O Ministério da Saúde divulgou uma nova recomendação de vacinação para gestantes e puérperas - incluindo as sem fatores de risco adicionais - que tomaram a primeira dose da vacina da AstraZeneca/Oxford/Fiocruz. De acordo com o comunicado divulgado pela pasta nesta quarta (19), as grávidas devem aguardar o fim da gestação e do período puerpério (até 45 dias pós-parto) para receber a segunda dose e completar o esquema vacinal com o mesmo imunizante.

Além disso, a recomendação da pasta é de que apenas gestantes e puérperas com comorbidades sejam vacinadas contra a Covid-19. E somente com a Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan, ou a vacina da Pfizer/BioNTech.
Mesmo que não tenham doenças pré-existentes, grávidas e puérperas que já tenham recebido a primeira dose da vacina do Butantan ou da Pfizer, devem completar o esquema com o mesmo imunizante, no intervalo recomendado de quatro e 12 semanas, respectivamente.

A orientação é do Programa Nacional de Imunizações (PNI), após a suspensão temporária do uso do imunizante para esse público, por recomendação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

De acordo com o Ministério da Saúde, até o dia 10 de maio, mais de 15 mil grávidas foram vacinadas com o imunizante da AstraZeneca no Brasil. A suspensão ocorreu após um “evento adverso grave”, quando uma grávida morreu após se vacina. No entanto, a possível relação com a vacina ainda é analisada. Antes da suspensão, 21 grávidas receberam vacinas de Oxford em Salvador.

Ministério pede atenção para sintomas

Ainda de acordo com a pasta, gestantes e puérperas que já receberam a vacina da AstraZeneca/Oxford/Fiocruz devem procurar atendimento médico imediato se apresentarem, nos 4 a 28 dias seguintes à vacinação, sintomas como falta de ar; dor no peito, inchaço na perna, dor abdominal persistente, sintomas neurológicos, como dor de cabeça persistente e de forte intensidade, borrada, dificuldade na fala ou sonolência, ou pequenas manchas avermelhadas na pele além do local em que foi aplicada a vacina.

O Ministério da Saúde ainda destaca que o benefício das vacinas em gestantes e puérperas se mantém favorável, e afirma que considerando que o risco de morte por covid-19 no Brasil foi 20 vezes superior ao risco de ocorrência de tromboses, em 2021.

Ainda de acordo com a pasta, as gestantes e puérperas pertencentes a outros grupos prioritários (trabalhadoras da saúde ou de outros serviços essenciais, por exemplo), poderão ser vacinadas após avaliação individual de risco e benefício a ser realizada em conjunto com o seu médico.

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A Bahia suspendeu a vacinação de todas as grávidas sem comorbidades, independentemente do tipo de imunizante utilizado. A medida ocorreu a pedido do Ministério da Saúde (MS), mas gera opiniões controversas. A infectologista, imunologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Fernanda Grassi, acredita que o melhor seria vacinar todas as gestantes e continuar a vacinação delas com outros imunizantes disponíveis no Brasil, como a CoronaVac e Pfizer. Todas elas são consideradas seguras, reforça Fernanda.

“A oferta de vacinas não é suficiente para todos os grupos prioritários, então certamente se restringiu por não ter número suficiente de vacinas, temos poucas doses da Pzifer e CoronaVac, elas estão limitadíssimas. E para as gestantes, deveria se disponibilizar essas duas vacinas que se mostraram seguras”, defende Grassi.

A de Oxford/AstraZeneca não considerou gestantes no ensaio clínico, nem a CoronaVac e Pfizer. Porém, pela tecnologia que a vacina é fabricada, a CoronaVac não apresentaria problemas. “A Coronavac é baseada no vírus inativo com substâncias químicas, a mesma da vacina da gripe, que sabemos que é segura para gestantes e não teria porque essa ser diferentes nessas mulheres, porque o processo é idêntico, só muda o vírus”, explica Fernanda.

Em relação à Pfizer, um grupo de cientistas publicou um artigo na New England Medical Journal, no último mês, no qual participaram mais de 35 mil mulheres, que não apresentaram complicações, abortos espontâneos ou quadros adversos graves após tomaram a vacina de RNA mensageiro (usado na Pfizer e Moderna) – leia mais aqui.

“O estudo da vacina de Oxford não permite avaliar com muito segurança, porque não foi feito com número suficiente de mulheres. Porém, se a gente pesar o risco e benefício da vacina, é muito melhor vacinar, ainda mais no Brasil, que a situação ainda está fora do controle e com uma vacinação lenta”, argumenta Fernanda. Ela lembrou que a incidência de trombose é de um em 250 mil, ou seja, 4 em um milhão de pessoas.

No Brasil, 22 grávidas morrem por semana de covid-19
A ginecologista e obstetra Melania Amorim, professora da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e integrante da Rede Feminista de Médicas e Ginecologistas, alerta para o altíssimo risco de morte por covid-19 em grávidas no Brasil.

Segundo ela, que faz parte do Grupo Brasileiro de Estudos de Covid-19 e Gravidez, são 22 gestantes que morrem por semana no país por conta do Sars-CoV-2, o equivalente a três por dia. Por isso, ela discorda da suspensão da vacinação do grupo. .

“Lutamos muito para priorizar as gestantes e puérperas porque elas são grupo de risco. A maior causa de morte de gestantes no Brasil virou a covid-19. Atualmente, estão morrendo, por semana, 22 mulheres. Esse ano, já são mais de 500 e, ano passado, passamos de 453 mortes. Então o que mata é a covid-19 e não a trombose. O risco de ter um efeito adverso com a vacina é muito baixo”, defende Melania.

Ela recomenda o mesmo que a pesquisadora Fernanda Grassi, continuar a vacinação com a Pfizer e CoronaVac. “Exigimos que essas vacinas continuem sendo dadas nas grávidas com e sem comorbidades porque, ao contrário do ano passado, a pandemia está afetando pessoas mais jovens, sem comorbidades, e isso acontece também com as gestantes: 59% das que morreram esse ano não tinham comorbidades. Então essa recomendação [do MS] foi muito inoportuna no cenário atual, que essas mulheres estão em condição de vulnerabilidade e expostas ao risco”, detalha Amorim.

Esta semana, a Rede Feminista de Ginecologistas e Obstetras publicou um manifesto e a nota técnica em relação à recomendação da Anvisa e do MS. Ano passado, o grupo também publicou 11 medidas imprescindíveis para a redução da morte materna no Brasil. Dentre elas, estava a inclusão das grávidas no PNI.

Em nota, a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) pontuou que o PNI, do Ministério da Saúde, orientava a vacinação de gestantes e puérperas, sem qualquer indicação sobre o tipo de vacina. “O mesmo [Ministério da Saúde] é responsável pela normatização nacional, o que por vezes, a exemplo da vacina da Pfizer, vai de encontro ao registrado na Anvisa e a orientação do fabricante”, afirma a Sesab.

Na Bahia, de acordo com a pasta, foram 35 mulheres vacinadas com a primeira dose da CoronaVac, 4.707 com AstraZeneca e 263 com a Pfizer, totalizando, até o momento, 5005 pessoas, dentre grávidas e puérperas. Não há relatos de complicações graves.

A secretaria estadual de saúde informou que as grávidas com comorbidades serão imunizadas com a CoronaVac e Pfizer. Em Salvador, somente a Pfizer será usada, segundo o secretário municipal da saúde, Leo Prates.

A Anvisa disse que só emitiu recomendação em relação à Astrazeneca/Oxford/Fiocruz. Já o Ministério da Saúde reafirmou a confiança que se tem nas vacinas, que foram aprovadas pela agência sanitária brasileira, e acrescentou que suspendeu a vacinação das grávidas sem comorbidades por precaução, até que haja conclusão do caso da morte da gestante do Rio de Janeiro.

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Na noite desta segunda (10), a Anvisa emitiu nota técnica onde recomenda a suspensão imediata do uso da vacina contra covid-19 da AstraZeneca/Oxford/Fiocruz em mulheres gestantes. A recomendação ocorre após uma investigação do Ministério da Saúde sobre a morte de uma grávida no Rio de Janeiro, após ter sido imunizada com a vacina Astrazeneca.

"A orientação da Anvisa é que a indicação da bula da vacina AstraZeneca seja seguida pelo Programa Nacional de Imunização (PNI). A orientação é resultado do monitoramento de eventos adversos feito de forma constante sobre as vacinas Covid em uso no país. O uso 'off label' de vacinas, ou seja, em situações não previstas na bula, só deve ser feito mediante avaliação individual por um profissional de saúde que considere os riscos e benefícios da vacina para a paciente. A bula atual da vacina contra Covid da AstraZeneca não recomenda o uso da vacina sem orientação médica", diz o comunicado divulgado no site da agência.

Em nota enviada à colunista Camila Mattoso, da Coluna Painel, da Folha de S.Paulo, o Ministério da Saúde afirma que investiga o caso da grávida morta no Rio e recomenda a manutenção da vacinação em gestantes, mas afirma reavaliar a imunização no grupo de gestantes sem comorbidades.

"O Ministério da Saúde informa que foi notificado pelas secretarias de Saúde Municipal e Estadual do Rio de Janeiro e investiga o caso. Cabe ressaltar que a ocorrência de eventos adversos é extremamente rara e inferior ao risco apresentado pela Covid-19. Neste momento, a pasta recomenda a manutenção da vacinação de gestantes, mas reavalia a imunização no grupo de gestantes sem comorbidades", disse o ministério.

A coluna ainda cita um possível caso de morte de gestantes na Bahia, mas na resposta do Ministério da Saúde, apenas a notificação feita no caso Rio de Janeiro foi respondida.

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