O Censo Demográfico 2022 mostrou que 1.693.535 pessoas se declaram indígenas no Brasil, correspondendo a 0,83% da população residente do país, distribuídas por 4.832 municípios. Os dados do Censo 2022 Indígenas: Primeiros resultados foram divulgados nesta segunda-feira (7) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No Censo de 2010, o IBGE contou 896.917 pessoas indígenas, o que correspondia a 0,47% da população residente no país, revelando que a população indígena variou 88,82% em 12 anos. O Censo 2022 encontrou um maior número de terras indígenas oficialmente delimitadas passando de 501 em 2010 para 573 no ano passado.

Segundo o instituto, entre os motivos para esse aumento figuram o aperfeiçoamento do mapeamento de localidades indígenas em todo o país, inclusive nas cidades e em áreas remotas; a inserção de procedimentos operacionais padronizados de abordagem às lideranças indígenas; utilização de guias institucionais da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) ou da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai); preparação das equipes regionais e locais da Funai e Sesai para o apoio à operação censitária; incorporação da figura do guia comunitário indígena; treinamento diferenciado das equipes censitárias, além do monitoramento em tempo real da cobertura da coleta censitária e as adaptações metodológicas para facilitar a compreensão do questionário.

“Em cada aldeia contamos com o apoio de pelo menos uma liderança indígena. Nossos agradecimentos a todas as lideranças que assumiram o Censo como uma política de Estado mas também como um direito dos povos indígenas de serem recenseados da melhor forma possível”, disse Marta Antunes, responsável pelo Projeto de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE.

A Região Norte destaca-se como aquela que concentra 44,48% da população indígena do país, com 753.357. A Região Nordeste reúne 31,22% da população indígena, com 528.800. As duas regiões somam 75,71% da população indígena do Brasil.

Duas unidades da federação concentram 42,51% da população indígena residente no país: o Amazonas, com 490.854, correspondendo a 28,98% da população indígena, e a Bahia, com 229.103 13,53% do total. Mato Grosso do Sul apresenta o terceiro maior quantitativo, com 116.346, seguido de Pernambuco, com 106.634, e Roraima, com 97.320. Estes cinco estados contabilizam 61,43% da população indígena.

Em 2022, Manaus era o município brasileiro com maior número de pessoas indígenas, com 71,7 mil. A seguir, vinham São Gabriel da Cachoeira (AM), com 48,3 mil habitantes indígenas, e Tabatinga (AM), com 34,5 mil. Já as maiores proporções de população indígena estavam em Uiramutã (RR), onde 96,60% dos habitantes eram indígenas, Santa Isabel do Rio Negro (AM) (96,17%) e São Gabriel da Cachoeira (93,17%).

Terras indígenas

A população residente em terras indígenas somava 689,2 mil pessoas, sendo 622,1 mil indígenas (90,26%) e 67,1 mil não indígenas (9,74%). Quase metade dessa população (49,12%) está no Norte, onde as terras indígenas tinham 338,5 mil habitantes, sendo 316,5 mil (93,49%) indígenas.

A Terra Indígena Yanomami (AM/RR) tem o maior número de pessoas indígenas (27.152), o equivalente a 4,36% do total em terras indígenas no país. O segundo maior número está na Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR), com 26.176, seguida pela Terra Indígena Évare I (AM), com 20.177.

Dos 72,4 milhões domicílios particulares permanentes ocupados do Brasil, 630.041 tinham pelo menos um morador indígena, correspondendo a 0,87% do total de domicílios. Dos 630.041 domicílios com pelo menos um morador indígena, 137.256 estavam dentro de terras indígenas (21,79%) e 492.785 estavam localizados fora de terras indígenas (78,21%).

A média de moradores nos domicílios onde havia pelo menos uma pessoa indígena era de 3,64. Dentro das terras indígenas, era de 4,6 pessoas e fora das terras indígenas, de 3,37 pessoas. Em todos os casos, foi mais alta do que no total de domicílios do país (2,79).

Amazônia Legal

Foram contadas 867.919 pessoas indígenas nos municípios da Amazônia Legal, o que representa 3,26% da população residente total da região, sendo 51,25% do total da população indígena residente no Brasil.

Na Amazônia Legal, foram recenseados 403.287 indígenas residindo em terras indígenas, o que representa 64,83% da população indígena nacional residindo em terras indígenas.

A presença da população indígena residente na Amazônia Legal nos territórios oficialmente delimitados é superior ao quadro nacional: enquanto na Amazônia Legal 46,47% da população indígena reside em terras indígenas, para o conjunto do país, esse percentual é de 36,73%.

A liderança indígena Junior Yanomami reconhece que as equipes do IBGE enfrentaram muitas dificuldades para chegar a comunidades isoladas na Amazônia ameaçadas por garimpeiros e madeireiros. “Queremos viver em paz e ter a proteção real dos povos indígenas e da floresta com segurança, saúde e educação”, disse, reconhecendo a importância do censo para acesso a políticas públicas.

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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) está revisitando todos os lugares que ainda apresentam índices altos de entrevistas não realizadas, por ausência dos moradores ou por recusa, para o Censo Demográfico 2022. Segundo o IBGE, nas áreas de favelas e comunidades urbanas, além de ausência e recusa, há outros desafios: muitas vezes não existe endereço, o que dificulta o percurso dos recenseadores e o registro dos domicílios.

“Nas áreas mais densas, a coleta também pode ser dificultada, pois há maiores chances de omissão de domicílios (de fundos ou na laje) por parte do recenseador. Há ainda problemas de acesso e circulação em algumas comunidades por causa de desconhecimento do recenseador e receio do morador em receber [o recenseador]”, informou o instituto.

“Para que todos os domicílios sejam visitados, o IBGE está fazendo ampla divulgação da coleta em favelas e comunidades urbanas, para que os próprios moradores recebam e auxiliem o recenseador, indicando as melhores rotas e o local de moradias”, acrescentou o órgão.

Este mês, o IBGE fechou parceria com o Instituto Pereira Passos (IPP), órgão de pesquisa da prefeitura do Rio, para reduzir o percentual de domicílios que não responderam ao Censo nos aglomerados subnormais da cidade, que está em torno de 9%.

A parceria envolve a contratação de ex-agentes de Territórios Sociais, programa da prefeitura com o ONU-Habitat - Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos, em que são realizadas pesquisas domiciliares em grandes favelas do Rio, como Rocinha e Maré.

“Ter informações qualificadas das favelas da cidade é de suma importância para o desenvolvimento de políticas públicas efetivas, baseado em dados e evidências. Por isso o Censo é tão importante. O IPP já tem uma parceria de longa data com o IBGE e apoiá-lo nessa corrida final é dever da casa”, afirmou, em nota, o presidente do Instituto Pereira Passos, Carlos Krikhtine.

“Com nossa experiência com o Programa Territórios Sociais, formamos recenseadores comunitários muito especializados no território carioca. Além disso, podemos apoiar o IBGE com uma rede de conhecimentos locais institucionais muito potentes”, acrescentou.

Os novos recenseadores trabalharam em fases anteriores do Territórios Sociais e têm experiência com pesquisas domiciliares nas localidades prioritárias. Na semana passada, eles foram treinados pelo IBGE para um conhecimento mais profundo sobre o questionário utilizado no Censo.

“Territórios é um programa que visa encontrar as famílias mais vulneráveis e, por isso, precisa estar diariamente nessas comunidades. Temos uma excelente articulação nesses territórios, os nossos agentes de campo são moradores e conhecem muita gente. Além de disponibilizar uma lista de pessoas experientes para trabalhar, estamos oferecendo todo suporte ao IBGE, deslocando nossos coordenadores de campo para acompanhar as equipes com o objetivo de alcançar as famílias que ainda não responderam ao Censo”, informou, em nota, a coordenadora técnica de Projetos Especiais do IPP, Andrea Pulici.

Desde quinta-feira (16), eles estão indo a campo na última fase da operação censitária, a etapa de apuração, que abrange os trabalhos de análise dos dados coletados. Assim, eles irão buscar por moradores que estavam ausentes no momento da visita ou que se recusaram a responder o questionário.

Data Favela
A pesquisa Data Favela 2023, divulgada sexta-feira (17), mostrou que se as favelas brasileiras formassem um estado, seria o terceiro maior do Brasil em população. Segundo o estudo, o número de favelas dobrou na última década, totalizando 13.151 mapeadas pelo país. São estimados 5,8 milhões de domicílios em favelas com 17,9 milhões de moradores.

A pesquisa quantitativa foi realizada entre 6 e 13 de março de 2023 e entrevistou 2.434 moradores de favela distribuídos em todas as regiões do país.

“A favela já é um território claramente invisibilizado e ficar fora do Censo seria aumentar esse cenário, além de não possibilitar que políticas públicas que atuam na redução da pobreza e promoção de oportunidades cheguem nesse território. É exatamente por isso que nós enxergamos que o Data Favela e o IBGE podem trabalhar em parceria para o correto mapeamento das favelas brasileiras pelo Censo”, disse o fundador do Data Favela, Renato Meirelles.

Ele atribui o problema do IBGE em recensear nas favelas à dificuldade de conhecer um território que muitas vezes não tem CEP, rua e saneamento básico. “São locais que estavam fora do mapa. O estigma de medo em relação às favelas também é uma das razões, além da falta da presença do Estado nas favelas”, completou Meirelles.

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O Censo Demográfico do IBGE de 2022 mal começou e os recenseadores, responsáveis por obter os dados dos cidadãos em entrevistas por toda a Bahia, já relatam problemas. Desde o dia 1º agosto, quando a pesquisa começou, os trabalhadores afirmam lidar com situações inesperadas como o não pagamento referente ao setor de coletas, a ausência do auxílio-transporte para locomoção e até o pagamento valores abaixo do que era esperado. Além disso, há questionamentos sobre a segurança do trabalho.

O resultado do acúmulo de problemas é uma debandada dos profissionais que, mesmo concursados, preferem abrir mão do trabalho que conquistaram. Isso porque, dos 12.485 recenseadores recrutados pelo IBGE, 571 já foram desligados do serviço em menos de um mês, o que representa 4,6% do efetivo nas ruas. Dos desistentes, apenas sete saíram por decisão do órgão até a manhã de sexta-feira (19).

Na capital, um grupo organizado de recenseadores se articula para reivindicar melhorias. Nesse domingo (21), a União dos Recenseadores de Salvador promoveu uma assembleia online para tratar dos problemas que serão apresentados formalmente para o instituto. Caso não obtenha uma solução, a entidade cogita até uma greve dos profissionais, o que poderia parar o Censo. Pelo menos, é o que garante Lucas Ferreira, representante do grupo.

“Fizemos uma primeira reunião de acolhimento [das reclamações]. Essa semana vamos comunicar o IBGE e dar tempo para que se pronuncie. Caso não haja uma resposta, a ideia é parar e não só Salvador, mas o Brasil como um todo. Porém, como o movimento começa aqui, as primeiras ações serão tomadas na cidade”, diz ele, relatando que colegas de todo o país relatam problemas similares.

Várias queixas
A atitude de pensar até em uma greve para os profissionais vem da impossibilidade de continuar o trabalho com os problemas relatados. Um recenseador, que prefere não se identificar, explica por que acredita que o IBGE está em atraso com ele e como isso afeta seu orçamento.

“Nós somos pagos por setores. Quando completamos o número de residências estipuladas para aquele setor, precisamos receber. Eu já finalizei o primeiro, não recebi o referente e já estou no segundo. Sem o pagamento, não tenho como continuar porque contava com esse dinheiro para quitar contas”, explica ele.

Superintendente do IBGE na Bahia, André Urpia diz que a possibilidade do instituto estar em atraso é baixa. De acordo com ele, a partir do momento que o recenseador completa a coleta em um setor, o pagamento não é automático e há um período para análise do trabalho. “Existe uma supervisão que pode demorar até 15 dias para o efetivo pagamento. O trabalho feito é observado por um supervisor com base em uma sistemática, e isso leva tempo. Estamos no dia 20 e [o IBGE] só poderia estar atrasado caso o trabalho fosse entregue no dia 5", explica Urpia.

Outra reclamação dos recenseadores é quanto ao auxílio-transporte. Segundo Luana, 31 anos, profissional que opta por não revelar o sobrenome, o IBGE deveria pagar R$ 9,80 por dia para locomoção, o que resultaria em R$ 49 por semana. Porém, além do auxílio estar atrasado, ela afirma ter recebido apenas por uma semana, e de maneira retroativa.

“Recebi apenas no final da primeira semana, o que não deveria porque auxílio a gente recebe antes, não tira do próprio bolso. O valor das últimas duas não veio e não tenho como pagar. Se não chegar, essa semana não vou conseguir ir para a rua”, conta ela.

Sobre isso, Urpia afirma que a demora para o depósito do auxílio é comum em um primeiro momento. "O IBGE tem um tempo para efetivar o pagamento entre o momento em que o recenseador assume o setor ou devolve a produção feita. Para essa primeira leva, estamos fazendo um pagamento dividido, sem pagar o valor inteiro por conta das desistências e trocas, que demandam uma devolução dos valores e geram uma série de trabalhos extras", sustenta o superintendente, garantindo que os percentuais vão aumentar e chegar ao recenseador de maneira integral.

Há também demandas por uma ajuda de custo relacionada à alimentação dos recenseadores. No entanto, o instituto afirma que isso não está previsto em contrato. Já Lucas Ferreira, da União dos Recenseadores de Salvador, aponta que foi prometido algo diferente aos profissionais.

“O que foi passado para nós foi uma ajuda de custo que não está descrita como transporte, alimentação ou qualquer outra coisa. Durante o treinamento, questionamos se teria uma ajuda de custo para água e alimentação. Prometeram uma ajuda, mas não disseram qual seria esse valor e até agora estamos esperando”, relata o representante.

Treinamento
Antes de irem para a rua e começarem o trabalho de pesquisa, os recenseadores de todo o país tiveram que passar por um treinamento. Para realizá-lo, receberam uma ajuda de custo de R$ 200. Ou pelo menos deveriam receber. Cerca de 600 recenseadores ainda não foram pagos com esse valor no estado devido a problemas no sistema do IBGE.

Mariana Viveiros, coordenadora de divulgação do Censo 2022 na Bahia, explica que os atrasos não ocorrem por conta de falta de verba e, sim, por questões operacionais que impediram o pagamento desses recenseadores.

“Quando eles saem do treinamento, recebem uma ajuda de custo, mas tivemos um problema no sistema do IBGE que atrasou esses pagamentos. Os mais afetados foram aqueles que fizeram o treinamento no mês de julho”, afirma.

Outro problema que teria favorecido o não pagamento da ajuda de custo é o cadastramento de alguns recenseadores, de acordo com a coordenadora.

“Os erros de cadastro também não foram irrelevantes. As pessoas deram, às vezes, a conta errada ou insistiram em fornecer uma conta poupança, que não recebe”. O pagamento pelos serviços prestados no Censo só é feito através de conta corrente.

Mariana Viveiros ressalta que o instituto está realizando um esforço para que os valores sejam pagos o mais rápido possível, o que deve acontecer ainda este mês.

Insegurança
Para além das questões relatadas, os profissionais também enfrentam a insegurança, que está mais presente no dia a dia de Jadsom Gonzaga, 59, desde o dia 1º de agosto, quando ele começou a rodar nas ruas da cidade no papel de recenseador. Ele realiza a pesquisa deste ano no bairro de Brotas e afirma que está “vulnerável ao acaso” todas as vezes que sai de casa para cumprir a função temporária.

“Nós precisamos de um suporte maior em relação à integridade física, à segurança. Tem moradores que só estão em casa à noite, e isso exige, muitas das vezes, que a pessoa se desloque fora do horário comercial para fazer o Censo. Salvador é muito grande, então há lugares mais perigosos que outros. Sendo assim, estamos vulneráveis ao acaso”, diz ele.

Somado à insegurança e exaustão que o dia a dia como recenseador gera por causa do deslocamento contínuo a residências, Jadsom diz que os baixos salários e falta de suporte à alimentação são grandes influenciadores da desistência do cargo. Os trabalhadores receberam antes de começarem a pesquisa um treinamento e a ajuda de custo de R$ 200, e o resto da remuneração é feita depois que os recenseadores finalizam um perímetro urbano delimitado pelo IBGE.

“Eu acho que deveria ter mais apoio ao recenseador, tanto em relação à segurança quanto à alimentação. Temos que bancar a alimentação do nosso bolso, infelizmente. A gente enfrenta o ‘sobe e desce ladeira’, encontra pessoas que se recusam a falar e recebe porta na cara. Depois desse trabalho todo, tem colegas meus que recebem R$ 400. Por isso, muitos desistem”, pondera.

Logística
Para o recenseador Edilson Santos, 22, outro problema é a logística. Tendo que sair de Pernambués para Brotas, ele conta que a ajuda de custo para o transporte é baixa. Fora isso, outra dor de cabeça, segundo ele, é a dificuldade de acesso a alguns locais.

“Eu tenho que me virar, sem suporte, para conseguir fazer as entrevistas em lugares mais restritos”, relata.

Recenseador no município baiano de Capela do Alto Alegre, no nordeste do estado, Paulo Matos, 22, também lamenta as dificuldades. Ele conta que um dos seus maiores desafios é explicar a importância do Censo e, em meio à sua rotina, já enfrentou a hostilidade de uma pessoa que se recusou a participar da entrevista.

“Um senhor bateu o portão na minha cara e disse que de estelionatário já bastava os da televisão. Além disso, afirmou que não iria responder porque eu aparentava não ser uma pessoa honesta”, conta Matos.

Em meio a casos de hostilidades como esse, o superintendente do IBGE na Bahia, André Urpia, diz que o órgão tem procurado informar, através de canais de comunicação, a importância de atender bem o profissional, além de buscar parceiros para ajudar na conscientização da importância do Censo.

“A gente tenta sempre destacar que os dados coletados são sigilosos. Sendo assim, a população pode ficar tranquila para responder os questionários. Outra medida é a busca de parceria com as prefeituras em prol de ampliar a comunicação sobre o Censo. Além disso, buscamos antecipadamente ter contato com síndicos para intensificar a importância do trabalho dos recenseadores e tranquilizar os moradores", esclarece Urpia.

Boas experiências
Na contramão dos recenseadores que enfrentam diversas dificuldades em relação à recepção da população, há aqueles que são acolhidos pelos moradores. É o caso de Fábio Ribeiro, que exerce a função em Feira de Santana. “Já aconteceu de em uma visita a um domicílio, eu tomar café com o pessoal que conversei. Foi bem legal”, lembra Ribeiro.

Buscando evitar estresse, ele diz que usou como estratégia a escolha de um setor perto do bairro em que reside. Então, a maioria dos questionários fez com amigos, vizinhos e familiares. Mas nem sempre apostar na proximidade local é necessário para se conseguir uma boa recepção dos pesquisados.

É o que conta Joana Alves, 26, ao afirmar que sua rotina tem sido tranquila. “Estou sendo bem recebida em todos os prédios que entro. O único entrave é o acesso ao condomínio. Você tem que falar com síndico e pedir acesso, mas isso é algo que consigo resolver”, diz Joana.

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A quilombola Floriceia Carvalho, 64 anos, era menina quando ouviu pela primeira vez as histórias de negros escravizados que fugiam de Salvador para buscar abrigo nos quilombos que ficavam na Ilha de Maré, na Baía de Todos os Santos. Histórias de como eles chegavam exaustos depois de fazer a travessia a nado e dos muitos que morriam tentando. Os descendentes desses sobreviventes ainda moram nessas localidades.

Agora, pela primeira vez em 150 anos, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) vai incluir essa população no censo. Nesta quarta-feira (17), uma equipe desembarcou na Praia Grande, na ilha, para conversar com as lideranças sobre a pesquisa. Os coletes azuis atraíram a atenção de homens e mulheres que tratavam peixes e faziam cestos artesanias na porta das casas da pequena vila. Floriceia participou do encontro.

“Nos últimos anos tivemos algumas melhorias, a população cresceu bastante, mas ainda existem muitos problemas e sentimos a ausência de políticas públicas, em todas as esferas. Então, essa pesquisa pode ajudar nesse sentido, precisamos ser vistos. Sou quilombola e tenho muito orgulho disso”, afirmou.

Segundo o IBGE, a Bahia é o estado com o maior número de comunidades quilombolas do Brasil, em casa dez municípios, seis tem algum quilombo. São 1.046 localidades, entre formalizadas e não formalmente reconhecidas. Em Salvador, a maior concentração está na Ilha de Maré, onde cinco recenseadores começaram a visitar os 640 domicílios. O pescador Antônio Santana, 54, respondeu ao questionário nesta quarta-feira e se autodeclarou quilombola antes mesmo de a pergunta ser concluída.

“Essa foi a primeira vez que participei [do censo do IBGE] e me sinto muito honrado em função de uma luta que a gente faz há muito tempo. Vivemos em um país onde não somos reconhecidos, onde a nossa identidade é extremamente massacrada, mas a gente vai conseguindo e sobrevivendo na luta”, disse.

São sete quilombos reconhecidos na ilha, além de Praia Grande, existem Bananeiras, Botelho, Itamoabo Neves, Maracanã, Porto das Caravelas e Santana. No interior, os municípios com mais territórios são Vitória da Conquista (28 quilombos), Campo Formoso (25), Bom Jesus da Lapa (23) e América Dourado, Bonito e Seabra (19 cada).

Mudanças
As lideranças frisaram que ser quilombola é antes de tudo reconhecer a identidade negra e as opressões e resistências vividas pelos antepassados, e se queixaram que a juventude está esquecendo a história. O supervisor dos recenseadores na ilha de Maré é William Neves, um jovem de 21 anos que contou que durante muitos anos não se identificava como quilombola, porque a palavra era associada apenas a sofrimento.

“Minha família não falava muito sobre isso, quando falava era sempre com um olhar negativo. Diziam que quilombola era aquele que sofreu, que penou, e ninguém queria se identificar como quilombola. Hoje, com os novos movimentos, as pessoas mudaram de opinião e estão se reconhecendo como quilombola, como identidade negra”, disse.

Além da autodeclaração, o censo demográfico investiga como vivem os moradores dessas comunidades. Durante a reunião lideranças destacaram problemas em infraestrutura, poluição ambiental e ausência de políticas públicas. A pesquisadora do Grupo de Trabalho de Povos e Comunidades Tradicionais do censo 2022, Daiane Ciriaco, destacou que a inclusão dos quilombolas amplia a diversidade do censo e torna a pesquisa mais completa, e se emocionou durante a reunião.

“O censo vai a todas a áreas desde sempre, mas será a primeira vez que terá perguntas direcionadas para pessoas quilombolas, em 150 anos. Com isso, essa população vai deixar de ser invisível aos olhos do estado. Se você não é contado, você não existe para as políticas públicas e para as estatísticas oficiais. Além disso, é uma forma de retratar o Brasil o mais próximo possível da sua realidade”, afirmou.

Os recenseadores estarão nas ruas até outubro e os primeiros resultados da pesquisa serão divulgados a partir de dezembro. No caso da Ilha de Maré os cinco trabalhadores moram na comunidade. Os agentes estão identificados com colete, crachá com foto e o dispositivo móvel de coleta. Eles carregam no peito um QR Code que aponta para um site no qual é possível confirmar a identidade dessas pessoas. Além disso, é possível também ter essa confirmação pelo 0800 721 8181 ou pelo site respondendo.ibge.gov.br

Visibilidade
O censo demográfico de 2022 é o 13º do país, mas o 1º a trazer informações específicas sobre pessoas que se auto identificam como quilombolas e sobre as comunidades em que elas vivem. A quilombola Maricélia Lopes, 52 anos, sempre viveu e ainda mora na Ilha de Maré, e usou uma camiseta em referência ao Quilombo Rio dos Macacos, que fica no continente, para cobrar políticas públicas para essa população e dados mais detalhados.

“Saímos da invisibilidade do IBGE, e isso é um direito, ninguém está fazendo um favor. Se tem informações e dados sobre o agronegócio, feita com dinheiro público, por que não fazer da gente também? Queremos saber quantas marisqueiras, pescadores e artesãos existem nos quilombos. Somos potência [econômica] também, afinal quem alimenta os mercados? Conseguir essa visibilidade no censo foi uma vitória”, afirmou.

As negociações com o IBGE para inclusão dessa população na pesquisa começaram em 2015. O coordenador nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais (Conaq), José Ramos, também destacou a importância dessa mudança.

“É um sentimento de luta e de referência aos nossos ancestrais. É através desse reconhecimento que podemos cobrar mais ações. É preciso se auto identificar para poder lutar pelos nossos direitos, e esse é o ponto fundamental dentro das nossas comunidades quilombolas, o trabalho de conscientização”, disse.

Quase a totalidade das comunidades quilombolas existentes na Bahia (96,2%) não são oficialmente delimitadas. No Brasil, apenas 6,8% das localidades são legalizadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Os dados são do IBGE, que além da Bahia, nesta quarta-feira, fez mobilizações pelo censo quilombola também em Goiás, Maranhão, Pará, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) abriu 340 vagas temporárias na Bahia. As oportunidades estão espalhadas por 49 municípios, sendo 142 posições em Salvador e 198 fora da capital.

Do total de vagas oferecidas na Bahia, 312 são para Agente de Pesquisas e Mapeamento (APM), sendo 128 para Salvador e 184 para os outros municípios. As outras 28 vagas são para Supervisor de Coleta e Qualidade, com 14 na capital e 14 em demais municípios baianos.

Os dois cargos exigem Ensino Médio completo. A remuneração será de R$ 1.387,50 para os APMs e de R$ 3.100 para os Supervisores. Ambas as funções possuem jornada de trabalho de 40 horas semanais, sendo 8 horas diárias, além de previsão de duração de contrato de um ano, podendo ser prorrogado.

As inscrições para ambos os Processos Seletivos Simplificados com vagas na Bahia se iniciam nesta quinta-feira (11/03/2021), às 10h, e vão até 26/03/2021. A taxa de inscrição para Agente de Pesquisas e Mapeamento custa R$ 33,98. Já para as vagas de Supervisor de Coleta e Qualidade, o valor é de R$ 30,27.

As inscrições devem ser realizadas exclusivamente pelo site do Cebraspe, empresa organizadora da seleção. Lá também estão
os editais completos e o quadro de vagas detalhado por município.

As provas de ambos os PSS ocorrerão no dia 02/05/2021 e serão realizadas em todos os municípios onde há vagas.

Entre as atribuições do Agente de Pesquisas e Mapeamento estão a visitação a domicílios e estabelecimentos, ou o contato via telefone, para a coleta de dados das diversas pesquisas realizadas rotineiramente pelo IBGE. Também dão suporte à
atualização dos levantamentos geográficos que estruturam a execução das pesquisas, entre outras atividades.

Já o Supervisor de Coleta e Qualidade organiza, planeja e executa atividades previstas para as pesquisas e levantamentos. Também gerencia, acompanha e controla os trabalhos desenvolvidos nas agências de coleta e participa e atua como instrutor em
treinamentos.

Os contratados farão jus a auxílio alimentação, auxílio transporte e auxílio pré-escolar, assim como férias e 13º salário proporcionais. Para todas as funções há vagas reservadas a pessoas com deficiência e pessoas que se autodeclaram pretas ou pardas, dentro dos percentuais definidos na legislação.

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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) reabriu o concurso para 204.307 vagas temporárias para a realização do Censo Demográfico 2021, com salários de até R$ 2.100. As vagas são para recenseador, agente censitário municipal e agente censitário superior. O Censo seria realizado no ano passado, mas foi adiado devido à pandemia.

Os salários variam de R$1.700 a R$2.100. São dois processos seletivos e os editais foram publicados nesta quinta-feira (18) no Diário Oficial da União. Os editais podem ser consultados aqui e aqui.

De acordo com os editais, para o cargo de recenseador, são 181.898 vagas. A remuneração por produção, de acordo com o número de domicílios visitados e questionários respondidos. Para agente censitário municipal são 5.450 vagas, com salário de R$2.100. E para agente censitário superior são 16.959 vagas, com salário de R$1.700.

Para a função de recenseador, a previsão de duração do contrato é de até 3 meses, podendo ser prorrogado mediante necessidades de conclusão das atividades do Censo e de disponibilidade orçamentária. A jornada de trabalho é de, no mínimo, 25 horas semanais.

Já para as funções de agente censitário, é exigido ensino médio completo. A jornada de trabalho é de 40 horas semanais, sendo 8 horas diárias.

Os melhores colocados em cada município ocuparão a vaga de agente censitário municipal, que será o responsável pela coordenação da coleta naquela cidade. Os demais agentes censitários supervisionam as equipes de recenseadores. A previsão de duração do contrato é de até 5 meses, podendo também ser prorrogado.

Inscrições
As inscrições para as vagas de recenseador começam no dia 23 de fevereiro e vão até 19 de março, com taxa de R$ 25,77. E para as vagas de Agente Censitário Municipal (ACM) e Agente Censitário Supervisor, as inscrições começam nesta sexta-feira (19) e vão até 15 de março, com taxa de R$ 39,49.

As inscrições deverão ser feitas pela internet, no site da Cebraspe, que organiza os processos seletivos.

 

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