A CBF irá propor aos clubes das quatro divisões nacionais que casos de racismo sejam punidos com a perda de pontos a partir do próximo ano. A proposta será apresentada nesta quarta-feira (24), durante o Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol, que acontecerá na sede da entidade, no Rio de Janeiro.

A proposta será apresentada pelo presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, em um de seus discursos no evento - ele irá falar na abertura e no encerramento do seminário. Para a medida passar a valer, contudo, será necessária a aprovação dos clubes nos congressos técnicos que antecedem as competições.

Os congressos técnicos são realizados semanas antes do início do Brasileirão com representantes de todos os clubes que integram cada uma das divisões. São através deles, por exemplo, que os clubes aprovam ou não o uso do VAR ou a permissão para mandar jogos em outras praças que não sejam seus próprios estádios. Se houver a aprovação da maioria, a determinação é incluída no Regulamento Específico da competição.

"Eu defendo que as punições têm de ser desportivas. As multas, muitas vezes, são derrubadas ou diminuídas", disse Ednaldo Rodrigues em entrevista à TV Globo. "Administrativamente, no dia seguinte que qualquer ação dessas acontecesse, a CBF ou qualquer outra entidade que administra o futebol poderia tirar os pontos do clube".

O Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol contará com a presença do presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, de representantes da Fifa, do Observatório da Discriminação Racial do Futebol e do Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQs, entre outros. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), também confirmou presença. O cantor Gilberto Gil é convidado de honra.

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A Comissão de Educação da Câmara Municipal de Salvador vai acompanhar os desdobramentos do caso de racismo envolvendo estudantes da escola Seb Sartre, unidade Itaigara. Em nota divulgada nesta quinta-feira (11), a presidente da comissão, a vereadora Cris Correia (PSDB), disse que ficou indignada com o caso.

“Li com sentimento de indignação a postura da instituição de ensino, que, a princípio, nada fez para punir os estudantes envolvidos no caso de racismo. Foi necessário o caso ganhar repercussão midiática para que o colégio tomasse a atitude de afastar os alunos”, afirma Cris.

A vereadora ainda lembrou que as leis de Racismo (1989) e de Injúria racial (1992) devem ser aplicadas. Se a lei não atinge os estudantes por serem menor idade, que eles aprendam de forma pedagógica ou sofra sanções administrativas possíveis ou ainda que sejam aplicadas medidas socioeducativas. Assim, possam aprender e entender que racismo é crime e não motivo de brincadeira”.

Entenda o caso
Os estudantes trocaram mensagens e imagens racistas em um grupo de conversa. O vazamento das mensagens ganhou repercussão nesta terça-feira (9). A escola foi acusada por estudantes e alunos de omissão diante da gravidade do fato. Eles consideraram a resposta imediata do Seb Sartre pouco “enérgica”.

“A coordenadora passou na sala na segunda, mas não falou do assunto abertamente. Nem o professor conseguiu entender do que se tratava. Ela disse que a situação não precisava se transformar em opressão”, contou um estudante, sob condição de anonimato. Segundo ele, o termo opressão utilizado pela coordenadora foi uma forma de evitar constrangimentos aos autores das mensagens. Na madrugada de sexta (5), prints das conversas chegaram a ser publicadas em um perfil de fofocas no Instagram. “Pretos morram”; “Pode macaco no gp?”; “Baniram piada de negros porém não sabem que os negros já são a piada” são alguns dos trechos.

O MP-BA divulgou que solicitará informações à unidade escolar sobre os fatos narrados e a respeito das medidas que foram e serão tomadas pela instituição. “O MP esclarece que, caso a indicação da autoria seja atribuída a adolescentes, os fatos devem ser registrados na Delegacia do Adolescente Infrator (DAI), em conformidade às previsões do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), para que seja iniciada a apuração da responsabilidade de ato infracional, com o devido acompanhamento do MP”, diz a nota. Nesta segunda, o deputado federal Jorge Solla (PT) se manifestou publicamente sobre o fato e cobrou posicionamento do órgão.

Na manhã desta quarta-feira (10), o Sartre divulgou uma nota, também endereçada aos pais, na qual afirma ter afastado os estudantes vinculados ao caso. Garantiu ainda ter instaurado uma avaliação interna, por meio da criação de uma comissão. O Comitê de Ética também estuda a situação, com a finalidade de tomar providências, ainda que a ocorrência tenha acontecido fora do ambiente escolar.

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O delegado-geral da Polícia Civil do Ceará, Sérgio Pereira dos Santos, disse na terça-feira (19) que a loja Zara utilizava um "código de discriminação" para dar tratamento diferenciado a pessoas fora do perfil de clientes desejados. O caso foi explicado em coletiva após a conclusão de inquérito que investiga crime de racismo contra uma delegada negra em uma loja Zara no Shopping Iguatemi de Fortaleza.

O delegado afirmou na coletiva que uma ex-funcionária da loja explicou como funcionava o procedimento. Quando se identificava alguém "fora do padrão" entrando, o sistema de som dizia a frase "Zara zerou". "Isso era um comando que era dado pra que todos os funcionários da loja ou pelo menos alguns a partir de então começassem a observar aquela pessoa não mais como consumidor, mas como suspeito em potencial que precisava ser mantido sob vigilância da loja", explicou o delegado.

As pessoas que o sistema alertava eram negras ou usavam "roupas simples", diz o delegado. “A partir do acionamento do código Zara zero, a pessoa não seria mais tratada como um cliente, mas sim como alguém nocivo ao atendimento da loja e por isso teria que ser acompanhada de perto pelos funcionários ou até mesmo ser retirada do local de modo discreto. O alvo principal eram pessoas 'mal vestidas', dentro do padrão deles, ou pessoas negras”, diz. Para ele, as provas levantadas mostram que a Zara tinha "uma política de atendimento racista, preconceituosa e discriminatória".

O caso com a delegada foi em 14 de setembro. A Polícia Civil indiciou o gerente da Zara, Bruno Filipe Simões Antônio, de 32 anos, por racismo. O crime de racismo pode gerar prisão de 1 a 3 anos e multa ao funcionário suspeito. A loja também pode receber uma punição cível.

Em nota, a Zara disse ontem que a abordagem da delegada não foi motivada por questão racial, mas seguindo protocolos de saúde. Disse ainda que não tolera discriminação racial.

Gerente indiciado
A delegada Ana Paula Barroso teve um tratamento diferenciado em relação a outras clientes que entraram na loja sem máscara, mesmo sem estar se alimentando, diz a polícia.

As imagens das câmeras de segurança mostram isso, afirma a polícia. "Nas imagens, é possível ver quando a vítima é expulsa do local, quando minutos antes, o mesmo funcionário atendeu uma cliente que, mesmo não consumindo nenhum alimento, não fazia o uso correto da máscara. A cena foi observada em outras situações onde outros clientes também não foram retirados da loja ou abordados para que utilizassem a máscara de forma correta".

Oito testemunhas foram ouvidas, além da vítima e do suspeito. Uma mulher negra, de 27 anos, que relatou uma situação similar nas redes sociais está entre as pessoas que prestaram depoimento.

Leia a nota da Zara sobre o caso:

A Zara Brasil, que não teve acesso ao relatório da autoridade policial até sua divulgação nos meios de comunicação, quer manifestar que colaborará com as autoridades para esclarecer que a atuação da loja durante a pandemia Covid-19 se fundamenta na aplicação dos protocolos de proteção à saúde, já que o decreto governamental em vigor estabelece a obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes públicos. Qualquer outra interpretação não somente se afasta da realidade como também não reflete a política da empresa. A Zara Brasil conta com mais de 1800 pessoas de diversas raças e etnias, identidades de gênero, orientação sexual, religião e cultura. Zara é uma empresa que não tolera nenhum tipo de discriminação e para a qual a diversidade, a multiculturalidade e o respeito são valores inerentes e inseparáveis da cultura corporativa. A Zara rechaça qualquer forma de racismo, que deve ser combatido com a máxima seriedade em todos os aspectos.

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Em comunicado enviado nesta quarta-feira (9), o Carrefour informou que está avançando nas tratativas junto às autoridades públicas e associações civis para chegar a um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), no valor de R$ 120 milhões, referente ao caso do homem negro morto por seguranças em uma unidade da rede, em Porto Alegre.

Com este TAC, o conglomerado do setor mercantil evita possíveis ações judiciais no futuro.

O caso aconteceu no dia 19 de novembro de 2020, quando João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi espancado até a morte por seguranças no Carrefour. Seis pessoas respondem pelo crime na Justiça.

"Com esse acordo, os compromissos já assumidos pela Companhia e envolvendo o montante de R$ 120 milhões (já majoritariamente provisionados pela Companhia), a serem desembolsados ao longo dos próximos anos, em relação ao evento ocorrido", afirma o comunicado.

Em contato com o G1, o Ministério Público informou que o acordo ainda não foi assinado.

Em maio, o Carrefour anunciou a criação de uma cláusula antirracismo em contratos com fornecedores e prestadores de serviço. A empresa já havia encerrado a terceirização da segurança de seus estabelecimentos.

Indenizações a familiares
No caso dos familiares, a viúva de João Alberto aceitou a proposta de indenização feita pelo Carrefour. Segundo o advogado de Milena Borges Alves, o valor pago é superior a R$ 1 milhão.

A empresa pagou outras oito indenizações aos demais familiares, entre eles o pai, filhos e a enteada de João Alberto.

 

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O professor de geografia João Luiz emocionou o público do Big Brother Brasil na última segunda-feira (5) ao rebater ao vivo uma fala racista dita pelo sertanejo Rodolffo Matthaus durante o final de semana.

A denúncia foi feita pelo paulista durante o Jogo da Discórdia, momento em que a produção do reality show usa para colocar “fogo no parquinho” como diz o apresentador Tiago Leifert.

A brincadeira da última segunda consistia em dizer quem era o melhor jogador, o pior jogador e o joga sujo. João desabafou e relatou a situação vivida com Rodolffo, que comparou a peruca da fantasia do castigo do monstro, algo que dava a ideia de homem das cavernas, ao cabelo dele.

“Muita gente aqui pode não saber, mas no sábado aconteceu uma situação no quarto cordel que estava eu, Caio, Rodolffo e Juliette, e eu tô dizendo isso aqui agora porque pra mim, é um momento de muita coragem, de poder estar falando isso aqui agora. Rodolffo chegou a fazer uma piada comparando a peruca do monstro da pré-história com o meu cabelo. Então, isso pra mim, tocou num ponto muito específico. O jogo pode ser sim coisas que a gente vive aqui dentro, mas tem que ser um jogo de respeito”.

Rodolffo ainda tentou se explicar e voltou a afirmar que o cabelo dele parecia sim com a peruca do monstro e que ele não queria magoar o colega, que tem o cabelo parecido com o do pai. A situação levou João às lágrimas.

“Não adianta você vir com discurso de que não foi sua intenção, de que você não teve a intenção, que eu tô cansado de ouvir isso e não é só aqui dentro, é lá fora também. Nunca ninguém tem a intenção de machucar, nunca ninguém tem a intenção de fazer as coisas com a gente. Por que, que não é mais fácil pra você reconhecer que errou, cara? E você fala pra mim que você quer ser melhor e você acabou de reafirmar, você tá reafirmando a mesma coisa que você falou”.

A denúncia do professor de geografia colocou as palavras RACISMO, CRESPO, CABELO, BLACK POWER, JOÃO e FORA RODOLFFO entre os assuntos mais comentados da madrugada no Twitter.

Na web, um movimento de apoio ao paulista foi criado. Artistas e anônimos entraram na corrente para reforçar a beleza de João e seu cabelo crespo com a tag “João é Lindo”.

Apesar da movimentação para tirar Rodolffo, o sertanejo está conseguindo se livrar da eliminação por poucos porcentos, segundo enquetes que dão o resultado parcial da decisão final que será divulgada nesta terça. Caio recebe 45,23% dos votos, enquanto o intérprete de ‘Batom de Cereja’ tem 44,36%.

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Os laudos contratados pelo próprio Bahia apontam que o atleta Ramírez não teria dito “seu negro” para o jogador Bruno Henrique, do Flamengo, durante uma discussão acalorada que tiveram ao longo da partida que terminou 4x3 para o time carioca, domingo, no Maracanã. Em vez disso, o colombiano teria dito “tá quanto?”, em provocação e em referência ao placar do jogo naquele momento, que era favorável ao Bahia por 3x2.

Os laudos contratados pelo próprio Bahia apontam que o atleta Indio Ramírez não teria dito "seu negro" para o jogador Bruno Henrique, do Flamengo. Em vez disso, o colombiano teria dito "tá quanto?", em provocação e em referência ao placar do jogo.

A informação foi divulgada pelo site GE inicialmente e confirmada com o Bahia pelo CORREIO. O laudo faz parte da apuração que o tricolor instaurou sobre o ocorrido no jogo.

Na noite de terça-feira (22), o Flamengo apresentou o mesmo vídeo, acompanhado de um laudo apontando que Ramírez teria dito "seu negro" para Bruno Henrique. O Bahia, por sua vez, preferiu contratar ele mesmo especialistas de leitura labial.

Segundo o apurado pelo CORREIO, um dos especialistas consultados era argentino, e outro, chileno, na tentativa de fazer a leitura mais fidedigna do espanhol, idioma falado por Ramírez, que chegou ao clube no início de novembro e não domina o português.

O meia colombiano disse à diretoria do Bahia que teria falado “tá quanto?” no vídeo divulgado pelo Flamengo, ao passo que a direção do clube colocou a cena sob perícia e constatou a versão do atleta.

Antes disso, segundo o laudo obtido pelo Bahia, ele se vira para Bruno Henrique e provoca dizendo “qué pasó?”, algo próximo de “o que foi?” na língua materna, o espanhol.

ENTENDA O CASO
A confusão envolvendo Ramírez e o atacante Bruno Henrique não é o pivô da acusação de racismo feita sobre o jogador tricolor. Esta partiu do meia Gerson, em um lance que ocorreu no início do segundo tempo, logo após o Bahia diminuir o placar desfavorável para 2x1. Naquele momento, Gerson acusa Ramírez de ter dito a ele “cala boca, seu negro”. Acusação que o colombiano nega. Não há, ou ainda não apareceu, vídeo desse momento.

Por causa dessa situação, a Polícia Civil do Rio de Janeiro instaurou inquérito e Ramírez será intimado a depor, assim como o então técnico Mano Menezes e o árbitro da partida, Flávio Rodrigues.

Já a discussão com Bruno Henrique ocorreu quando o placar estava 3x2 a favor do Esquadrão e, esta sim, foi filmada. Nesta confusão, Bruno Henrique teria dito “gringo de merda”.

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O técnico Mano Menezes, o meia colombiano Juan Pablo Ramírez, do Bahia, e árbitro Flávio Rodrigues de Souza, que apitou a partida entre o tricolor e o Flamengo, no último domingo (20), no Maracanã, foram intimados pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, do Rio Janeiro, a prestar depoimento presencial sobre o caso de injúria racial contra o volante Gerson, do Flamengo.

O jogador do rubro-negro acusou Ramírez de cometer racismo durante a partida entre Bahia e Flamengo. Segundo Gerson, o meia do Bahia teria dito a frase 'cala boca, negro'. Durante a confusão que se formou no campo, o técnico Mano Menezes chegou a minimizar a acusação, dizendo que Gerson estava de malandragem.

"Instaurei inquérito e combinei com o departamento jurídico do Flamengo para que o Gerson viesse aqui para que pudesse relatar tudo o que aconteceu. Pedi para CBF os documentos referentes ao jogo (súmula). Injúria racial é crime e tem que ser punido. Importante as pessoas entenderem que não pode haver mais racismo", disse a delegada Marcia Noeli.

De acordo com o vice jurídico do Flamengo, Rodrigo Dunshee, Gerson irá até a delegacia registrar ocorrência contra Ramírez. O clube também vai pedir a punição na esfera esportiva ao técnico e jogador, ingressando com representação no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).

Do lado do Bahia, o suposto crime está sendo apurado antes de determinar quais medidas vão ser tomadas. Nesta segunda-feira (21), a diretoria do Esquadrão solicitou as imagens da partida e afastou o meia Ramírez das atividades até o fim das investigações.

Já o técnico Mano Menezes foi desligado do comando técnico do clube ainda na noite de domingo (20), após a derrota por 4x3, no Maracanã.

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O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) denunciou na quinta-feira (17) seis pessoas pela morte de João Alberto Silveira Negras, homem negro que foi morto após espancamento em um supermercado Carrefour de Porto Alegre em novembro.

Os seguranças acusados das agressões, Giovane Gaspar da Silva e Magno Braz Borge, a funcionária do supermercado Adriana Alves Dutra, além de outros três funcionários, Paulo Francisco da Silva, Kleiton Silva Santos e Rafael Rezende vão responder por homicídio triplamente qualificado com dolo eventual (motivo torpe, meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima). O MP incluiu ainda o racismo como forma da qualificação por motivo torpe.

O MP também informou que vai emitir parecer favorável pelas prisões preventivas de Kleiton, Rafael e Paulo e pela conversão em preventiva da prisão temporária de Adriana. Clique para ler a denúncia completa.

Quem são os denunciados:

Giovane Gaspar da Silva: ex-PM temporário, autor da agressão
Magno Braz Borges: segurança, autor da agressão
Adriana Alves Dutra: funcionária do Carrefour que tenta impedir gravação e tem, segundo a polícia, comando sobre os demais funcionários
Paulo Francisco da Silva: funcionário da empresa terceirizada de segurança Vector que impede acesso da esposa à vítima que agonizava
Kleiton Silva Santos: funcionário do mercado que auxilia na imobilização da vítima
Rafael Rezende: funcionário do mercado que auxilia na imobilização da vítima

“É forçoso concluir que este padrão de abuso e descaso para com a integridade física e moral da vítima só pode se explicar pelo sentimento de desconsideração, senão desprezo, que os denunciados demonstraram ter para com ela, certamente a partir de um a leitura preconceituosa relacionada à sua fragilidade sócio-econômica e origem racial”, diz um trecho da denúncia.

Para o promotor André Gonçalves Martinez, qualquer um dos denunciados poderia ter intervido e ajudado a evitar a morte.

Além dos funcionários diretamente envolvidos na morte de João Alberto, o Grupo Carrefour também é alvo de uma série de investigações e de uma ação judicial abertas na esteira do assassinato. A Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos de Porto Alegre abriu dois inquéritos civis para buscar reparação e investigar a política de direitos humanos no supermercado. Há ainda duas frentes de investigação criminais relacionadas ao episódio em curso no Ministério Público Federal. Enquanto a Procuradoria do Rio Grande do Sul apura o funcionamento de mecanismos de fiscalização de empresas de segurança privada pela Polícia Federal, os procuradores do Rio de Janeiro investigam medidas adotadas pela PF e também por supermercados, shopping centers e bancos para enfrentamento do racismo estrutural nos serviços de vigilância.

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O barbeiro Davi Oliveira tinha 23 anos quando foi assassinado no último domingo, no município de São Félix, no Recôncavo. O empacotador Vitor Santos Ferreira de Jesus tinha 25 anos quando foi morto no bairro de Pirajá, em Salvador, em junho. São casos distantes no tempo e no espaço, e não teriam muito em comum não fosse o fato das vítimas serem negras e terem perdido a vida durante operações policias. Uma infeliz coincidência, diriam alguns, uma coincidência que corre em 97% dos casos na Bahia, segundo pesquisadores.

Um relatório elaborado pela Rede de Observatórios da Violência, divulgado nesta quarta-feira (9), apresenta dados sobre mortes ocorridas durante operações policiais em cinco estados brasileiros. Rio de Janeiro lidera em número absoluto de mortes, mas quando se observa a proporção de negros assassinados nessas ações é a Bahia quem lidera do ranking. Foram 650 casos entre janeiro e dezembro de 2019, com 474 vítimas negras. O número pode ser maior já que em 161 situações a cor da vítima não foi informada. Brancos somam 15 ocorrências ou 3% do total.

O que se espera é que inocentes não sejam mortos em nenhuma situação, independentemente da cor, e que os suspeitos sejam presos e levados a julgamento. Então, por que existe essa diferença entre negros e brancos?

A questão é a proporcionalidade, diriam outras pessoas. Afinal, a população de pretos e pardos na Bahia é maior que as do Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco e Ceará, onde a pesquisa também foi realizada, mas não é bem assim. A pesquisa mostra que o número de baianos que se autodeclaram dessa raça é de 76%, então, os estudiosos se debruçaram sobre o motivo para essa diferença de 21% no número de mortes.

Para os pesquisadores que elaboraram o relatório, as operações são realizadas em áreas precisas da cidade e voltadas para uma população específica. Além disso, a política de segurança pública atual, e questões como desigualdade social, problemas de acesso à educação e à saúde corroboram com o cenário, e esse caldeirão resulta no principal fator dessa discrepância: o racismo. A integrante da Rede de Observatórios da Bahia e coordenadora de pesquisa da ONG Iniciativa Negra por uma Nova Política de Drogas, Luciene Santana, é quem explica.

“Quando analisamos os dados percebemos que tanto no imaginário das pessoas como o que vemos recorrentemente na mídia, é que pessoas negras são as que mais morrem em operações policiais. Por isso, o nome do nosso relatório é ‘A cor da violência policial: a bala não erra o alvo’, porque ela atinge majoritariamente pessoas negras. Pensando nessa estrutura do racismo, quem são essas pessoas e esses territórios que são passíveis de serem mortos e violentados? A Bahia, proporcionalmente, é o estado que mais mata negros em operações policiais”, afirmou.

Dificuldades na pesquisa
Os dados que serviram de base para a elaboração do relatório foram fornecidos pelas Secretarias de Segurança Pública dos estados, com exceção da Bahia. Algumas pastas entregaram informações parciais e que foram complementadas pelos pesquisadores. A Bahia foi a única que não forneceu nenhum dado. Luciene contou que usou informações repassadas por organizações parceiras da Rede, porque os pedidos feitos diretamente ao governo, via Lei de Acesso à Informação, não foram atendidos.

“Houve uma dificuldade muito grande em obter esses dados, inclusive o que mais no assusta em relação à Bahia é que a gente não consegue ter essas respostas”, disse. “Nós entendemos que é através dos dados da segurança pública que a gente analisa onde podemos melhorar, a parir do conhecimento desses dados estatísticos. Então, se o governo não quer divulgar esses dados nós temos dificuldade em conhecer a realidade dos estados”, afirmou.

A Rede de Observatórios da Segurança é a única iniciativa que monitora operações policiais. O acompanhamento é feito desde 2018, no Rio de Janeiro, e de junho de 2019, nos cinco estados que formam o grupo. Há dois dias, o CORREIO mostrou que o mês de novembro foi o mais violento de 2020, com 127 homicídios registrados pela SSP.

Contexto
Para o doutor em Sociologia e pesquisador da Rede e do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará (LEV/UFC), Ricardo Moura, existem falhas na política de segurança pública adotada pelos estados. Ele destacou a necessidade de se rever procedimentos e práticas, e frisou que é importante discutir o assunto.

“A gente precisa denunciar e colocar essa pauta [em discussão]. A gente não pode permanecer naturalizando isso, então, o trabalho da Rede é muito importante nesse sentido, porque ele coloca essa questão em pauta, levanta esse questionamento”, disse.

Ele contou que a atuação policial acontece dentro de um contexto que potencializa a morte da população negra, e que esses fatores precisam ser considerados. No Ceará, negros e partos são 66,9% da população, mas representam 87% dos mortos.

“Essa atuação da polícia ocorre em meio a uma série de lacunas. As áreas onde essas intervenções se dão são justamente as áreas nas quais os serviços são mais precários, então, a presença do Estado não corre dentro de uma esfera de promoção de saúde, de prevenção, de educação, de assistência social, mas ela ocorre sob a mão pesada da polícia. Isso é muito característico da nossa sociedade, excludente e desigual”, afirmou.

Moura contou que quando se fala em segurança, geralmente, é entendido apenas como necessidade de mais repressão. “Há um termo do IBGE chamado assentamentos precários que são justamente as áreas onde os serviços são mais insuficientes, e quando você faz uma sobreposição dos locais de mortes por intervenção você percebe que eles coincidem exatamente com os mapas dos assentamentos precários”, contou.

Procurada, a SSP se posicionou através de nota. Confira na íntegra:

A Secretaria da Segurança Pública ressalta que as ações policiais são realizadas após levantamentos de inteligência e observação da mancha criminal. A SSP destaca ainda que todos casos que resultam em mortes são apurados pela Corregedoria e, existindo indício de ausência de confronto, os policiais são afastados, investigados e punidos, caso se comprove a atuação delituosa.

 

A Rede é um projeto do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), com apoio da Fundação Ford, formada por cinco observatórios locais, mantidos em parceria com as organizações: Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas (INNPD); Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop); Laboratório de Estudos da Violência (LEV/UFC); O objetivo é monitorar e difundir informações sobre segurança pública, violência e direitos humanos. Clique e veja o relatório na íntegra.

Ranking em mortes absolutas em 2019:

RJ – 1.814 mortes;

SP – 815 mortes;

BA – 650 mortes;

CE – 136 mortes;

PE – 74 mortes;

Proporção de negros por estados:

BA – 76,5%

CE – 66.9%

PE – 61,9%

RJ – 51,7%

SP – 34,8%

Proporção de negros mortos em operações policiais:

BA – 96,9%

PE – 93,2%

CE – 87,1%

RJ – 86%

SP – 62,8%

 

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O jogo entre Paris Saint-Germain e Istanbul Basaksehir, nesta terça-feira (8), pela última rodada da fase de grupos da Liga dos Campeões, foi interrompido em um movimento histórico do futebol. Os atletas das duas equipes deixaram o gramado do estádio Parc des Princes no meio do primeiro tempo, após o quarto árbitro, o romeno Sebastian Colţescu, ser acusado de racismo pelo atacante senegalês Demba Ba. O duelo foi suspenso pela Uefa e será retomado nesta quarta-feira (9), às 14h55.

A confusão começou aos 13 minutos da partida, logo após o lateral brasileiro Rafael, do Istanbul, receber o cartão amarelo. Integrantes do time turco reclamaram da punição. Foi quando, segundo relatos de vários veículos da imprensa europeia, o quarto árbitro Sebastian Colţescu falou para o camaronês Pierre Webó, ex-jogador e membro da comissão técnica do Basaksehir: “Vai embora, preto”.

Demba Ba se revoltou e foi flagrado pela transmissão da partida falando para Colţescu: "Você nunca diz "esse cara branco", você diz "esse cara". Então por que você está mencionando "cara preto"? Você tem que dizer "esse cara". Por quê?!". O atacante foi expulso pelo árbitro Ovidiu Hategan, também romeno, e a confusão ficou ainda maior.

Imediatamente, dirigentes das duas equipes foram ao gramado para entender a situação, incluindo o brasileiro Leonardo, diretor de futebol do PSG. Os jogadores do clube francês e do Basaksehir, liderados por Demba Ba, Neymar e Mbappé, decidiram abandonar o duelo.

"Não vamos jogar. Não podemos jogar. Com esse cara (quarto árbitro) aqui, não vamos jogar", disse Mbappé ao árbitro Ovidiu Hategan, em momento flagrado pela transmissão.

A Uefa suspendeu a partida. Pouco depois, marcou o recomeço para às 18h. Atletas do Paris Saint-Germain foram para o túnel que dá acesso ao gramado, mas o Istanbul Basaksehir se recusou a entrar em campo novamente.

"No jogo contra o Paris Saint-Germain, os nossos jogadores decidiram não entrar em campo devido ao racismo do quarto árbitro Sebastian Coltescu contra nosso assistente técnico Pierre Webo. Apresentamos ao público as informações. #NãoaoRacismo", afirmou o clube turco em comunicado.

Após duas horas de suspensão, a Uefa anunciou que o duelo será retomado nesta quarta-feira (9), às 14h55, com uma nova equipe de arbitragem. O confronto será disputado a partir dos 13 minutos do primeiro tempo, momento em que a confusão começou nesta terça (8). A entidade informou que abrirá imediatamente uma investigação sobre o caso.

Nas redes sociais, o time turco publicou uma mensagem de combate ao racismo, que foi republicada pelo perfil do PSG.

O Paris Saint-Germain e o Istanbul Basaksehir faziam um confronto decisivo pelo Grupo H da Liga dos Campeões. O clube francês já está classificado por causa da vitória do RB Leipzig sobre o Manchester United por 3x2, mas uma vitória garante a liderança. Já o time turco não tem chances de deixar a lanterna. O jogo estava 0x0 no momento da paralisação.

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