O Brasil é pródigo em lendas e superstições. Vou falar hoje de uma delas, que envolve a Ilha de Formoso, no lago do mesmo nome, situada no interior do Maranhão. Essa ilha vai de um lado para o outro ao longo do ano. Dizem os moradores da região que ela é empurrada por assombrações ou por um monstro que alguns juram ter visto nas noites de Lua Cheia e o descrevem com o formato de um homem altíssimo. Calculam em três metros, com escamas de peixe espalhadas pelo corpo e rosto disforme. O monstro solta urros como se tivesse cantando, na sua tarefa de Sísifo, que realizaria todo ano, com as cheias dos rios que abastecem o lago.
Uma matéria publicada no jornal O Estado de S.Paulo (na última década 80), registra que os ribeirinhos que não acreditavam no monstro, achavam, contudo, que a ilha é mesmo encantada e seu movimento regula o ciclo do plantio do arroz na região.
Em 2014, uma equipe de TV do SBT do Maranhão visitou o local junto com um biólogo que explicou o fenômeno à luz da ciência. A ilha realmente flutua, porque seu solo é formado por material orgânico, sedimentado ao longo de milhares de anos. Não tem terra nem areia, a vegetação cresce e morre em cima desse material orgânico. Nas cheias, a ilha se fragmenta e fica flutuando pelo lago, voltando depois à posição inicial.
Mas não há quem convença alguns ribeirinhos que a Ilha do Lago de Formoso não é encantada.
Como escreveu o cronista carioca João do Rio: “o homem ergue os olhos para o azul do céu e a menor de suas ilusões o povoa de forças invisíveis”. Esse caso da ilha de Formoso é um exemplo de que fenômenos naturais podem ser confundidos com sobrenaturais.
Biaggio Talento é jornalista, e colaborador do O Jornal da Cidade.
