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'Parte que tiraram de mim', diz pai de criança que morreu após ser baleada na porta de casa na BA; vídeo mostra resgate

'Parte que tiraram de mim', diz pai de criança que morreu após ser baleada na porta de casa na BA; vídeo mostra resgate

"Foi uma parte que tiraram de mim, da mãe, dos vizinhos também, porque era um menino extrovertido, brincava com todo mundo", lamenta o motorista José Carlos Souza, pai de Hebert Filipe Silva Souza, menino de 11 anos que morreu após ser baleado na porta de casa, em Camaçari, município que fica na região metropolitana de Salvador.

Hebert Filipe Silva Souza foi atingido por disparos de arma de fogo na noite de quinta-feira (14) durante uma ação policial. De acordo com a assessoria do governo do estado (Secom), houve uma troca de tiros entre PMs e criminosos na Rua dos Pássaros, bairro Jardim Brasília, onde o garoto morava, e a criança acabou atingida.

Hebet Felipe

Vizinhos da vítima, no entanto, negam a versão da polícia. "Hora nenhuma teve troca de tiros. Eu não sei o que eles [os policiais] estavam atrás", disse um morador que preferiu não se identificar.

Ferido, Hebert foi socorrido pelos próprios PMs para o Hospital Geral de Camaçari, mas não resistiu. Uma testemunha gravou, com um celular, o momento em que o menino chegou ao hospital nos braços de policiais militares.

Quando foi atingido, Hebert brincava de esconde-esconde com outros dois colegas, também crianças, mas que conseguiram sair ilesos da ação.

O pai de Hebert Filipe não estava em casa no momento em que o filho foi atingido. Motorista, ele trabalhava na cidade sergipana de Aracaju e, ao receber a notícia, viajou imediatamente para Salvador.

"Saí desesperado de lá para cá. Quando cheguei em casa, 2h, recebi a notícia de quem tinham tirado a vida do meu filho. Isso é revoltante. Precisamos de polícia preparada e não despreparada", falou.
A mãe de Hebert, Jilcinalva Socorro de Souza, está em estado de choque, passou mal algumas vezes nesta sexta-feira (15) e ainda não consegue conversar com a imprensa.

"Minha esposa está arrasada. Era o filhinho único, pequeno, dela. Ele dormia com ela. Quando eu viajava, ele ficava com ela, era o companheiro dela. Todo canto que ela ia, ele ia também", disse o pai de Hebert.

José Carlos ainda fez um desabafo sobre a morte do filho. "A rua só de gente de bem. Não tinha medo porque ele estava na porta de casa. Não é possível que uma criança não possa brincar na porta de casa? Que segurança nós temos nesse país? Nossos impostos, os que nós pagamos, para ter essa segurança? É segurança isso aí? Estamos em um país em que os pais estão enterrando os filhos e não ao contrário, como deveria ser", lamentou.

Caso

Hebert Filipe foi baleado durante uma ação da Polícia Militar, enquanto brinca com os amigos na rua em que morava. Ele ainda foi ocorrido pelos PMs para o Hospital Geral de Camaçari, mas não resistiu aos ferimentos.

Na mesma noite, adolescentes internos da Comunidade de Atendimento Socioeducativo (Case) Irmã Dulce, também em Camaçari, fugiram e os familiares de Hebert chegaram apontar que os tiros disparados ocorreram durante as buscas pelos adolescentes.

A Secretaria de Comunicação do Governo do Estado (Secom), no entanto, detalhou que os casos são distintos e não têm relação.

Segundo a Secom, por volta das 19h da quinta-feira, cinco adolescentes, fardados e desarmados, fugiram da unidade da Fundac de Camaçari, que fica na Rua Santo Antônio, no bairro KM 12, e as circunstâncias da fuga são investigadas.

Já no bairro Jardim Brasília, onde Hebert foi baleado, a pasta informou que houve uma troca de tiros entre policiais militares e membros de uma organização criminosa. A criança, que não era um dos adolescentes que evadiu da Fundac, deu entrada no hospital e foi a óbito. A Corregedoria da PM e a Polícia Civil investigam o caso.

Por meio de nota, a Polícia Militar lamentou a morte da criança e informou que a guarnição envolvida na ocorrência foi autuada em flagrante com base em indícios colhidos na Corregedoria da Polícia Militar, na manhã desta sexta-feira.

Um Inquérito Policial Militar (IPM) foi instaurado e foram ouvidas as testemunhas e familiares da vítima, assim como os policiais militares integrantes da guarnição envolvida no fato. Disse, ainda, que após realização de exames periciais legais, os PMs serão encaminhados para a Coordenadoria de Custódia Provisória, localizada no bairro da Mata Escura.

Fuga no Case

Case-Camaçari

A assessoria da Fundac informou que os adolescentes que evadiram têm idades entre 16 e 19 anos. Esclareceu, ainda que a medida socioeducativa de internação é garantida aos adolescentes até 21 anos incompletos, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

A Comunidade de Atendimento Socioeducativo Irmã Dulce foi inaugurada em 16 de dezembro de 2014. O local é um espaço do governo do estado para a execução de medidas socioeducativas de internação e acolhimento provisório, para adolescentes autores de atos infracionais.

Na manhã de sexta-feira, a Polícia Militar informou que os seis internos do Case Camaçari foram recapturados. Entretanto, não há informações das circunstâncias, nem quando os adolescentes foram achados.

Fonte: G1/Bahia

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