Cresce em 45% o número de mortes por causas respiratórias em Salvador

Cresce em 45% o número de mortes por causas respiratórias em Salvador

A pandemia do novo coronavírus, que atingiu em cheio o Brasil e já causou a morte de mais de 231 mil pessoas no Brasil - mais de 10 mil na Bahia -, também ajudou a aumentar em 45,3% o número de óbitos por doenças respiratórias em Salvador no ano passado. Elas passaram de 7,3 mil em 2019 para 10,5 mil em 2020. Entre as doenças deste tipo, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) explodiu, registrando crescimento no mesmo período de 574% - aumento de 19 para 109 mortes. Logo em seguida aparecem as mortes por causas indeterminadas, com aumento de 73,1% - salto de 41 em 2019 para 71 no ano passado.

Os dados são do Portal da Transparência do Registro Civil, plataforma administrada pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), que utiliza dados da Central de Informações do Registro Civil (CRC). Os números mostram ainda que, em 2020, mais soteropolitanos viveram o luto com a perda de um ente querido. É que, no total, 21.408 pessoas morreram em Salvador, um número 40% maior do que a quantidade de mortes registradas no ano anterior, 15.313 pessoas.

Dessas mortes ocorridas em 2020, 3,6 mil foram de pessoas que tiveram o diagnóstico confirmado de covid-19. Uma dessas vítimas foi o designer baiano Beto Cerqueira, que morreu no dia 10 de outubro de 2020, após ter ficado 22 dias internado no hospital de campanha da Arena Fonte Nova. Beto tinha 67 anos, tinha dois filhos e era casado há mais de quatro décadas com Sylvia Maria Braga.

“Foi muito dolorido e ainda está sendo. Eu sempre choro quando falo disso. O pior de tudo era que, quando ele estava internado, eu não podia vê-lo, mas todo dia mandava um áudio para ele dizendo que estava junto, que ele ia se recuperar logo. As assistentes sociais que mostravam. Minha filha que foi reconhecer o corpo e até hoje ela sofre também. Fica um sentimento de revolta, pois ele poderia ainda estar aqui conosco”, lamenta Sylvia.

Assim como muitos baianos, ela teve que iniciar o ano de 2021 aprendendo a viver sem o seu companheiro. “Não está sendo fácil. Eu, às vezes, me sinto só. A companhia dele me faz falta. Foram 43 anos de casados, o que é toda uma vida. Está sendo difícil”, confessa.

Motivo
Para a médica pneumologista Larissa Voss Sadigursky, que atende em clínicas privadas de Salvador, não há dúvidas de que o aumento de mortes em 2020, inclusive as por causas respiratórias, está relacionada com a pandemia da covid-19. É que a pandemia sobrecarrega o sistema de saúde.

"Tem várias bactérias e vírus que causam doenças respiratórias, mas a covid-19 é altamente transmissível e afeta muitas pessoas, que precisam de atendimento médico e internação. Isso é todo o problema, pois há um sufocamento no sistema de saúde, algo que a gente viu no mundo todo”, afirma.

No caso da Síndrome Respiratória Aguda Grave, Larissa lembra que nem todas as mortes são por causa da covid-19 e que o aumento de notificações pode estar relacionado também à presença de outras doenças que causam a SRAG. “A própria pneumonia pode evoluir para uma síndrome grave. Doenças inflamatórias também. Antes da covid-19, as pessoas já morriam por isso. Mas, a presença da pandemia, é claro, afeta no número de mortes”, aponta.

Já o professor Adelmo Machado Neto, que também é médico pneumologista e ensina na Rede UniFTC, está preocupado com o aumento de mortes por causas indeterminadas em 2020, o que pode representar um caso de subnotificação de óbitos por covid-19.

“O excesso de mortes indeterminadas confunde o epidemiologista, pois dentro disso deve ter covid-19, mas outras causas também. Esses erros não são incomuns, às vezes não são intencionais, é fruto de uma falta de conhecimento. Só que os dados precisam ser revistos para que possamos fazer políticas públicas adequadas. Essas mortes indeterminadas precisariam ser avaliadas”, defende.

O professor Anselmo também destaca que nem toda morte por causa respiratória está ligada à covid-19, mas argumenta que há uma necessidade de maior investigação epidemiológica dos casos. “Para dizer que foi covid-19, tem que ter o teste positivo. E pra isso ser possível, é preciso uma persistência na busca diagnóstica, devido aos falsos negativos que os testes podem dar. Conheço pessoas que só na quarta vez que foi testada recebeu a confirmação da doença. As autoridades precisam ter esse cuidado”, relata.

Em nota, a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) também aponta a pandemia como o motivo do crescimento de mortes em 2020. "Sem dúvidas, a covid-19 contribuiu com aumento dos óbitos por SRAG. No entanto, as causas indefinidas precisam ser investigadas e não deve-se contabilizar à covid-19", diz a nota.

Adielma Nizarala, médica infectologista da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS), também atribui esse crescimento de mortes à pandemia, embora acredite que haja influência da presença de outros vírus nos números. "Nós tivemos ao mesmo tempo a influenza junto com a covid-19. Tudo isso contribui", explica.

Sobre as mortes com causas não identificadas, Nizarala as atribui às mortes em casas, de formas naturais. "Essas não vão para o serviço de verificação de óbito. Não é como as causas violentas, que precisam ir para o Instituto Médico Legal (IML). Não há um serviço que busque identificar qual foi aquela causa específica das mortes não violentas. Isso contribui para o aumento", diz.

Números
Os dados coletados no Portal da Transparência do Registro Civil mostram também que o número de mortes em domicílio disparou na Bahia quando se comparam os anos de 2019 e de 2020, registrando um aumento de 20,9%. As mortes por causas respiratórias fora de hospitais cresceram 20,9%, sendo que novamente a SRAG foi a que registrou a maior variação, de 86%. Também cresceram os óbitos por septicemia (28%) e causas indeterminadas (72%). Os registros de óbitos, feitos com base nos atestados assinados pelos médicos, apontam que 428 baianos morreram de covid-19 em suas casas.

Sobre os óbitos com causas não identificadas, a infectologista Adielma Nizarala, da SMS, cita as mortes em casa.

“Essas não vão para o serviço de verificação de óbito. Não é como as causas violentas, que precisam ir para o Instituto Médico Legal (IML). Não há um serviço que busque identificar qual foi aquela causa específica das mortes não violentas. Isso contribui para o aumento”, diz.

Ainda dentro das mortes por causas respiratórias em Salvador, as que foram por insuficiência respiratória, pneumonia e septicemia praticamente não variaram entre 2019 e 2020. Na primeira houve um pequeno aumento de 1.441 mortes para 1.458. Já os casos de pneumonia e septicemia tiveram uma leve redução de, respectivamente, 2.183 para 1.956 e 3.573 para 3.311 mortes.

Já na Bahia como um todo, houve aumento em 34,6% no número de óbitos por doenças respiratórias, que passaram de 20.862 para 28.096, na comparação entre 2019 e 2020. No estado, as mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) também registraran crescimento de 386%, seguido pelas de causas indeterminadas, que registraram aumento de 19,6%. No total, 89.756 pessoas morreram na Bahia em 2020.

Todos esses dados foram coletados do Portal da Transparência na última sexta-feira (5). Os números, no entanto, podem aumentar ainda mais, assim como a variação da média anual, uma vez que os prazos para registros chegam a prever um intervalo de até 15 dias entre o falecimento e o lançamento do registro no Portal da Transparência.

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