Jejum "à vera"

Jejum "à vera"

Sem querer desmerecer o jejum convocado semana passada pelo nosso “cloroquínico” presidente, como arma de combate ao coronavírus, gostaria de relembrar um pouco dessa tradição cristã que é um dos quatro sufrágios determinados pela Igreja para a limpeza dos pecados e salvação da alma. O jejum funciona como penitência para a pessoa que se submete a essa mortificação. E era uma prova de resistência muito pesada, no passado.

Vou citar alguns casos recolhidos pelo historiador Paul Johnson, em York, na Inglaterra.

Um homem, provavelmente um pecador de altíssimo grau, foi condenado a jejuar, descalço, às segundas, quartas e sábados, pelo resto da vida, a vestir apenas uma roupa de lã e cortar o cabelo somente três vezes ao ano pelos pecados cometidos.

O crime de parricídio, além da condenação na justiça comum, tinha como penitência submeter o autor a peregrinar agrilhoado, ou seja, preso a corrente, até que os elos da corrente ficassem gastos e quebrassem sozinhos.

Bem se vê que jejum no passado era “à vera”.

Mas o surgimento da chamada “penitência vicária” - sobre a qual falaremos numa outra oportunidade - , permitiu que pecadores ricos pudessem receber adjutórios pra cumprir suas penas espirituais. Foi o caso de um “mangangão” inglês que atravessou um jejum penitencial de sete anos em apenas três dias. Como? Com a ajuda de 840 seguidores que jejuaram com ele de forma que o tempo de sete anos foi reduzido para 72 horas. Isso era permitido, pois se entendia que quem auxiliasse um penitente estaria fazendo caridade com o próximo. No entanto, em pouco tempo foi impossível evitar que o dinheiro fosse usado para contratar esses “ajudadores”. Mas essa é uma outra história.

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Biaggio Talento é jornalista, e colaborador do O Jornal da Cidade.

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