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Um em cada cinco pais que buscam atendimento infantil em postos de saúde da Bahia está insatisfeito

Um em cada cinco pais que buscam atendimento infantil em postos de saúde da Bahia está insatisfeito

“O quanto você recomendaria este serviço de saúde para um amigo ou familiar”? Essa foi a pergunta feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a pais e mães de crianças menores de 13 anos que tiveram pelo menos um atendimento na Unidade Básica de Saúde ou Unidade de Saúde Familiar entre os anos de 2021 e 2022. A resposta para essa avaliação e mais outras informações relacionadas ao atendimento da população infantil no Sistema Único de Saúde (SUS) fazem parte do módulo sobre Atenção Primária à Saúde da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua).

A pesquisa foi realizada no 2º trimestre de 2022, em parceria com o Ministério da Saúde (MS). O IBGE divulgou ontem as impressões dos responsáveis pelas crianças relacionadas ao atendimento tanto nos postos e centros de saúde e unidade de saúde da família, seja para uma consulta, atendimento de emergência, aplicação de vacinas, exames ou até nebulização. No questionário, os entrevistados atribuíram uma nota de 0 a 10, onde 0 é ‘não recomendaria de forma alguma’ e 10 ‘com certeza recomendaria’.

As notas atribuídas foram transformadas em um indicador conhecido como Net Promoter Score (NPS), amplamente utilizado pelo setor de saúde no Brasil, privado e SUS. O módulo de Atenção Primária à Saúde da PNAD Contínua é uma versão do Primary Care Assessment Tool (PCATool), instrumento internacional de pesquisa, utilizado por diversos países e validado pelo MS no Brasil.

E por falar em nota, entre os baianos, a avaliação não foi tão satisfatória assim. Segundo o levantamento, 1 em cada 5 responsáveis ficou insatisfeito com o serviço (21,3%). Responsáveis por 517 mil crianças menores de 13 anos deram uma nota de 0 a 6 ao atendimento no estado. O percentual de ‘reprovação’ na Bahia ficou acima do verificado no país como um todo (19,4%) e foi o 8º mais elevado entre as 27 unidades da Federação.

“Os dados mais importantes desse módulo tratam da avaliação do atendimento recebido nesse serviço de atenção primária à saúde. O Brasil todo - e isso vale para a Bahia também - a avaliação fica abaixo da média. Não é, uma reprovação geral, mas é uma avaliação de que os serviços precisam melhorar e não estão ainda em um nível considerado de qualidade”, comenta a supervisora de Disseminação de Informações do IBGE na Bahia, Mariana Viveiros.

Ainda sobre os dados estaduais, 45,9% dos responsáveis avaliaram os serviços de atenção primária à saúde com notas 9 e 10, ou seja, aprovaram e os recomendariam. Entretanto, a proporção ficou abaixo da nacional (47,6%) e foi apenas a 18ª do país.

“Não é que existe uma avaliação majoritariamente negativa, mas estamos abaixo da média da maior parte dos estados na avaliação positiva e acima na avaliação negativa. A visão dos responsáveis pelas crianças aqui no estado é mais negativa do que o resto do país, de uma forma geral”, complementa Mariana.

Avaliação
Pai de Pedro e Samyle, de 8 e 5 anos, respectivamente, o administrador Daniel Duarte costuma levar as crianças até o posto de saúde para atualizar a caderneta de vacinas. Ele é um dos que notam a necessidade de melhoria no tratamento dos pacientes. “Apesar do posto ter uma boa estrutura, já passei por situações ruins relacionadas ao tratamento dado às pessoas pelos funcionários. Estão sempre mal-humorados, não fornecem as informações de forma correta e compreensiva, sempre falta alguma coisa”, opina.

Ele lembra que certa vez, além de ser tratado mal, o profissional que trabalha no posto negou que a unidade oferecia o serviço que precisava.

“Busquei o serviço de saúde próximo à minha residência, mas a funcionária me tratou tão mal e ainda chegou ao ponto de dizer que o serviço que precisava não estava disponível naquela unidade. Quando cheguei em outra unidade, fui questionado por que não procurei um local mais próximo, e ainda fui tratado rispidamente mais uma vez”.

Daniel sente falta de um atendimento mais acolhedor. “Os postos precisam avançar muito na questão da empatia e do acolhimento humano, principalmente, na questão dos atendimentos médicos. A boa estrutura física já existe, portanto, poderia ampliar os atendimentos, organizar e receber melhor os pacientes que precisam do SUS”.

E foi justamente a atitude mais acolhedora a justificativa mais recorrente dada pelos entrevistados ao pontuar notas positivas ou negativas nas questões sobre o serviço de saúde primária, como chama a atenção Mariana Viveiros.

“A questão do acolhimento foi mais importante no estado do que no país. A gente sabe que o serviço tem inúmeros desafios, mas o que os dados trazem são informações que podem ajudar a melhorar esse atendimento. É um serviço que precisa e deve melhorar. São ferramentas que podem ser muito úteis para o sistema de atenção primária à saúde”, ressalta Mariana.

A maneira como a pessoa responsável ou a criança foram acolhidas (acolhimento) foi apontada por 38,7% dos entrevistados como fator mais citado para a nota ao atendimento. Já 31,9% citaram a atuação dos profissionais na resolução do problema (equipe) e 20,2%, a rapidez ou a demora do atendimento (tempo de atendimento). No Brasil, diferentemente da Bahia, a equipe foi o fator mais citado (35,7% dos responsáveis), o acolhimento ficou em segundo (citado por 32,4%), e o tempo de atendimento foi citado por 23,2% dos responsáveis.

Dois milhões de crianças até 13 anos na Bahia passaram por algum atendimento médico entre os segundos trimestres de 2021 e 2022, mais da metade delas (50,6%) em Unidade Básica de Saúde (posto ou centro de saúde) ou Unidade de Saúde da Família. Ainda conforme os resultados apontados pelo módulo, no Brasil, 28,4 milhões de crianças receberam algum atendimento médico no período.

Procurada pela reportagem, a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) disse que os postos de saúde são de responsabilidade da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). O CORREIO buscou também um posicionamento junto ao Conselho Estadual dos Secretários Municipais de Saúde da Bahia (COSEMS-BA), Conselho Estadual de Saúde da Bahia (CES-BA) e a União dos Municípios da Bahia (UPB), mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.

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