A Doença de Haff, conhecida popularmente como “doença da urina preta”, acomete 55% das pessoas que consomem peixes contaminados pela toxina que origina essa enfermidade. Essa foi a principal conclusão de um artigo publicado pela Secretaria Municipal da Saúde de Salvador (SMS), em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), na revista Lancet, uma das mais renomadas no mundo científico.

Para chegar a esta conclusão, o estudo analisou quantas pessoas das que consumiram o mesmo pescado tiveram os sintomas da doença. “Do ponto de vista da epidemiologia, buscamos entender quantas pessoas consumiram o mesmo peixe e desenvolveram a doença, com a identificação do aumento da enzima CPK. Poucos artigos trazem essa informação”, explica a epidemiologista Cristiane Cardoso, coordenadora do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) de Salvador, ligado à SMS.

A alteração na enzima CPK (creatinofosfoquinase) é o principal sintoma da doença de Haff. Ela é uma proteína presente nos músculos e outros lugares do corpo, como cérebro, pulmão e coração. O nível considerado normal é em torno de 200 U/L. No estudo, os pacientes contaminados pela toxina do peixe tiveram taxas de 9 mil U/L e até 132 U/L.

“A doença é caracterizada por uma mialgia e dor intensa, principalmente na área do pescoço, com o nível da CPK elevado. Quando ocorre a lesão, o rim elimina o metabólico muscular, que sai através da urina. Por isso que ela começa a mudar de cor, entre o marrom e o avermelhado, causando uma complicação renal. Alguns pacientes precisam se internar e fazer diálise”, explica a sanitarista Ana Paula Pitanga, diretora do Centro de Operações e Emergência em Saúde Pública (COE), ex-diretora do Cievs.

Segundo Cristiane, essa dor nos músculos é aguda e intensa e começa a aparecer até 24 horas da ingestão do peixe. O tempo médio de aparecimento desse sintoma é de 5 horas e 30 minutos após a refeição.

Toxina nos peixes
Outro pioneirismo do estudo publicado na Lancet foi a identificação da toxina no peixe. Ela foi observada em duas espécies: o olho de boi e o badejo. “Existem poucos artigos publicados sobre a Doença de Haff. No Brasil, não existem estudos que possam identificar essa toxina e a gente conseguiu, com esse trabalho em parceria, encontrar em duas amostras de peixe, que isolamos do surto de 2020”, revela a sanitarista Ana Paula Pitanga.

Além da SMS e Fiocruz, participaram do estudo a Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Ufba), a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), o Centro de Estudos do Mar, da Universidade Federal do Paraná e o Instituto Federal de Santa Catarina.

A suspeita é de que a toxina esteja em algas marinhas ingeridas pelos peixes e que são passadas para os humanos através da alimentação. “Os peixes, ao consumirem as algas, acumulam a toxina na cadeia trófica. Como ela é termoestável, ou seja, mesmo ao fritar e cozinhar o peixe, ela não se decompõe, e contamina os humanos pela ingestão”, esclarece Cristiane Cardoso.

Doença tem segundo surto em cinco anos
Entre 2016 e 2017, no primeiro surto da doença, 65 casos foram investigados, em Salvador, e 88% destes pacientes foram internados. Entre 2017 e 2019, 12 ocorrências foram registradas. Já entre 2020 e 2021, um novo surto ocorreu na cidade, de setembro a janeiro de 2021 - surgiram 21 casos suspeitos e 16 confirmados.

O estudo da SMS publicado no Lancet analisou somente o período de dezembro de 2016 a janeiro de 2021, a partir do acompanhamento dos casos suspeitos e testagem de amostras de peixes. A partir de abril deste ano, novos casos surgiram: dos 14 investigados, nove foram confirmados.

Na Bahia, 22 pessoas estavam com suspeita da doença de Haff, neste ano. Desses, apenas 18 foram confirmadas. O município com mais casos é a capital baiana, seguido de Alagoinhas, Maraú, Simões Filho, Mata de São João e São Francisco do Conde. Os dados são da Sesab, do último boletim, de 26 de outubro. A pasta informou que eram as informações mais atuais, mas, por ser feriado, se houvesse novos casos, eles poderiam ser atualizados somente a partir da terça-feira (16).

De acordo com a secretaria, a faixa etária mais acometida são as pessoas de 35 a 49 anos (38,9%). A maior parte dos contaminados é homem (66,7%). Em 2020, 45 casos foram notificados, sendo 40 confirmados. Já entre 2016 e 2017, foram 71 notificados. Em 2018 e 2019, não houve registro de contaminação.

Apesar do aumento de casos em 2021, Cristiane e Ana Paula advertem: a doença é rara e não deve ser motivo de preocupação. “Ela raramente leva à morte e não há perigo nos sintomas. Mas, é preciso que o tratamento seja cuidadoso quando houver qualquer suspeita, até para evitar o uso de anti-inflamatório, porque pode causar alguma gravidade, do ponto de vista renal. Tirando isso, a evolução é boa e os sintomas duram em torno de três a cinco dias”, tranquiliza Cristiane. Ainda não há tratamento específico.

Quem tiver os sintomas da doença de Haff deve notificar à SMS através do site do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs). Neste link, você encontra um formulário a ser preenchido, para relatar a situação e sintomas às autoridades.

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Cinco anos após o início do surto de casos da doença de Haff na Bahia, ainda não se sabe o que a provoca. Há quem diga que a também conhecida como doença da urina preta seja provocada pelo consumo de peixe ou somente pelo peixe olho de boi. Mas não é bem por aí. Segundo especialistas, não há comprovação científica de que a doença seja associada a um tipo específico de pescado e todos eles estão sob suspeita, incluindo alimentos como camarão, lagosta e lagostim.

A nefrologista Carolina Neves, médica do Hospital Cárdio Pulmonar e membro da Sociedade Brasileira de Nefrologia Regional Bahia, afirma que é prematuro descartar qualquer tipo de suspeita. “A gente imagina que a doença seja provocada por uma toxina presente em crustáceos e peixes que é resistente ao calor. Então não adianta cozinhar ou assar o alimento porque, na maioria dos casos registrados, não foram alimentos crus. E também tivemos casos tanto em peixes de criadouros quanto em peixes frescos”, coloca.

Carolina também afirma que casos já foram registrados em diversos países e que ainda não há definição do que a provoca.

“A literatura científica diz que esses surtos da doença de Haff já foram registrados em várias partes do mundo, como Estados Unidos, Espanha e China. Mas, infelizmente, a gente ainda não conseguiu identificar que toxina é essa”, acrescenta.

A Bahia já possui 18 casos confirmados da doença. Os números foram atualizados com a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) na terça-feira (2). Os municípios de residência dos casos notificados são: Alagoinhas (5), Salvador (13), Maraú (1), Simões Filho (1), Mata de São João (1) e São Francisco do Conde (1). No ano passado, foram notificados 45 casos e confirmados 40, nos municípios de Salvador, Feira de Santana, Camaçari, Entre Rios, Dias D’Ávila e Candiba.

No total, são 22 casos notificados e quatro descartados. Os registros estão na faixa etária de 20 a 79 anos. A faixa mais acometida é de 35-49 anos com sete casos, seguida de 20-34 anos com cinco, de 50-64 anos com quatro e 65-79 anos com dois. Cerca de 66% dos contaminados são do sexo masculino.

A doença foi registrada pela primeira vez no início do século XX numa região do Mar Báltico conhecida como Haff. O primeiro relato de um surto no Brasil ocorreu em 2008, no Amazonas. O primeiro surto registrado na Bahia aconteceu entre 2016 e 2017, com 71 casos registrados em Salvador, Vera Cruz, Dias D’Ávila, Camaçari, Feira de Santana e Alcobaça. Somente na capital, foram 66 casos. Do total, duas pessoas contaminadas acabaram morrendo; uma residente em Salvador e outra em Vera Cruz, na Ilha de Itaparica. Já em 2018 e 2019, não houve notificações da doença relatadas pelas instituições de saúde.

A nefrologista Ana Flávia Moura, reforça que ainda não há definição sobre que tipo de pescado pode provocar a doença. “Até o momento, não sabemos que tipo de pescado provoca a doença de Haff. Temos coincidência de pessoas que desenvolveram a doença e consumiram um mesmo tipo de peixe, mas ainda sem comprovação de que o risco venha de só um tipo. Inclusive, camarões, lagostas, lagostins também estão sob suspeita”, destaca.

Segundo Ana Flávia, a recomendação é de que se tenha cuidado com o consumo de qualquer tipo de pescado, seja na forma crua, assada, frita ou cozida.

“O ideal é que seja um consumo em estabelecimentos confiáveis, que cumpram as recomendações das instituições sanitárias. E se a pessoa for comprar o pescado para cozinhar, que seja também em pontos comerciais de boa procedência, com atenção para a aparência, cheiro e a validade do produto”, alerta.

O comerciante Marcos dos Santos, que vende peixes e outros frutos do mar na barraca Marcos Pescados, em Lauro de Freitas, diz que as pessoas ficaram assustadas com o surto da doença em 2016 e 2017, mas que, desde o ano passado, com o novo surto, não notou ainda queda significativa nas vendas por conta disso.

“Em 2016 e 2017, a gente sentiu a queda de quase todos os tipos de pescado, as pessoas ficaram com medo mesmo. As vendas caíram entre 60% e 70%. Agora, com esses novos casos do ano passado para cá, o pessoal não deixou de comprar não. Mas a gente fica preocupado, eu busco ver a procedência dos lugares onde eu compro, a qualidade dos produtos e sempre os pescados novos”, diz o comerciante.

A Sesab informou que não há orientação para que a população evite o consumo de pescados. A recomendação é de que a população se certifique da qualidade do estabelecimento em que está consumindo ou comprando o pescado. Quem apresentar os sintomas da doença nas 24 horas após a ingestão de qualquer tipo de pescado deve procurar atendimento médico. Não é indicado o uso de antiinflamatórios, medicamentos que podem potencializar as lesões renais causadas pela doença. A Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS) não respondeu ao contato até o fechamento da reportagem.

A Bahia Pesca disse, em nota, que “acompanha com atenção os casos da doença de Haff que estão acontecendo no território brasileiro. A empresa está em contato constante com a Secretaria de Saúde da Bahia, que têm competência para se manifestar sobre segurança do consumo e, caso haja qualquer novidade, informará aos pescadores os procedimentos a serem adotados”.

Já a Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), divulgou um comunicado em que defende que a “Tilápia e tambaqui criados profissionalmente, em cativeiro e com toda a segurança, não provocam a Síndrome de Haff (Doença da Urina Negra) em seres humanos”. A associação alega que “o pesquisador Roger Crescêncio, da Embrapa Amazônia Ocidental, informa que não há nenhum registro de caso da doença que tenha como origem os peixes de cultivo”.

O que é doença de Haff?

A doença de Haff é uma síndrome que consiste de rabdomiólise (lesão muscular), e se caracteriza por ocorrência súbita de extrema rigidez e dor muscular, dor na região do tórax, falta de ar, dormência e perda de força em todo o corpo e urina escura, associada a elevação da enzima creatinofosfoquinase (CPK), associada a ingestão de crustáceos e, principalmente, pescados.

A família do funcionário público Ademir Clavel foi contaminada no final de julho deste ano. Eles consumiram o peixe olho de boi, também conhecido como Arabaiana e, horas após do almoço, a esposa e o filho de Ademir começaram a sentir fraqueza, dor de cabeça e dor muscular. Vânia ficou cinco dias internada e o filho, Matheus, três dias.

O funcionário público não apresentou caso tão grave, ficou somente um dia internado. “Eu fui caminhar no Dique do Tororó e comecei a sentir um cansaço”. Já a esposa, Vânia, chegou a apresentar urina da cor de café e perdeu os movimentos após seus músculos 'travarem', conseguindo mexer apenas o pescoço. Mesmo após a alta hospitalar, Ademir conta que os efeitos colaterais na família permaneceram por algumas semanas, com os músculos ainda enfraquecidos, dor de cabeça e mal-estar.

A Nefrologista Ana Flávia Moura explica como a doença age no corpo.

“A gente acredita que a doença seja causada por uma toxina encontrada nos pescados e essa substância destrói as células musculares. Quando essas células são destruídas, liberam no sangue uma série de substâncias, sendo algumas delas tóxicas. Então, se essas substâncias tóxicas ficam por muito tempo no organismo, se torna mais difícil evitar as sequelas”, acrescenta.

A nefrologista Carolina Neves afirma que a manifestação dos sintomas depende da quantidade de alimento ingerida. “Quanto maior a quantidade, maior a chance de manifestação de sintomas e mais graves eles podem ser. Tem paciente que não tem quase nada, apenas uma urina escura. Em outros casos, o paciente precisa ser internado. E vale lembrar que a urina escura não aparece em 100% dos casos e, quando aparece, não fica necessariamente preta. Se estiver avermelhada ou alaranjada, lembrando a cor de um tijolo, já é preocupante”.

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O peixe está na mesa dos baianos: na moqueca, no ensopado, frito, grelhado, assado. O problema não é comer, mas saber qual a qualidade, a saúde e a origem do pescado que vai parar na mesa dos baianos. Se o consumidor final não sabe, a má notícia é que as autoridades sanitárias também não.

Uma pesquisa divulgada no último dia 8 pela ONG Oceana mostrou que não existe um monitoramento sobre saúde, qualidade e origem dos pescados na Bahia. Na verdade, essa realidade se reflete em todo o país. O relatório da ONG mostra que 94% dos estoques de pescaria no Brasil têm situação desconhecida.

A falta de informações, por si só, já é um problema grave, de acordo com especialistas, mas se torna ainda mais séria quando a Bahia vê crescer, nos últimos meses, o número de casos de uma doença cujo principal ‘suspeito’ de causá-la é justamente um peixe.

De agosto a 9 de dezembro deste ano, a Bahia voltou a registrar casos da doença de Haff, que provoca rigidez muscular, deixa a urina com cor escura e pode até levar à morte se os sintomas não forem tratados rapidamente. Quase 73% dos casos aconteceu em novembro, mas a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab) ainda está aguardando resultados laboratoriais da análise feita em amostras do peixe olho-de-boi, consumido por 75% das pessoas que tiveram a doença.

Na prática, não se sabe se a toxina associada aos sintomas da doença vem do peixe, do mar ou de outro lugar. “A toxina tem a ver com as algas, quando os peixes se alimentam delas. A gente está rastreando de onde esse peixe vem para fazer a análise se essa toxina tem a ver com as algas, porque o olho-de-boi não come alga, ele se alimenta de outros peixes. E a doença de Haff é associado ao consumo de peixes de água doce. O olho-de-boi é de águas profundas e salgadas”, afirma a diretora de vigilância epidemiológica da Sesab, Márcia São Pedro.

“Quando você não sabe a localidade do pescado, é difícil você associar à sua qualidade. Você não sabe se ele circula em uma área de contaminação urbana ou crônica, se ele veio de uma das praias que sofreram contaminação pelo óleo no ano passado. Nós consumidores não temos como adivinhar. Isso coloca a gente em risco, porque a gente está consumindo um pescado que não sabe de onde veio”, analisa o professor Francisco Kelmo, diretor do Instituto de Biologia (Ibio) da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

Na Bahia, a última estatística sobe pesca no território foi feita em 2006.

No escuro
A falta de informações sobre a situação do que é pescado não é um problema só da Bahia. O relatório da ONG Oceana - com dados nacionais - mostra que 48% das pescarias brasileiras atuam em áreas onde não há qualquer estatística pesqueira. Apenas 23% das pescarias do país são de fato monitoradas e só 25% têm um Mapa de Bordo, documento que contribui para a geração de dados de captura.

O estudo mostra ainda que, dos 118 estoques de pesca avaliados, apenas 3% têm limites de captura e só metade das 44 pescarias possui alguma modalidade de ordenamento, como o período defeso (quando a pesca é proibida pela espécie estar em época reprodutiva), tamanhos mínimos de captura e restrição de área.

Cerca de 10% das pescarias do país não têm qualquer tipo de regramento. Na prática, significa que basta ter uma rede e ir pescar - se o mar tiver peixe. Isso porque, em alguns casos, não se saber sequer se há mesmo peixe para ser pescado.

“Não sabe se a saúde desse estoque, se tem pouco, se tem muito, se ele pode suportar uma captura maior, se se deve reduzir o nível de mortandade que se está aplicando, é um desconhecimento completo e isso é muito grave. O governo brasileiro autoriza a pesca, mas não faz a menor ideia se vai ter peixe”, alerta o diretor-científico da Oceana, Martin Dias.

Segundo ele, as únicas três espécies com algum tipo de acompanhamento no país são o atum, a lagosta e a tainha, mas nenhum é de fato monitorado pelo governo federal. Como o atum é um peixe que circula em todo o Oceano Atlântico, ele é fiscalizado pela Comissão Internacional para a Conservação do Atum Atlântico (Iccat).

Já a lagosta, a única dos três que anda em mares nordestinos, é umas poucas que se tem notícia - e não é das boas. Ela corre o risco de desaparecer: houve uma redução de 85% de sua biodiversidade desde o início da atividade pesqueira no país, na década de 1950. “A gente tem uma biomassa com reduções de 80% a 85%. Isso é uma situação crítica, ela corre o risco de colapso”, conta Dias.

Um dos principais perigos dessa falta de acompanhamento e fiscalização é uma possível redução da biodiversidade marinha, como aponta Francisco Kelmo. “Essa pesca indiscriminada, não planejada e não supervisionada coloca em risco a biodiversidade marinha. O uso indiscriminado do recurso natural vai levar a uma falta, principalmente às espécies comestíveis”, avalia Kelmo.

Estudo
A partir de janeiro do ano que vem, o laboratório coordenado por Kelmo pretende iniciar um estudo que pode ajudar a compreender como a doença de Haff se manifesta e, afinal, de onde vem a toxina que a provoca. O pesquisador explica que essa toxina pode estar presente tanto no olho-de-boi como no badejo. Ela é resistente ao cozimento e não tem sabor - isso, talvez, explique a razão pela qual a doença se manifestou tanto em quem comeu o peixe in natura quanto congelado.

“A doença se manifesta a partir de uma toxina resistente ao cozimento, ela não se desnatura com uma temperatura elevada e não tem sabor, o que faz com que o consumidor não saiba se está ingerindo o peixe com a toxina”, afirma.

A equipe coordenada por Kelmo quer saber, agora, como a toxina chega ao peixe. Para ele, existem duas possibilidades. “Ou ele come alguma coisa que já possui a toxina e a toxina passa para o corpo dele, ou ele come algo que estimula a produção da toxina no corpo. O que se sabe é que a toxina é transmitida na cadeia alimentar”, diz Kelmo. É por isso que conhecer a origem do peixe é tão importante.

Última estatística na Bahia já tem 14 anos
As últimas estatísticas sobre a pesca no território baiano foram feitas há 14 anos, em 2006, pela Bahia Pesca, ligada à Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura (Seagri).

“O Estado brasileiro não faz estatísticas na Bahia desde 2006. De lá para cá, a gente não conhece e não sabe como estão esses estoques. E a estatística pesqueira é o ponto de partida para quase tudo de conhecimento sobre o estoque, porque você consegue avaliar se ele está diminuindo, normalizar, gerenciar e garantir acesso permanente. A gente só vai sentir isso a longo prazo, quando uma espécie entrar em declínio”, explicou o biólogo especializado em ecossistemas costeiros e marinhos Roberto Pantaleão, assessor técnico da Bahia Pesca.

Pescador profissional desde 1976, Pantaleão afirma que a pesca na Bahia é essencialmente artesanal, pelo trabalho manual do pescador. Como as embarcações normalmente são de pequeno e médio porte, a exploração é mais costeira. “Legalmente, você tem que ter permissão para pescar qualquer peixe. Na prática, você tem uma fiscalização bastante ineficiente”.

Uma das soluções apontadas pelo advogado especialista em direito ambiental e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Júlio Rocha, é preservar os ecossistemas marinhos. “Deveria ter um monitoramento ambiental dos ecossistemas, e, ao mesmo tempo, uma lógica de pesca que fosse sustentável”, pontua.

A Secretaria de Aquicultura e Pesca (SAP), ligada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), informou em nota que tem buscado “outros órgãos federais, governos estaduais e municipais, instituições acadêmicas e Institutos de pesquisa - criar uma rede de troca de informações”. A SAP disse que a deficiência de dados sobre o setor não é exclusiva do Brasil.

Atualmente, existem 114.591 pescadores profissionais na Bahia e 1.217 embarcações inscritas. No Brasil, são 28.908 tipos de barcos e 987.650 pescadores.

Tem sintomas da doença de Haff?
A Sesab orienta que, se houver o aparecimento de algum dos sintomas da doença - diarreia, dor de garganta, prurido, tosse, rabdomiólise, dor torácica, na panturrilha e no trapézio, náuseas, urina preta, dor muscular, dor nas articulações, dor de cabeça - 24 horas após a ingestão de peixe, deve-se procurar a unidade de saúde mais próxima. Veja todas as orientações:

- Busque a unidade de saúde mais próxima

- Realize exame para dosagem de creatinofosfoquinase (CPK) e TGO

- Realize coleta de swab nasal para RT-PCR/COVID-19

- Observe a cor da urina (escura) como sinal de alerta e o desenvolvimento de rabdomiólise (degradação do tecido muscular)

- Realize hidratação do paciente imediatamente, durante 48 ou 72 horas

- Não utilize anti-inflamatórios

- Identifique outros indivíduos que possam ter consumido do mesmo peixe ou crustáceo para captação de possíveis novos casos da doença

 

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As notificações de Doença de Haff na Bahia subiram de três, em agosto, para um total de 36 ocorrências até a última semana de novembro. Deste quantitativo, a maioria foi mesmo registrada no mês passado, com 73% dos casos, segundo boletim emitido pela Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab). As cidades com o maior número de registros foram Salvador, com 12 notificações, e Camaçari, com 11. Das 30 vítimas mais recentes, mais de 80% delas relataram ter comido peixe conhecido como “olho de boi”.

Entre esse total de notificações, 30 pessoas tiveram sintomas característicos da doença, como mialgia e urina da cor de café. Ainda entre esses 30, cinco casos permanecem em investigação e um já foi descartado. Entre as vítimas, 53% são homens e 47% são mulheres. A faixa etária com mais infectados é a de 50 a 59 anos, seguida da de 20 a 29 anos. Além de Salvador e Camaçari, também houve ocorrência em Entre Rios (3), Dias D’Ávila (2), Feira de Santana (1) e Candiba (1).

Dos infectados, 30 apresentaram sintomas típicos da doença, entre eles, CPK elevado (uma enzima que atua principalmente nos tecidos musculares, no cérebro e no coração, sendo solicitada a sua dosagem para investigar possíveis danos a esses órgãos). Outros sintomas foram: dor muscular, urina escura (cor de café) e dor em membros superiores e inferiores.

O que é?
A doença de Haff é uma síndrome de rabdomiólise (ruptura de células musculares) sem explicação, e tem como sintomas ocorrência súbita de extrema dor e rigidez muscular, dor torácica, falta de ar, dormência e perda de força em todo o corpo, além da urina cor de café, associada a elevação sérica da enzima CPK, ligada à ingestão de pescados. A doença pode evoluir rapidamente com insuficiência renal e, se não for tratada, pode levar à morte.

A enfermidade pode afetar o rim pois a enzima CPK sai da fibra muscular entrando na corrente sanguínea, explica a diretora da Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, Márcia São Pedro. Ao aparecerem os sintomas, é preciso ir para a unidade de saúde para que o paciente possa ser hidratado nas primeiras 48h a 72h.

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Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) confirmou nesta quinta-feira (12), três novos casos da doença de Haff, todos residentes no município de Camaçari, com relato de consumo de pescado.

O Centro Informação Estrategica em Vigilância em Saude da Bahia (CIEVS) alerta que a doença de Haff é uma sindrome de rabdomiólise (ruptura de células musculares) sem explicação, e se caracteriza por ocorrência súbita de extrema dor e rigidez muscular, dor torácica, falta de ar, dormência e perda de força em todo o corpo, além da urina cor de café, associada a elevação sérica de da enzima CPK, associada a ingestão de pescados. A doença pode evoluir rapidamente com insuficiência renal e, se não adequadamente tratada, levar ao óbito.

Em agosto de 2020, o municipio de Entre Rios registrou a ocorrencia de três casos suspeitos de doença de Haff com relato de ingestão de pescado. Houve consumo do peixe conhecido como “olho de boi”, onde cinco pessoas da mesma familia fizeram a ingestão do peixe e aproximadamente sete horas depois, o primeiro caso, indivíduo de 53 anos, apresentou sintomas de fortes dores no corpo, tontura, náuseas e fraqueza. Outros familiares apresentaram os mesmos sintomas.

Em Salvador, nos meses de setembro e outubro, duas unidades hospitalares notificaram a ocorrência de casos da doença de Haff, totalizando seis pacientes que apresentaram início súbito de dor muscular de origem não determinada.

Em 2016, a Bahia também registrou casos da síndrome, o que afetou a venda de pescados em Salvador e Região Metropolitana. Na época, os casos foram registrados na capital, Valença e em Guarajuba (Camaçari).

Orientações gerais à população:

• Aos primeiros sintomas, busque uma unidade de saúde imediatamente e identifique outros individuos que possam ter consumido do mesmo peixe ou crustáceo para captação de possiveis novos casos da doença.

Aos profissionais de saúde:

• Observar a cor da urina (escura) como sinal de alerta e o desenvolvimento de rabdomiolise, pois neste caso, o paciente deve ser rapidamente hidratado durante 48 a 72 horas.
• Evitar o uso de antiinflamatórios.
• Na ocorrência de casos suspeitos, recomenda-se exame para dosagem de creatinofosfoquinase (CPK), TGO e monitorização da função renal;

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