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Salvador e RMS têm inflação mais baixa do país, mas preços seguem altos

Salvador e RMS têm inflação mais baixa do país, mas preços seguem altos

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que é calculado pelo IBGE e funciona como uma prévia da inflação oficial, ficou em 0,97% na Região Metropolitana de Salvador (RMS) em abril. Número abaixo do registrado em março (1,06%) que fez da região a única a mostrar redução entre as 11 áreas que foram pesquisadas de forma separada em todo o país. Em janeiro e fevereiro, a RMS tinha registrado inflação de 1,08% e 0,91% respectivamente.

A desaceleração, no entanto, não reduziu também o volume de gastos no orçamento dos moradores da RMS. Seja no aluguel, no valor do condomínio, no mercado ou na hortfruti, Inara Almeida, 21 anos, só pensa em uma frase na hora de quitar os pagamentos mensais: "Está tudo absurdamente caro", reclama.

Ela vê seus gastos crescerem desde 2019, quando saiu de Feira de Santana para morar em Salvador e estudar na Universidade Federal da Bahia (Ufba). Porém, nunca sofreu tanto para arcar com as contas como em 2022. Nos últimos meses, a estudante viu aluguel, taxa de condomínio, laticínios, verduras e legumes machucarem seu bolso.

"Esse ano está impossível. Me mudei com minhas colegas de casa para um apartamento pior e pagamos R$ 600 reais a mais do que em 2019. O condomínio aumentou uns R$ 100. [...] No mercado, nem se fala. Até no hortfruti, estou sofrendo. Tomate e cenoura dispararam, está muito mais caro", conta ela, que passou a abrir mão de itens que faziam parte da sua feira e acredita que os preços estão mais altos do que nunca.

Aumento para todo lado

A percepção de Inara não é à toa. A mesma pesquisa do IBGE que registrou a desaceleração do IPCA-15 verificou que nenhum grupo de produtos dos nove analisados registrou redução. Oito deles, inclusive, apresentaram preços mais caros. Alimentação e bebidas com aumento de 2,02%, panificados com 5,39%, tubérculos, raízes e legumes com 7,28% e habitação com 1,70% são os principais vilões do orçamento de quem vive na RMS. A cenoura, citada pela estudante, é o produto que mais disparou, com 19,49% de aumento.

A doméstica Márcia Ribeiro, 60 anos, também sente na pele os preços nas alturas nessas áreas de consumo. "Aumentou foi tudo! Só o tomate está saindo por R$ 10 o quilo, a batatinha saindo por R$ 11. Pobre já não estava podendo comer carne, agora a verdura também saiu do cardápio. O aluguel ia aumentar R$ 300. Tive que conversar com o proprietário para que não subisse tanto porque não teria condições", conta ela, que cita também aumentos no pão, que subiu 5,98%, e no gás, com alta de 5,91%, segundo o IBGE.

Associada fundadora da Associação das Donas de Casa da Bahia, Marinelma Gomes afirma que o cenário é dos mais complicados na RMS e no estado como um todo. "Estamos vivenciando um momento bastante crítico. As famílias não estão conseguindo garantir os produtos básicos na mesa. [...] A cesta básica e o gás são os produtos que mais subiram e desafiam as famílias que vivem em situação de vulnerabilidade social", afirma ela.

O momento crítico também afeta a estudante Carol Freitas, 23, que, de um tempo para cá, não consegue comprar o básico com valor que usava para fazer "compras completas". "Antes, com R$ 400 ou R$ 500 a gente fazia uma feira completa, com direito a tudo. Hoje, você deixa R$ 1.000 no mercado para trazer só o básico. É impressionante como café, arroz, feijão e outras coisas simples estouraram de preço", fala Carol.

Por que o preço não cai?

Economista da Fecomércio-Ba, Guilherme Dietze explica porque, mesmo com a redução da inflação de maneira geral, os consumidores não observam queda nos valores das contas. "Uma desaceleração não significa queda de preço, que está subindo quase 1% na região e ficou muito próximo do registrado em março. Ainda está aumentando muito para os consumidores. Houve crescimento nos valores do que mais pesa para o consumidor: alimentação, transporte, habitação. Por mais que outros grupos desçam, não tem como sentir alívio em abril", diz.

Ainda de acordo com Dietze, por conta do momento de altos preços em diversos setores de consumo, seria preciso uma redução relevante na inflação para ver o resultado disso nos principais grupos de produtos. "Mesmo com uma acomodação ou uma redução pequena, estamos falando de um patamar muito elevado [na inflação]. Se você tiver essas pequenas variações, não muda muito no bolso do consumidor porque já está tudo muito caro. Precisaria de uma redução maior, mas o cenário não indica isso", afirma o economista, fazendo uma projeção.

O alívio não chegou no bolso muito porque, mesmo com o resultado de abril, o IPCA-15 acumula alta de 4,09% no ano de 2022 na RMS. Isso porque, até março, a RMS registrou um acumulado de 4,31% na inflação, o maior do Brasil. Com o resultado atual, a região metropolitana deixa ser a que tem o acúmulo mais alto, caindo para a 3º dentre as 11 RM pesquisadas, ficando atrás apenas das regiões metropolitanas de Curitiba/PR (5,32%) e do Rio de Janeiro/RJ (5,03%) e o município de Goiânia/GO (4,87%).

No acumulado de 12 meses encerrados em abril, o IPCA-15 da RM Salvador seguiu acelerando e chegou a 12,36%. O resultado faz com que o número regional continue acima da média nacional de 12,03%. Agora, a RMS é a 4º região com acúmulo mais elevado dentre os locais pesquisados, abaixo da RM Curitiba/PR (15,16%), de Goiânia (13,09%) e da RM Recife/PE (12,43%). Nesse indicador, apenas Brasília/DF (9,98%) ainda mantém aumento menor que 10,00%.

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