Muito se fala de aquecimento global, mudanças climáticas e crise do clima. Uma das consequências desse cenário instável é a elevação do nível dos oceanos. Mas, afinal, como Salvador é impactada por isso? Para o professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) José Maria Landim, doutor em Geologia Marinha, a praia do Porto da Barra pode desaparecer nas próximas décadas. Inundações na Cidade Baixa e prejuízos econômicos para grupos que dependem da pesca também serão sentidos.

Esses foram alguns dos alertas feitos nesta quinta-feira (16) durante a Mesa Salvador das Águas: Fórum Clima Salvador, realizada na sala do coro do Teatro Castro Alves (TCA). O encontro, que marcou o início da segunda noite da Virada Sustentável Salvador 2021, teve ainda a participação dos ambientalistas Virgílio Machado e Letícia Moura, coordenadores do fórum fundado em maio de 2020 para discutir a crise climática com enfoque na capital baiana. Para Letícia, os efeitos da mudança do clima já são sentidos na cidade.

“Hoje já tem impactos em pescadores, marisqueiras e quilombolas que perdem seu território ou reduzem sua atividade econômica por causa das mudanças no meio ambiente”, alerta. Isso pode gerar não apenas prejuízos financeiros, como também na subjetividade e forma como as pessoas encaram a cidade.

“Não são só perdas pontuais. Nós baianos somos debruçados na Baía de Todos-os-Santos. Temos uma relação forte e direita com o mar. Toda a nossa cultura é voltada para isso”, aponta.

Quem realizou a mediação do debate foi a jornalista da TV Bahia, cantora e compositora Luana Assiz, que lançou recentemente a música Espelho de Oxum “É uma reverência a uma iabá ligada as águas doces, que estão sendo tão ameaçadas e vulnerabilizadas pelo avanço do desenvolvimento capitalista não sustentável. Isso tem uma relação direta com o que estamos conversando aqui”, aponta.

Apesar desses problemas, o cientista José Maria Landim acredita que Salvador é uma cidade resiliente. “A maior parte da cidade está acima do nível do mar e temos uma boa reserva de areia para se reinventar”, aponta. Isso não deve servir, no entanto, para que haja um descuido com o meio ambiente por parte do poder público. “As soluções desses problemas não passam pelo indivíduo sozinho. É preciso uma ação governamental e uma pressão dos atores envolvidos", defende Landim.

Os participantes relembraram que em 2020 foi lançado, pela Prefeitura de Salvador, por meio da então Secretaria de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência (Secis), o Plano de Mitigação e Adaptação às Mudanças do Clima, que visa preparar a cidade às mudanças causadas pelo aquecimento global. “O Fórum Clima Salvador nasce nesse contexto. Nós começamos a nos reunir para fiscalizar e cobrar que as ideias colocadas sejam implementadas”, diz Virgílio Machado.

Jovens ativistas
Após esse debate, a Sala do Coro deu espaço à mesa Juventudes e Ativismo Climático. O jovem influencer, baiano e embaixador da WWF-Brasil, Kaique Brito, foi um dos presentes. "O meio ambiente é um assunto mundial e essencial. Dar visibilidade a isso vai melhorar a estrutura horrível que temos. É preciso que mais criadores de conteúdos procurem ongs e se mostrem mais presente nas áreas importantes”, pede.

Já as jovens ativistas ambientais Amanda Costa e Ellen Monielle participaram de forma remota. Elas. A primeira é a fundadora do Instituto Perifa Sustentável, que levou Amanda, Ellen e outras meninas negras para a COP26 realizada na cidade de Glasgow, na Escócia. “Apesar de todo contexto brasileiro, eu tive um ponto de esperança naquele local. A gente tomou aquele espaço como mosso. Tem pessoas lutando no Brasil para transformar a realidade que estamos vivendo”, diz Ellen.

“Não dá para falar de crise climática sem falar de género, raça... não dá para falar do nosso futuro sem falar de nós mesmos. Não dá para falar de tecnologia e não falar que o Brasil entrou no mapa da fome. A crise climática potencializa todos os desastres que vivemos diariamente e a quebrada é quem mais vai ser mais impactada”, denuncia Amanda.

Para o estudante Edinei Mascarenhas Santos, que faz Engenharia Ambiental, os debates foram uma boa surpresa. “Eu fiquei sabendo deste evento através de uma matéria do CORREIO e me interessei pelo tema. Também compartilhei para alguns colegas que participaram de forma online. O tema da sustentabilidade me move quanto cidadão”, garante.

Após os debates houve o show de Zé Manoel, que também atraiu diversas pessoas, como o doutorando em Literatura e Cultura pela Ufba, Ramon Fontes. “Eu cheguei faltando 10 minutos para começar o segundo debate. Admito que não sabia que ia acontecer, mas fiquei interessado pela discursão. O ativismo é importante para as nossas vidas”, diz.

Confira a programação da Virada Sustentável:
TCA:

7/12 (sexta-feira)

17h - Mesa Justiça Climática e Racismo ambiental
Qual a relação entre a defesa do meio ambiente, o combate às mudanças climáticas e a luta antirracista?

Douglas Belchior (remota)
Professor de história, fundador da Uneafro Brasil, rede de cursos para jovens e adultos da periferia. Membro da Coalizão Negra por Direitos e coordenador de articulação de projetos do Fundo Brasil de direitos humanos.

Raimundo Nascimento (presencial)
Coordenador do Observatório do Racismo Ambiental de Salvador.

18h - Mesa de Encerramento - Direito à terra: Onde as lutas se encontram

Alice Pataxó
Ativista e comunicadora, baiana é fundadora do canal Nuhé no YouTube, jornalista do Projeto Colabora, colunista no Yahoo Brasil e bolsista do Malala Fund.

19h20 – Performance de Taina Cerqueira e show de Nara Couto

18/12 (sábado)

18h – Shows de Hiran e Rachel Reis

19/12 (domingo)

18h - Show Rumpilezinho - Homenagem a Letieres Leite

Palacete das Artes

Sábado (18) e Domingo (18), das 14h às 18h

BaZá Rozê e programação infantil

18/12 (sábado)

14h30 - Contação de histórias Teatro Grio

15h10 - A sanfonástica Mulher Lona

16h30 - Balé do TCA

19/12 (domingo)

14h30 - Nariz de Cogumelo Clássicos

15h30 - Orquestra Sinfônica da Bahia (Camerata) - Cine Concerto

16h30 - Balé do TCA

Ruas do Comércio

De 17 a 19 de dezembro (quarta a domingo)

Braskem recicla
Estação para disseminação de informações sobre Economia Circular e arrecadação de resíduos recicláveis. O visitante poderá participar de uma experiência sustentável com suporte de jogos interativos e exposição sobre o ciclo do plástico verde.

Eggcident – obra do artista holandês Henk Hofstra
Onde: praça do Mercado Modelo

Projeto Murais - Movimento Urbano de Arte Livre - os murais vão continuar nas fachadas dos prédios como legado da Virada

Trabalho da artista Sirc
Onde: Rua Miguel Calmon, 16, Comércio

Trabalho do artista TarcioV
Onde: fachada do Edifício Carlos Kiappe, na rua Miguel Calmon, Comércio

Trabalho da artista Isabela Seifarth
Onde: achada do Edifício Cidade Baixa, na rua Miguel Calmon, Comércio

Trabalho da artista Zana Nacola
Onde: Estacionamento Estapar, na Avenida da França, 414, Comércio