Mais da metade (51,6%) da população da Bahia sobrevive com menos de R$665,02 por mês. Com o dinheiro, dá para comprar apenas uma cesta básica, que custa atualmente R$585 na capital, de acordo com o Departamento de Estudos Econômicos (Dieese). Em números absolutos, são 7,4 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza no estado, o que coloca a Bahia no oitavo lugar no ranking nacional de pessoas pobres. Os dados são de um estudo realizado pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), vinculado ao Governo do Espírito Santo.

Para a pesquisa, o instituto utilizou informações de 2021 e 2022 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de de Geografia e Estatística (IBGE). Os critérios de definição de pobreza e extrema pobreza são os mesmos utilizados pelo Banco Mundial. As taxas são de US$6,85 e US$2,15 per capita/dia, respectivamente. Na prática, são consideradas pessoas pobres as que recebem até R$665,02 mensais e, extremamente pobres, R$208,73.

Entre os milhares de afetados pelo drama socioeconômico está Alfeu Ferreira, de 58 anos. Todos os dias, ele pega duas conduções do bairro onde mora, Bom Juá, até a região do Farol da Barra. Sob a sombra de uma árvore, o homem pede doações de quem caminha e já se tornou figura conhecida entre os moradores do bairro.

Com parte da perna esquerda amputada e a outra comprometida pelo avanço da diabetes, Alfeu Ferreira não trabalha com carteira assinada desde o final da década de 90, quando era funcionário terceirizado da Universidade Federal da Bahia (Ufba). O baiano conta que teve o Benefício de Prestação Continuada, que lhe garantia um salário mínimo, cortado há cerca de um ano. Sem o auxílio do governo, depende da sensibilidade de pessoas comuns para sobreviver.

“Eu vivo dessa ajuda que o pessoal me dá. Um passa, ajuda, dá uma moeda ou um biscoito. O problema é que depois do Carnaval, o movimento caiu muito”, conta Alfeu Ferreira, enquanto encara a orla pouco movimentada na tarde de segunda-feira (29). Neste mês, a situação financeira ficou ainda mais delicada por conta das fortes chuvas, que alagaram a região onde ele mora e impossibilitaram que ele transitasse de cadeira de rodas.

Contexto
Para além dos danos à saúde pública, a pandemia da covid-19 intensificou desigualdades econômicas que já eram latentes no território baiano. Em 2021, a pobreza atingiu o maior nível em dez anos, chegando a marca de 8,4 milhões de pessoas (56,6% da população). Já no ano passado, o Auxilio Brasil de R$600 e a expansão de Programas de Transferência Condicionada de Renda (PTCR) serviram de impulso para que 10,4 milhões de brasileiros deixassem a pobreza. Na Bahia, foram 717 mil pessoas.

“A taxa de pobreza em 2021, por reflexos da pandemia, foi a mais elevada dos últimos dez anos. Já em 2022, um ano eleitoral, o governo tinha interesse em implementar o Auxílio Brasil, que contribuiu para a redução da pobreza no país”, explica Pablo Lira, diretor-presidente do IJSN.

Mesmo assim, o número de pessoas em extrema pobreza na Bahia é o sexto maior do país. São mais de 1,8 milhão de pessoas sobrevivendo com menos de R$208,73 por mês. Neste mês, a Bahia foi o segundo estado com o maior número de famílias assistidas pelo programa Bolsa Família do Governo Federal, ficando atrás apenas de São Paulo. São mais de 2,5 milhões de beneficiários que recebem R$658,00 em média. Apesar de importante, a transferência de renda sem políticas públicas integradas, não garante que as pessoas deixem a pobreza.

“Os dados indicam que a pobreza não é solucionada apenas com Programas de Transferência Continuada de Renda. Essa ação é fundamental, mas para virar a página, é importante que elas sejam combinadas com políticas de assistência social, acesso ao primeiro emprego, habitação e geração de renda”, aponta Pablo Lira.

No final de março, foi lançado o Programa Estadual de Combate à Fome do Governo do Estado da Bahia, que tem como meta promover a segurança alimentar e nutricional da Bahia. As ações são pautadas no estímulo à produção de alimentos saudáveis e doações. Até agora, 350 toneladas de alimentos foram doadas.

Regiões Nordeste e Norte têm os piores índices
Os 16 estados das regiões Nordeste e Norte são os primeiros do ranking de pobreza no país, o que reforça o caráter desigual das regiões brasileiras. Entre os primeiros estão Maranhão (58%), Amazonas (56,7%) e Alagoas (56,2%). O Rio de Janeiro, que possui 29% da população abaixo da linha da pobreza, é o que possui a pior taxa de pobreza entre as unidades federativas das outras regiões do Brasil.

Assim como as diferenças existem fora do Estado, elas também são percebidas dentro da Bahia. Apesar de o levantamento do Instituto Jones dos Santos Neves não trazer dados sobre municípios, o Censo mais recente do IBGE, de 2010, apontou quais cidades do estado possuíam mais pessoas com renda mensal de até ⅛ de salário mínimo. São elas: Sítio do Mato, Campo Alegre de Lourdes, Barra, Pilão Arcado e Umburanas. Salvador só aparece em 414º lugar dos 417 municípios.

Mariana Viveiros, supervisora de informações do IBGE, explica que a pobreza é reflexo de outros problemas sociais que dialogam entre si e produzem desigualdades regionais.

“Existem dinâmicas econômicas diferentes e questões históricas que não foram equacionadas. Na área de educação, a taxa de analfabetismo da Bahia era de 12% em 2019, seis vezes maior do que a de Santa Catarina, por exemplo”, pontua.

O baiano Joceval de Jesus, de 39 anos, largou a escola ainda da 5º série para fazer bicos e ajudar no sustento da família. Sem ter completado os estudos básicos, até hoje nunca trabalhou de carteira assinada, o que torna inviável o pagamento de pensão aos dois filhos, de 7 e 4 anos. O pouco dinheiro que consegue levar para casa é o que consegue de motoristas e passageiros nos minutos em que os faróis de trânsito das áreas centrais da cidade ficam vermelhos.

É quando Joceval se aproxima dos carros com uma placa pendurada no pescoço com os dizeres “não sou aposentado e tenho dois filhos para cuidar”. Quando consegue juntar cerca de R$15, no final da tarde, retorna para casa em que mora com a mãe, em Massaranduba. "A vida é sofrida demais, mas o que eu posso fazer? É melhor pedir do que sair roubando, como muitos fazem por aí", desabafa.

Em dez anos, a pobreza extrema pouco mudou no país
Antes da pandemia, o Brasil assistia uma diminuição da pobreza entre seus habitantes. Entre 2017 e 2020, o percentual de pessoas pobres caiu de 35,7% para 32,7%. O tímido recuo no número de brasileiros considerados pobres foi reflexo da diminuição das taxas de juros e inflação, além da geração de empregos, segundo analisa Pablo Lira. Mais de 10,4 milhões de pessoas deixaram a pobreza entre 2021 e 2022.

Os fatores, no entanto, não mudaram a vida de quem enfrenta a extrema pobreza. Em dez anos, o percentual de pessoas extremamente pobres caiu de 7% para 6,4%, em 2022. “No caso da extrema pobreza, são pessoas com nível de vulnerabilidade social muito elevado, que ganham menos de R$200. É essencial que políticas de assistência social sejam integradas e foquem nessa população, o que não vimos acontecer entre 2015 e 2020”, analisa o diretor-presidente do IJSN.

As raízes do problema social estão ancoradas na história do país, como explica o economista Edval Landulfo. “Após a Primeira Guerra Mundial, a sociedade brasileira passou por um processo de embranquecimento, em que foram fornecidas terras e recursos para que famílias europeias crescessem no Sul e Sudeste do país. As aplicações de políticas públicas na última década não foram suficientes para uma queda verdadeira na extrema pobreza”, analisa.

Para o economista, políticas econômicas integradas com ações nas áreas de educação e saúde devem ser tomadas para garantir oportunidades para as pessoas em maior vulnerabilidade. O Governo do Estado foi procurado para comentar os dados do instituto e a posição da Bahia no ranking nacional de pobreza, mas não retornou à reportagem.

Publicado em Bahia

O Brasil bateu o recorde de pessoas em situação de pobreza e de extrema pobreza em 2021. Ao todo, quase uma em cada três pessoas no país, o equivalente a 29,4% da população, estava em situação de pobreza até pelo menos o ano passado e quase uma a cada dez pessoas, 8,4% estava na pobreza extrema.

Os dados fazem parte da pesquisa Síntese de Indicadores Sociais (SIS): uma análise das condições de vida da população brasileira 2022, divulgada hoje (2), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Rio de Janeiro.

Segundo a publicação, o país tinha, até o ano passado, 62,5 milhões de pessoas em situação de pobreza, ou seja, com uma renda diária de menos de US$ 5,5 dólares por dia, e 17,9 milhões em situação de extrema pobreza, com renda diária de menos US$ 1,90 por dia, segundo os critérios do Banco Mundial. Tanto os números absolutos quanto as porcentagens são as maiores desde o início da série histórica, em 2012.

Não apenas os números são recordes como o aumento entre 2020 e 2021, em meio a pandemia de covid-19, também é. Nesse período, o contingente abaixo da linha de pobreza cresceu 22,7%, o que significa mais 11,6 milhões de pessoas nessa situação, e o das pessoas na extrema pobreza aumentou 48,2%, ou mais 5,8 milhões.

As crianças e adolescentes com menos de 14 anos são as maiores vítimas da pobreza. Até o ano passado, 46,2% dessa população estava abaixo da linha da pobreza, o maior percentual da série, iniciada em 2012.

Desigualdade
A pobreza não atinge igualmente a todos os grupos sociais. A publicação mostra que a proporção de pretos e pardos, conforme a definição do IBGE, abaixo da linha de pobreza (37,7%), é praticamente o dobro da proporção de brancos (18,6%). Considerando as regiões do país, o Nordeste (48,7%) e o Norte (44,9%) tinham as maiores proporções de pessoas pobres na sua população.

Em 2021, o rendimento domiciliar por pessoa caiu para R$ 1.353, o menor nível desde 2012. e o Índice de Gini voltou a crescer e chegou a 0,544, segundo maior patamar da série.

O Índice de Gini é um instrumento para medir o grau de concentração de renda, apontando a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. O índice varia de zero a um, sendo que zero representa a situação de igualdade, ou seja, todos têm a mesma renda. Já o um significa o extremo da desigualdade, ou seja, uma só pessoa detém toda a riqueza.

Os 10% da população com os menores rendimentos tiveram a maior redução, perdendo em torno de um terço do rendimento entre 2020 e 2021. O mesmo grupo teve o dobro de perdas das demais classes de rendimento entre 2019 e 2021. No extremo oposto, os 10% mais ricos perderam, entre 2019 e 2021, 11,2% dos rendimentos e, entre 2020 e 2021, 4,5%.

Insegurança alimentar
A pesquisa SIS mostra, ainda, que aumentou a insegurança alimentar no país. Isso acontece quando as pessoas não têm acesso regular e permanente a alimentos em quantidade e qualidade suficiente para sua sobrevivência.

O percentual de domicílios do país em situação de segurança alimentar caiu de 65,1%, em 2004, para 63,3% em 2018 e para 41,3% em 2021. Segundo a publicação, como o principal acesso a alimentos é realizado via mercado, a evolução da renda média e das condições do mercado de trabalho são fatores determinantes para a determinação do nível de segurança alimentar, dado que o ato de se alimentar depende, essencialmente, do poder aquisitivo da pessoa.

Segundo a SIS, a desvalorização do real, a inflação, o aumento do trabalho informal são também fatores que impactaram na segurança alimentar da população durante a pandemia.

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A catadora de materiais recicláveis Lucileide Pereira nunca teve tanta dificuldade para pôr comida na mesa quanto nos quatro últimos meses. Moradora de um barraco na comunidade de Vila Vitória, em Fazenda Grande IV, tem utilizado álcool, galhos e até lixo, como restos de resíduos plásticos, para acender a lenha onde cozinha, do lado de fora da sua residência. Isso porque não tem mais dinheiro para custear o gás de cozinha.

O mais recente dos sucessivos aumentos no preço do GLP gerou um valor médio do botijão em Salvador e Região Metropolitana de R$ 122, de acordo com o Sindicato dos Revendedores de Gás. Na Bahia, o preço flutua e, em média, custa R$ 127.

No mesmo período, cresceu a quantidade de acidentes com queimaduras. De acordo com a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), o número de queimados aumentou 18,75% na Bahia no primeiro trimestre de 2022 comparado ao mesmo período do ano anterior.

Enquanto em 2021 a quantidade de queimaduras registradas nos três primeiros meses do ano foi de 384, em 2022, o número saltou para 456. As queimaduras não são lesões de notificação obrigatória nos hospitais públicos da Bahia. Ainda de acordo com a secretaria, até março deste ano, 198 pessoas foram internadas no estado por conta de queimaduras.

Embora a Sesab não tenha informado as causas, um estudo publicado pela Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) aponta a relação direta entre a incidência das queimaduras por líquidos inflamáveis, especialmente o álcool, e o preço do gás liquefeito de petróleo.

José Adorno, cirurgião plástico e presidente da associação, explica que a substituição do gás por essas substâncias é a responsável por grande parte dos acidentes domésticos, especialmente durante a pandemia. A flexibilização da venda da substância pela Anvisa e, consequentemente, o uso indiscriminado do álcool, apenas intensificaram a quantidade de casos.

"Em levantamento que fizemos de março e setembro de 2020, em publicação que será ainda lançada, verificamos que tivemos cerca 700 internações motivadas por álcool em todo o Brasil, e mais de metade dos casos foram acidentes domésticos. Então, a correlação de casos de queimadura acontece tanto com o uso maior do álcool, quanto com o aumento dos preços do gás", esclarece Adorno.

A SBQ foi fundada em 1995 e é uma entidade associativa que reúne multiprofissionais, e que promove campanhas de prevenção de acidentes.

Em 2017, também foi lançada pela SBQ uma pesquisa que aponta que, com o aumento do preço do GLP, também houve um aumento de mais de 366% das queimaduras por álcool entre janeiro e novembro de 2017, em comparação ao mesmo período de 2016. O sexo feminino predomina entre as vítimas, e a faixa etária mais acometida é a dos adultos entre 18 e 59 anos. Nesse público, se encaixa não só Lucineide, como Jucelina e Jorgina, suas irmãs.

Em comum entre as três, além dos pais, está o fato de que lidam, todos os dias, com os riscos de queimaduras na cozinha. Jucelina, que usa álcool, carvão e lenha para cozinhar, já se queimou tantas vezes que não consegue contar.

“Minhas vistas doem muito, e sempre me queimo, mas não chegou a ser grave ao ponto de precisar de hospital”, diz.

Desempregada, está em busca de um emprego como faxineira, mas até trabalhos autônomos não estão fáceis de encontrar, explica.

Jorgina Pereira, por sua vez, não chegou a sofrer danos físicos, mas sua casa já. O teto do imóvel, onde mora com quatro crianças, pegou fogo. Embora ninguém tenha ficado ferido, ela não teve condições de deixar de cozinhar de formas alternativas. “É muito perigoso, mas às vezes tenho que usar para não deixar de cozinhar”, diz.

Ela ressalta, no entanto, que só largou o gás há dois meses, quando passou a cozinhar na lenha, com carvão e álcool. Irmã mais velha das três, Jorgina também atua como catadora de materiais recicláveis. “Com esse tempo chuvoso, ganho ainda menos, de R$ 15 a R$ 20 no dia, e vivo da renda do Bolsa Família [Auxílio Brasil]. Com o auxílio, às vezes, não consigo comprar o gás, embora já me ajude muito”, relata.

O mesmo acontece com Lucileide, que tem dois filhos, de 9 e 11 anos. Utiliza um facão para cortar a lenha, que encontra em matos próximos de casa. Para acender o fogo, usa desde sacos plásticos até garrafas de água sanitária. Quando o fogo acende, coloca uma panela em cima, para que ele se mantenha. E guarda as comidas todas na geladeira, rezando para que não chova de novo. Assim tem vivido há quatro meses, quando as dificuldades se intensificaram.

"Quando consigo um trabalho, é para comprar alimentação para casa, um feijão, um arroz, que agora tá até caro demais. Pior é quando chove, que preciso deixar estiar para fazer alguma coisa, já que a lenha fica molhada, e aí nem consigo acender o fogo", lamenta.

Política de preços internacional
O aumento do preço do gás de cozinha está diretamente ligado ao acréscimo de preço do barril de petróleo na cotação internacional, como explica o economista e integrante do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA), Alex Gama.

Tanto a Petrobras, como a Acelen, empresa privada que controla a Refinaria de Mataripe desde dezembro de 2021, utilizam a política de Preço de Paridade Internacional (PPI). Esse formato considera o preço dos combustíveis praticado no mercado externo.

"A política das empresas é que haja um reajuste toda vez que ocorra desvalorização do câmbio e aumento do preço do barril. O preço do gás de cozinha, em cerca de R$ 120, representa quase 10% do salário mínimo, o que pesa bastante na cesta de consumo das famílias", diz o economista.

Para Gama, a principal causa do aumento do preço do petróleo no exterior ainda é a guerra entre Rússia e Ucrânia, que reduziu a oferta do gás no mercado europeu. O confronto já se desenrola há mais de 100 dias.

O aumento dos preços, no entanto, é anterior à pandemia. Em março de 2020, o preço do botijão de gás na Bahia custava cerca de R$ 65, de acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Em novembro do ano passado, o produto já era encontrado por R$ 95 no estado.

"Antes da pandemia, o gás de 13 quilos custava aproximadamente 5,8% do salário mínimo. Após a pandemia passou para 7,3% do salário. Hoje essa relação já passa de 8%. Em resumo: o baiano está tendo que se virar nos trinta para comprar", diz o também economista Cleiton Silva.

A desvalorização que a moeda brasileira sofre desde 2020 também explica os aumentos progressivos de preço.

Há formas alternativas e seguras de cozinhar?
De acordo com o major bombeiro militar Leandro Vialto, é possível cozinhar de forma segura sem a utilização de substâncias inflamáveis, desde que sejam usados equipamentos especificamente desenvolvidos para a tarefa, como panela, fornos e fritadeiras elétricas, fogão e forno à lenha ou churrasqueira.

"Líquidos inflamáveis são muito voláteis, o que significa, a grosso modo, que geram uma nuvem inflamável ao seu redor. No momento de tentar acender o fogo, há o risco de ter uma explosão dessa nuvem, gerando queimaduras e até mesmo espalhando o combustível em lugares que não se pretendia, começando, assim, um incêndio", explica.

Em casos como esses, Vialto reforça que, se as chamas de fato se espalharem no caso do uso de um combustível líquido, a chance de apagar só existe se a quantidade de combustível for pequena. O tamanho de um copo, por exemplo. Para isso, a pessoa deve jogar bastante água de forma pulverizada. Se a ação não estiver resolvendo, o recomendado é evacuar o local e ligar para o telefone 193.

Ele também ressalta as situações em que nunca se deve jogar água. É o caso de uma panela em óleo conversível, como óleo de soja, por exemplo. "A água vira vapor ao entrar em contato com o óleo e empurra o óleo para o alto, formando uma nuvem combustível que pega fogo rapidamente e com muita energia, causando um incêndio e grandes queimaduras na pessoa que tentou jogar a água", alerta.

Por isso, o recomendado é simplesmente apagar o fogão abaixo da panela e tampá-la, ou utilizar um pano de algodão molhado para cobrir. Sem o contato com o oxigênio, o fogo apaga. A panela deve ser destampada apenas depois de 10 minutos.

Como proceder em casos de ferimentos
A médica dermatologista Camila Ribeiro chama atenção para que as vítimas de queimaduras não apelem para cuidados caseiros, especialmente se a lesão for de segundo grau. Diferentemente das lesões de primeiro grau, as de segundo contém o aparecimento de bolhas no local. "As pessoas às vezes colocam manteiga, pó de café, clara de ovo, o que não deve ser feito", aponta.

A recomendação é resfriar o local machucado com água corrente fria ou um pano limpo úmido. O uso de gelo deve ser evitado porque tem efeito de queimadura. "Em todos os casos de queimaduras mais profundas, em que haja formação de bolhas, acometimento extenso ou de áreas sensíveis, o paciente deve sempre procurar o pronto atendimento", indica a médica. As bolhas nunca devem ser estouradas em casa porque há risco de infecção.

As queimaduras são divididas em três tipos. Nas de primeiro grau, menos graves, não ocorre o aparecimento de bolhas, pois apenas a camada mais superficial da pele é atingida. No caso das medianas, de segundo grau, além de afetar a epiderme, parte da derme é acometida, por isso são mais profundas. As mais graves, de terceiro grau, prejudicam músculos e ossos.

"A queimadura de terceiro grau é gravíssima, geralmente o paciente interna, vai para a UTI, e há chances de óbito. Elas não são tão frequentes e costumam precisar de cirurgia", explica Camila Ribeiro.

Procurada, a Sesab informou que qualquer Unidade de Pronto Atendimento pode fazer o atendimento inicial. Se o caso for mais grave, o paciente é encaminhado para o Hospital Geral do Estado (HGE), referência nesse tipo de tratamento.

Auxílio Gás
Há ainda a possibilidade da inscrição no programa Auxílio Gás, promovido pelo Governo Federal, que paga um valor equivalente a 50% do valor médio do botijão de 13 kg. A Caixa Econômica Federal pagará o benefício em conjunto com o Auxílio Brasil, entre os dias 17 e 30 de junho. O Ministério da Cidadania ainda não informou quanto cada família receberá neste mês.

São elegíveis ao Programa Auxílio Gás dos Brasileiros todas as famílias inscritas no CadÚnico, com renda familiar mensal menor ou igual a meio salário-mínimo por pessoa, inclusive as famílias que recebem benefícios de programas do governo. Além disso, podem requerer famílias que tenham alguma pessoa que mora na mesma casa, que recebe o Benefício de Prestação Continuada (BPC) da assistência social, inscritas ou não no CadÚnico.

Grupos familiares com mulheres vítimas de violência doméstica que estejam sob o monitoramento de medidas protetivas de urgência terão preferência na concessão do benefício.

Para receber o auxílio, é necessário fazer um registro no aplicativo Caixa Tem, por onde é realizado o repasse do benefício. Ainda é possível movimentar e utilizar o auxílio para realizar pagamentos de contas e compras com os benefícios do governo, com um cartão de débito virtual.

Caso tenha dúvidas em relação a ter direito ou não ao benefício, entre em contato com o Canal de Atendimento ao Cidadão, através do número 111.

Publicado em Bahia

O número de famílias beneficiadas pelo Auxílio Brasil subiu de 227 mil para 237 mil, em Salvador. Serão 10 mil novos cadastros até o final de março. O programa do governo federal substituiu o Bolsa Família e oferece, em média, R$ 400 para quem vive em situação de vulnerabilidade social. A prefeitura estima que existe 700 mil vivendo nessas condições.

Na prática, o aumento do número de beneficiados denuncia o crescimento da pobreza na cidade. O prefeito Bruno Reis (DEM) contou que a pandemia aprofundou as desigualdades sociais em Salvador e que é preciso encontrar alternativas para gerar emprego. Nesta segunda-feira (7), ele assinou um acordo de cooperação com o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte para o desenvolvimento de parcerias.

“Estamos falando de algo entorno de 700 mil pessoas na cidade, que corresponde a quase um terço da nossa população, que estão sem situação de pobreza ou de extrema pobreza. A situação agravou muito por conta da pandemia. Nós nunca tivemos números tão altos como agora”, contou.

Segundo dados da prefeitura, são 217 mil pessoas vivendo em extrema pobreza, ou seja, com renda mensal de até R$ 100. E mais 20 mil estão sem situação de pobreza, com renda de até R$ 200 por mês. Outras 16 mil famílias aguardam a resolução de trâmites burocráticos para serem inseridas no Auxílio Brasil. A vice-prefeita e secretária de Governo, Ana Paula Matos (PDT), contou que esse é o maior número de beneficiários da história do programa em Salvador.

“Quem concede esse benefício é o Governo Federal, mas nós temos o trabalho fundamental de ir de porta em porta descentralizando nosso CadÚnico para poder ter acesso às pessoas. Precisamos garantir que o contrato estivesse atualizado, que as informações estivessem corretas, ampliamos as equipes e o número de unidades que oferecem esse atendimento para garantir que todos sejam atendidos”, afirmou.

Ela acredita que o acordo firmado com o Departamento de Comércio do Reino Unido e a criação de um escritório internacional na prefeitura vão ajudar a atrair mais investimentos e gerar oportunidades de emprego em Salvador.

A crise econômica, agravada pela pandemia do novo coronavírus, que deixou milhões de trabalhadores e trabalhadoras desempregados e informais sem renda, aliada a falta de políticas públicas efetivas e propostas concretas para aquecer a economia e gerar emprego, aumentou a desigualdade de renda, derrubou o rendimento médio do trabalho e deixou os brasileiros mais infelizes.

Estudo de Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV Social), publicado no jornal Valor Econômico, comprova que os brasileiros estão mais tristes, estressados e com mais raíva.

Uma medida geral de felicidade obtida a partir do levantamento da Gallup World Poll mostra que, numa escala de 0 a 10, a satisfação do brasileiro ficou em 6,1 no ano passado, uma queda de 0,4 ponto percentual ante 2019, atingindo o menor ponto da série histórica.

A média de 40 países aponta que a percepção de felicidade ficou estagnada de 2019 a 2020: de 6,02 para 6,04. A pesquisa inclui nações como Áustria, China e Zimbábue.

Os mais infelizes, claro, são os mais pobres que mais estão sofrendo as consequências do agravamento da crise econômica e da falta de políticas efetivas do governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) para ajudar os mais vulneráveis, gerar emprego e renda, vacinas toda população para a economia voltar a crescer. E para piorar, em setembro do ano passado, Bolsonaro reduziu o valor do auxílio emerencial aprovado pelo Congresso Nacional de R$ 600 para 300. Este ano, depois de três meses sem pagar o benefício, reduziu mais ainda e passou a pagar entrre R$ 150 e R$ 375 reais e ainda para apenas metade as pessoas que receberam em 2020.

Neste cenário, o estudo da FGV mostra que a queda geral da satisfação foi puxada pelos 40% mais pobres e o grupo intermediário, entre os 40% a 60% mais pobres. Já nas duas camadas acima, a avaliação ficou praticamente igual de um ano a outro.

“A nota média de felicidade dos 40% mais pobres fica em outro patamar (5,5) em relação aos grupos de renda mais alta, todos acima de 6, chegando a 6,9 nos 20% mais ricos. A diferença entre os extremos era de 7,9% em 2019 e sobe para 25,5% na pandemia”, disse Neri ao jornal, destacando que o dado é consistente com a disparidade no mercado de trabalho.

Brasileiros estão mais preocupados, com mais raiva, estresse e tristeza

O agravamento da crise gerou ainda uma onda de emoções negativas entre os brasileiros, relatava a reporetagem. Também de 2019 a 2020, aumentou de 56% para 62% a fatia de brasileiros que disseram estar preocupados, enquanto a média de 40 países aumentou só 2,4 ponto, de 38,5% para 40,9%.

Os brasileiros disseram ter sentido mais raiva (24%), estresse (47%) e tristeza (31%).

Desigualdade

Ainda segundo a reportagem, a renda média per capita recuou pela primeira vez abaixo de R$ 1 mil mensais, para R$ 995 no primeiro trimestre de 2021, ainda segundo o estudo. O dado caiu 11,3% ante um ano antes, quando estava em R$ 1.122, o maior nível da série iniciada em 2012.

O estudo da FGV Social considera a renda efetivamente recebida do trabalho dividida pelos integrantes da família, e usa os microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Já a renda do trabalho na população em idade ativa, considerando os desocupados, caiu 10,89% entre os primeiros trimestres do ano passado e deste ano. Entre a fatia dos 50% mais pobres, o recuo foi o dobro, de 20,81%. Para a população em geral, a queda na taxa de participação no mercado de trabalho respondeu por mais de 80% do recuo na renda. Já entre os mais pobres, o aumento da taxa de desemprego teve peso maior.

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Quatro em cada dez moradores da Bahia (40,4% da população) estavam abaixo da linha da pobreza em 2019, segundo a Síntese de Indicadores Sociais (SIS) 2020, divulgada nesta quinta-feira (12) pelo IBGE. Pouco mais de 1 em cada 10 (12,5%) estavam abaixo da linha da extrema pobreza. Com isso, a Bahia tem o segundo maior número absoluto de pobres do país (6,006 milhões) e o maior número de extremamente pobres (1,853 milhão).

Houve uma leve melhora no índice de pessoas abaixo da linha da pobreza em relação a 2018, a segunda seguida. Em um ano, o número de pobres na Bahia caiu 5,3% e em Salvador 4,1%. O ano com menor patamar de pobreza tanto no estado quanto na capital foi 2014 - 37,5% da população do estado e 13,6% em Salvador.

A linha para considerar a pobreza monetária é de US$ 5,50 por dia em paridade de poder de compra (PPC). O IBGE utiliza esse critério definido pelo Banco Mundial para países de renda média, já que o Brasil não tem uma linha oficial para a classificação.

Em 2019, essa linha de pobreza correspondia a rendimento médio domiciliar per capita de R$ 428 em Salvador e na Bahia. Mais de 6 milhões de baianos viviam com menos do que isso, incluindo 611 mil soteropolitanos - 21,3% da população da capital.

Em todo Brasil, em 2019, 51,7 milhões de pessoas viviam abaixo da linha de pobreza (R$ 436), 24,7% da população.

Extrema pobreza
A extrema pobreza teve um leve recuo também no estado, mas um pequeno aumento em Salvador, indica o estudo. Para essa classificação, é considerado o valor de US$ 1,90 diário per capita em PPC. Isso equivalia, aqui, em 2019, a uma renda domiciliar per capita média de R$ 148.

No ano passado, 1,853 milhõs de pessoas viviam com menos que isso na Bahia em 2019, o que significa 12,5% da população. A redução foi de 3,2% em relação a 2018. Mesmo assim, a Bahia continuou com o maior número de extremante pobres do país, posto que ocupa desde ao início da série histórica, em 2012.

A proporção de pessoas abaixo da linha de extrema pobreza na Bahia é praticamente o dobro do nacional. No Brasil como um todo, no ano passado, 6,5% da população (13,7 milhões de pessoas) viviam com renda domiciliar per capita inferior a R$ 151 (valor da linha nacional).

Em Salvador, o número de pessoas extremamente pobres teve aumento de 12,9%, passando de 124 mil para 140 mil. Com isso, Salvador subiu no ranking da pobreza extrema entre capitais, passando da 5ª para 4ª em números absolutos e da 14ª à 9ª em proporção de extremamente pobres na população (4,9). A lista proporcional é liderada por Boa Vista (8,6%), Manaus (8,3%) e Rio Branco (8%).

Saneamento, educação e internet
O IBGE aponta que a Bahia, em geral, tem maiores proporções da população morando em locais com algum tipo de restrição a acesso a serviços que contribuem para melhora de vida, comparando com o Brasil como um todo. Entre os que estão abaixo da linha de pobreza, as restrições aumentam.

A restrição mais frequente para toda população baiana é no acesso simultâneo aos três serviços de saneamento (rede de água, esgoto e coleta de lixo), que atinge quase metade da população total (47,3%). Entre os pobres, a proporção dos que não têm acesso ao saneamento sobe para 63%.

A segunda restrição mais frequente é o acesso à educação, que em todo estado atinge 33,3% e entre os pobres chega a 36,4%.

A terceira restrição mais comum é o acesso à internet, que afeta 22,5% do povo baiano. Para as pessoas abaixo da linha de pobreza, 29,5% viviam em 2019 em domicílios sem nenhum tipo de acesso à rede.

Moradia inadequada
Os dados apontam também que em 2019 22,5% da população baiana e 15,8% da soteropolitana viviam em domicílios com pelo menos uma inadequação.

Os casos mais frequentes são de ausência de documentação de comprovação da propriedade do imóvel (13,8% dos baianos e 7,4% dos soteropotalianos).

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