Imprimir esta página
Cerca de 20 mil alunos migraram da rede privada para a municipal de Salvador

Cerca de 20 mil alunos migraram da rede privada para a municipal de Salvador

Os irmãos Luiz Fernando Gomes, 11 anos, e João Lucas, 6, estudavam em uma escola particular no bairro da Sussuarana, em Salvador. Porém, em 2021, a operadora de telemarketing Ana Carolina Gomes, 26, retirou os filhos do colégio privado e matriculou em uma escola pública. A pandemia afetou a receita da família e os R$ 600 de mensalidade começaram a pesar demais no orçamento. Assim como os irmãos Gomes, outras 20 mil crianças migraram do ensino privado para o público municipal.

É tanta gente que o déficit de vagas nas séries iniciais triplicou. O programa Pé na Escola – através do qual a prefeitura compra vagas em instituições particulares e oferece para alunos matriculados na rede pública, para conseguir atender a demanda, saltou de 5 mil, em 2020, para 12,5 mil, em 2021, e para 15 mil, em 2022. Ana Carolina contou que estava receosa de que os filhos não conseguissem se adaptar, porque eles sempre estudaram em colégios privados, mas o processo foi mais fácil do que ela imaginava.

“Eles ficaram empolgados, disseram que gostaram muito da escola e já fizeram amigos. O processo de adaptação foi bastante tranquilo. Em relação ao ensino, estou achando muito bom. Minha única reclamação é de que acontecem muitas faltas de professores e pontos facultativos. Acredito que essas interrupções não são boas para o processo de aprendizagem das crianças”, conta.

João Lucas e Luiz Fernando são alunos na Escola Municipal Novo Horizonte. O colégio particular em que eles estudavam antes da mudança não suportou a crise e fechou as portas.

A prefeitura fez um cadastro antes da matrícula, no final do ano passado, para saber quantas crianças de 2 a 5 anos, que estão fora da escola, pretendem ingressar na rede, em 2022. Cerca de 24 mil confirmaram presença. Até a sexta-feira (11), havia 142 mil crianças matriculadas na rede municipal e 20 mil vagas em aberto.

As gêmeas Maria Clara e Giovana Ribeiro, 11 anos, estão nessa lista. A faxineira Marilene Ribeiro, 41, contou que nos anos iniciais matriculou as filhas em uma escola particular porque não havia vagas nas escolas públicas próximas da casa delas, mas as mensalidades estavam pesando no orçamento. Em 2022, as irmãs vão permanecer na Escola Municipal Teodoro Sampaio, no bairro da Santa Cruz, onde a família mora.

“Tenho um filho que estudou nessa mesma escola e que adorava. Elas também gostaram bastante, apesar de a maior parte do tempo ter sido de ensino remoto. Não vi muita diferença na comparação do ensino público com a escola particular. Elas tiveram muitas atividades remotas, ainda precisam melhorar a caligrafia, mas tiraram boas notas”, revela.

Mudança
A crise econômica provocada pelo novo coronavírus teve impacto direto sobre a educação. O diretor da Escola Municipal Elysio Athayde, em Cajazeiras V, Hamilton Sousa, está há 22 anos na educação e disse que todos os anos a escola recebe alunos da rede privada, mas que nos dois últimos anos foi diferente.

“Tivemos um quantitativo significativo [de transferências] por conta da pandemia, muito acima do normal. Em alguns casos, a adaptação é um processo difícil porque a rede pública tem dificuldades que, muitas vezes, não existem na rede particular. Na rede privada os pais conseguem, por exemplo, acessar mais facilmente a escola. Na rede pública temos uma limitação de funcionários que podem ficar à disposição deles”, diz.

O diretor contou que apesar desses percalços a adequação acontece de forma natural e listou algumas vantagens. “Nesse momento de crise não ter que pagar mensalidade, fardamento e livros é um grande alívio para os pais. Em relação ao ensino, muitos dos professores que lecionam na rede privada são professores também da rede pública, então, acaba não tendo muita diferença”, afirma.

A rede municipal tem 432 escolas e 162 mil vagas. Por conta do aumento na demanda foi necessário fazer adaptações na rede para conseguir atender todos os estudantes. A prefeitura informou que está reformando 128 escolas, 29 sendo ampliadas e construindo outras 14 unidades, que juntas vão gerar 2 mil novas vagas. O investimento em infraestrutura é de R$ 300 milhões.

Frequência
Apesar dos apelos das autoridades públicas metade das famílias soteropolitanas ainda resiste em levar os filhos para a escola. Na segunda-feira (14) completou uma semana que as aulas presenciais foram retomadas e, segundo o prefeito Bruno Reis (DEM), a frequência dos estudantes tem sido de 50%.

Ele esteve na inauguração da Escola Municipal Professora Alita Ribeiro de Araújo Soares, em São Marcos, e tentou novamente sensibilizar as famílias. A nova unidade é uma homenagem a avó do prefeito, tem dez salas, 1,3 mil m² de área construída e capacidade para 580 alunos. O investimento foi de R$ 4,6 milhões.

“Se estou aqui hoje [como prefeito] é por conta da educação. É por isso que eu faço um apelo aos pais e mães para que levem seus filhos para a escola. Estamos com percentuais baixos de frequência de alunos e precisamos de uma mobilização da sociedade. Foram dois anos praticamente sem aula e esse poderá ser um dos principais efeitos colaterais da pandemia”, diz.

Na rede estadual, as aulas também foram retomadas em fevereiro. O governador Rui Costa (PT) contou que algumas unidades no interior do estado conseguiram registrar quase a totalidade de presenças. Ele participou de um evento no Parque de Exposições, em Salvador, para a entrega de equipamentos, ambulâncias e tratores agrícolas para municípios baianos.

“Sinto um entusiasmo e um comprometimento grande dos alunos. Nesses primeiros dias [de volta às aulas] em que estive nos municípios vi um desejo forte dos professores e dos colegas de chamar de volta aqueles que por acaso deixaram a escola nesse período. Fiquei muito satisfeito por onde passei em ver a alegria e o entusiasmo da comunidade escolar com o retorno às aulas”, declara.

Itens relacionados (por tag)