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Bahia tem sete vezes mais casos de covid na primeira semana do ano

Bahia tem sete vezes mais casos de covid na primeira semana do ano

Depois do descanso, a preocupação. Assim têm sido os primeiros dias de 2022 para a dentista Vitória Medina, 23 anos. Ela passou a virada do ano ao lado de amigos em Jacuípe, no Litoral Norte baiano, e, ao voltar de viagem, sentiu os primeiros sintomas gripais. Fez o teste e o resultado foi positivo para a covid-19, a infecção causada pelo coronavírus Sars-Cov-2. A situação dela está longe de ser incomum. Em toda a Bahia, em uma semana, os números de novos casos da doença aumentaram sete vezes e meia, logo após a virada de ano.

De acordo com dados da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), no último sábado (1º), eram 171 casos registrados de covid-19 no território baiano. Nesta quinta-feira (06), o número saltou para 1.288 pessoas que testaram positivo para a infecção, um crescimento de 653,2% nos registros.

Para se ter uma ideia, o estado não registrava tantos infectados de uma vez desde 12 de agosto de 2021. Na ocasião, 1.362 contaminados foram identificados. O crescimento já é nítido no aumento da demanda de pacientes nos gripários, hospitais, clínicas e consultórios públicos e privados do estado. Médica infectologista, Clarissa Cerqueira afirma que os últimos dias foram de alta procura de pessoas infectadas pelo vírus por atendimento.

“De terça-feira para cá, começou a aumentar tanto a internação hospitalar como o número de pacientes doentes. Tem muita gente procurando! Meu consultório está cheio, não parei de atender. Até as teleconsultas estão lotadas”, conta a médica, ressaltando que a maioria dos casos são leves por conta da cobertura vacinal.

Pós-réveillon

Vitória Medina, citada no início da reportagem, se reuniu com 15 amigos em uma casa para a virada de 2021 para 2022. Ela conta que não aglomerou e nem foi em festas. Ainda assim, não conseguiu escapar da covid-19. O primeiro sinal do vírus foi a garganta arranhando já no dia 2 de janeiro. Dois dias depois, mais sintomas vieram e preocuparam a dentista.

“Uma amiga que foi para Maceió testou positivo depois do réveillon. Achei que poderia estar acontecendo o mesmo comigo por conta das reuniões de fim de ano. Com medo, porque meus pais são idosos, fiz e deu positivo”, conta ela, que mora em Salvador, mas está isolada em Camaçari.

Outra soteropolitana, que preferiu não se identificar, passou por uma situação parecida. Virou o ano em Arembepe na companhia de 20 pessoas. Na volta para casa, ela e duas amigas começaram a sentir sintomas como inflamação na garganta. Ontem, ela fez o teste e confirmou que estava com covid-19.

“Eu tô com sintomas desde terça-feira, só não fiz o teste antes porque tem muita gente procurando e estava difícil de arranjar. Acredito que foi por causa do réveillon mesmo porque senti logo depois da volta e minhas amigas também”, contou. Ela acrescentou que notou pessoas tossindo na casa onde estava em Arembepe.

O estudante de direito Rafael Dantas, 23, começou a sentir os sintomas no dia 3 de janeiro, depois de voltar de uma viagem que fez para Morro de São Paulo, na companhia de 12 pessoas. Ele já fez o teste e aguarda a confirmação para saber se está com o vírus ou não.

“Foi logo quando eu cheguei. Os primeiros sintomas foram dor nas articulações, na lombar e na cabeça. No dia posterior, essas dores já tinham diminuído e fiquei apenas com coriza e tosse, sintomas esses que se prolongam até o atual momento”, detalhou.

Ômicron como fator

Procurado pela reportagem para explicar essa explosão de casos, o infectologista Matheus Todt afirma que as reuniões das festas de final de ano são, de fato, as principais culpadas pelo cenário atual. No entanto, há um elemento a mais para que a resposta seja tão imediata.

"É um reflexo do ano novo sim. No entanto, não é só isso. A culpa maior é das reuniões e aglomerações, mas a variante ômicron, que a gente acredita ser mais transmissível que as outras, é um fator que, associado às festas, pode ter influenciado", explica.

Ao falar do que pode ter feito com que a conta das festas de ano novo chegasse tão rápido, a infectologista Clarissa Cerqueira também cita a variante ômicron como um fator e adiciona a falta do uso de proteção em reuniões que nem precisam virar aglomeração para infectar muitas pessoas.

“As pessoas evitam aglomerações, mas mantém muito contato com grupos próximos. O que observo é que, em uma família reunida, todo mundo se infecta por baixar a guarda nas medidas de proteção como o uso de máscara”, acrescenta.

Ela explica ainda que a velocidade com que as pessoas estão sendo infectadas pode ter a ver com o potencial transmissivo da ômicron. “Há suspeitas de que o RT, que é o número de transmissão dessa variante, seja maior que o das outras. A princípio, ela parece ser mais transmissível, podendo passar para 5 a 7 pessoas, potencial bem mais elevado em relação às outras”, acrescenta.

A hipótese dos infectologistas combina com um levantamento da plataforma “Our World In Data”, que aponta que 58,33% dos casos de covid-19 identificados no Brasil nas duas semanas anteriores a 27 de dezembro são de responsabilidade da variante ômicron.

No entanto, de acordo com a Sesab, as variantes identificadas em circulação na Bahia até o momento são a Alpha, Gamma e Delta, sendo a última mais predominante nos últimos resultados de sequenciamento genômico do Sars-CoV-2.

Quarta onda?

Ainda de acordo com a Sesab, independente da variante, o cenário causa temor. “A curva crescente preocupa visto que, além da pandemia de COVID-19, estão em curso o surto de influenza, a situação de emergência em saúde pública devido às enchentes na região sul e extremo sul do estado incluindo o período de sazonalidade das arboviroses, o que podem levar à sobrecarga do Sistema Único de Saúde”, escreve por meio de assessoria.

Mateus Todt cogita a possibilidade do crescimento que vemos agora se tornar uma nova onda. "Existe uma possibilidade da gente vivenciar um aumento substancial de casos e isso configurar um novo pico epidêmico”, fala o infectologista, destacando que todos os números são subestimados, já que se testa pouco por aqui.

A médica Clarissa Cerqueira também vê de forma parecida, mas acredita que podemos estar falando de uma onda com características diferentes. "Dentro das conversas com colegas especialistas, a gente acha que pode vir uma onda grande, mas curta. Uma onda com muita gente infectada, mas que não dure como as anteriores", pontua.

Cuidados devem permanecer

Diferente de outros momentos da pandemia quando houve uma alta de números de casos, muitos cidadãos não têm optado por se testar ou se isolar quando o primeiro sintoma aparece. Pelo contrário, é comum ouvir relatos de pessoas que, mesmo com sintomas, continuam circulando com o vírus.

Por isso, temos um guia com as principais respostas sobre o que ainda precisa ser feito quando a infecção de covid-19 é uma possibilidade. Confira:.

Sentiu algo, mas acha que é besteira?

“Antes de tudo, não se trata de gripe besta, é covid. Pode até ser influenza que não é besteira. Não se pode tratar as questões respiratórias neste momento como uma coisa comum e menosprezar o vírus”, alerta Clarissa Cerqueira.

Testar, testar e testar

"Não dá para fazer auto diagnóstico. Como são quadros gripais que apresentam semelhança de sintomas, é preciso testar e saber o que tem para se proteger e garantir a proteção dos outros. Então, se há a possibilidade de fazer o teste, tem que ir o mais rápido possível", salienta Matheus Todt.

Tem algum sintoma? Fique longe dos outros!

“Se está com sintoma respiratório, é para ficar em casa. Não saia para se encontrar com familiares e amigos porque, ao fazer isso, você vai passar o vírus à frente, mais pessoas serão infectadas”, reitera Clarissa Cerqueira.

Mantenha as medidas de prevenção

“Precisamos ainda preservar ações básicas dentro da pandemia que ainda são necessárias. É preciso manter o distanciamento social, higienizar as mãos e fazer o uso correto das máscaras”, conclui Matheus Todt.

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