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'Estou sem entender, tô sem chão', diz pai de jovem perseguido e morto no Uruguai

'Estou sem entender, tô sem chão', diz pai de jovem perseguido e morto no Uruguai

O pai de Gabriel Hamed Ferreira Rodrigues, jovem de 19 anos morto a tiros na noite de domingo (16) no Uruguai, em Salvador, diz que seu filho era um rapaz caseiro, sem conflitos conhecidos e que a família aguarda a investigação da polícia para saber o que pode ter motivado o crime.

"Meu filho era uma pessoa super boa. Foi uma safadeza o que fizeram com ele, uma maldade. Meu filho nunca andou com negócio de droga, beber, era um menino caseiro. Bem criado, bem cuidado. Estudou no colégio militar, estava ai agora perto pra trabalhar. Aí vem essa fatalidade. Um miserável desses tira a vida do meu filho sem mais nem menos. Queremos a justiça de Deus, do homem, para não ficar impune. Não pode ficar assim, não", diz o servidor municipal Geovane Rodrigues.

Ele continua: "Nunca usou droga, nunca bebeu na vida dele, uma coisa que estou sem entender, tô sem chão. Quero saber e só a polícia pode resolver essa situação. Estamos esperando a investigação da polícia".

No domingo, Geovane saiu de casa no bairro de Roma para trabalhar e pouco depois recebeu a notícia que o filho estava na UPA, em uma ligação feita pela irmã. Na hora, ele acreditou que Gabriel tivesse caído de moto, mas foi surpreendido com a informação de que o rapaz havia sido baleado. Quando saiu de casa, Gabriel estava com as irmãs e primos num churrasco.

Geovane conta que brigava com Gabriel para que ele fosse não para o Uruguai, mas o rapaz ia muitas vezes ao bairro porque uma das irmãs, Bruna, que está grávida, mora lá.

"Estavam num churrasco e resolveu levar ela em casa e aconteceu essa situação. A irmã saiu da moto e o cara veio atirando nele. Ele sem esperar. Ainda correu um pedaço, mas infelizmente...", diz o pai. "Até agora estou sem entender, sem chão".

Ele diz não saber se o filho foi morto por engano. Moradores relataram à família que a moto estava acompanhada de um carro que ficou no local desde três dias antes do crime. "E a moto uns dois dias. E ontem disseram que a moto estava lá desde cedo, e ele não estava lá, porque ele mora aqui em Roma. Eu fiquei encismado".

Gabriel tinha três irmão e, entre eles, está a blogueira Lalai Magarão, que acumula mais de 86 mil seguidores em uma de suas redes socias. Foi pelas redes que ela relatou o crime e expressou indignação. "Gabriel era um anjo e nunca fez maldade com ninguém. Nós vamos aguardar e dobraremos os joelhos para que ele tenha justiça", afirmou em uma publicação.

Questionado sobre rumores de que o crime poderia ter relação com o namorado de Bruna, que foi apontado como um dos suspeitos do caso por fontes ouvidas pela reportagem, Geovane diz que não sabem nada até agora. "Que motivo ele teria, ele até se dava bem... Só investigando para saber", acrescenta.

Geovane se emociona ao lembrar do filho. "Não tem ninguém que fale mal, não é porque ele morreu. Ele não, boto a mão no fogo e na vizinhança lá pode perguntar a qualquer um que todo mundo sabe quem é ele, foi bem criado, não tem ninguém que venha a falar mal dele, nada a julgar dele".

Uma das irmãs de Gabriel, a influenciadora Lalai Magarão, usou as redes sociais para lamentar a morte. "Você era só uma criança, que mudou cruel, quanta maldade, meu Deus, eu não aceito isso e nunca vou aceitar", escreveu. "Tenho orgulho de voc~e ter sido um irmão direito, que nunca fez maldade com ninguém, que nunca colocou uma droga na boca, nunca rouobou, nem matou ninguém para morrer assim". Ela acrescentou que está "sem chão e em prantos". "Quero meu irmão de volta".

Crime

O morador que presenciou a execução de Gabriel diz que ele não ter sobrevivido não foi uma surpresa por conta da quantidade de tiros que a vítima recebeu.

"Não tiveram pena nenhuma de gastar as balas que tinham, foi tanto tiro que eu acho que descarregaram tudo nele. Aí não teve jeito, é difícil alguém sobreviver a algo assim. Não dá para ver o tanto de cápsulas porque vieram catar tudo depois que aconteceu", relata ele.

Um outro morador, que também prefere não dizer o nome por medo de represálias, atesta o mesmo em relação a quantidade de tiros. "Foi ontem por volta das 22h30. Eu não saí pra ver, mas deu para ouvir e foi, pelo menos, 15 tiros que deram aí. Ficou no silêncio e depois a família chegou naquele desespero, todo mundo gritando. Na hora, por ser muito tiro, achei que era tiroteio mesmo", conta ele, afirmando que isso não é comum na Rua Jequitibá.

A 3ª Delegacia de Homicídios (DH/BTS) é que vai apurar a morte de Gabriel e, apesar das versões dos moradores e da PM-BA, ouviu testemunhas que afirmam que o caso se deu na Rua Jornalista Nilton França. De acordo com o registro, Gabriel estava na porta de casa quando homens em um carro passaram atirando.

As testemunhas informaram que é provável que o jovem não era o alvo porque quem estava no veículo gritou 'ele não está aqui, então vai você mesmo". As guias para remoção e perícia foram expedidas e oitivas e diligências serão realizadas para identificar a autoria e motivação do crime.

Execuções

Segundo dados do Fogo Cruzado, com a execução de Gabriel, ao menos 379 pessoas foram executadas em Salvador e Região Metropolitana (RMS). Só em junho, 70 vítimas morreram nessas circunstâncias.

No dia 25 de junho, o entregador Michel Lucas Silva Santos, 16 anos, foi encontrado morto na Rua Nova Aliança, em Praia Grande. A família apontou que ele teria sido sequestrado por traficantes enquanto realizava uma entrega e foi executado pelos criminosos.

No fim do mês passado, um grupo de extermínio, formado por policiais militares de Camaçari, foi apontado como responsável por uma chacina que acabou em sete homicídios na cidade e um outro no município de Candeias durante a madrugada do dia 29.

Já nesse mês, no dia 3, O casal Monalisa Carneiro da Silva Santos, 34 anos, e Tiago Pereira, 34, estava na rua de casa quando foi surpreendido por dois suspeitos que chegaram de moto e dispararam contra os dois. O crime aconteceu na Rua Sérgio Landulfo Furtado, no bairro de Castelo Branco, por volta das 11h.

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