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Volta às aulas: material escolar varia até 270% em Salvador

Volta às aulas: material escolar varia até 270% em Salvador

Lápis preto, borracha e apontador. Na preparação para o início do ano letivo, mães e pais já estão preparando o bolso para arcar com a lista de materiais escolares. Em Salvador, os preços de caderno ficaram 17,64% mais caros, assim como artigos de papelaria (12,90%) e livros didáticos (5,54%) em 2022, conforme Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) calculado pelo IBGE. Mas é possível controlar os gastos. Dá para economizar até 266% ao fazer uma pesquisa de mercado bem feita.

Enquanto que a compra de 10 materiais escolares soma R$ 78,10 no Total Variedades, em Itapuã, os mesmos itens - ou semelhantes - podem sair por R$ 286,30 no Kalunga S.A, no Caminho das Árvores. É o que aponta levantamento feito pela reportagem do CORREIO com base no aplicativo Preços da Hora, que reúne dados das notas fiscais eletrônicas.

Os materiais escolares que compõem a lista feita pela reportagem são: cola branca 400 g-500 g, lápis comum preto, apontador, borracha quadrada branca, estojo, caderno grande, régua 30 cm, caneta preta, corretivo 18 ml e pasta escolar.

Papel é material mais caro
O grande vilão de 2023 é o papel. Livros, artigos, cadernos, estão mais caros e ainda tiveram os maiores aumentos desde o início da pandemia, em 2020, tanto no mês de dezembro quanto no acumulado de 2022. A variação acumulada na capital chegou a 6,29%, valor acima do nacional (5,79%), mostram dados do IBGE.

É a primeira compra escolar da manicure Lorrana Nascimento, 24, mãe de uma menina de dois anos, mas ela já reclama dos preços do papel. “As folhas estão muito caras, folha de papel sulfite, VG 25, folha A3 está por R$ 30, é o que está mais pesado. Estou fazendo vários orçamentos para ver o que mais fica mais em conta”, diz.

Ela conta que o orçamento era inferior a R$ 250, mas, chegando nas papelarias, já subiu para R$ 325. “Tudo está caro. É desesperador o preço. Chega a dar medo. Eu nem trouxe minha filha, seria impossível comprar com ela, tudo que visse ia querer comprar”, acrescenta. A solução encontrada foi pedir orçamento em cada loja e comprar, de forma fracionada, os materiais mais baratos de cada papelaria.

Segundo a supervisora de disseminação de informações do IBGE na Bahia, Mariana Viveiros, os fabricantes e importadores de material escolar indicam aumento de custo na matéria-prima do papel. Segundo os comerciantes, fatores como aumento do produto no preço internacional, dólar e importações elevam o valor.

Para Mariana, o nicho ainda vai sofrer aumento. “No ano de 2020 o setor foi muito afetado […] e pode ter certa recomposição de preços agora. [É possível que] ainda tenha mais aumento em janeiro porque é período de compra escolar e Salvador está com um dos maiores aumentos na média do país”, afirma.

Lojas vazias
A reportagem do CORREIO chegou a rodar pela Avenida Joana Angélica, em Nazaré, mas só encontrou lojas cheias de materiais, mas com poucos clientes. Gerente da Multimarcas, Djalma Santos contabiliza perda de 70% da movimentação comparada ao período pré-pandemia. Até mesmo o comércio parou no tempo. A loja tem placas de “Volta às aulas 2019” e anúncio de agenda 2020.

Para o vigilante Reinaldo Teixeira, 50, a movimentação está baixa em razão dos preços. “Na prática está tudo caro, tem que andar para pesquisar e achar um lugar. Andando, achamos até alguns preços mais em conta”, revela.

A pesquisa em pontos comerciais também é a estratégia da bargirl Carla Daniele, 39. Ela diz que a escola municipal cuja filha, Manuele Vitória, 13, estuda dá a maioria dos materiais, mas Carla prefere comprar itens de estojo e caderno personalizados. “Como só tenho ela, levo em conta o gosto dela, que é mais complicado porque ela gosta do que é caro. Eu queria gastar no máximo R$ 150 mas R$ 100 já ficou no caminho só com caneta, borracha, régua e corretivo”, lista.

A esperança dos lojistas é que a clientela chegue após o Carnaval e faça as compras de última hora. “É quando todo mundo chega de vez, é até difícil de atender. São uns cinco dias de movimento e depois para. Não tem explicação, é comportamental”, explica o gerente Lucas Garcia, da Casa Monteiro. Preparado, o gerente diz que já fez compra de folhas e derivados para abastecer o estoque.

Outras estratégias para economizar
Além da pesquisa de preços em lojas físicas, educadores financeiros indicam reciclar, negociar e se programar como estratégia de economia na hora de comprar os materiais escolares. O educador financeiro Raphael Carneiro ressalta a importância de avaliar se alguns itens que foram comprados para o ano anterior não podem ser utilizados novamente, como estojos, lápis e borrachas. Outra opção é tentar descontos a partir do pagamento à vista e fazer compras entre novembro e dezembro, não em janeiro.

Para o educador, dividir as compras ao longo do ano ajuda a aliviar o bolso. “Nem todos os itens serão utilizados logo no começo do ano. Então, quando for possível, deixe algumas destas compras para o segundo trimestre, quando os preços já estarão mais baixos”, orienta.

O economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-Ba), Edval Landulfo acrescenta a possibilidade de comprar livros usados, inclusive, através de grupos de pais para compra coletiva. “ Ótima dica para economizar e ensinar as crianças sobre reaproveitamento”, sugere.

Procon fiscaliza escolas e lojas de materiais escolares; multa pode chegar a R$ 4 milhões

Com o retorno das aulas na Bahia, a Superintendência de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-BA) realizou a primeira "Operação Volta às Aulas". O objetivo é fiscalizar o comércio em livrarias e papelarias, além de verificar os reajustes das mensalidades escolares.

Em caso de irregularidade, a loja ou escola pode pagar multa que varia de R$ 600 a R$ 4 milhões, conforme o porte da instituição e dano causado, esclarece o superintendente do Procon-BA, Tiago Venâncio.

“É importante verificar se a validade está vencida porque tem criança que usa tinta, massinha, materiais que precisam monitorar qualidade para não prejudicar a saúde”, alerta.

A operação conta com monitoramento de preços, qualidade dos produtos, prazo de validade e suspeita de abuso em ofertas de livrarias e papelaria. Nas escolas, a entidade elaborou nota junto ao Ministério Público para normatizar a lista de materiais escolares. “Materiais de limpeza, uso coletivo ou para administração da escola não devem fazer parte da lista de materiais escolares. Devem fazer parte da lista os de uso individual e restrito do próprio aluno para desenvolvimento de atividades pedagógicas”, afirma.

Para não haver dúvidas da utilidade dos materiais, Tiago salienta que, junto com a lista, a escola precisa enviar plano de ação que justifique o uso de cada item solicitado na tabela. Em caso de não recebimento, os pais devem solicitar à instituição de ensino. Para denúncias, basta ir até unidade de atendimento do Procon ou pelo aplicativo PROCON BA Mobile.

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