Cinco bebês já nasceram esse ano na Bahia com imunidade natural ao coronavírus, seja porque as mães foram vacinadas ou tiveram covid-19. São dois casos em Salvador, um em Feira de Santana, um em Vitória da Conquista e um em Irecê. O mais recente a se tornar conhecido é o da pequena Joana Cunha, que veio ao mundo em 17 de maio, na capital, com 70% de anticorpos para o vírus. A divulgação dos nascimentos, inclusive, estimula pais e mães a buscarem testes para saber se seus rebentos são naturalmente imunizados.

Essa é a situação do pai e da mãe de Joana, o bancário João Paulo Guimarães, 42, e a enfermeira Emília Cunha, 37. "Depois de ver as matérias sobre casos de bebês com anticorpos, fiquei me perguntando se Joana também estaria protegida e tratei de procurar saber", lembra o pai.

Em suas pesquisas antes de testar a filha, João Paulo leu em uma reportagem que havia uma porcentagem de referência que, se detectada, garantiria defesa real - não total - contra a covid. "Para ser reagente, precisava ser de, no mínimo, 35%. No texto [da reportagem que ele leu] colocaram que a referência do laboratório era essa para dizer se o bebê teria algum tipo de resistência ou proteção contra a covid-19", conta.

O infectologista Mateus Todt, da S.O.S Vida, explica que os anticorpos, mesmo em alta porcentagem, não garantem proteção total. "A resposta imunológica principal contra o vírus não acontece por anticorpos, ela é mediada por células e, por isso, não dá para quantificar a proteção e dizer que as células estão preparadas para gerar uma resposta imune. Dá para saber que existe um tipo de defesa, mas que não se sabe se é suficiente", detalha.

Mateus Todt, por sua vez, salienta que, no caso específico do teste de anticorpos neutralizantes, essa é a porcentagem mínima para se verificar uma proteção, o que é diferente em outros exames disponíveis. Segundo ele, o teste de anticorpos neutralizantes não é bem específico e que dá para atestar a proteção através de exames de anticorpos totais e diferenciais, que são o IgM e o IgG, sendo que a criança vai positivar para alguma defesa se o IgG for detectado.

O infectologista afirma ainda que, apesar da porcentagem não definir se há proteção ou não, ela pode ser usada para avaliar qual o nível de defesa do bebê. "Quanto mais anticorpos, obviamente, mais o seu organismo está preparado para lidar com o vírus. Claro que, se tiver muito anticorpo e não desenvolver resposta celular, vai desenvolver a doença do mesmo jeito. De forma geral, se a pessoa tem uma porcentagem maior, é melhor. Só não se pode dizer que é suficiente", diz.

A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), no entanto, ressalta que cada teste tem o seu valor de referência para definir a ausência ou presença dos anticorpos.

Proteção reforçada

No caso da pequena Joana, ela possui a segunda maior proteção do país, atrás apenas de um bebê de Recife, com 92% de anticorpos detectados.

"A gente ficou bem aliviado. Não foi para relaxar, mas diminuir um pouco da aflição que tínhamos com o bebê vindo ao mundo na pandemia. E saber disso, que há uma carga de proteção tão grande, nos deixa ainda mais alegres", disse João Paulo.

Emília, emocionada com o resultado, afirma que se sente recompensada como profissional da linha de frente que recebeu a oportunidade de tomar as duas doses da CoronaVac ainda gestante, em 23 de março e 20 de abril. "Para mim, como profissional de saúde, saber que tomei a vacina ainda gestante e que minha filha nasceu com a proteção é muito bom. Estou grata à ciência por ter tido esse privilégio".

Onde fazer o exame?

Para outras mães interessadas em saber se seus bebês também estão protegidos, já tem laboratório pronto para tirar a dúvida. No Laboratório Jaime Cerqueira, localizado na Pituba, há dois tipos de testes para bebês: o de anticorpos neutralizantes e IGG Anti-Spike, que custam, respectivamente, R$ 300 e R$ 200.

Conheça os bebês baianos com anticorpos para covid:

A Sesab, que certifica a presença de anticorpos nos bebês através do Lacen-BA, só registrou um recém-nascido nesta condição. Porém, só aqui no CORREIO, publicamos histórias de cinco bebês que tiveram a presença de anticorpos no organismo reconhecida. Veja quais foram, por ordem de nascimento:

1º - Ravi Dantas, nascido em 1º de maio, em Irecê;

Ravi testou positivo para anticorpos da covid-19 28 dias depois do seu nascimento. Sua mãe, Vitória Rocha, 25 anos, é psicóloga e, além de ter se infectado com a covid-19 na gravidez, quando estava com 15 semanas de gestação, tomou o imunizante CoronaVac. Ela trabalhava como recepcionista em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) que recebia, diariamente, pessoas com o novo coronavírus.

2° - Joana Cunha, nascida em 17 de maio, em Salvador;

Filha de enfermeira que atuou na linha de frente contra a covid-19, Joana herdou os anticorpos da mãe que foi vacinada nos últimos meses de gestação. Ela apresentou 70% de anticorpos reagentes em seu exame de anticorpos neutralizantes.

3º - Mateus Marques, nascido em 21 de maio, em Salvador;

Primeiro e único recém-nascido baiano com anticorpos contra a covid-19 registrado pela Sesab, Mateus herdou imunidade depois de sua mãe, Patrícia Marques, que é médica obstetra, receber a primeira dose da vacina Oxford AstraZeneca em 4 de fevereiro e a segunda dose em 5 de maio, dezesseis dias antes do parto.

4º - Enzo de Carvalho Carneiro, nascido em 24 de maio, em Feira de Santana;

É filho da enfermeira Gabriele de Carvalho Moraes, que atua na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Pediátrica do Hospital Estadual da Criança (HEC), em Feira de Santana. Sua mãe tomou a primeira dose da Coronavac quando estava com 30 semanas de gestação, por indicação da médica, e a segunda quando já tinha 34 semanas de gravidez.

5º - Pietro Kevin Brito, nascido em 24 de maio, em Vitória da Conquista;

Sua mãe, Glece Quelle Brito, 25 anos, é auxiliar de farmácia de UTI em um hospital e pegou covid-19 dois meses antes de engravidar. Sem sintomas mais graves, ela se curou através da produção de anticorpos e parece estar com eles até agora, o que possibilitou que Pietro viesse ao mundo com a proteção.