O morto falava e ainda fala

O morto falava e ainda fala

O corpo fala, é um dos slogans da conhecida série C.S.I. que retrata a equipe de policiais americanos desvendando crimes através da mais alta tecnologia. Adoro aquele tal de luminol, a luz azul que identifica vestígios de sangue onde os olhos não enxergam.

O criminoso não tem a menor chance de escapar quando a equipe do C.S.I assume um caso. Porque o corpo da vítima fala, através dos vestígios deixados pelo assassino. Os peritos são capazes de descobrir a hora do crime, como ele foi cometido, o tipo sanguíneo do assassino, o título de eleitor do bandido. E, se duvidar, até a cor da cueca do suspeito.

No passado, na época em que as pessoas acreditavam fortemente que o espírito passava certo tempo rondando nos locais onde viveu, o corpo do morto também emitia sinais capazes de apontar seu algoz.

Já falamos sobre a prática de expor o corpo da vítima próximo ao acusado. Se ele fosse o assassino, o morto começaria a sangrar, sem falar no temor de eventuais represálias do fantasma contra seu executor.

Acontece que havia uma superstição, segundo a qual, o criminoso podia se livrar da vingança do espírito da pessoa que matou. Quem aludiu a essa tradição foi Dante Alighieri, num dos cantos de sua Divina Comédia. Se em Florença, terra de Dante, um assassino pudesse comer sobre o túmulo de sua vítima uma sopa de pão, acompanhada de uma taça de vinho, em até nove dias depois do crime, estaria livre de qualquer represália do além.

Por essa razão, na Florença do século 14, era comum a família do morto vigiar o túmulo durante os nove dias após o sepultamento, para evitar a tramoia do assassino.

Mas, mesmo que o acusado conseguisse escapar da vingança, Dante alerta, em verso, que isso não passará desapercebido pela corte celeste: “E creia o mor culpado que não se abranda à sopa a ira do céu”, diz num trecho da Divina Comédia.

 

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Biaggio Talento é jornalista, e colaborador do O Jornal da Cidade.

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