Dentre os 12 itens da cesta básica, o que mais pesou no bolso do consumidor foi o óleo de soja. Em apenas um ano, o produto subiu nada menos que 87,12% em Salvador, e o problema passou a atormentar quem trabalha com a venda de quitutes e também quem faz o consumo em casa.

Os dados que mostram o número do aumento são do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que faz o acompanhamento dos preços mensalmente. A alta foi registrada entre abril de 2020 e abril 2021.

No último mês de abril, Salvador foi a capital brasileira que mais viu o preço do óleo subir nas prateleiras, com um aumento de 7,1% em comparação a março. Ele também foi o produto da cesta que mais aumentou de preço, atrás somente do café em pó, que subiu 11,15% no quarto mês do ano.

Os consumidores notaram o aumento e fizeram inclusive reclamação em supermercados. A servidora pública Bruna Santana, 43, encontrou o litro de óleo por R$ 14, no Rede Mix da Avenida Paralela, na semana passada. Ontem (19), o preço deu uma amenizada e variou entre R$ 7,90 e R$ 12, a depender da marca. Porém, esse valor está mais do que o dobro do que Bruna encontrava no início da pandemia da covid-19, de R$ 3,70.

“Não levei para casa de jeito nenhum, e ainda fiz reclamação porque achei um absurdo. É uma coisa que não justifica, era uma marca que compro sempre. Queria entender, porque o Brasil é líder em exportação de óleo, a Bahia também produz, principalmente na região do Oeste”, indaga a servidora.

Ela se sensibiliza com a baixa renda de algumas famílias e pontua que esse não seria um momento de abusar nos preços dos produtos. “Fico imaginando uma pessoa com salário mínimo ou auxílio emergencial, que agora está variando entre R$ 150 e R$ 375. Como ela está se alimentando com o óleo a R$ 12? E por que os produtores, ao invés de ajudar a população abaixando os preços, nesse problema grave que é a pandemia, quer abusar, obtendo super lucros?”, questiona Bruna.

A servidora revela que passou a consumir metade do óleo que usava para economizar no mercado e também comprou uma air fryer (fritadeira que não usa óleo). “Além de comer de maneira mais saudável, a gente economiza mais”, comenta Santana, que mora com os dois filhos no Alphaville.

O designer gráfico Caio Amaral, 25, morador do Cabula, também reduziu o consumo e deixou de fazer as receitas do final de semana.

“Tenho feito muito menos por conta deste aumento, para evitar o gasto. Eu usava muito para bolo, pão, que usa muito óleo. Eu fritava muita coisa, costumava comprar dois litros por mês e agora compro somente aquele pequeno e vou levando”, conta Amaral.

Tamanha a indignação que ele desabafou pelo Twitter: “Galera, um desabafo aqui. Não sei se vocês fazem mercado e tiram do próprio bolso, mas está cada vez mais impossível fazer isso com os preços absurdos que as coisas estão. Toda semana é um aumento diferente, o óleo está 9 reais. NOVE REAIS!”, desabafa. O tweet foi em janeiro. Hoje, o óleo já está a R$ 12.

No bairro onde mora, ele diz que não há muita saída. “Não tem como mudar de marca, porque todas estão com valores altos, não tem para onde correr. E mercado é a mesma coisa, todos praticamente trabalham com o mesmo padrão de preço”, relata.

Caio passou a usar mais margarina, como paliativo, e até misturar os dois. “Tentei burlar de todas as formas e ir levando. Mas o óleo está muito caro, é impossível não notar. Tá custando o mesmo preço de uma manteiga de primeira linha da Perini e de bairro mais nobres”, avalia Amaral.

Profissionais
A confeiteira Daniela Santos, 44, tem duas pastelarias, uma em Itapuã, onde mora, e outra no Caminho de Areia, e tem sofrido no bolso com o aumento do óleo. Ela costuma gastar quatro caixas de 24 litros de óleo por semana para fritar os pastéis. Esse custo, no início da pandemia, era de R$ 355,20. Hoje, a mesma quantidade custa R$ 864 – uma diferença de 143%.

“O óleo está muito caro e isso tem afetado os lucros, porque a gente não pode ficar aumentando o preço do pastel toda hora. A gente aumentou no início do ano, só que já aumentou o preço do óleo e a gente não pôde repassar, senão o cliente reclama e o movimento, que tá fraco, fica pior”, explica Daniela, dona da Rancho do Pastel.

Ela ainda mistura óleo com banha de porco, que também não está barata. “A banha tá caríssima, de R$ 220 o pacote de 15 litros. Não tem como escapar, todos os insumos subiram. E não dá para usar de outra marca, porque não economiza, o óleo fica escuro mais rápido, então tem que ficar trocando mais vezes”, afirma. Ela vende cerca de 500 pastéis por dia, quando o movimento é bom, e de 150 a 200, em dias mais fracos, em cada unidade, que conta com 5 a 6 funcionárias.

O aumento do óleo não foi só em Salvador, mas também na Região Metropolitana: 82,56%, nos últimos 12 meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em abril, foi de 4,21%. Assim como o óleo, o azeite de oliva e a margarina aumentaram, mas um pouco menos: de 17,34% e 11,18%, respectivamente. No último mês, essa alta foi de 0,59% no azeite e 1,33% na margarina.

Alta do dólar em relação ao real favorece exportação
O motivo do aumento do óleo, de acordo com o IBGE, é a valorização da soja enquanto commodity no mercado externo. “Com a valorização internacional, os produtores priorizam exportação. Ficam menos grãos para o mercado interno, e o preço sobe para quem fabrica o óleo”, esclarece o Instituto.

A supervisora técnica regional do Dieese na Bahia, Ana Georgina Dias, ratifica essa tese. “Temos observado uma conjunção de fatores que fizeram os produtos aumentarem, principalmente os de exportação, como é a soja. O real está super desvalorizado em relação ao dólar, nossos produtos estão mais baratos, internacionalmente falando, e isso é um fator de atração para os compradores”, detalha a economista.

“Para quem produz soja, é mais vantajoso exportar do que vender no mercado interno e isso tem sido um fator de redução da oferta e não temos estoques reguladores. O Brasil oscila entre o primeiro e segundo país produtor e exportador de soja, e temos exportado tanto, principalmente de dezembro para cá, que estamos precisando importar soja. Pela alta desse mês, de 7,1% no preço, significa que o volume exportado está crescendo”, analisa Dias.

A Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja), no entanto, que os produtores de soja não têm relação com o aumento de preço, porque eles não determinam o preço do produto que vendem. Eles indicaram contato com a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), que não respondeu até o fechamento da matéria.

O óleo até chegou a abaixar de preço em fevereiro e março, mas, com a subida de abril, compensou. “No balanço dos quatro meses, ele apresentou estabilidade: em janeiro uma alta de 1,75%, em fevereiro uma queda de 5,29%, em março, queda de 3,72% e abril uma alta de 7,1%. O problema é que ele foi aumentando progressivamente, desde o ano passado, e, se tem queda em um mês, aumenta no mês seguinte”, pontua.

A principal consequência disso é a perda do valor de compra do consumidor. “Quando o preço sobe muito, para quem ganha um salário mínimo, perde o poder de compra. E a cesta básica, que é composta por produtos tão essenciais, não tem para onde reduzir e a família pode ficar em uma situação de insegurança alimentar. O salário mínimo é insuficiente”, observa a supervisora técnica do Dieese.

O tempo de trabalho para a compra de um 900 ml de óleo está em 1h36 min e o preço médio, que estava em R$4,27 em abril de 2020, está agora em R$ 7,99. Esse período de tempo era de 54 minutos há 12 meses. O preço total da cesta básica teve um aumento de 7,63% no último ano e custa R$ 457,56.

Saiba como economizar
A presidente do Movimento das Donas de Casa e Consumidores da Bahia, Selma Magnavita, aconselha diminuir o consumo do óleo e deixar de utilizar em algumas receitas. “O arroz, que a gente sempre costuma rechear de óleo, com cebola e alho, pode deixar de fazer isso, porque, no próprio arroz, tem bastante gordura, então não precisa, tem como driblar”, orienta.

Selma ainda diz que o mesmo pode ser feito ao fritar a carne. “Com os temperos e os legumes, a própria carne frita sozinha. Nesse momento, é preciso guardar o óleo para o essencial, para aqueles cozimentos que não podemos evitar”, adiciona. Ela acrescenta que os consumidores podem deixar de fritar e priorizar refeições utilizando o forno e tentar comprar mais banha vegetal e animal, que duram mais tempo que o óleo.

A Associação Baiana de Supermercados (Abase) foi contactada, mas não se pronunciou até o fechamento dessa matéria.

Variação do preço dos alimentos da cesta básica nos últimos 12 meses (fonte: Dieese)

Carne - 4,5 kg - de R$ 128,61 para R$ 160,97(25,16%)
Leite - 6 litros - de R$ 28,62 para R$23,40 (22,31%)
Feijão - 4,5 kg - de R$ 31,05 para R$ 32,90 (5,96%)
Arroz - 3,6 kg - de R$11,16 para R$ 20,16 (80,65%)
Farinha - 3 kg - de R$11,73 para R$ 13,77 (17,39%)
Tomate - 12 kg - de R$78,96 para R$45,24 (-42,71%)
Pão - 6 kg - de R$57,18 para R$ 66,66 (16,58%)
Café - 300 g - de R$5,78 para R$ 4,71 (22,72%)
Banana - 7,5 dz - de R$41,33 para R$ 35,55 (-13,98%)
Açúcar - 3 kg - de R$7,23 para R$ 8,97 (24,07%)
Óleo - 900 ml - de R$4,27 para R$7,99 (87,12%)
Manteiga - 750 g - de R$ 25,49 para R$ 30,95 (21,42%)
Total - de R$ 425,12 para R$ 457,56 (7,63%)

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Em abril, o custo da cesta básica subiu em todas as 18 capitais analisadas pela Pesquisa Nacional da Cesta Básica, divulgada hoje (7), pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

As altas mais expressivas ocorreram em Campo Grande (10,07%), São Luís (7,10%) e Aracaju (4,94%).

A cesta mais cara do país foi a de São Paulo, onde o conjunto de alimentos essenciais custava, em média, R$ 522,05, seguida pela cesta do Rio de Janeiro, R$ 515,58, e de Porto Alegre, R$ 499,38. As cestas mais baratas, em abril, eram as de Salvador, R$ 396,75, e Aracaju, R$ 404,68.

Nos primeiros quatro meses de 2019, todas as cidades analisadas pela pesquisa apresentaram alta acumulada. Os maiores aumentos foram observados em Vitória (23,47%) e Recife (22,45%). O menor aumento acumulado ocorreu em Florianópolis, com alta de 5,35%.

Salário mínimo
Com base na cesta mais cara do país, observada em São Paulo, o valor do salário mínimo em dezembro, necessário para suprir as despesas de um trabalhador e de sua família com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência, seria de R$ 4.385,75, o que equivale a 4,39 vezes o valor do salário mínimo atual, de R$ 998,00.

Fonte: Agência Brasil

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O custo do conjunto de alimentos essenciais subiu em todas as capitais em março de 2019, como mostra o resultado da Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, feita mensalmente pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em 18 cidades. As altas mais expressivas ocorreram em Brasília (11,09%), Florianópolis (7,28%), São Luís (7,26%) e Curitiba (7,20%).

A capital com a cesta mais cara foi São Paulo (R$ 509,11), seguida pelo Rio de Janeiro (R$ 496,33) e Porto Alegre (R$ 479,53). Os menores valores médios foram observados em Salvador (R$ 382,35) e Aracaju (R$ 385,62).

Em 12 meses, entre março de 2018 e o mesmo mês deste ano, todas as cidades acumularam alta, as mais expressivas em Goiânia (20,25%), Salvador (18,42%) e Brasília (17,39%). Nos primeiros três meses de 2019, todas as cidades mostraram alta acumulada, com destaque para Recife (17,85%), Vitória (17,84%) e Natal (16,87%). A menor alta foi registrada em Porto Alegre (3,19%).

Com base na cesta mais cara que, em março, foi a de São Paulo, e levando em consideração a determinação constitucional que estabelece que o salário mínimo deve ser suficiente para suprir as despesas de um trabalhador e da família dele com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência, o Dieese estima mensalmente o valor do salário mínimo necessário.

Em março de 2019, o valor necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria equivaler a R$ 4.277,04, ou 4,29 vezes o mínimo de R$ 998. Em fevereiro de 2019, o piso necessário correspondeu a R$ 4.052,65, ou 4,06 vezes o mínimo vigente. Já em março de 2018, o valor necessário seria de R$ 3.706,44, ou 3,89 vezes o salário mínimo, que era R$ 954.

Preços dos produtos

Entre fevereiro e março de 2019, os preços dos produtos in natura ou semielaborados apresentaram tendência de alta: tomate, batata (pesquisada na Região Centro-Sul), feijão e banana. Já as cotações da carne bovina de primeira e do açúcar tiveram redução média de valor na maior parte das cidades.

O preço do quilo do tomate aumentou em todas as capitais de fevereiro para março. As taxas variaram entre 10,12%, em Campo Grande, e 54,33%, em Florianópolis. Em 12 meses, as altas acumuladas oscilaram entre 10,09%, em Porto Alegre, e 58,59%, no Recife. A redução da oferta devido ao fim da safra de verão explica a elevação expressiva dos preços no varejo.

A batata, pesquisada no Centro-Sul, ficou com o preço alto em todas as cidades. Os aumentos mais expressivos foram registrados em Brasília (79,11%), Porto Alegre (34,27%) e São Paulo (20,84%). Em 12 meses, as taxas acumuladas variaram entre 52,68%, em Goiânia, e 130,92%, em Belo Horizonte. A menor oferta de batata, com as chuvas e o fim da safra das águas, elevou o preço no varejo.

O preço médio do feijão subiu em 17 capitais em março de 2019. O tipo carioquinha, pesquisado nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, em Belo Horizonte e São Paulo, só não apresentou aumento em Campo Grande (-10,92%). Destacam-se as elevações em Brasília (102,13%), Belém (26,55%) e São Luís (17,55%). Já o feijão-preto, pesquisado nas capitais do Sul, em Vitória e no Rio de Janeiro, apresentou elevação de valor entre 6,94%, em Porto Alegre, e 19,84%, em Curitiba. Em 12 meses, o preço médio do grão carioquinha acumulou alta acima de 100%, em todas as capitais: as taxas variaram entre 112,84%, em Aracaju, e 191,44%, em Belém.

As variações acumuladas do tipo preto também foram positivas, mas em patamares menores: entre 37,93%, no Rio de Janeiro, e 69,27%, em Vitória. A redução da área plantada do feijão-carioca na chamada safra das águas e as chuvas intensas diminuíram tanto a disponibilidade quanto a qualidade do grão. No caso do tipo preto, o aumento médio de cotação se deu pela maior demanda, uma vez que o consumidor teve a opção de substituir o grão carioca pelo preto.

Já a dúzia da banana aumentou em 15 cidades e diminuiu em três. A pesquisa coleta os tipos prata e nanica e faz uma média ponderada dos preços. As altas mais expressivas foram registradas em Brasília (35,04%), Belo Horizonte (20,79%), Curitiba (18,98%) e Campo Grande (18,32%). Bananas prata e nanica apresentaram diminuição de oferta, em decorrência de problemas climáticos. No caso da nanica, também ocorreu antecipação de safra, devido ao calor. Os preços aumentaram no varejo na maior parte das cidades.

O preço do quilo da carne bovina de primeira diminuiu em 11 cidades e subiu em sete. Os recuos variaram entre -2,71%, em Brasília, e -0,22%, em Curitiba. A maior alta foi registrada em Vitória (1,39%). Em 12 meses, o produto teve alta em 17 cidades, entre 1,24%, em Belém, e 11,75%, em Goiânia. A única redução ocorreu em Florianópolis (-1,60%). A maior oferta de animais abatidos e o decréscimo no preço dos insumos aumentou o volume de carne comercializada e diminuiu o preço no varejo.

O quilo do açúcar diminuiu em dez cidades, ficou estável em Belo Horizonte e João Pessoa e aumentou em seis capitais. As quedas mais expressivas foram registradas em Florianópolis (-5,99%) e São Paulo (-5,96%). A maior alta ocorreu em Brasília (6,35%). Em 12 meses, o preço do açúcar subiu em 11 cidades, com variações entre 3,26%, em Fortaleza, e 30,87%, em Goiânia.

Fonte: A Tarde

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