O assassinato de João Alberto, homem negro de 40 anos, por seguranças no Carrefour motivou protestos em diversas cidades nesta sexta-feira, 20, convocados pelas redes sociais. Um grupo se manifestou em frente ao mesmo supermercado onde ocorreu o assassinato, na capital gaúcha, com faixas como "vidas negras importam" e exigindo justiça. Em São Paulo, Porto Alegre e Fortaleza, os atos tiveram tumulto. Houve também manifestações nas ruas do Rio de Janeiro, em Brasília e de Belo Horizonte.

A manifestação em Porto Alegre reuniu milhares de pessoas. No protesto, cruzes e flores foram colocadas em homenagem a João Alberto. Lideranças negras e políticas se revezavam no caminhão de som, além das buzinas de manifestantes que passavam pelo local.

Os manifestantes fizeram caminhada em direção ao estádio de futebol nas imediações do Sport Clube São José, time para o qual João Alberto torcia. Em um momento, um grupo começou a forçar o portão de entrada do Carrefour, que dá acesso ao estacionamento. Entre 20 e 30 pessoas conseguiram entrar no estacionamento e uma parte delas conseguiu chegar à parte térrea da loja, onde ficam pequenas lojas e uma escada rolante que leva ao primeiro andar,. Foi possível verificar quebra-quebra no local, muito vidro quebrado, cancelas do estacionamento foram quebradas. O vidro da escada rolante foi quebrado. O Batalhão de Choque foi até o prédio para tentar dispersar os manifestantes.

Uma minoria começou a atirar pedra e fogos de artifício. O Batalhão de Choque respondeu com bomba de gás. Depois disso, alguns outros portões que dão acesso ao hipermercado foram quebrados. Papéis, cartazes, faixas e até plantas secas foram incendiadas.

A fachada da unidade também foi pichada em protesto: "Assassinos". Rojões também foram arremessados contra o mercado.

São Paulo
Na capital paulista, manifestantes se concentraram no vão do Masp, na região central, por volta das 16 horas. Mais tarde, o grupo se direcionou para o Carrefour da Rua Pamplona. Uma pequena parte dos manifestantes pegou pedras dos vasos do estacionamento e arremessou contra os vidros do supermercado. O grupo de seguranças do Carrefour não resistiu à invasão - a própria Polícia Militar não interveio neste momento. A ação durou pouco mais de 10 minutos e clientes ficaram assustados.

Lideranças da manifestação chegaram a pedir que não houvesse quebra-quebra ou invasão - mas os pedidos não foram atendidos por esse pequeno grupo. A polícia só se aproximou quando todos os manifestantes já tinham saído do supermercado. Até às 20h45, não havia registro de prisões, feridos ou saques ao estabelecimento.

No fim do ato, manifestantes também acenderam velas em homenagem às vítimas da violência.

Outras cidades
No Rio, dezenas de manifestantes fizeram um protesto no supermercado Carrefour da Barra da Tijuca, na zona oeste. Aos gritos de "Assassino, Carrefour", eles chegaram a protestar até mesmo dentro do supermercado, pedindo para que a unidade fechasse. Antes, o grupo se posicionou no estacionamento que fica em frente ao supermercado e exibiu faixas com mensagens como "Parem de nos matar" e "Sem Justiça, sem paz". O ato foi pacífico.

Na capital mineira, o ato foi organizado por entidades que representam a população negra, como o Núcleo Rosa Egipsíaca Negros, Negras e Indígenas. A integrante do coletivo Nzinga, de mulheres negras, Etiene Martins, de 37 anos, afirma que esse tipo de violência não é um episódio isolado. "Acontece todos os dias. Nesse caso, foi filmado, divulgado, e ajuda a denunciar. Só que nem sempre é assim. Muitas vezes acontece e ninguém vê", diz.

Em Fortaleza, há relatos de uso de spray de pimenta pelos policiais e três manifestantes foram detidos. Em Brasília, as manifestações se concentraram no Carrefour localizado na Asa Sul O ato começou na rua e depois entrou na unidade para pedir seu fechamento.

Publicado em Brasil

Uma moradora de Salvador denunciou por racismo um funcionário de uma unidade da rede de farmácias Drogasil, localizada dentro do Salvador Shopping, após ter sido abordada e acusada de furtar um creme preventivo de assadura no estabelecimento comercial.

Maria Angélica Calmon, 54 anos, que atua como assessora de formatura e eventos, usou as redes sociais para desabafar sobre o ocorrido e relatou o caso em entrevista ao G1, nesta terça-feira (7). Ela acredita que tenha passado pela situação pelo fato de ser negra.

O caso ocorreu em 17 de abril, mas Maria Angélica contou que só trouxe a história à tona depois por ter ficado abalada psicologicamente e não ter tido coragem de divulgar o ocorrido antes.

"Eu entrei na farmácia para me encontrar com minha filha, minha mãe e minha neta, que já estavam lá dentro. Minha mãe tem problemas cardíacos e é hipertensa, e tinha ido lá para comprar remédios. Enquanto elas pegavam os medicamentos, eu fiquei olhando a farmácia, vendo alguns hidratantes. Depois que elas pagaram, saímos e fomos para a praça de alimentação", destacou.

Cerca de 2 horas depois, segundo Maria, o funcionário da farmácia foi atrás dela na praça do shopping e a acusou de furto.

"Eu estava na praça principal com minha neta, que estava um parque infantil, e ele me abordou, duas horas depois. Achei inicialmente que era uma pegadinha, uma brincadeira de mau gosto. Mas ele disse que era sério, que tinha me visto nas câmeras de farmácia furtando um creme. Eu, então afirmei que aquilo era uma calúnia".

A mulher contou ter relatado ao funcionário que estava usando um turbante na cabeça e que não teria como ele confundi-la com outra pessoa. O homem, no entanto, continuou com a acusação. Ela afirma que decidiu, então, jogar no chão tudo que estava dentro da bolsa dela, para provar que não tinha furtado nada.

"Como minha mãe e minha filha estavam em outro lugar quando ele me abordou, e eu estava apenas com minha neta, eu pedi a uma mulher que estava na praça para ser testemunha, enquanto eu esvaziava a bolsa. Joguei tudo no chão para ele ver que não tinha nada. Só faltou eu tirar a roupa. Ele viu que realmente eu estava certa e depois ainda disse que eu não precisava fazer aquilo tudo, e saiu correndo", afirma.

Queixa no shopping e na delegacia
A cliente conta que começou a gritar e que um segurança do shopping foi ao encontro dela para saber o que tinha acontecido. Depois, ela conta que foi orientada pela mulher que testemunhou o momento que ela esvaziou a bolsa a prestar uma queixa na unidade de atendimento ao cliente do shopping.

"Fui no centro de atendimento ao cliente e depois na delegacia. A gente não pode ficar calado diante dessas situações. Eu não tenho inimigos, mas se tivesse, não desejaria que passasse por um vexame desses. Quando eu comecei a gritar, um segurança veio, mas também não fez nada, nem foi atrás do funcionário da farmácia. Ele [o funcionário] não teve nenhuma decência mesmo diante da minha neta, que ficou traumatizada com tudo aquilo e agora tem medo até de entrar em farmácias", destaca.

"O que ele [o funcionário] queria mesmo era me humilhar na praça. Se eu fosse uma mulher branca, ele não me abordaria do jeito que abordou. Ele achou que ia ficar impune, mas não vai. Sou uma pessoa simples, que não tem intenção nenhuma de fazer nada a ninguém que não seja justo. Fiquei um tempo abalada e depois decidi externar isso. Fiz relato no Facebook para que as pessoas saibam, e casos como esses não ocorram mais. O denunciei por calúnia e racismo", destacou.

Pedido de desculpas de gerente
A denúncia contra o funcionário foi feita na 16ª Delegacia da Pituba. Maria Angélica contou que ainda pretende levar o caso ao Ministério Público da Bahia.

Cinco dias depois do ocorrido, ela chegou a receber uma ligação da gerente da farmácia pedindo desculpas pelo que tinha acontecido.

Por meio de nota, a Drogasil informou que discorda veementemente da atitude do funcionário que abordou Maria Angelica Calmon, como foi relatado. Afirmou que o comportamento do funcionário "não reflete de forma alguma os valores da Drogasil".

"Pedimos desculpas à Sra. Angélica e informamos que a empresa está concluindo as averiguações e tomará as providências para que o fato não se repita", diz trecho da nota.
A Drogasil ainda afirmou que é "uma empresa com 84 anos e com valores que prezam pela ética e as relações de confiança e respeito, e valorizam o ser humano dentro e fora da empresa".

Shopping diz lamentar e que prestou assistência
O Shopping Salvador informou, também por meio de nota, que lamenta o fato relatado pela cliente.

"A administração reforça que prestou assistência imediata e está acompanhando a situação junto à loja desde que a ocorrência foi registrada no Centro de Atendimento ao Cliente, seguindo à disposição das autoridades para esclarecimentos".

A administração do shopping disse, também, que repudia qualquer atitude discriminatória por parte de lojistas e colaboradores.

"O empreendimento é, inclusive, uma referência por desenvolver ações de combate ao racismo, tendo recebido por quatro anos consecutivos o Selo da Diversidade Étnico-Racial, concedido pela Secretaria da Reparação da Prefeitura de Salvador como um reconhecimento público de ações de promoção da equidade racial nas políticas de gestão de pessoas e marketing".

Fonte: G1/Bahia

Pagina 2 de 2