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Pais desabafam sobre aulas suspensas em Cajazeiras e Águas Claras: 'Estamos apavorados'

Pais desabafam sobre aulas suspensas em Cajazeiras e Águas Claras: 'Estamos apavorados'

Medo e tensão. Esses são os sentimentos da mãe de um estudante da escola municipal localizada a menos de dois quilômetros de onde três policiais militares foram mortos no último final de semana, ao imaginar levar o filho de 10 anos para a aula.

Sem se identificar, ela diz temer a ocorrência de confrontos durante o percurso de ida ou de volta da Escola Municipal Eduardo Campos. “O meu medo não é que ele esteja dentro da escola. Para mim, o mais preocupante é o caminho”, diz a mãe.

Os pais de estudantes de outras duas escolas municipais da região aceitaram falar, mas também sem se identificar por temer represálias. O pai de uma estudante de 13 anos da Escola Municipal Iraci Fraga, afirma que a medida [fechamento das escolas] é importante para que o medo da violência não prejudique o aprendizado da sua filha.

“Estamos apavorados com a violência, não deixaríamos ela ir mesmo que as aulas estivessem acontecendo. A suspensão chega a ser um alívio, porque pelo menos ela não estará perdendo conteúdo”, diz o pai.

A mãe de outro aluno de 13 anos, desta vez da Escola Municipal Dois de Julho, falou sobre a tensão de precisar impedir que seu filho frequente a escola, por causa da falta de segurança.

“Não temos segurança há muito tempo. Já é difícil incentivar as crianças a seguirem com os estudos, ainda chegam esses fatos para fazer a gente dizer para elas que não devem ir, que não devem aprender, porque é perigoso sair até mesmo para ir à escola”, lamenta.

Desde a segunda-feira, 09, ao menos 19 colégios estaduais e escolas municipais estão fechadas na região de Cajazeiras e Águas Claras. Os pais dos estudantes ouvidos pela reportagem concordam com a medida por temerem pela segurança das crianças e também que a violência prejudique o aprendizado delas.

Procurada, a Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Salvador (SMEC) suspendeu as aulas em 14 escolas que ficam nas regiões onde os PMs foram mortos. Essas unidades de ensino têm, no total, 2.866 alunos matriculados. De acordo com o órgão, as atividades foram suspensas em "decorrência do clima de insegurança". Uma data de retorno será definida caso seja constatado, pela pasta, o retorno da tranquilidade e segurança à região.

Já a Secretária Estadual de Educação (SEC), informou que os colégios estaduais Edvaldo Brandão Correia, Luís José de Oliveira e Naomar Alcântara não tiveram aulas nesta terça-feira (10), mas devem voltar a funcionar normalmente nesta quarta-feira (11).

Além das suspensões nas aulas nas unidades informadas pela SEC, a reportagem constatou a mesma situação em outros dois locais: o Colégio Estadual Santa Rita de Cássia e o Colégio Estadual Ana Bernardes. Os porteiros das instituições confirmaram o fechamento.

"Realmente, não estamos funcionando desde ontem [segunda-feira, 09] por causa desses acontecimentos [onda de violência após a morte dos PMs", disse o porteiro do Colégio Santa Rita, informando em seguida que não tinha autorização para dar mais detalhes. "Estamos sem funcionar desde a tarde de ontem [segunda]. Mesmo com a polícia, o clima aqui está muito tenso", confirmou o funcionário do Ana Bernardes.

A reportagem procurou saber da SEC quantos alunos estudam nas unidades, mas não obteve resposta.

Na Escola Municipal Eduardo Campos, em Águas Claras, uma das 14 unidades que não está funcionando, a mãe de um aluno disse não haver previsão de retorno. "A gente quer que nossos filhos vão para a escola, mas sem segurança, eu prefiro que não tenha aula", acrescentou.

Já na Escola Municipal Iraci Fraga, no mesmo bairro, a mãe de um estudante disse que o filho foi informado da suspensão das aulas pelo grupo da sala no WhatsApp, com o áudio de uma professora. "Estamos apreensivos, porque queremos os nossos filhos nas salas, mas com todo esse clima é impossível".

Para a Associação dos Professores Licenciados do Brasil/Seção Bahia – APLB Sindicato, o fechamento das escolas é válido para garantir a segurança dos funcionários e alunos.

“Levando em conta a situação neste momento de violência e a necessidade de proteção dos trabalhadores da educação e da comunidade escolar, é mais prudente a gente não colocar essa comunidade em risco, já que existe a real possibilidade de retaliação”, afirmou Luciano Cerqueira, que é diretor de planejamento do sindicato.

Insegurança dificulta o aprendizado

A sensação de segurança é importante para que os estudantes tenham vontade de frequentar a escola, afirma a psicopedagoga Aline Dunham. “A criança precisa criar um vínculo positivo com a escola e essa sensação de medo acaba afetando negativamente, porque ela vai estar sempre tensa", diz.

A insegurança também afeta o aprendizado, acrescenta a especialista. “O medo pode gerar uma ansiedade. E quando a criança ou o adolescente não está bem emocionalmente, isso acaba refletindo negativamente na aprendizagem”, explica.

À reportagem, a Polícia Militar informou que o policiamento nos bairros de Cajazeiras, Águas Claras e Boca da Mata se encontra intensificado e que a unidade que atende às localidades está reforçada por guarnições táticas e especializadas.

Escolas municipais e estaduais que estão sem aula:

Municipais
EM Francisco Leite
EM Fazenda Grande II Ministro Carlos Santana
EM Oscar da Penha
EM Maria Antonieta Alfarano
EM Beatriz Farias
EM Irmã Dulce
EM Iraci Fraga
EM São Damião
EM Eduardo Campos
EM Cristo Rei
EM Ulysses Guimarães
EM Professor Afonso Temporal
EM Ricardo Pereira
EM de Educação Infantil Cantinho das Crianças

Estaduais
EE Edvaldo Brandão Correia ,
EE Luís José de Oliveira
EE Naomar Alcântara
EE Santa Rita de Cássia
EE Ana Bernardes.

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