Apontado pela polícia como alvo do ataque na Praia de Jaguaribe, em Patamares, onde três pessoas morreram, Lucas Santos da Cruz, 27 anos, ocupava o cargo de liderança da facção Bonde do Maluco (BDM) na Boca do Rio. Ele era um dos gerentes do traficante Claudomiro Santos Rocha Filho, o Nicão, ex-7 de Copas do Baralho do Crime da Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA), morto em 2018.

“Lucas era o braço direito de Nicão. Era o gerente e, por isso, considerado o segundo nome no grupo”, declarou o diretor do Departamento de Homicídios (DHPP), o delegado José Bezerra Júnior. Nicão comandava o tráfico na localidade do Cajueiro e também em Camaçari. “Ele e o grupo deram muito trabalho à polícia. Uma série de crimes foram imputados a eles, inclusive homicídios na Boca do Rio e adjacências”, disse Bezerra.

Nicão morreu em outubro de 2018, quando emboscado em um carro ao passar pela Avenida Pinto de Aguiar, em Patamares. Na lógica, com a ausência definitiva de Nicão, Lucas, o segundo na hierarquia da facção, assumiria a liderança, mas não foi isso o que aconteceu. Lucas, que em 2015 foi preso por posse de arma de fogo, voltava à prisão após ter sido flagrado pela Polícia Militar com uma arma e drogas.

Quando a Justiça decretou sua liberdade, em março de 2019, Lucas voltou para a Boca do Rio acreditando que assumiria o posto que lhe era de direito, mas não conseguiu. “O espaço do Nicão foi ocupado por outro. Quando Lucas saiu, pode ter gerado algum conflito nesse sentido”, disse Bezerra, fortalecendo uma das hipóteses mais prováveis para o crime: um ataque fruto de rivalidade.

Diante da situação, Lucas teria feito uma aliança com um grupo rival, que vem tentando controlar todo o tráfico de drogas na Boca do Rio, e com isso promovendo diversos ataques ao reduto de Nicão, o Cajueiro. “Mas não posso afirmar pois estamos ainda apurando essa questão”, declarou Bezerra.

Crime
Por volta das 15h desta terça-feira (5), banhistas se divertiam na Praia de Jaguaribe, quando um grupo de cinco homens armados invadiu a faixa de areia atirando. O alvo da ação era Lucas, que correu, mas foi alcançado e morto no local. A estudante de biomedicina na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Juliana Celina da Santana Silva Alcântara, 20, e o adolescente, Igor Oliveira Lima Filho, 16, que não tinham nenhum envolvimento com os criminosos, estavam na linha dos tiros e acabaram sendo atingidos e mortos.

A mãe de Juliana Celina estava na hora quando a filha foi baleada. “Diante da situação, ela passou mal”, disse Bezerra, esclarecendo que a mulher não foi baleada, conforme informação dada anteriormente por autoridades. Já André Luiz Cunha dos Santos, que também não tem envolvimento com a criminalidade, foi atingido e sobreviveu. Ele foi levado para o Hospital Geral do Estado (HGE), onde passou por cirurgia.

Na manhã desta quarta-feira (6), o trecho onde ocorreu o ataque não tinha cadeiras, garçons, movimentação de ambulantes, sequer havia alguém tomando sol. Era um vazio na extensão da sempre cheia Praia de Jaguaribe. As marcas da violência ainda estavam na areia com os rastros de sangue das vítimas.

A barraca não abriu, mas o CORREIO conversou com um dos funcionários que foi ao local somente para limpar uma cadeira usada pela estudante de biomedicina Juliana Celina. Ela estava com a mãe e o primo sentados debaixo de um guarda-sol próximo onde Lucas e o seu grupo estavam. “Foi muito triste. Ela não teve nem reação para correr. Foi atingida ainda sentada”, disse ele.

O funcionário falou também que o adolescente Igor era cliente da barraca, que por várias vezes o adolescente comprava água de coco quando terminava o futevôlei. “O menino estava na hora com a bola. Ele e a menina (Juliana Celina) estavam na linha de tiro, infelizmente”, desabafou.

Tiros
Funcionários de barracas de praia do entorno contaram que Lucas e outros quatro rapazes chegaram com um cooler para beber numa barraca, cujo nome foi preservado por garantia da segurança dos funcionários e frequentadores. Como nesta terça-feira (05) não estava funcionando, Lucas e os demais foram beber em outra barraca de praia.

“Eles chegaram tranquilamente, se sentaram mais próximo à água e começaram a beber. Ainda não tinham consumido nada. Não demorou muito quando dois homens vieram caminhando do lado e um deles disse para o alvo (Lucas): ‘Você vai morrer agora’. E começou a atirar”, relatou o garçom, que preferiu não revelar o nome.

Ainda de acordo com ele, no domingo, Lucas e os mesmos rapazes que estavam com ele nesta terça, estavam na Praia de Jaguaribe neste último domingo. “Todos eles estavam sentados na mesma barraca que procuraram na terça, mas que estava fechada”, contou.

Medo
Apesar do episódio da tarde de terça, algumas pessoas foram à Praia de Jaguaribe. O CORREIO conversou com os banhistas e a maioria disse que estava com medo e relataram a ausência de policiais, como foi o caso da empregada doméstica Maria do Carmo Santos da Paixão, 50. “Estou aqui, mas morrendo de medo. Pensei que aqui haveria polícia circulando, mas não vi um PM sequer. Normalmente quando tem esses casos de repercussão, eles aumentam o efetivo, mas até agora nada”, disse ela, moradora do Rio Vermelho.

A funcionária pública estadual Valdilene Anjos, 48, moradora do Cabula, contou que só foi à praia porque ela e a filha precisavam sair de casa, uma vez que elas vêm cumprindo à risca o isolamento social devido à pandemia. “Já não aguentávamos mais ficar em casa. Já tínhamos combinado vir hoje, porque ela (filha) estava de férias dos cursos de inglês e balé”, argumentou.

Já gerente comercial Marina Ikissima, 43, disse que o ataque que deixou mortos e feridos na praia foi algo pontual, mas ponderou a falta de segurança. “Isso pode acontecer em qualquer lugar. A gente não pode deixar de sair achando que algo pode acontecer. Mas é notório que falta segurança em Salvador”, declarou.

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Um crime bárbaro ocorrido na tarde desta terça-feira (5), na praia de Jaguaribe, chocou a população baiana. Três pessoas foram assassinadas, incluindo dois estudantes que não tinham nenhuma relação com atividades criminosas, e outras três foram baleadas.

Contexto
Segundo informações preliminares da investigação, reveladas pelo diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Lucas Bezerra, durante entrevista à TV Bahia nesta quarta-feira (6), dois homens em uma moto chegaram à praia por volta das 15h desta terça.

Eles localizaram Lucas Santos da Cruz, 27, sentado numa barraca ao lado de amigos e abriram fogo. Lucas, segundo a Polícia Civil, tinha envolvimento com o tráfico de drogas e era o alvo da ação criminosa.

Neste primeiro momento Lucas e dois amigos dele foram atingidos pelos disparos, que segundo as investigações foram efetuados por apenas um criminoso enquanto o outro ficava na retaguarda.

Como todos começaram a correr após os primeiros tiros, na perseguição o criminoso descarregou a arma na tentativa de executar Lucas. As balas perdidas atingiram três pessoas que estavam na areia: Igor Oliveira Lima Filho, de 16 anos, Juliana Celina da Santana da Silva Alcântara, de 20, e Elenilce Alcântara, mãe de Juliana. Os dois primeiros não resistiram.

A ação, ao todo, durou cerca de 60 segundos, e os suspeitos fugiram em uma moto.

Vítimas
Lucas e Milena morreram na hora, enquanto Igor chegou a ser atendido, mas não resistiu. Uma quarta vítima fatal identificada como Andre Luiz Cunha dos Santos, de 24 anos, chegou a ser apontada inicialmente, mas a Secretaria de Segurança Pública (SSP) corrigiu a informação às 22h30 da noite dizendo que ele tinha sobrevivido.

Milena tinha 20 anos e estudava Biomedicina na Faculdade Bahiana de Medicina de Saúde Pública. Ela, que morava no Imbuí, estava na praia ao lado de familiares e foi atingida quando estava sentada em uma cadeira de praia. O corpo dela foi coberto com uma canga por familiares.

A mãe, Elenilce Alcântara, que estava ao lado da filha foi atingida de raspão e encaminhada para a UPA de Itapuã. Ela foi liberada na mesma tarde.

Outra vítima foi Igor Oliveira Lima Filho, de 16 anos. O adolescente tinha o costume de jogar futevôlei nas areias de Jaguaribe. A paixão pelo futebol era tanta que bola estava logo na descrição de uma das suas contas nas redes sociais.

Um amigo de Igor contou ao CORREIO que ele era o mais velho de três irmãos e morava no condomínio Le Parc, na Avenida Paralela. "Até por isso o gosto por Jaguaribe, rapidinho chegava lá", disse a fonte antes de classificá-lo como estudioso, boleiro e de família.

O principal alvo da ação era Lucas. Segundo Lucas Bezerra, diretor do DHPP, ele tinha envolvimento com o tráfico de drogas e fora preso em duas oportunidades. Em 2015 ao ser flagrado com uma moto roubada e uma arma de fogo, e em 2018 por associação ao tráfico.

Ele deixou a prisão em maio de 2019 e voltou a exercer a atividade criminosa na região do Cajueiro, na Boca do Rio. "Por isso acreditamos que integrantes de uma facção rival o localizou na praia e tentou executá-lo", disse Lucas em entrevista ao Jornal da Manhã, da TV Bahia.

André Luiz Cunha dos Santos também foi atingido pelos disparos e foi socorrido para a Unidade de Pronto-Atendimento de Itapuã. Inicialmente a unidade e a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA) informaram que ele havia morrido no atentado, porém a informação foi corrigida às 22h30. André passou por uma cirurgia e se recupera. Em uma rede social, um amigo informou que 'ele está vivo e lúcido'.

Outro sobrevivente é um homem que foi socorrido pelo Samu para o Hospital Geral do Estado (HGE) em estado grave, com perfuração no tórax e coxa esquerda, de acordo com informações da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

Todos os três sobreviventes do atentado não correm risco de vida.

Investigações
As primeiras equipes da Polícia Militar (PM) chegaram ao local poucos minutos após o ataque e realizaram buscas na região para tentar localizar os criminosos, que conseguiram escapar.

Agora o caso está nas mãos do DHPP, que já ouviu testemunhas e está investigando câmeras de segurança da região para entender como ocorreu o crime e qual foi a rota de fuga adotada pelos atiradores.

Durante toda essa quarta-feira (6) buscas devem ser feitas para tentar localizar os bandidos.

"A expectativa é de realizarmos as prisões ainda hoje, nas próximas horas. Estamos com equipes nas ruas e contamos com todo o aparato tanto da Polícia Civil quanto das outras forças de segurança do estado. Foi um crime bárbaro e precisamos dar essa resposta à sociedade", afirma o diretor do DHPP.

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