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Endividamento bate recorde e atinge 12,3 milhões de famílias

Endividamento bate recorde e atinge 12,3 milhões de famílias

Com tantos aumentos, a inflação no teto, diminuição do poder de compra fica difícil pensar em presentear no Natal deste ano. No máximo, guardar dinheiro para o pagamento de contas. Sim, porque elas virão.

Em janeiro tem IPVA bem mais caro por conta da disparada nos preços dos veículos, matrícula escolar reajustada em 10%, compra de material, IPTU, e por aí vai.

Em meio ao recrudescimento da crise econômica, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) divulgou semana passada levantamento que aponta para o aumento do número de brasileiros com a corda no pescoço.

Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), a insolvência atingiu em novembro a marca de 12,3 milhões de famílias, maior nível em oito meses. O total dos que se declararam endividados, na pesquisa, subiu para 75,6% em novembro, ante 74,6% em outubro. Número recorde, de acordo com a entidade.

Como se para piorar, com as dívidas se acumulando, muitos recorrem a crédito, mesmo que com juros mais altos (Selic). Daí a explicação para o efeito bola de neve.

Para quem está endividado e precisa de um empurrão para “recomeçar” em 2022, uma oportunidade é aproveitar o Feirão Serasa Limpa Nome, que encerra hoje o atendimento presencial. A campanha, porém, segue online nos canais digitais da Serasa, como aplicativo, site, WhatsApp (11 99575-2096), pelo telefone 0800 591 1222, ou em agências dos Correios.

O objetivo da ação é promover o meio de campo entre consumidores (com débitos) e mais de 50 empresas, como de telefonia, escolas particulares, concessionárias de serviço, financeiras. Segundo a Serasa, mais de 150 milhões de dívidas estão disponíveis para renegociação com descontos que podem chegar a 99%. Nesse período, mais de 243 mil acordos foram firmados no estado da Bahia, sendo 125 mil em Salvador.

Levantamento da Serasa mostra que em outubro havia mais de 63 milhões de inadimplentes no país. Tanta gente, que episódios de confusão foram registrados durante o evento da Serasa, e em um deles a polícia militar precisou ser acionada para conter dois homens que trocaram socos na fila aqui em Salvador. Felizmente ninguém ficou ferido.

Vendas no varejo

“O Brasil estava precisando de um Feirão, e as filas que vimos na última semana foram um reflexo da situação do país. Os dois últimos anos estão muito difíceis para a população, com preços em alta e o desemprego afetando mais de 14 milhões de pessoas”, afirma Matheus Moura, gerente executivo de marketing da Serasa.

Desafio para as famílias, e para o varejo baiano, que espera um crescimento de 5% nas vendas neste final de ano, com alta liderada pelos setores de vestuário e calçados, seguida de eletrodomésticos e eletrônicos, projeta a Fecomércio-BA.

“Há espaço para reaquecimento na medida em que mais de 110 mil pessoas na Bahia ingressaram no mercado de trabalho este ano, tem o estímulo às compras gerado pelo décimo terceiro salário, e o resultado tende a ser positivo, em especial para alguns segmentos”, diz o economista da Fecomércio-BA, Guilherme Dietze.

Contudo, ainda segundo Dietze, a inflação elevada deve permanecer em 2022, assim como o crescimento baixo, lembrando que é ano de eleição. “Sem perspectiva de melhora do orçamento, ou seja, ainda mais pressão, e corda no pescoço. A inadimplência cresce desde 2020, e chega agora a consequência do desemprego e da pandemia”, explica.

Na manhã da última quarta-feira, a reportagem de A TARDE foi à Avenida Sete, no centro da capital baiana, um dos endereços mais tradicionais para compras de final de ano, conferir como anda o movimento neste início de dezembro. O que se viu foi um comércio de rua esvaziado, com lojas quase desertas –, bem diferente do habitual.

Há 16 anos, Ubirajara Ribeiro Santiago, 45, vende camiseta, bermuda e tênis em uma banca montada em frente à agora extinta agência do Banco do Brasil no Relógio de São Pedro, fechada há oito meses. Mas é provável que este seja o último Natal de Santiago por lá.

Ele não tem mais dinheiro para comprar mercadoria, diz, e as poucas peças que restam está vendendo a R$ 40, menos da metade, como em saldão. “Só para fazer (a grana para) o almoço e a janta”, contou è reportagem.

Santiago diz que em anos anteriores nessa mesma época chegava a faturar R$ 20 mil. Morador do Rio Sena, casado e pai de três filhos pequenos, ele diz que está à procura de emprego, e outra fonte de renda. Um empréstimo bancário de R$ 2 mil e parcelas de R$ 120 ficou em aberto, mas ele quer pagar. “Não tive como ir (no feirão da Serasa)”, falou ele.

“È hora de ponderar”

Perto dali, um pouco mais esperançoso, estava Anderson Lima, 23, em seu segundo dia de trabalho em uma loja de calçados, com expectativa de vender bem e ser efetivado no primeiro emprego. Até então, o jovem empreendia com um carrinho de cachorro-quente. Morando na casa dos pais, no Calabetão, ele conta que o plano é investir no sonho de estudar psicologia. “Preciso de vendas”, disse.

Planejadora de finanças pessoais, Juliana Barbosa destaca a conjuntura geral de arrocho. “Estamos chegando ao fim de mais um ano de muitas dificuldades, e pressionados pela inflação alta, muito acima da meta. E tudo isso está afetando demais a população, principalmente os mais pobres”.

“Justamente em uma época em que todo mundo gostaria de ir às compras, décimo terceiro salário na mão para aquecer a economia, o que a gente tem visto é um movimento ainda muito fraco, com muitos comerciantes não aumentando estoque porque a previsão das vendas não é muito boa”.

A dica, segundo Juliana, é ponderação. “É preciso ponderar a situação financeira atual. E se perguntar: é o momento de presentear? Quem sabe uma lembrança, um gesto de carinho? E priorizar o pagamento de contas, tê-las em dia, pensando no início do ano, em não ter de contrair novas dívidas”.

“Se for o caso, busque a chance de negociar, limpar o seu nome, iniciar 2022 com o pé direito. Lembrando que não se deve aceitar qualquer oferta de renegociação. Antes de tudo, analise o orçamento, veja onde pode cortar, economizar, para aí sim você ter um valor mensal e poder honrar esse novo acordo. Faz uma proposta boa para ambas as partes”.

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