O fantasma de Dom Pedro II

O fantasma de Dom Pedro II

A alma de um amargurado Dom Pedro II (1825-1891) costumava vagar pelas ruas de Ipanema depois da meia-noite, nas primeiras décadas do século XX. Era assombração conhecida no Rio de Janeiro.

Mesmo no além-vida, o último imperador do Brasil ainda encontrava-se ressentido pelo golpe cívico-militar que o derrubou em 1889, e costumava inquirir os cariocas que circulavam pelas madrugadas de Ipanema, se estavam satisfeitos com a República ou tinham saudades do regime parlamentarista que comandou por décadas. “A vida era muito melhor no meu tempo”, dizia cofiando a barba fantasmagórica, conforme as testemunhas que viram a aparição.

Um jornal do sudeste, que publicou nota sobre o assunto, dizia que, “pilhado de surpresa, o vivente ficava chumbado ao solo, ouvia forte zumbido, travava-se-lhe a língua, o cabelo arrepiava-se”. Após ouvir o discurso amargurado do imperador, o notívago desembestava pelas ruelas cariocas. Como ninguém o ouvia, a alma de Dom Pedro II, percebendo serem inúteis suas prédicas aos descendentes dos seus antigos súditos, decidiu não aparecer mais no mundo dos vivos.

Não é incomum que algumas pessoas negociem com fantasmas para aliviá-los ou para que eles deixem de assustar certos locais. No Dicionário de Religiosidade Popular uma senhora do interior de São Paulo contou uma tradição mantida por sua avó: “Ela colocava todas as segundas-feiras um copo d’água em cima do muro de sua casa em Brodosky (SP). Mas isso ela fazia desde que morava na fazenda em 1930. Esse copo d’água era para as almas do purgatório que, segundo ela, precisavam de água porque estavam queimando de tanto calor por causa do fogo que vinha do purgatório”.

Em relato à reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, na década de 1980 o zelador do Teatro Municipal da capital paulista Arlindo de Souza disse que conseguiu se livrar de um dos seis fantasmas que assombravam o local (o de uma mulher vestida com uma roupa de seda rasgada) com uma proposta inusitada: “vou te dar um beijo e você some, está bom?” A aparição concordou e, após o ósculo, nunca mais deu as caras no teatro.

 

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Biaggio Talento é jornalista, e colaborador do O Jornal da Cidade.

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