Papa abre cúpula contra abusos sexuais anunciando “medidas concretas e eficazes”

Papa abre cúpula contra abusos sexuais anunciando “medidas concretas e eficazes”

O Papa Francisco iniciou nesta quinta-feira, 21,  a cúpula sobre os abusos sexuais, que se realiza no Vaticano até o próximo domingo, 24. Diante de uma plateia de 190 líderes religiosos (entre presidentes de conferências episcopais, representantes de igrejas orientais, chefes de dicastérios e bispos sem dioceses), Francisco recordou o objetivo do encontro histórico. "Eu os convoquei para que juntos possamos ouvir o grito dos pequenos que pedem justiça".

Em uma apresentação curta e austera, o próprio Papa enfatizou a necessidade de mudar o rumo e estancar a hemorragia que dessangra a Igreja Católica, com ações precisas. "Nossos corações estão cobertos pelo peso da responsabilidade pastoral e eclesial que nos obriga a discutir em conjunto, de modo sinodal, sincero e profundo, como lidar com este mal que aflige a Igreja e a humanidade. O povo santo de Deus olha para nós e não espera só condenações simples e óbvias, mas todas as medidas concretas e eficazes que são necessárias. É preciso ser específico.”

Além disso, Francisco anunciou aos participantes que lhes preparou por escrito algumas linhas básicas fundamentadas em reflexões anteriores enviadas por conferências episcopais e sobre as quais agora devem trabalhar. Uma espécie de lista de medidas urgentes que cada diocese tem de gravar a fogo em sua maneira de proceder. "Um ponto de partida que vem de vocês e em vossa direção. Mas isso não diminui a necessidade da criatividade, que deve vir de vocês nesta reunião. [...] Que a Virgem Maria nos ilumine para tentar curar as graves feridas que escândalos de pedofilia têm causado nos pequenos e nos crentes.”

Desse modo, com uma oração e um vídeo com depoimentos de vítimas, começou nesta quinta-feira no Vaticano a histórica cúpula contra os abusos sexuais na Igreja. Com uma organização semelhante à de um sínodo de três dias, os 190 participantes se reúnem na Sala Paulo VI do Vaticano sob o mesmo esquema e três temas centrais: a responsabilidade dos bispos, a prestação de contas e a transparência.

A cada dia haverá várias apresentações, 10 grupos de trabalho divididos por idiomas e uma sessão de conclusões. Na manhã desta quinta-feira foi a vez do cardeal filipino, Luis Antonio Tagle, e do arcebispo de Malta, Charles Scicluna. O segundo, secretário da Congregação para a Doutrina da Fé e principal especialista nas investigações de casos de abuso, deu uma aula magistral de direito e procedimentos básicos a serem seguidos pelos bispos quando detectam um caso. A intervenção, rica em dados e citações da documentação existente, mostra a carência de conhecimento das normas em algumas dioceses. Mas o arcebispo destacou que o papel da vítima nos processos é muito limitado e tem que ser expandido.

No domingo de manhã, o Papa dará uma declaração de encerramento em que poderá haver um anúncio que atenda à demanda das vítimas de algumas medidas concretas após a cúpula. A convocação representa um ponto de virada para a hierarquia católica, que por décadas encobriu os casos de pedofilia. As vítimas pressionam para que o discurso do Papa de "tolerância zero" seja posto em prática.

Fonte: El Pais Brasil

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    "Essas questões incluíam pais que veem diferentes orientações sexuais em seus filhos e como lidar com isso, como acompanhar seus filhos e não se esconder atrás de uma atitude de condenação", afirmou Francisco, que, em outros momentos, já havia dito que os homossexuais têm o direito de serem aceitos por suas famílias como filhos e irmãos. Também tem defendido que os casais homossexuais tenham proteções legais, mas no que diz respeito à esfera civil, não dentro da Igreja Católica. Embora não possa aceitar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a instituição pode apoiar leis de união civil destinadas a dar a eles direitos conjuntos nas áreas de pensões e saúde e questões de herança.

    Acolhimento
    Para Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP, o cenário sinaliza acolhimento, até diante da necessidade de se evitar preconceitos, mas ao mesmo tempo não indica mudança na doutrina da Igreja. "O cristão tem o dever de amar todas as pessoas e denunciar todo ato que não leva à realização humana de cada um", diz. No caso da homossexualidade, ressalta Borba, "uma série de preconceitos sociais, que não têm nada de cristãos, confundiram essa fórmula simples". "O que deveria ser uma denúncia de comportamentos que não realizavam plenamente o ser humano se tornou atos discriminatórios e de desamor para com pessoas concretas, que normalmente precisavam até mais do apoio dos cristãos que as demais. Francisco está empenhado em corrigir essa compreensão equivocada da prática dos valores cristãos", afirma.

    "As normas vindas de diferentes instâncias da Igreja Católica podem parecer confusas, mas o espírito geral é sempre o mesmo: deve-se fazer o máximo para acolher o homossexual, mas deixar claro que não se considera o ato homossexual construtor da realização plena da pessoa", conclui o sociólogo.

    Em 15 de março de 2021, o Vaticano decidiu que a Igreja Católica não pode abençoar a união entre pessoas do mesmo sexo porque Deus "não pode abençoar o pecado". No entanto, segundo o decreto, homossexuais podem ser aceitos e podem receber bênçãos na Igreja Católica. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS).

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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    O Papa Francisco, de 84 anos, recebeu alta nesta quarta-feira (14) e deixou a Policlínica Universitária Agostino Gemelli 10 dias após passar por uma cirurgia para retirar parte do cólon. A cirurgia intestinal foi realizada no último dia 4.

    Após deixar o hospital, o carro que transportava o papa parou antes de entrar no Vaticano para que Francisco cumprimentasse policiais. Depois, ele voltou para o veículo.

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    Ele apareceu em público pela primeira vez desde a operação no domingo (11). O pontífice saiu em uma varanda da Policlínica Gemelli, em Roma, onde está internado, e conduziu uma oração semanal diante de centenas de pessoas. Ele aparentava boa aparência e ficou ali por 10 minutos.

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    Em uma carta apostólica publicada nesta quarta, 24, o papa anunciou que a partir de 1.º de abril o salário dos cardeais será reduzido em 10%, e o dos chefes e secretários de ministérios em 8%. Clérigos e religiosos terão o pagamento reduzido em 3%. "Um futuro economicamente sustentável requer hoje, entre outras decisões, a adoção de medidas relativas aos salários dos funcionários", escreveu o papa.

    Ele considera que as despesas devem ser contidas e por isso decidiu intervir "segundo critérios de proporcionalidade e progressividade" com ajustes que afetam especialmente os clérigos, os religiosos e os níveis mais altos de remuneração, informou o site Vaticano News.

    Acredita-se que cardeais que trabalham no Vaticano e vivem lá ou em Roma recebem cerca de € 4 mil a € 5 mil (R$ 26.520 a R$ 33 150) por mês, e muitos moram em apartamentos grandes com aluguéis abaixo do mercado.

    Francisco, de 84 anos, vem de família da classe trabalhadora e sempre insistiu que não quer despedir pessoas em tempos econômicos difíceis. A decisão foi tomada em razão do "déficit que há vários anos marca a gestão econômica da Santa Sé" e, sobretudo, pela situação provocada pela pandemia, "que afetou negativamente todas as fontes de receitas da Santa Sé", explicou o papa no documento.

    Os aumentos salariais por tempo de serviço também estão suspensos por dois anos para todos os funcionários de nível 4 e superiores. As contas do Vaticano estão no vermelho pela queda nas doações (25%), à perda líquida de receita dos Museus do Vaticano (85%) e às reduções que teve de aplicar em 2020 aos aluguéis de suas instalações para empresas em crise após o ano sombrio causado pela pandemia.

    A Cúria Romana, administração central da Igreja Católica que agrupa 60 entidades ao serviço do papa, registrou um buraco "da ordem dos € 90 milhões" (cerca de R$ 600 milhões), nas suas contas de 2020, em comparação a um déficit de € 11 milhões (cerca de R$ 73 milhões) em 2019. (Com agências internacionais)

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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