Labatut, o herói que virou bicho-papão

Labatut, o herói que virou bicho-papão

Passado o festejo do Dois de Julho, restrito, esse ano, pela primeira vez, a homenagens virtuais, sem o povo nas ruas, por conta da pandemia, vou lembrar um caso curioso, envolvendo um dos ícones da guerra da Independência da Bahia. Um personagem que integra o panteão dos heróis das escaramuças que resultaram na expulsão dos portugueses, com direito a busto na Lapinha e nome de rua em Salvador. Trata-se do mercenário francês o general Pierre ou Pedro Labatut, vencedor da “Batalha de Pirajá”, contratado para ajudar o exército brasileiro de libertação.

O fato é que o nome do mercenário virou “bicho-papão” na fronteira dos estados do Ceará e Rio Grande do Norte. O folclorista Câmara Cascudo recolheu essa lenda, surgida no final do século 19, entre moradores da serra do Apodi.

Labatut é descrito como um “ser enorme, permanentemente faminto, com os pés classicamente redondos, cabelos compridos e revoltos, corpo vestido de pelos ásperos como o do porco-espinho, dentes que lhes saem pela boca e um só olho no meio da testa”.

A origem desse bicho-papão remonta a passagem de Labatut pelo Ceará entre  1832/33 (dez anos, portanto, da independência da Bahia) comandando 1.690 homens que combateram o caudilho Joaquim Pinto Madeira. Por onde passava, Labatut deixava um rastro de brutalidade. A alta estatura, a selvageria e grosseria espontâneas marcaram os soldados que ele comandou.

Ao voltarem para seus lares no Ceará, Paraíba e RN, esses combatentes ajudaram a propagar as histórias de Labatut. Como entidade sobrenatural, saía à noite parando nas portas das casas para ouvir crianças barulhentas, ameaçando “devorá-las”! Assim, o general francês que está inscrito nos livros da história da Bahia como herói, virou bicho-papão no Ceará.

 

WhatsApp Image 2020-03-10 at 19.17.21


Biaggio Talento é jornalista, e colaborador do O Jornal da Cidade.

Deixe um comentário

Certifique-se de preencher os campos indicados com (*). Não é permitido código HTML.