O radialista e suplente de vereador em Jacobina, Laedson Almeida, é investigado pela Polícia Civil por importunação sexual. A denúncia partiu de sua sobrinha, uma jovem de 17 anos, que conta ter sofrido o crime na madrugada do dia 8 de janeiro em uma viagem com familiares. Após a repercussão do vídeo em que ela relata os abusos, o radialista, conhecido como Pirulito, foi afastado do Partido dos Trabalhadores (PT) e da Rádio Jacobina FM, na qual é apresentador.

No final de semana em que teria ocorrido o crime, Laedson estava com a mulher e as duas filhas pequenas, além da sobrinha e um casal de amigos com os filhos, em Itaitu. O distrito é uma região turística do município de Jacobina, no centro-norte baiano. Segundo a vítima menor de idade, a casa em que eles ficaram é de uma amiga do radialista e possui dois quartos.

“De início, eu dormiria no sofá cama na sala [...] só que no decorrer da tarde eles beberam bastante e nos divertimos muito. Porém, a noite chegou e a minha tia [esposa de Laedson] pediu para eu dormir no quarto que ela dormiria na sala porque iria acordar muito cedo e não queria me incomodar”, relata.

A jovem aceitou a proposta e não imaginou que o tio fosse realizar qualquer tipo de assédio, uma vez que possuia “total confiança nele”. Ela lembra que foi acordada por Laedson às 4 horas da manhã porque ele estaria procurando seu celular. Foi então que a importunação sexual teria tido início.

“Ele deitou, começou a me abraçar, passar a mão no meu corpo e depositar beijos no meu pescoço. Eu fiquei em choque e não conseguia me mexer nem falar para ele sair”, diz. Segundo ela, o tio só parou depois que fez uma pergunta à sobrinha.

“Ele perguntou se eu tinha certeza daquilo e eu consegui ter uma reação e falei para ele sair”, completa.

Logo depois, Laedson teria voltado para a outra cama de solteiro do quarto. A sobrinha diz que não contou para ninguém da casa o que teria acontecido por medo da reação das pessoas.

Em nota, a Polícia Civil informou que a Delegacia Territorial de Jacobina instaurou um inquérito policial para apurar a denúncia de importunação sexual contra a adolescente. Como a investigação envolve uma menor de idade, o caso corre em segredo de justiça.

Outra versão

O advogado de defesa do radialista, Rodrigo Almeida, dá outra versão sobre o ocorrido na madrugada e nega que o cliente tenha cometido crime de importunação sexual. Segundo ele, tio e sobrinha não dormiram sozinho e no quarto estavam a esposa de Laedson e as duas filhas.

Em um dado momento da noite, o radialista, alcoolizado, teria pedido para deitar na mesma cama da sobrinha para ficar mais próximo do ventilador que havia no local.

"Ele perguntou se podia deitar e ela disse que sim. Mas ele permaneceu muito pouco na cama porque percebeu que ela estava incomodada. Foi quando perguntou se a sobrinha queria que ela saísse da cama e ela respondeu que sim", afirma o advogado.

Ainda segundo a versão da defesa, a jovem estaria com raiva do tio por acreditar que ele estaria apoiando a separação de seus pais e, por isso, teria feito a denúncia. "Haveria uma revolta por ela entender que os irmãos do pai estão dando apoio a separação do pai e da mãe dela", diz Rodrigo Almeida.

Desdobramentos

O vídeo em que a jovem relata o ocorrido circulou nas redes sociais na quarta-feira (18), o que fez com que o Diretório Municipal do PT em Jacobina suspendesse a filiação do suplente. A presidente do partido na cidade, Mariana Oliveira, conta que depois que tomou a decisão de afastamento enviou uma mensagem à Laedson, que disse que tudo seria esclarecido.

“Estamos tendo muita cautela no momento e aguardamos a defesa dele e o levantamento das provas”, afirma. Laedson Almeida é suplente do vereador Martins (PT), o quarto mais votado da cidade nas eleições de 2020. Segundo Mariana Oliveira, essa é a primeira vez que Laedson é suplente.

A reportagem tentou entrar em contato com a Câmara Municipal de Jacobina e com o presidente da casa, Juliano Cruz (Solidariedade), para saber quais medidas serão tomadas após a instauração do inquérito, mas não obteve retorno.

A Rádio Jacobina FM optou pelo afastamento do radialista, que também atua como palhaço e atende pelo codinome Pirulito. Em nota, a emissora defende a “importância da investigação, direito ao contraditório e ampla defesa”. Cleuber Fagundes, diretor da rádio e amigo pessoal de Laedson, afirma ter ficado “assustado” quando se deparou com o relato da jovem.

“Conversamos com ele e pedimos para que ele se afastasse do trabalho até que pudesse se resolver com a população e com a polícia”, explica. Laedson teria dito a Cleuber e a outros membros da emissora que a situação se tratava de um “problema familiar que seria resolvido” – versão similar a que deu ao diretório do PT.

Psicóloga alerta para sinais que vítimas podem apresentar

Entre janeiro e outubro do ano passado, a Polícia Civil da Bahia recebeu 158 ocorrências de importunação sexual na capital baiana - um número 68% maior do que o registrado no mesmo período de 2021. Segundo a polícia, o aumento é consequência da maior conscientização da população em relação ao crime, que foi tipificado em 2018. A Polícia Civil não forneceu dados sobre o crime de importunação sexual na Bahia.

A importunação sexual consiste na prática de atos libidinosos sem a anuência da outra pessoa. A pena é reclusão de 1 a 5 anos, mais leve do que a do crime de estupro, que pode chegar a 30 anos. Nesse outro caso, é preciso que a vítima participe da prática sexual e o crime é considerado hediondo.

A psicóloga clínica Mirella Almeida explica que os abusos sexuais costumam ocorrer dentro de casa por parentes ou conhecido, já que os agressores se aproveitam do vínculo construído com a família ou vítima para que o crime ocorra.

“Mesmo com os tabus a cerca da educação sexual, os pais devem conversar com os filhos e esclarecer quem pode manipular suas partes íntimas”, indica.

Segundo a psicóloga, abusos ocorridos na infância ou adolescência criam traumas que perduram por anos. “É um evento traumático que deixa marca emocionais e pode promover mudanças comportamentais”, explica Mirella Almeida.

Mudança de humor, baixa autoestima, isolamento social, manifestações de brincadeiras sexuais e baixo desempenho escolar são alguns dos sinais que crianças e adolescentes vítimas de abusos podem manifestar. “É indispensável que a família ofereça apoio à vítima e busque orientação profissional”, destaca.

 

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O médico de 38 anos que foi preso em flagrante por estupro de vulnerável de uma adolescente de 13 anos, na Avenida Lucaia, no Horto Florestal, mantinha um relacionamento há cerca de um ano com a amiga da vítima, uma jovem de 18 anos. Segundo a polícia, ele conheceu a moça no Vale das Pedrinhas, onde a mãe dele mora, e eles marcaram um encontro, na quarta-feira (18). O médico negou aos policias ter tido relações com a adolescente. A polícia não divulgou os nomes dos envolvidos.

A prisão em flagrante aconteceu por acaso. O coordenador da Operação Visão, delegado Thiago Almeida, contou que uma equipe da Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos (DRFRV) estava passando pela região do Lucaia quando ouviu o alarme de uma loja disparar. Ao se aproximar do local os policiais avistaram um carro Civic, com vidros escuros, motor ligado e faróis acesos.

“A Operação Visão da Polícia Civil tem por objetivo coibir os crimes contra o patrimônio, notadamente os roubos de veículos. Pela análise da mancha criminal a região do Horto Florestal e Federação apresentavam um elevando índice desse tipo de crime, por isso as equipes estavam nessa região. Teve uma loja que acionou o alarme e ao passar pelo local percebemos o carro preto e vultos dentro do veículo”, contou o delegado.

Ele disse que o médico percebeu a viatura e tentou fugir. “Quando a equipe se aproximou o carro tentou engatar a ré e sair, mas os policias abordaram e deram ordem de descida. Desceu o motorista do veículo, que era o médico. Aí, do banco do passageiro, desceu a mulher de 18 anos. Instantes depois, desceu a menor de 13 anos”, afirmou.

Segundo o delegado, eles desceram do carro se vestindo. O médico procurou saber o motivo da abordagem e disse que estava sendo constrangido. O clínico geral contou para os investigadores que tinha um encontro marcado com a jovem de 18 anos e que ao chegar ao local foi apresentado a adolescente. Ele disse também que matinha um relacionamento com a mulher de 18 anos há cerca de um ano e que a conheceu quando foi visitar a mãe dele. As duas moram no mesmo bairro.

O médico alegou que não sabia que a jovem tinha 13 anos e negou em depoimento que tenha ocorrido alguma relação sexual entre eles. A mulher de 18 anos confirmou que tinha um encontro com o médico, que os dois se relacionam há cerca de um ano e que recebia dinheiro para sair com ele. O pagamento combinado desta vez era de R$ 650. Ela disse na delegacia que era irmã da jovem, o que é mentira. Ela também negou que a adolescente estivesse sendo aliciada. A jovem ainda não foi ouvida pela polícia.

Os investigadores apreenderam o celular do médico, solicitaram coleta de material genético no carro e vão ouvir mais pessoas antes de concluir o inquérito. O delegado explicou que o médico está respondendo por estupro de vulnerável e exploração sexual, e a mulher de 18 anos por exploração sexual e corrupção de menor.

“Levar uma pessoa menor para presenciar um ato sexual ou libidinoso diverso expõe a isso [esses crimes]. Diante da informação de que a menor participaria ou havia a possibilidade de estar ali participando é que ela [mulher de 18 anos] foi flagranteada também”, afirmou.

A defesa do médico informou que ele está à disposição das autoridades competentes para prestar todos os esclarecimentos necessários. "Desde já informamos que a versão inicialmente veiculada não corresponde com a realidade dos fatos. Entretanto, em razão do sigilo inerente ao caso, ele não dará, por ora, qualquer declaração ou entrevista à imprensa e irá se restringir a provar sua inocência durante o curso da investigação", afirmou o advogado por meio de nota.

Cajazeiras
Ainda nesta quinta-feira (19), a polícia apresentou o resultado de outra ação para coibir o abuso sexual de crianças e adolescentes. Um treinador de futebol, que não teve o nome divulgado, foi preso em Cajazeiras acusado de abusar de jovens que eram atendidos no projeto social que ele comandava. A investigação começou há dois meses e o homem atuava há dez anos como treinador, sem licença. A polícia identificou 11 vítimas, mas acredita que existem mais.

A titular da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra a Crianças e o Adolescente (Dercca), Simone Moutinho, contou que foram cumpridos mandados de busca e apreensão na sede da instituição e na casa do treinador. Os investigadores encontraram vídeos com teor pornográfico de crianças e adolescentes em computadores, alguns deles eram jovens atendidos pelo projeto, e apreenderam computadores, celulares e documentos. No alojamento dos jogadores foram localizados mais documentos, preservativos e lubrificantes sexuais.

“Conseguimos tomar o depoimento de 11 vítimas, mas esse é um projeto que já dura dez anos e tem muitas crianças envolvidas. A partir das oitivas e de tudo que apreendemos temos a dimensão de que existem mais vítimas. Ele ameaçava os jovens, e os pais e responsáveis não tinham conhecimento, estavam investindo no sonho dos filhos”, afirmou.

As vítimas mais jovens tinham 12 anos. A polícia identificou crimes como estupro e corrupção de menores. O treinador também vai responder por armazenar e transmitir cenas de nudez e de natureza pornográfica envolvendo crianças e adolescentes. “Além das imagens dos alunos, ele contou que recebia pacotes com imagens de teor pornográfico envolvendo crianças e adolescentes, o que também é crime”, contou.

Inicialmente, ele tinha um mandado de prisão temporária, mas como foi preso em flagrante com as imagens a polícia solicitou a prisão preventiva. Caso seja acatada, o homem ficará preso por tempo indeterminado. Segundo a delegada, ele negou o crime no primeiro momento, mas confessou em depoimento que fazia as imagens. Ele disse que não transmitia o conteúdo. Os jovens foram encaminhados para atendimento psicológico.

A Operação Flor Lótus, como foi batizada, surgiu de uma denúncia crime do Ministério Público da Bahia, foi deflagrada pela Dercca e a prisão e as apreensões foram realizadas pela Coordenação de Operações Policiais (COP), do Departamento de Polícia Metropolitana (DEPOM).

Cenário
Os crimes contra crianças e adolescentes têm crescido na Bahia. Na quarta-feira (18), Dia de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, o CORREIO mostrou que o estado ocupa a 4º posição entre aqueles com maior número de casos de abusos sexuais praticados contra esse público no Brasil.

Entre 1º de janeiro e 13 de maio de 2022, a Bahia registrou 2.925 denúncias, ou seja, 407 casos a mais do que os 2.518 relatados entre janeiro a junho do ano passado. Os dados são do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e apontam crescimento de 16% no número de ocorrências.

Todo 18 de maio é celebrado o Dia de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. A data é para lembrar os direitos humanos e fortalecer a rede de proteção desse público. Em 18 de maio de 1973, em Vitória (ES), uma menina de 8 anos foi raptada, estuprada e morta por jovens de classe média alta. O Caso Araceli chocou o país e passou a ser o símbolo da luta contra esse tipo de crime. A temática é debatida durante todo o mês pela campanha Maio Laranja.

 

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