Que tal assistir a um espetáculo de eventos sobrenaturais? O final do século 19 e início do 20 era recheado de shows bizarros que circulavam nas grandes metrópoles do mundo. Circos de horrores arrebatavam multidões, com atrações terríveis como pessoas deformadas por doenças, cujo maior exemplo talvez seja o inglês Joseph Merrick, conhecido como homem elefante, história real transformada em filme, em 1980. O ser humano parece ter uma atração mórbida por esses eventos.
Encontrei a propaganda de um espetáculo do gênero no jornal “A Província de São Paulo”, no ano de 1879. Mas o show seguia uma outra vertente, a do humor. A propaganda anunciava no Teatro São José da capital paulista, “grande e variado espetáculo de taumaturgia humorística” encenado por uma pessoa que se intitulava “filho do célebre Bosco”.
Ele prometia oferecer ao público entre outros eventos: “Dez minutos de catóptrica, meios empregados para ver através dos corpos opacos”; depois haveria uma tal de “hesperidina de bagley” pela qual ensinará um meio da pessoa nunca morrer; seguia um grande fenômeno natural de nigromancia transcendente; além da mesa giratória, anunciada como alta novidade, efeito obtido com forças desconhecidas.
Para quem se impressionava ao ler o anúncio o “filho do célebre Bosco” tranquilizava as pessoas mais sensíveis, esclarecendo que todos poderiam assistir ao espetáculo, senhoras e jovens, pois não seria apresentada cena que horrorizasse, “nada que assuste, com tiros de pistola, etc”. Enfim, tudo seria “mera distração”.
Pelo menos o show tinha uma causa nobre, a renda seria destinada ao hospital de tratamento dos doentes com varíola.
Biaggio Talento é jornalista, e colaborador do O Jornal da Cidade.