A chamada inflação do aluguel fechou outubro em 0,50%, acima do 0,37% registrado em setembro. O Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) foi divulgado nesta segunda-feira (30) pela Fundação Getulio Vargas (FGV).

No acumulado desde janeiro, a taxa apresenta deflação, ou seja, inflação negativa, de 4,46%. Já na soma de 12 meses, o recuo alcança 4,57%. Isso indica que, na média, a cesta de produtos analisada pela FGV nesses períodos está mais barata.

Influências
O economista da FGV André Braz, coordenador da pesquisa, explicou que preços de commodities (matérias-primas básicas) pressionaram para cima custos no atacado em outubro.

"A taxa do índice ao produtor continua em aceleração, influenciada pelo aumento nos preços de importantes commodities, como bovinos (de -10,11% para 6,97%), açúcar VHP [açúcar bruto] (de -2,70% para 12,88%) e carne bovina (-4,55% para 3,85%)”.

Para Braz, esse comportamento deve influenciar os preços às famílias na próxima medição.

“Essas mudanças, que afetam parcialmente os itens que impactam os preços dos produtos finais no varejo, em breve, contribuirão para atenuar a deflação observada no grupo alimentação do Índice de Preços ao Consumidor (IPC). Esta classe de despesa tem atuado como um elemento de estabilização, impedindo que a inflação ao consumidor acelere em 2023", detalhou.

Componentes
Para chegar ao IGP-M, a FGV usa três componentes, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que mede os custos no atacado; IPC, que apura o comportamento dos preços para as famílias; e o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC).

O IPA registrou aumento de 0,60% em outubro, o IPC teve variação de 0,27%, e o INCC subiu 0,20%.

Analisando os custos para as famílias, as principais influências, em ordem de impacto, foram: educação, leitura e recreação (2,99%), saúde e cuidados pessoais (0,21%), alimentação (-0,39%), vestuário (0,15%) e despesas diversas (0,06%).

Aluguel
O acumulado de 12 meses do IGP-M é comumente utilizado para corrigir os contratos de aluguel anualmente. Porém, em alguns contratos consta a expressão “variação positiva” do índice, o que implica que, no caso como o atual, o aluguel não é reajustado para cima, mas também não é reduzido.

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Está cada vez mais difícil encontrar aluguel com preços acessíveis em Salvador. A capital encerrou o primeiro mês de 2023 com alta acumulada de 15,51% nos valores dos últimos 12 meses, segundo o mais recente Índice FipeZAP+, que acompanha preços de imóveis residenciais anunciados na internet. A taxa fica próxima da média nacional (16,76%) e supera a inflação calculada pelo IBGE (5,77%) para o mesmo período.

Os bairros com maior alta acumulada são Barra (31,3%), Imbuí (27,9%) e Ondina (26,3%). Mas é Pernambués (11,0%) que lidera o ranking de metro quadrado mais caro da capital, tendo preço médio de R$ 41,4/m². A média na cidade é de R$ 29,66/m².

Diretor de patrimônio no Conselho Regional de Corretores de Imóveis da Bahia (Creci-Ba), José Alberto Vasconcellos explica que o aumento se deve à pandemia. Ele diz que houve estagnação ou até redução nos preços de aluguel por conta da baixa demanda gerada pela crise econômica e sanitária e só agora houve reajuste dos valores. A estimativa do diretor no Creci é que os preços cresçam mais nos próximos meses.

"Janeiro é o mês que tem maior procura de aluguel em Salvador. A procura aumenta mais de 30%.e os valores passam a aumentar em torno de 20% do que era antes”, projeta.

Apesar do crescimento em 2022, Salvador ocupa o oitavo lugar entre as 11 capitais da pesquisa e está atrás de cidades como Goiânia (32,37%), Florianópolis (30,97%) e Curitiba (23,75%). Em 2021, o acumulado anual de reajuste teve média de 4,73% nos aluguéis (ante 16,56% no último ano) e Caminho das Árvores (R$31,5/m²), Barra (R$29,5/m²) e Graça (R$ 28,2/m²) encabeçavam a lista de regiões mais caras.

Bairros
No levantamento, Pernambués tem o sétimo maior reajuste de 2022 (são 10 bairros pesquisados), todavia, lidera a lista de preço por metro quadrado. Para Vasconcellos, a alta em Pernambués se deve à demanda. “É um bairro em que os aluguéis eram mais baixos. A procura aumenta porque a pessoa pensa que vai pagar mais barato, mas com a procura maior, o preço também cresce”, explica.

Na lista de precificação, os bairros seguintes a Pernambués já têm alta esperada por conta da localização e status da região. São: Barra (R$ 38,6/m²), Caminho das Árvores (R$ 37,1/m²) e Graça (R$33,1m/²). Neste caso, se um quitinete de até 40m², os valores para cada bairro seriam em torno de R$ 1.496, R$ 1.400 e 1.332, respectivamente.

A pedagoga Vanusia Sena, 57, mora em um apartamento de três quartos na Graça, mas está procurando um novo lar após o proprietário aumentar o aluguel por dois anos consecutivos. Em 2021, Vanusia pagava R$ 3.300. Hoje, o gasto é de R$ 3.900, mesmo sem reformas ou novas construções no imóvel. “Até parquinho que tinha aqui foi desativado, só tem uma quadra antiga agora. Não estamos em busca de luxo, só queremos viver em uma condição boa. Encontrar valores tão grandes é frustrante”, diz.

O orçamento de Vanusia estica até R$ 3 mil em aluguel, ainda que precise mudar de bairro. Os critérios principais para ela são preço, localização e acessibilidade. Ela conta que mora com a cunhada, Nayara Rios, 48, que teve perda cognitiva e usa cadeira de rodas. Para isso, é essencial que a casa tenha portas largas, elevador e portaria 24h.

“Estamos procurando apartamento desde dezembro, mas temos visto valores muito altos. Já abrimos a mente para buscar em bairros um pouco mais distantes da nossa necessidade, mas, ainda assim, está caro”, afirma.

O educador financeiro Elton Souza, que também é especialista em investimentos e sócio da Matriz Capital, explica que negociar um contrato de aluguel não é uma questão simples porque há interesses tanto do proprietário quanto do inquilino sendo discutidos. Mas ele explica que existem algumas estratégias que podem ajudar a evitar aumentos abusivos no valor do aluguel. "Antes de fechar o contrato, pesquise os valores de imóveis similares na mesma região. Isso pode ajudar a entender se o valor proposto pelo proprietário está dentro do padrão ou não", aconselha.

Além disso, ele indica a opção por contratos longos. "Proprietários tendem a preferir contratos de longa duração. Em troca, você pode tentar negociar um valor de aluguel mais baixo ou uma cláusula de reajuste mais justa", orienta. Por fim, Costa lembra que o contrato deve prever a periodicidade do reajuste, mas isso não significa que o valor deve ser necessariamente alto.

Outro ponto a ser aproveitado no aluguel é a possibilidade de uso para desconto no Imposto de Renda. Para isso, o contribuinte que paga pelo aluguel de um imóvel tem de informar os gastos na ficha "Pagamentos e Doações Efetuados". Nesse caso, é necessário informar o CPF ou CNPJ do locador e o valor pago.

"É importante lembrar que, em caso de aluguel de imóveis, é possível deduzir alguns gastos, como despesas com condomínio, IPTU e reparos no imóvel, desde que esses gastos estejam discriminados em contrato de locação ou recibo", salienta o educador financeiro.

Enquanto os altos valores podem ser dor de cabeça para o inquilino, são bons números para quem quer investir como locatário. Caso esteja em seu objetivo comprar um imóvel para alugar, Elton Souza aponta três principais questões para se estar atento: se o mercado imobiliário está aquecido, o potencial de valorização do imóvel e estabilidade financeira de quem vai comprar

Lazer e segurança
Segundo o corretor José Alberto Vasconcellos, localização, características do imóvel e preço são os principais fatores considerados pelos clientes. Durante a pandemia, casas em condomínio fechado foram alvo de maior procura por conta do lazer dentro de casa, a exemplo de piscina, quadra e espaço de churrascaria em um mesmo lugar.

“Brotas, Pernambués e Cabula são bairros que têm oferta maior porque oferecem custo-benefício interessante. São mais próximos da cidade e apresentam excelentes condomínios que possuem lazer antes”, analisa.

Dos melhores locais para morar considerando preço, as capitais não são a favorita de quem aluga. A estudante de arquitetura e urbanismo, Lívia Soares, 19, veio para Salvador ao passar na Universidade Federal da Bahia (Ufba) e não esperava preços tão altos. “Em Feira de Santana dá para achar aluguel por R$ 500, mas em Salvador nem quitinete tem nesse valor”, reclama. Há cerca de seis meses na capital, ela ainda tenta lidar com os reajustes no aluguel e conta que encontrou condomínios que, sem aluguel, a taxa era de R$ 500 no final de novembro e subiu para R$ 750 em janeiro.

Presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis e dos Edifícios em condomínios Residenciais e Comerciais do Estado da Bahia Bahia (Secovi-Ba), Kelsor Fernandes esclarece que os aluguéis novos tiveram crescimento nos valores de oferta, contudo, contratados têm que seguir índices de reajuste do contrato entre inquilino e proprietário. Ele cita a Selic e a lei da demanda como impulsionadores para valorização dos aluguéis.

Apesar da crescente, a expectativa de corretores imobiliários é que após março haja equilíbrio nos preços do mercado.

Preço para venda de imóveis sobe 6% na capital
Segundo levantamento do FipeZAP+ para vendas residenciais em 2022, o aumento dos valores em Salvador foi de 5,98%. A média nacional foi de 6,16%. Em perspectiva, trata-se da maior elevação anual registrada na série histórica do Índice FipeZAP+ desde 2014, ano em que se apurou uma valorização de 6,70% nos preços de venda de imóveis residenciais.

A corretora de imóveis Géssica Novais explica que o motivo é parecido com o da valorização do aluguel, visto que no período da pandemia houve período de estagnação ou até redução dos preços devido à baixa demanda. Agora, o mercado já retomou curso normal de valorização. “Imóvel nunca desvaloriza, muito pelo contrário, só aumenta de valor com o passar dos anos, por isso a hora da compra é sempre agora”, diz.

Para o corretor Erivaldo Santos, vale mais comprar do que alugar. “Para quem vive de aluguel estão aumentando muito mais os valores e isso está levando alguns clientes a preferir tirarem R$ 200 mil e fazer financiamento do que pagar R$ 6 mil de aluguel. Neste caso, pagam o financiamento mensalmente com o que pagariam de aluguel”, argumenta.

Veja como economizar no aluguel, segundo o consultor de negócios José Martins:

• Negociar ou discutir as responsabilidades: antes de fechar contrato é importante esclarecer as responsabilidades como manutenção, pintura entre outros. para evitar surpresas

• Considerar localização e custo de vida

• Atenção ao valor do condomínio

• Dê preferencia à negociação direto com o proprietário.

• Se organizar para comprar um imóvel

Confira aumento do preço de locação de imóveis residenciais em porcentagem nas capitais monitoradas (Índice FipeZAP+ (Geral): 16,76%):

Goiânia: 32,37%
Florianópolis: 30,97%
Curitiba : 23,75%
Fortaleza: 22,39%
Belo Horizonte: 20,99%
Rio de Janeiro: 18,60%
Recife: 16,55%
Salvador: 15,51%
São Paulo: 14,85%
Porto Alegre: 11,89%
Brasília: 9,25%

Bairros com aluguel mais caro em Salvador:
Pernambués: R$ 41,4/m²
Barra: R$ 38,6/m²
Caminho das Árvores: R$ 37,1/m²
Graça: R$ 33,1/m²
Ondina: R$ 32,8/m²
Rio Vermelho: R$ 31,0/m²
Imbuí: R$ 30,3/m²
Pituba: R$ 28,3/m²
Itaigara: R$ 27,1/m²
Brotas: R$ 25,4/m²

O ano vira, e o aluguel aumenta. Em 2022, ele ficará quase 18% mais caro em relação ao ano passado. Isso porque o índice usado na maioria dos contratos, o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), variou 17,78% nos últimos 12 meses. O acumulado é considerado alto pelo setor e, sobretudo, pelos inquilinos. Por isso, mais de 90% dos proprietários não aplicam o reajuste integral, segundo o presidente do Sindicato da Habitação da Bahia (Secovi-BA), Kelsor Fernandes.

A maioria dos locatários tem usado o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ele mede a inflação geral do país e fechou em 10,06%, em 2021, um valor 76% menor que o IGP-M. Essa também é a recomendação do economista Edísio Freire, que dá algumas dicas de negociação (leia no final da matéria).

A professora de biologia Bruna Saraiva, 23, foi uma das que conseguiram negociar. Ela teria um aumento de 66% no aluguel. O que era R$ 600 ia virar R$ 1 mil. Porém, após conversar com o proprietário, ele abaixou para 50%. Agora, ela pagará R$ 900 pelo apartamento em Pirajá, em Salvador, que divide com a mãe.

“Não teria condição de pagar. Antes da pandemia, tinha dois empregos. Agora, tenho um só, então minha renda reduziu 50%. Liguei e entendi o lado dele, porque, apesar da situação ser absurda, ele também teve o preço do aluguel ajustado e ficaria inviável se não ajustasse o daqui”, narra Bruna.

A advogada Daiana Ribeiro, 39, que acabou de ter um filho, conseguiu reduzir 9% o aumento do aluguel. Antes do acordo, ele tinha aumentado 30%. “Pagava R$ 950. A proprietária pediu R$ 1.250 e, com o acordo, fechamos em R$ 1.150”, conta. Segundo Daiana, a proprietária sempre foi compreensiva. Ela mora há sete anos no imóvel, que fica na Vila Laura, com o esposo.

Com a pandemia, ela teve um aumento de 15% nos custos, por isso, tem tido mais dificuldade em pagar as contas. “A situação está muito mais difícil por causa da pandemia, pois as despesas fixas aumentaram bastante, como energia, gastos com alimentação, transporte, plano de saúde. Já o salário não acompanhou a mesma alta”, relata.

A estudante de medicina veterinária Kathleen Ribeiro, 22, que mora em Ilhéus, no sul da Bahia, não conseguiu negociação. Esse mês, ela pagou R$ 100 a mais que em 2021, pois o proprietário aplicou o reajuste integral do IGP-M. “Ele já veio falando que o preço era esse, que não podia fazer por menos”, conta.

Já Lavínia Muniz dos Anjos, 20, sairá da casa dos pais, em Nazaré das Farinhas, no Recôncavo baiano, para Salvador, com o noivo. O motivo é a volta às aulas presenciais da Universidade Federal da Bahia (Ufba), em março. Os valores dos apartamentos, porém, adiam a mudança. “Os preços estão muito altos. Não tem nada mais barato que R$ 700, sem mobília, e em lugares muito afastados, como Lauro de Freitas e Camaçari, ou em bairros perigosos. Já com mobília, fica R$1.200”, narra Lavínia.

Proprietários deixam de usar IGP-M
Na avaliação do Secovi-BA, o aumento do IGP-M no último ano foi atípico. “Há anos ele é utilizado nos aluguéis e sempre teve o comportamento adequado, nunca uma disparada como a que aconteceu em 2021. As variações foram para patamares completamente fora do razoável”, avalia Kelsor Fernandes, presidente do Secovi-BA e que está no mercado imobiliário há 40 anos.

Por esse motivo que a maioria dos proprietários negocia o reajuste e não o aplica totalmente. “Ninguém aplicou esse percentual exagerado, só se o contrato estiver muito defasado. Dentro de nossa empresa, 100% dos contratos foram negociados. Na maioria, pela inflação, ou um pouco a mais, para ajustar com o preço de mercado. Também tem proprietário que não está fazendo reajuste, por conta do desemprego”, pontua Fernandes.

Na imobiliária do diretor e 2º secretário Noel Silva do Conselho Regional de Corretores de Imóveis da Bahia (Creci-BA), o percentual de aumento está entre 12 e 13%. “Se não houver oposição ao valor, o papel do proprietário é mandar o boleto com o novo valor. Mas, a maioria negocia, porque os salários não sofreram esse mesmo reajuste”, explica Silva. Além do IPCA, outros índices podem entrar no contrato, como o Índice de Preços do Consumidor (IPC), que terminou o ano em 9,73%, e o Índice Nacional da Construção Civil (INCC), que variou 13,84%.

Perspectivas para 2022
Para o presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (ADEMI-BA), Claudio Cunha, as perspectivas de 2022 vão depender do controle ou não da pandemia da covid-19. “A divulgação das taxas de juros futuras e da inflação para este ano demonstra que há uma tendência de normalização, mas tudo vai depender do crescimento da covid”, avalia. A meta do IPCA para 2022 é de 5%. Já as taxas de juros estão 9,25% e a projeção é que ela aumente para 11,75% até o fim do ano.

Para reverter o cenário do mercado imobiliário, Cunha defende que se recupere a produção industrial, para acompanhar a demanda reprimida. Segundo ele, a baixa produção com o aumento do consumo que causou o aumento dos índices, e, consequentemente, os valores dos aluguéis. “Precisamos ter uma recuperação e descentralização da produção industrial para atender a demanda e os preços voltarem a se equilibrar. A partir do segundo semestre, já poderemos notar uma redução”, afirma o presidente da Ademi-BA.

FGV lança novo índice, o IVAR
Em janeiro, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) lançou um índice só para mensurar a evolução dos valores dos apartamentos residenciais alugados no Brasil: o Índice de Variação de Aluguéis Residenciais (IVAR). Segundo o coordenador do IPC Brasil do FGV IBRE, Paulo Picchetti, o IVAR é calculado através dos valores de transação, com base em contratos de locação e seus reajustes.

“O IGP-M contem centenas de itens, criado para representar o total da economia brasileira, enquanto o IVAR é composto apenas de informações sobre aluguéis residenciais, portanto, representa mais diretamente a evolução dos valores dos aluguéis”, defende Picchetti. Por enquanto, o índice só analisa quatro capitais brasileiras – Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre. Sobre a expansão da análise para outras cidades e para Salvador, Paulo Picchetti disse que seria “quando fornecedores de informações sobre contratos de aluguéis permitirem amostras robustas e representativas para outras cidades”.

Para um dos diretores do Creci-BA, Noel Silva, esse índice, por ser muito baixo, não será considerado pelos locatários. Em dezembro de 2021, o IVAR subiu 0,66%, mas a variação dos últimos 12 meses foi negativa, de –0,61%. “Esse índice é muito baixo e só está sendo baseado em quatro capitais brasileiras, então não representa o mercado como um todo. Os aluguéis não subiram esse preço”, argumenta. Já Kelsor Fernandes, presidente do Secovi-BA, desconsidera a possibilidade de ele ser usado nos contratos. “Precisa ser criado um banco de dados e fazer isso em todas as cidades, principalmente, as capitais”, avalia.

Como negociar
O economista Edísio Freire explica que há uma defasagem do aumento do salário mínimo em relação à inflação. Por isso, há espaço para negociação. “O IGP-M destoa do crescimento da renda. O salário mínimo teve reajuste de 10,18%, enquanto o IGP-M, de 17,78%. Só aí, você perde 7% de poder de compra, porque o salário não aumenta na mesma proporção. Partindo dessa lógica, é razoável o bom senso entre as partes e um acordo, para não ficar um reajuste fora da capacidade de pagamento”, orienta.

Ele indica a utilização do IPCA. “Para o dono do imóvel, é mais importante a própria manutenção do aluguel, já que, se ele perder o inquilino, não tem a garantia de restituição da renda de imediato. A oferta de um ajuste na faixa do IPCA garante um preço de inflação geral, mais justo, mas cada caso é um caso”, aconselha Freire.

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A assistente social Iandra Lira, 46, aluga casas em Imbassaí, no Litoral Norte da Bahia, há quatro anos consecutivos, sempre durante o verão. Este ano, no entanto, o veraneio ficou mais caro, em torno de 25%. “Geralmente todo ano aumenta, mas esse ano acredito que aumentou um pouco mais por conta da pandemia. É a velha procura e demanda. A procura está sendo muito maior e, por isso, eles aumentaram mais do que o normal”, estima Iandra. Geralmente, Iandra encontrava casas com quatro suítes em Imbassai por R$ 650 a diária. Hoje, o mínimo é R$ 800. O aumento no valor da diária, no entanto, chegou até 70% em Guarajuba, praia a cerca de 70 quilômetros de Salvador.

A tese da assistente social está correta. De acordo com corretores ouvidos pela reportagem, o número de interessados cresceu, o que fez os preços subirem. “Os preços subiram bastante e realmente a procura foi muito grande. Tem muita gente fugindo da pandemia. Então o movimento foi bem acelerado, ficou bem acima do ano passado”, revela o corretor Júlio César, 55, que mora em Guarajuba.

Segundo o diretor Noel Silva, do Conselho Regional de Corretores de Imóveis Bahia (Creci-BA), a demanda para o aluguel de casas de temporada teve alta de 50%. “A demanda aumentou exponencialmente. Principalmente nesse período de alta temporada, as pessoas estão cansadas de ficar em casa, apesar de necessário. Quem tem condição de alugar um imóvel desse não está pensando duas vezes”, explica o diretor.

Silva também pontua que dois novos tipos de veranistas surgiram esse ano: o que quis ter a praia no quintal de casa estando de home office e aquele que deixou de viajar para o exterior. “As pessoas estão alugando não só para efeito de lazer, mas também a trabalho. Tem gente vindo trabalhar, já que home-office virou uma coisa normal, principalmente entre empresários. Exatamente para essa finalidade de ficar perto do mar e ter mais conforto. Já que não pode aglomerar nem ter festa ou carnaval, as pessoas estão partindo para isso”, afirma o diretor.

Com as restrições sanitárias em meio a pandemia do novo coronavírus, o jeito foi trocar a viagem para o exterior pela Bahia. “A classe média alta e a classe alta, que todo ano viaja para a Europa e Estados Unidos, não está podendo por conta das restrições. Então praia é uma forma de eles buscarem lazer, e, no Brasil, praia é na Bahia”, conclui o diretor do Creci-BA. Particularmente, Noel esteve à procura de imóveis para passar o réveillon em Guarajuba, e ficou “assustado” com o aumento de preços: “Casa que alugava há um ano, um ano e meio, de alto padrão, por R$ 1 mil a diária, está hoje R$ 3 mil. Até eu que sou do mercado, fiquei assustado”.

Além disso, muitos dos proprietários que colocavam as casas para alugar não o fizeram este ano, para poder usufruir do imóvel. Com menos casas para ofertar, Juarez Rabelo, 43, basicamente dobrou o preço das diárias. Ano passado, encontrava-se a mesma propriedade por esse mesmo valor, porém, para o dobro da estadia, ou seja, 10 dias. Em novembro, uma diária chegou a custar R$ 10 mil, em uma casa na frente do mar de alto padrão e sete suítes. A mais barata, no período do Réveillon, por exemplo, foi R$ 14 mil por cinco dias. O crescimento no valor da estada foi de R$ 15 mil para R$ 18 mil, e de R$ 20 mil para R$ 25 mil.

“Esse ano houve uma diminuição nas casas que estavam para alugar, porque muitos proprietários desistiram de alugar e ficaram nas casas. A diária aumentou e não sobrou casa. Alugou tudo”, relata o corretor, proprietário da Guarajuba Imóveis, e que trabalha com imobiliária há 20 anos. Em todo o Litoral Norte, são 200 casas que ele tem disponível para alugar. Porém, em torno de 55 ficaram impossibilitadas para aluguel porque os donos as ocuparam.

A corretora Priscila Sastre, 41, dona da imobiliária Guarajuba Negócios há 10 anos, foi quem pontuou que seus imóveis tiveram aumento de 70%. Todos os anos, há um reajuste, e, por conta da procura, ele foi mais expressivo neste verão. “Esse ano teve mais por conta da procura, em torno de 70% em relação ao ano passado. Ainda está tendo muita procura, porque as aulas das crianças ainda não começaram. Porém, tivemos alguns cancelamentos”, afirma Priscila, que faz locação de 15 casas em Guarajuba.

Ela ressalta que o consumidor mudou um pouco de gosto: a busca pelos apartamentos, ao invés de casas, cresceu. Isso porque o público também se alterou. Se antes iam mais casais e amigos, hoje são mais famílias que alugam. “A procura maior é por apartamento, à beira mar ou à beira lago, e são famílias que vão com os filhos. A procura por casas deu uma reduzida. Antigamente, as pessoas preferiam mais casas, por irem em casais ou com amigos. Mas agora o apartamento virou um local de lazer para a família, porque o condomínio é quase um resort, com piscina, academia e restaurante”, esclarece a corretora.

As maiores diárias, segundo ela, são entre dezembro e fevereiro. Na alta estação, os preços variam de R$ 800, para um quarto e sala, a R$ 3 mil, em um apartamento de luxo, com cobertura. Já na baixa estação, os valores para os mesmos imóveis ficam entre R$ 450 e R$ 2 mil.

Há quem não sentiu o aumento, como a empresária Sandra Borges, 52. Ela achou o custo-benefício em Guarajuba este ano melhor do que em 2020, quando alugou uma casa em Barra do Jacuípe. “Sempre alugava em Barra do Jacuípe, mas, esse ano, consegui uma casa muito boa em Guarajuba e por um preço que consegui pagar, porque nos anos anteriores eram muito fora do meu orçamento”, conta a empresária. Ano passado, a casa em Jacuípe, com dois quartos e sem piscina custou R$ 5 mil por 10 dias. Já em Guarajuba, este ano, saiu por R$ 12 mil, 15 dias, uma casa com quatro suítes, ar condicionado em todos os quartos e piscina. “Achei bem mais em conta”, avalia.

O segredo foi alugar por mais tempo, pois o valor é diferenciado para quinzenas e para o mês. A escolha por Guarajuba foi por conta das praias. “Gosto das praias e por ser mais perto que a ilha. Aluguei um tempo em Itapatica, mas, como ficou perigosa e abandonada mudei para o Litoral Norte. A diferença esse ano foi que praticamente não fui à praia, ficamos mais na piscina e caminhadas pelo condomínio”, narra Sandra.

Já Iandra optou por Imbassai por conta da segurança e distância. “Sempre alugamos casa em Imbassai pela segurança, porque é condomínio fechado. E, por ser no Litoral Norte, fica perto de Salvador, então mesmo que a gente precise retornar pelo trabalho, a distância é pequena”, explica a assistente social. Este ano, assim como Sandra, o veraneio vai ser mais recluso. “O intuito é aproveitar mais a casa mesmo. Não tem muita badalação por conta da pandemia e só fica na casa pessoas da família, sem convidados”, narra Lira, que ficará com o esposo, a filha, os sobrinhos e a mãe deles. A estadia começou ontem e durará três semanas.

Cuidados com o contrato na hora de alugar casas
Para quem alugar uma casa de temporada, é preciso que as regras de uso do imóvel fiquem claras no contrato, como aconselha a advogada Lizandra Colossi, Colossi Oliveira Advogados Associados, especialista em contratos, direito imobiliário e de família. “O contrato é uma folha em branco, então depende muito do que o locatário quer. É preciso dizer de maneira muita clara que tipo de locação é essa, quantos dias vão ser, qual o objeto, ou seja, o que vamos colocar para locação”, instrui Colossi.

A advogada também explica que o proprietário deve descrever em detalhes os itens da casa, para facilitar que sejam conferidos depois. “É bom colocar um rol de itens da casa, como panela, talher, a miúde, em um anexo, para não ficar bagunçado. Porque no dia em que ele entrega a casa, ele verifica tudo. Infelizmente a gente não pode contar com a idoneidade da pessoa”, alerta Lizandra.

Para as locações durante a pandemia, a advogada especialista em contratos e mediação ainda orienta inserir uma cláusula que permita a rescisão do contrato. “Se o contrato ficou previsto para janeiro, mas na cidade onde a pessoa que alugou não está podendo entrar ou sair, é bom colocar no contrato uma cláusula prevendo que, em função das questões sanitárias da covid-19, o contrato possa ser rescindido sem ônus para as partes”, conclui Lizandra.

Pandemia aumenta procura por casas em locais de praia
Segundo a Airbnb, serviço de reservas de casas e apartamentos online, a pandemia fez aumentar a procura por locais de praia, e também de campo. “Locais com menor fluxo de pessoas, como casas de campo e em cidades menores de praia, ganharam a preferência dos hóspedes, longe de multidões ou alta rotatividade. No Brasil, desde maio, observamos no Airbnb um aumento da procura por casas inteiras no campo e em cidades menores de praia, a até 300 km dos centros urbanos, para ir de carro com a família, sem abrir mão do isolamento”, informa a empresa.

A Airbnb também disse que a higiene e limpeza ganharam relevância na decisão dos viajantes para a estadia. A plataforma reduziu ainda o número de hóspedes máximo permitido para 16, “para evitar aglomerações e contribuir para estadias responsáveis”. Além disso, a empresa dá orientações de boas práticas para quem for alugar, como o uso de máscara e prática do distanciamento social entre anfitriões e hóspedes. O perfil dos locatários são, em maioria, segundo a Airbnb, “famílias em busca de um refúgio fora da cidade grande, mais perto da natureza, e, ao mesmo tempo, com boa infraestrutura (como conexão à internet, etc), para conciliar férias com a família e trabalho em home-office", completa.

Vale do Capão e Praia do Forte são os destinos mais acolhedores da Bahia
Praia do Forte, no Litoral Norte, e Vale do Capão, na Chapada Diamantina, centro da Bahia, foram os destinos mais acolhedores do estado em 2020. As outras cidades baianas que compõem o ranking são Caraíva, distrito da cidade de Porto Seguro, no Centro-Sul baiano, Imbassaí e Morro de São Paulo. Os dados são do prêmio anual Traveller Review Awards, da empresa Booking.com, site de reservas de acomodações, enviados com exclusividade ao CORREIO. A premiação reconhece as propriedades parceiras que oferecem os melhores serviços e foram avaliadas com as melhores notas pelos viajantes.

Com relação ao tipo de acomodação favorito dos viajantes brasileiros, apartamentos lideram o ranking, sendo também a categoria mais premiada globalmente. A lista nacional segue com as pousadas, casas de temporada, hotéis e hospedagem domiciliar. Inclusive, uma pesquisa da Booking.com, realizada em julho de 2020 em 28 mercados e que envolveu mais de 20 mil entrevistados, revelou que 43% dos viajantes brasileiros os quais buscam destinos locais preferem ficar em casas de temporada ou apartamentos, em vez de hotéis. Em 2019, 60% dos respondentes optaram por hotéis. A empresa disse que não pode divulgar números e/ou variações de reservas por pertencer à Booking Holdings, que é listada na bolsa de valores.

 

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