias, dependendo da região, em decorrência da sensação de insegurança, afetando, ao todo 16.108 alunos que ficaram sem aula.

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O pai de Gabriel Hamed Ferreira Rodrigues, jovem de 19 anos morto a tiros na noite de domingo (16) no Uruguai, em Salvador, diz que seu filho era um rapaz caseiro, sem conflitos conhecidos e que a família aguarda a investigação da polícia para saber o que pode ter motivado o crime.

"Meu filho era uma pessoa super boa. Foi uma safadeza o que fizeram com ele, uma maldade. Meu filho nunca andou com negócio de droga, beber, era um menino caseiro. Bem criado, bem cuidado. Estudou no colégio militar, estava ai agora perto pra trabalhar. Aí vem essa fatalidade. Um miserável desses tira a vida do meu filho sem mais nem menos. Queremos a justiça de Deus, do homem, para não ficar impune. Não pode ficar assim, não", diz o servidor municipal Geovane Rodrigues.

Ele continua: "Nunca usou droga, nunca bebeu na vida dele, uma coisa que estou sem entender, tô sem chão. Quero saber e só a polícia pode resolver essa situação. Estamos esperando a investigação da polícia".

No domingo, Geovane saiu de casa no bairro de Roma para trabalhar e pouco depois recebeu a notícia que o filho estava na UPA, em uma ligação feita pela irmã. Na hora, ele acreditou que Gabriel tivesse caído de moto, mas foi surpreendido com a informação de que o rapaz havia sido baleado. Quando saiu de casa, Gabriel estava com as irmãs e primos num churrasco.

Geovane conta que brigava com Gabriel para que ele fosse não para o Uruguai, mas o rapaz ia muitas vezes ao bairro porque uma das irmãs, Bruna, que está grávida, mora lá.

"Estavam num churrasco e resolveu levar ela em casa e aconteceu essa situação. A irmã saiu da moto e o cara veio atirando nele. Ele sem esperar. Ainda correu um pedaço, mas infelizmente...", diz o pai. "Até agora estou sem entender, sem chão".

Ele diz não saber se o filho foi morto por engano. Moradores relataram à família que a moto estava acompanhada de um carro que ficou no local desde três dias antes do crime. "E a moto uns dois dias. E ontem disseram que a moto estava lá desde cedo, e ele não estava lá, porque ele mora aqui em Roma. Eu fiquei encismado".

Gabriel tinha três irmão e, entre eles, está a blogueira Lalai Magarão, que acumula mais de 86 mil seguidores em uma de suas redes socias. Foi pelas redes que ela relatou o crime e expressou indignação. "Gabriel era um anjo e nunca fez maldade com ninguém. Nós vamos aguardar e dobraremos os joelhos para que ele tenha justiça", afirmou em uma publicação.

Questionado sobre rumores de que o crime poderia ter relação com o namorado de Bruna, que foi apontado como um dos suspeitos do caso por fontes ouvidas pela reportagem, Geovane diz que não sabem nada até agora. "Que motivo ele teria, ele até se dava bem... Só investigando para saber", acrescenta.

Geovane se emociona ao lembrar do filho. "Não tem ninguém que fale mal, não é porque ele morreu. Ele não, boto a mão no fogo e na vizinhança lá pode perguntar a qualquer um que todo mundo sabe quem é ele, foi bem criado, não tem ninguém que venha a falar mal dele, nada a julgar dele".

Uma das irmãs de Gabriel, a influenciadora Lalai Magarão, usou as redes sociais para lamentar a morte. "Você era só uma criança, que mudou cruel, quanta maldade, meu Deus, eu não aceito isso e nunca vou aceitar", escreveu. "Tenho orgulho de voc~e ter sido um irmão direito, que nunca fez maldade com ninguém, que nunca colocou uma droga na boca, nunca rouobou, nem matou ninguém para morrer assim". Ela acrescentou que está "sem chão e em prantos". "Quero meu irmão de volta".

Crime

O morador que presenciou a execução de Gabriel diz que ele não ter sobrevivido não foi uma surpresa por conta da quantidade de tiros que a vítima recebeu.

"Não tiveram pena nenhuma de gastar as balas que tinham, foi tanto tiro que eu acho que descarregaram tudo nele. Aí não teve jeito, é difícil alguém sobreviver a algo assim. Não dá para ver o tanto de cápsulas porque vieram catar tudo depois que aconteceu", relata ele.

Um outro morador, que também prefere não dizer o nome por medo de represálias, atesta o mesmo em relação a quantidade de tiros. "Foi ontem por volta das 22h30. Eu não saí pra ver, mas deu para ouvir e foi, pelo menos, 15 tiros que deram aí. Ficou no silêncio e depois a família chegou naquele desespero, todo mundo gritando. Na hora, por ser muito tiro, achei que era tiroteio mesmo", conta ele, afirmando que isso não é comum na Rua Jequitibá.

A 3ª Delegacia de Homicídios (DH/BTS) é que vai apurar a morte de Gabriel e, apesar das versões dos moradores e da PM-BA, ouviu testemunhas que afirmam que o caso se deu na Rua Jornalista Nilton França. De acordo com o registro, Gabriel estava na porta de casa quando homens em um carro passaram atirando.

As testemunhas informaram que é provável que o jovem não era o alvo porque quem estava no veículo gritou 'ele não está aqui, então vai você mesmo". As guias para remoção e perícia foram expedidas e oitivas e diligências serão realizadas para identificar a autoria e motivação do crime.

Execuções

Segundo dados do Fogo Cruzado, com a execução de Gabriel, ao menos 379 pessoas foram executadas em Salvador e Região Metropolitana (RMS). Só em junho, 70 vítimas morreram nessas circunstâncias.

No dia 25 de junho, o entregador Michel Lucas Silva Santos, 16 anos, foi encontrado morto na Rua Nova Aliança, em Praia Grande. A família apontou que ele teria sido sequestrado por traficantes enquanto realizava uma entrega e foi executado pelos criminosos.

No fim do mês passado, um grupo de extermínio, formado por policiais militares de Camaçari, foi apontado como responsável por uma chacina que acabou em sete homicídios na cidade e um outro no município de Candeias durante a madrugada do dia 29.

Já nesse mês, no dia 3, O casal Monalisa Carneiro da Silva Santos, 34 anos, e Tiago Pereira, 34, estava na rua de casa quando foi surpreendido por dois suspeitos que chegaram de moto e dispararam contra os dois. O crime aconteceu na Rua Sérgio Landulfo Furtado, no bairro de Castelo Branco, por volta das 11h.

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Ter aulas suspensas por causa da violência e de tiroteios já não é mais novidade para os colégios públicos situados em bairros de Salvador. Somente nos últimos três dias, quatro unidades foram afetadas. Desde o início do ano, ao menos 41 escolas da rede municipal e cinco da estadual tiveram que parar as atividades por um ou até quatro dias para não pôr em risco estudantes, professores e servidores de colégios localizados em regiões sitiadas pela violência.

De acordo com a Secretaria Municipal da Educação (Smed), ao todo, devido às suspensões realizadas, 13.683 alunos da rede municipal ficaram sem aula até este mês. Já a Secretaria da Educação do Estado (SEC), ao ser procurada, não forneceu dados sobre as escolas e os estudantes prejudicados pela violência neste ano. Por isso, o levantamento que baseou esta reportagem foi feito a partir de publicações anteriores.

Nessa quarta-feira (12), a Escola Municipal Padre Confa, no Costa Azul, teve as aulas suspensas por conta de um tiroteio que aconteceu ontem à tarde, na frente da instituição. Cerca de 250 alunos foram afetados. Nenhum suspeito foi encontrado, e o policiamento foi reforçado na região.

Por volta das 15h de terça-feira (11), estudantes da Escola Municipal Santo André, localizada no bairro de Santa Cruz, foram surpreendidos por um tiroteio em frente ao colégio, na Rua 26 de Abril. Um morador, que prefere não se identificar, conta que o confronto se deu entre policiais e traficantes da área, que tem atuação da facção Comando Vermelho (CV). “Os policiais vieram pelo fim de linha da Santa Cruz e, na entrada da Rua 26 de Abril [onde a escola é localizada], deram de cara com os meninos que estão envolvidos no crime aqui”, disse ele, que vive nas imediações da rua onde houve o confronto.

“Na hora que eles se encontraram, começou o tiroteio e eu, que moro por aqui perto, tomei um susto. Como a gente já sabe o que é porque sempre tem, fui me proteger, mas foram muitos tiros e demorou para eles pararem”, relata o homem, destacando que os comércios da região estavam todos abertos quando o tiroteio começou. Apesar disso, ninguém foi atingido durante a ação, que é o maior temor de quem mora nas redondezas quando há troca de tiros nas ruas.

Outra moradora, que também não revela o nome, também descreve a troca de tiros como intensa. “Não parava nem um segundo, você só ouvia os pipocos enquanto estava escondido dentro de casa. E foi na luz do dia, depois das 15h. Por sorte, ninguém inocente foi atingido por essas balas que, no geral, só encontram as pessoas que não têm nada a ver. Se for de madrugada, é mais difícil, mas durante uma tarde era fácil ter um desavisado na rua na hora que isso aconteceu”, comenta ela, que também ressalta o volume de ocorrências de confrontos armados na região.

Sobre o confronto da terça, a PM-BA confirmou que, por volta das 15h, agentes da 40ª Companhia faziam rondas no Nordeste de Amaralina "quando visualizaram um grupo de homens armados que, ao notar a presença dos PMs, efetuaram disparos de arma de fogo, sendo necessário o revide".

Na noite de terça-feira, o Colégio Estadual Polivalente de Amaralina suspendeu as aulas após um tiroteio entre PMs e suspeitos de integrarem uma facção.

Já na segunda-feira (10), um tiro atravessou a janela da Escola Municipal São Pedro Nolasco, em Santa Cruz, e foi parar numa das panelas em que estava sendo preparada a merenda das turmas vespertinas. Apesar do susto, ninguém ficou ferido. Na ocasião, informou a Smed, as aulas na unidade também foram suspensas, tendo sido afetados 202 alunos.

Além de minar a tranquilidade das pessoas, a violência também prejudica a educação e o processo de aprendizado, como conta uma mãe de um estudante. “Escola é que nem trabalho, precisa ser todo o dia. Toda vez que para uns dias, quebra o ritmo da criança. E, quando para, eles ficam sem estudar mais tempo do que a suspensão. Muitas mães preferem não mandar o filho para escola quando as aulas retornam até entender que está tudo seguro, então não é automático”, aponta ela, sem dizer o nome por medo de represálias.

Presidente da Associação de Professores Licenciados do Brasil (APLB) na Bahia, Rui Oliveira lamenta o elevado número de suspensões e avalia que a escola deixou de ser o local onde os pais ficam tranquilos em deixar os filhos. "Os bairros de Salvador estão dominados por grupos envolvidos em tráfico de drogas, e as escolas localizadas em áreas assim dominadas passaram a ser um local de muito perigo. Por isso, é necessária uma ação urgente e preventiva das polícias Civil e Militar para garantir segurança nas escolas. É preciso construir uma trincheira para que o espaço escolar seja um local de vida e tranquilidade para estudar", falou Rui.

Ações policiais como vetor

Moradores do Complexo do Nordeste de Amaralina relatam que os confrontos armados na região são constantes e que a maioria deles são causados por ações policiais dentro dos bairros.

Quem vive na área diz que, apesar da facção Comando Vermelho (CV) ter atuação no local, as trocas de tiros não acontecem por invasão de grupos rivais, como já virou rotina em outros locais de Salvador, e sim com agentes da Polícia Militar da Bahia. Sobre as ações da polícia como vetor da violência armada no Complexo, a PM destacou que todas as incursões realizadas são feitas a partir de critérios técnicos.

"A Polícia Militar informa que as ações realizadas por integrantes da corporação são baseadas em técnicas e táticas de policiamento, com observação aos princípios de legalidade. Caso haja alguma denúncia de conduta contrária à legalidade, a PM disponibiliza o contato da Ouvidoria (0800 284 0011) e o endereço da Corregedoria da instituição, localizada na Rua Amazonas, nº 13, Pituba", escreve.

O professor de estratégia e gestão pública Sandro Cabral, que atua no Insper e na Ufba e tem estudos na área de segurança, conta que a possibilidade de só haver confronto armado no Complexo com a polícia é real, mas destaca que o enfrentamento aos grupos criminosos é algo que precisa ser realizado para impedir que a população fique subjugada ao crime e as facções se espalhem pela cidade.

"Eventualmente, quando se tem um domínio estabelecido por um grupo organizado, há um processo de redução de violência por isso. Na literatura, temos relatos assim de estudos em São Paulo, por exemplo, com o domínio do PCC [Primeiro Comando da Capital]. Porém, quando isso acontece, a população fica à mercê do crime, o que é perigoso. [...] A questão que se coloca é que o Estado não pode permitir isso e precisa realizar o enfrentamento, justamente quebrando o poder deles no território", explica.

Cabral acrescenta que a ação do Estado não deve ser dar apenas com força ostensiva, mas também na implantação e continuidade de serviços que, em muitos casos, são usurpados pelos grupos criminosos. Em relação ao medo que a população tem da fatalidade das ações policiais, o professor indica que só há uma resposta: inteligência.

"Tem que ter inteligência. Quando você chega atirando sem planejamento, acontece isso. As ações de ocupação de território precisam acontecer de forma planejada, com o elemento de surpresa, que é importante. A gente tem exemplos de ações assim que foram bem-sucedidas no Rio de Janeiro, por exemplo. Planejamento e inteligência são fundamentais", finaliza.

O que diz a SSP-BA

Diante da insegurança no entorno das escolas, a Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP-BA) disse à reportagem que transformou a operação 'Ronda Escolar', da PM, em Batalhão de Policiamento Ronda Escolar. "A mudança ampliou o efetivo e a quantidade de viaturas, possibilitando maior assistência às instituições de ensino, garantindo o índice baixo de ações ilícitas dentro das escolas".

Com relação à ocorrência mais recente no Complexo do Nordeste de Amaralina, o órgão afirmou que as polícias Militar e Civil trabalham em conjunto para identificar e prender o autor do disparo. "Por fim, a SSP reforça também que ações para combater o crime organizado e retirar armas das ruas continuarão sendo realizadas diariamente pelas forças estaduais."

Lista de escolas municipais com aulas suspensas em 2023, segundo a Smed:

Cmei Abdias Nascimento
Cmei Calabar
Cmei Cecy Andrade
Cmei Maria Rosa Freire
CPP Sussuarana
EM 22 de Abril
EM Anfrísia Santiago
EM Antônio Carlos Peixoto de Magalhães
EM Armando Carneiro
EM Cabula I
EM Palestina
EM Pernambués
EM Durval Pinheiro
EM Frei Leônidas Menezes
EM Helena Magalhães
EM Jandira Dantas
EM Joaquim Magalhães
EM Luis Eduardo Magalhães
EM Madre Helena Irmãos Kennedy
EM Manoel Barradas
EM Manoel Francisco do Nascimento
EM Manoel Maximiano Encarnação
EM Manoel Faustino
EM Maria Conceição Santiago Imbassahy
EM Maria Dolores
EM Maria Felipa
EM Novo Horizonte
EM Olga Mettig
EM Paulo Mendes
EM Santa Terezinha
EM Senhor do Bonfim
EM Úrsula Catarino
EM Vovô Zezinho
EM Marisa Baqueiro
EM Risoleta Neves
EM São Gonçalo do Retiro
EM Murilo Celestino Costa
EM Eugênia Anna
EM Pedro Nolasco
EM Santo André
EM Padre Confa

Lista de escolas estaduais com aulas suspensas em 2023, segundo o levantamento do CORREIO:

Colégio Estadual Sara Violeta de Mello Kertesz
Colégio Estadual Helena Magalhães
Colégio Estadual Edvaldo Fernandes
Colégio Estadual Góes Calmon
Colégio Estadual Polivalente de Amaralina

Durante um assalto no bairro de Piatã, homens armados exigiram que um casal de amigos fizesse transferências bancárias através do Pix, mas o empresário Marcos Augusto, de 28 anos, recusou e o corpo dele foi encontrado com marcas de tiro na Fazenda Cassange no último dia 25. Da mesma forma que a facilidade de movimentar dinheiro caiu no gosto da população, a transação também atraiu criminosos. E a polícia baiana dispara um alerta: bandidos estão migrando do sequestro-relâmpago para a extorsão mediante sequestro, via Pix.

De acordo com dados da Coordenação de Repressão a Extorsão Mediante Sequestro, unidade do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), no primeiro trimestre do ano passado foram 12 casos contra 14 neste ano da nova modalidade em Salvador - um aumento de 17%. Já na região metropolitana, a proporção é maior. Foram 5 casos em 2022 contra 7 neste ano, elevação de 40%. Na capital, teve registros em Pau da Lima, Cabula, Cajazeiras, Sete de Abril, Cidade Baixa, Mussurunga, Imbuí, Patamares e em bairros do Subúrbio Ferroviário.

“Os criminosos vão para fazer o sequestro-relâmpago, mas, durante a ação, eles se deparam com uma das medidas de segurança das agências bancárias: hoje, há um limite de saques a partir das 20h. É aí que entra a extorsão mediante sequestros. Diante da situação de não poder realizar grandes saques, os bandidos ligam para as famílias e amigos das vítimas, que estão mantidas reféns, atrás de transferências de valores através do Pix”, declarou o delegado Adailton Adan, coordenador de Repressão a Extorsão Mediante Sequestro. A maioria das vítimas é formada por comerciantes ou empresários.

No último dia 25, Marcos Augusto conversava com Maria Rodrigues, 26, dentro de um carro, em Piatã, quando foram surpreendidos pelos criminosos. O vereador Joceval Rodrigues (Cidadania), pai de Maria, disse que um dos bandidos se aproximou e mandou abrir a porta do carro. Dentro do veículo, exigiu que as vítimas desbloqueassem o celular e fizessem as transferências em Pix, mas o empresário lutou com um dos bandidos. Maria foi libertada com vida. Já o empresário, que foi sequestrado, acabou morto e teve o corpo localizado horas depois na Estrada das Pedreiras, no bairro de Fazenda Cassange.

O Pix surgiu como uma forma inovadora de pagamentos e transferências bancárias instantâneas e sem custo. A tecnologia foi lançada em 2020 e se popularizou no ano seguinte, em plena pandemia.

“Há subnotificação, como no caso dos ciganos. Eles resistem em vir à delegacia, porque temem represálias dos bandidos”, explicou o delegado Adailton Adan. Em janeiro deste ano, o CORREIO publicou reportagem sobre como o povo cigano estava na mira de sequestradores. Foram pelos menos seis casos denunciados pelo Instituto Cigano do Brasil (ICB) em 2022. Ainda na reportagem, o presidente do ICB, Rogério Ribeiro, disse que, em 2021, foram mais de 20 ocorrências, algumas envolvendo policiais e ex-policiais.

Policiais
O coordenador de Repressão a Extorsão Mediante Sequestro do Draco não descarta a participação de servidores públicos nos casos de extorsão mediante sequestro. “Não descartamos o envolvimento de integrantes das forças de segurança (policiais, ex-policiais, policiais penais), além de agentes socioeducadores. O servidor público que acha que vai contar com a proteção da polícia, está enganado. Tivemos casos que conseguimos provar e prender”, garantiu o Adailton Adan.

A participação de servidores públicos está relacionada ao perfil da vítima, na maioria dos casos. Algumas dessas pessoas sequestradas têm envolvimento com a criminalidade, pelo volume da movimentação de dinheiro com o tráfico de drogas. Mas as facções também estão praticando a extorsão mediante sequestro. Na semana passada, a polícia encontrou o corpo de Davi dos Santos depois que homens arrombaram um apartamento no Residencial Paraguari I, condomínio ao lado do Hospital do Subúrbio, em Periperi. Davi, que já tinha sido preso por tráfico, roubo e diversos estupros, foi morto mesmo após a família pagar pelo resgate.

“Ele estava numa casa abandonada em Simões Filho, com marcas de tiro, agressões e o órgão sexual mutilado. Esses grupos têm conduta entre eles e não perdoam quem comete crimes sexuais”, explicou o delegado.

Ainda de acordo com ele, 94% dos inquéritos foram elucidados e, com isso, constatado que as ações eram realizadas, em sua maioria, por três a quatro pessoas. No entanto, o especialista em Direito Bancário, do Consumidor e Empresarial, o advogado Mateus Nogueira, ponderou sobre o trabalho da polícia. "Deve ser focado na inteligência para combater essas quadrilhas. Localizar e prender não só quem está fazendo o sequestro, mas também as pessoas que recebem o dinheiro na conta, que são os ‘laranjas’, que têm uma comissão para emprestar a conta”, declarou.

O especialista comentou como as quadrilhas percebem a facilidade de arrancar dinheiro das vítimas. “Aqui na Bahia a gente vem percebendo o crescimento dessa modalidade, principalmente pela falta de cuidado que as pessoas têm em relação ao Pix. No Carnaval, por exemplo, a gente via muitas coisas sendo vendidas com o Pix e as pessoas não tinham nenhum cuidado para abrir o aplicativo do banco, para comprar cerveja ou churrasquinho, sem se preocupar com quem estava a sua volta”, disse Nogueira.

Pelo país
A nova modalidade não é tão nova assim, pelo menos na maior cidade do país. Desde o segundo semestre do ano passado, a Justiça de São Paulo começou a aplicar as primeiras condenações de membros das "Quadrilhas do Pix", como são chamados lá, os grupos de criminosos que praticam sequestros e roubos de telefone celular para exigir senhas bancárias e transferir o máximo de dinheiro das contas correntes das vítimas. As penas impostas aos réus variaram de dez anos a 46 anos de prisão em regime fechado.

Os ataques às vítimas são tipificados pela Polícia Civil como roubo, extorsão e também como associação criminosa, quando mais de três criminosos agem juntos. A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou essa modalidade de crime cresceu 39,1% de janeiro a julho de 2021, em comparação com igual período do ano anterior.

Dicas
Em caso de sequestro, é importante seguir as instruções dos sequestradores e cooperar, a fim de assegurar a segurança da vítima. A polícia deve ser notificada imediatamente e é importante evitar compartilhar informações com terceiros, a menos que autorizado pela polícia.

Algumas medidas preventivas para evitar o "Sequestro do Pix", segundo o Draco

1. Evitar permanecer nas áreas onde os sequestros-relâmpagos são comuns.

2. Se estiver em uma área de risco, fique atento às notícias locais e siga as recomendações das autoridades.

3. Evite sair sozinho à noite e se possível, fique em grupo.

4. Evite transporte público, especialmente à noite ou em áreas muito isoladas.

5. Evitar exibir sinais de riqueza, como carros caros, aparelhos de celular de última geração ou joias nas redes sociais.

6. Evitar discutir sua vida pessoal ou profissional com estranhos.

7. É importante lembrar que os sequestros-relâmpagos são eventos imprevisíveis e que mesmo tomando todas as precauções, ainda há um risco de ocorrência.

Publicado em Polícia

Mais um dado alarmante da violência armada na Bahia. Na noite do último sábado (4), Salvador e Região Metropolitana atingiram a marca de 1.000 tiroteios/disparos de arma de fogo desde que o Instituto Fogo Cruzado iniciou suas atividades na Bahia, em julho de 2022. O milésimo registro ocorreu no município de Mata de São João, quando um borracheiro foi morto e outro homem ficou ferido ao serem atingidos por tiros efetuados por homens armados que chegaram num bar em que eles estavam, no bairro do Caboré.

O primeiro registro de troca de tiro feito pelo instituto foi a ocorrência do dia 1º de julho, no terminal de ônibus de Pirajá, que deixou uma pessoa morta e seis feridas. Esta é a segunda ocorrência com maior número de baleados. Com o maior número de vítimas registradas, está o tiroteio da noite do dia anterior ao marco dos 1.000, que atingiu 10 pessoas que participavam de uma festa na Rua 24 de Março, localidade próxima a uma delegacia, no bairro de Tancredo Neves, em Salvador, no dia 3 de março. Entre as 10 vítimas, três crianças e três moradores da localidade.

Os 1.000 tiroteios mapeados em Salvador e Região Metropolitana resultaram na morte de 677 pessoas e deixaram outras 211 feridas. Entre os 888 baleados neste período, houve, em média, 111 atingidos por mês. Do total de 1.000 tiroteios, 475 foram casos de homicídio/tentativa, 327 ocorreram durante ações e operações policiais e 148 em meio a disputas. Houve ainda 25 chacinas que resultaram na morte de 84 pessoas.

Salvador
Salvador lidera o ranking dos municípios mais atingidos pela violência armada. Em média, a cada quatro tiroteios ocorridos em Salvador e RMS, três ocorreram na região. Os municípios mais afetados foram:

● Salvador: 741 tiroteios, 465 mortos e 164 feridos

● Camaçari: 89 tiroteios,65 mortos e 16 feridos

● Lauro de Freitas: 44 tiroteios, 23 mortos e 9 feridos

● Simões Filho: 36 tiroteios, 35 mortos e 5 feridos

● Mata de São João: 29 tiroteios, 29 mortos e 4 feridos

Em oito meses de atividade houve o registro de 33 vítimas de bala perdida, onde 12 pessoas foram mortas e 21 ficaram feridas. 52 pessoas foram baleadas dentro de residências: 50 foram mortas e duas feridas. Outras 31 pessoas foram vítimas da violência quando estavam em bares: 18 foram mortas e 13 ficaram feridas. Do total de 888 baleados, 836 eram pessoas adultas: 645 foram mortas e 191 feridas. Nove idosos foram mortos e cinco foram feridos; 20 adolescentes foram mortos e outros sete ficaram feridos e uma criança foi morta; e outras oito foram feridas. Duas pessoas mortas não tiveram a faixa etária identificada.

Os homens foram maioria entre as vítimas de arma de fogo com 783 baleados, onde 630 foram mortos e 153 ficaram feridos. 82 mulheres foram baleadas, onde 43 foram mortas e 39 feridas. Entre as mulheres baleadas no período, quatro foram vítimas de feminicídio. Houve o registro da morte de uma pessoa não-binária e não foi possível obter a identificação de três pessoas mortas e 19 feridas. Do total de baleados registrados pelo Instituto desde o início de suas atividades, 204 eram pessoas negras, destas, 188 foram mortas e 16 feridas.

Há também o registro de 38 pessoas brancas baleadas (33 mortas e cinco feridas) e de uma pessoa amarela ferida. Não foi possível obter a identificação racial de 645 pessoas (456 mortos e 189 feridos).

Sobre o Fogo Cruzado
O Fogo Cruzado é um Instituto que usa tecnologia para produzir e divulgar dados abertos e colaborativos sobre violência armada, fortalecendo a democracia através da transformação social e da preservação da vida.
Com uma metodologia própria e inovadora, o laboratório de dados da instituição produz 40 indicadores inéditos sobre violência nas regiões metropolitanas do Rio, do Recife e de Salvador.

Através de um aplicativo de celular, o Fogo Cruzado recebe e disponibiliza informações sobre tiroteios, checadas em tempo real, que estão no único banco de dados aberto sobre violência armada da América Latina, que pode ser acessado gratuitamente pela API do Instituto.

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De acordo com dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), a Bahia é o estado que mais acumulou mortes violentas de pessoas LGBTQIA+ em 2022. Ao todo, foram 27 casos, o que representa 10,5% dos casos notificados no país no ano passado. Ou seja, por aqui, cada mês registra uma média de mais de duas mortes por lgbtfobia.

Os números da Bahia superam estados com um quantitativo populacional três vezes maior, como São Paulo, que teve 25 mortes e fica em segundo lugar no indesejado ranking. Pernambuco, com 20 mortes violentas, fica em terceiro e é seguido por Minas Gerais, que fechou o ano passado com 18 crimes. Maranhão e Pará tiveram15 registros, cada.

"Não é a primeira vez que a Bahia ocupa esse lugar em relação aos outros estados. Em vários outros anos na última década, a Bahia estava em primeiro ou segundo lugar. No entanto, não há razão sociológica clara que permita dizer os motivos dos números mais elevados", pontua Luiz Mott, professor aposentado de Antropologia na Ufba e fundador do GGB.

Ao comentar as estatísticas locais, porém, Kleber Simões, historiador e pesquisador de temas LGBTQIA+, afirma que os índices baianos são tão altos por falta de políticas públicas que, de fato, reduzam a violência contra essa população, principalmente quando a motivação é o preconceito [homofobia, lesbofobia, transfobia].

"Ao longo dos anos, os governos negligenciaram a pauta LGBT+, com suas demandas e questões. Inclusive, a construção de políticas públicas voltadas à preservação da vida desta população, o que aumenta e deixa persistente a vulnerabilidade das pessoas LGBTs", aponta.

Ainda de acordo com Kleber, o que se vê na política é que as demandas dessa população são negociadas dentro da pauta pública. "Ao mesmo tempo que você não tem uma política sistemática que envolva a produção de órgãos específicos para a denúncia, coleta de dados e de punição dessa violência fatal, não se tem resposta a outros tipos de violência como a patrimonial, a moral e a sexual", enumera.

O pesquisador acrescenta, ainda, que os números se ampliam porque não há um órgão específico para tratar da questão. Procurada para responder sobre isso, a Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA) afirmou que entende a necessidade de atuar em conjunto com outras instituições para ampliar as ações de proteção e acolhimento voltadas a este público. Por isso, mantém diálogo com secretarias e reforça a capacitação dos servidores, sendo policiais militares, civis e técnicos, além de bombeiros.

"A pasta rememora a criação da Coordenação Especializada de Repressão aos Crimes de Intolerância e Discriminação (Coercid) que, desde março de 2022, propicia uma articulação rápida e eficaz com todas as unidades de polícia judiciária do estado para dar maior celeridade às apurações de casos envolvendo este público, promovendo o acolhimento adequado e a identificação rápida de autores de delitos", escreve em nota sobre a criação de políticas para reduzir os números da violência contra pessoas LGBTQIA+.

Convivência com o medo
Em números relativos, a Bahia também tem índices elevados de violência fatal contra pessoas LGBTQIA+. Enquanto a média de mortes dessa população no país é de 0,13 a cada 100 mil habitantes, o estado registra 0,18. Esses dados, por sua vez, se traduzem nas ruas e fazem com que as pessoas que são alvo dessa violência vivam com medo e, em muitos casos, evitem demonstrações de afeto em público.

"Ninguém fez nada quando ele me agrediu, ninguém parou para me ajudar. O motorista, que me viu pelo retrovisor, só fechou a porta e seguiu viagem. A gente vive acuada e com medo. Não pode nem responder uma ofensa para não apanhar, como aconteceu comigo", reclama Juliana, que prestou queixa da agressão em setembro do ano passado. Na época, ela também denunciou o caso pelas suas redes sociais. 

Mesmo quem não sofreu uma violência física partilha do temor. Emerson Santana, 32, diz que não se preocupa em andar na rua sozinho, mas a coisa muda de figura quando está acompanhado. Ele afirma que os olhares intimidam e sente que, a qualquer momento, pode sofrer agressão verbal ou mesmo física por causa de uma demonstração de carinho.

“Tenho receio de demonstrar afeto nas ruas. Salvador, que é tida como uma cidade grande e mais aberta, tem muita homofobia e eu tinha medo de demonstrar algo quando estava namorando. No interior, é pior ainda. Não ando de mãos dadas e procuro ter cautela em saber onde é seguro mostrar afeto”, conta Emerson, que é de Itapetinga, no sudoeste da Bahia.

Letícia Paz, 21, também escolhe com cautela os locais para onde ir com a namorada. Ela afirma que, por ter ciência de casos em que pessoas foram vítimas de ataques violentos por conta da orientação sexual, o medo é presença comum quando andam em espaços públicos.

"Sempre fico com medo antes de sair de casa. Por isso, tentando não sofrer lesbofobia, seleciono bem o lugar. Até porque mesmo um olhar é carregado de violência. Muda nosso comportamento e chegamos até a soltar as mãos. Tudo isso por um medo que existe por conta dos inúmeros relatos de violência contra pessoas LGBTs", diz.

Subnotificação
Ainda que os números da violência contra a população LGBT+ sejam altos, eles podem também estar subnotificados. Isso porque o Grupo Gay da Bahia faz o trabalho de coleta dos dados sobre os crimes e as vítimas através do que é noticiado na imprensa e não tem acesso, por exemplo, aos registros das delegacias, que poderiam indicar com mais exatidão o número de mortes violentas de pessoas LGBTQIA+ no estado.

O pesquisador Kleber Simões acrescenta que é possível existir uma subnotificação ainda maior nos outros estados. "Por ser da Bahia e ter sido idealizada pelo GGB [a estatística anual sobre violência contra lgbts], há uma possibilidade de que eles tenham mais capacidade de captar dados relativos à violência contra essa população", afirma.

"E a mídia também pode influenciar, já que serve de base para a coleta. O nível de atenção que se dá ao tema em um estado pode ser diferente do outro", complementa ele, que também é professor da Uneb.

Advogado civil, Joaquim Magalhães explica que os crimes contra pessoas LGBT+ se tratam de "crimes cometidos contra um determinado grupo social em razão de sua etnia, nacionalidade, religião ou orientação sexual". Ou seja, são enquadrados como crimes de ódio.

Joaquim Magalhães lembra que a homofobia foi reconhecida como crime equiparado ao racismo pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2019, o que fez desses crimes, delitos inafiançáveis e imprescritíveis. "A dificuldade, contudo, é na própria classificação do crime. Posto que, muitas das vezes, se acaba omitindo ou não se reconhecendo que a causa do crime foi a orientação sexual [ou a identidade de gênero] da vítima", complementa o advogado, acenando para mais um motivo que induz à subnotificação.

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