Na festa da democracia, eleitores celebram comendo água e aglomerando

Na festa da democracia, eleitores celebram comendo água e aglomerando

As crianças nascidas em uma democracia aprendem, ainda durante o primário, o que são direitos e deveres. Crescidos e com título de eleitor na mão, alguns votantes de Salvador acharam por bem realizar uma pequena mudança no aforismo e, após exercerem o direito do voto, partiram direto pro beberes.

E olha que nem foi difícil para o eleitor tomar tal caminho. A multidão já tava lá por motivos cívicos, faltava apenas um isopor com “piriguete 2 por 5” escrito na frente e um som tocando pagodão para profanizar o momento. O ambulante Lucas Silva, 22, provou seu espírito empreendedor e logo os dois.

“Não dizem que a eleição é a festa da democracia? Então. Estamos aqui para celebrar”, resumiu ele, que estava ocupado fornecendo cerveja para a aglomeração que se formou ao lado de seu isopor, instalado nas proximidades das escolas estaduais Manoel Vitorino e Luiz Viana, dois dos maiores colégios eleitorais da capital baiana.

Mas qual seria o motivo do fuzuê? Militantes celebrando o bom desempenho de seu candidato? “Não. Apenas me encontrei com alguns amigos e parentes aqui na hora da votação e aí não teve jeito. Todo mundo começou a beber”, justificou a engenheira ambiental Daiane Brito, que ainda estava na terceira cerveja quando conversou com a reportagem.

O reencontro de pessoas, aliás, foi um dos maiores gatilhos para a bebedeira exagerada. “Eu estou respeitando a quarentena, não estou saindo de casa e vim aqui apenas para votar. Mas acabei encontrando, por acaso, alguns amigos que não via há meses. Aí não teve como, paramos para beber e colocar o papo em dia”, contextualiza Marcelo Souza, 27, que votou no Colégio Estadual David Mendes Pereira, em São Marcos.

Corona? Nunca nem vi

Já na Universidade Católica do Salvador, unidade da Federação, um grupo de devassos rebolava em cima dos santinhos que inundavam o chão. Dentre eles estava o engenheiro civil Anderson Tavares, 31, que não tinha vergonha de admitir que colocou as eleições em segundo plano.

“A única candidata que confio é a minha lôra (disse apontando para a cerveja) que não me abandona em nenhum momento da vida”, declarou-se.

Apesar disso, Anderson votou antes da algazarra. “Durante, na verdade. ‘Tô’ bebendo desde de manhã cedo”, corrige. Mas ao sair de seu colégio eleitoral, ele colocou no bolso a identidade, título de eleitor e também a máscara, visto que eles e seus amigos e estavam com o rosto pelado durante o reggae.

Questionado se não tinha medo de ficar desprotegido em meio à aglomeração, o engenheiro respondeu citando um hit do cantor Tierry: “não tenho medo do coronavírus, já peguei coisa pior e ainda chamei de meu amor.”

Mas a Polícia Militar (PM-BA) - e autoridades de saúde também - não concorda com o ponto de vista de Anderson. Em comunicado, a corporação disse que agiu durante todo o domingo de votação para evitar aglomerações em Salvador e no interior.

Mesmo com as rondas, diversas aglomerações foram registradas em todo o estado. Na capital, um paredão reuniu centenas de pessoas em frente à Escola Estadual Teodoro Sampaio, em Santa Cruz. “Mas ali nem precisa de eleição ou data comemorativa. Tem essas festas aqui no bairro toda semana”, revelou uma moradora que não quis se identificar.

Já no interior alguns internautas postaram vídeos mostrando comemorações e festas em cidades como Dom Macedo Costa e Riachão do Jacuípe.

Igual a Carnaval

Em meio a eleitores e candidatos que tentavam angariar alguns votos de última hora estavam os ambulantes. Com a proibição de eventos com mais de 200 pessoas vigente em Salvador desde março, as eleições foram o primeiro evento desde o Carnaval que renderam algum lucro aos vendedores.

“Esse tem sido um ano muito difícil, mas hoje valeu a pena ter vindo trabalhar. Esgotei toda a cerveja ainda às 14h30 tamanho o movimento. Como ninguém tá respeitando a quarentena, todo mundo sem máscara e bebendo, isso aqui tá igual uma festa. Tô vendendo tanta cerveja quanto no carnaval”, comemorou a ambulante Taiane Santos de Almeida, 17, que posicionou seu isopor em frente à Ucsal.

Já o gerente de um bar em Brotas, que não quis se identificar, também celebrou o movimento acima do normal. “Acredito que nenhuma classe sofreu tanto com essa pandemia como nós. O movimento de hoje está muito bom e a gente espera que isso seja um sinal de que as coisas vão melhorar daqui pra frente, pois só um dia de bar cheio não cobre todos os prejuízos que tivemos”, pondera.

 

Itens relacionados (por tag)

  • Chuva: 41 municípios em situação de emergência, 380 desabrigados e 2.227 desalojados

    Com base em informações recebidas das prefeituras, a Superintendência de Proteção e Defesa Civil da Bahia (Sudec) atualizou, nesta quarta-feira (28), os números referentes à população atingida pelas enchentes que ocorrem em municípios baianos.

    Até a situação presente, são 380 desabrigados e 2.227 desalojados em decorrência dos efeitos diretos do desastre. Segundo a Sudec, foram contabilizados seis óbitos. Os números correspondem às ocorrências registradas em 76 municípios afetados. É importante destacar que, desse total, 41estão com decreto de Situação de Emergência.

    O Governo do Estado segue mobilizado para atender as demandas de emergência, a fim de socorrer a população atingida pelas fortes chuvas em diversas regiões da Bahia.

  • Empresa brasileira vira concorrente da BYD pela antiga fábrica da Ford em Camaçari

    A BYD ganhou um concorrente pelo complexo da Ford nos minutos finais do prazo para a manifestação de interessados em comprar a antiga fábrica da montadora americana em Camaçari, fechada em janeiro de 2021 e que hoje pertence ao governo da Bahia. O empresário brasileiro Flávio Figueiredo Assis entrou na disputa para erguer ali a fábrica da Lecar e construir o futuro hatch elétrico da marca, que, diz, deve ter preço abaixo de R$ 100 mil.

    Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, Assis já tem um projeto de carro elétrico em fase de desenvolvimento, mas ainda procura um local para produzir o veículo. Em visita às antigas instalações da Ford para comprar equipamentos usados, como robôs e esteiras desativadas deixadas ali pela empresa americana, descobriu que o processo que envolve o futuro uso da área ainda estava aberto, já que o chamamento público feito pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado da Bahia (SDE) só se encerraria nessa quarta (28).

    O documento da SDE, ainda segundo a Folha, diz que a BYD havia apontado interesse no complexo industrial de Camaçari, mas outros interessados também poderiam "manifestar interesse em relação ao imóvel indicado e/ou apresentar impedimentos legais à sua disponibilização, no prazo de 30 (trinta) dias, contado a partir desta publicação".

    A montadora chinesa anunciou em julho passado, em cerimônia com o governador Jerônimo Rodrigues no Farol da Barra, um investimento de R$ 3 bilhões para construir no antigo complexo da Ford três plantas com capacidade de produção de até 300 mil carros por ano.

    A reportagem da Folha afirma que a BYD já está ciente da proposta e prepara uma resposta oficial a Lecar. E que pessoas ligadas à montadora chinesa acreditam que nada irá mudar nas negociações com o governo baiano porque Assis estaria atrás apenas de uma jogada de marketing. O empresário, por sua vez, disse ver uma oportunidade de bom negócio, pois os valores envolvidos são atraentes.

    Procurada pelo CORREIO, a BYD afirmou que não vai se pronunciar sobre o assunto, e que o cronograma anunciado está mantido.

    Em nota, a SDE apenas confirmou que a Lecar encaminhou e-mail ontem afirmando ter interesse na área da antiga Ford. A secretaria, diz a nota, orientou a empresa sobre como proceder, de acordo com as regras do processo legal de concorrência pública em curso.

    Entre as perguntas não respondidas pela pasta na nota estão o prazo para a conclusão da definição sobre a área e o impacto que a concorrência entre BYD e Lecar traz para a implantação de uma nova fábrica de veículos no estado.

  • Bahia adere ao Dia D de mobilização nacional contra a Dengue

    Em um esforço para combater a crescente ameaça da Dengue, o estado da Bahia se junta ao Dia D de mobilização nacional, marcado para o próximo sábado (2). A informação é da secretária da Saúde do Estado, Roberta Santana, que está em Brasília nesta quarta-feira (28) para uma reunião do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Esta iniciativa sublinha a necessidade de uma ação coletiva diária e destaca o papel vital que cada indivíduo desempenha na prevenção da doença. Com o apoio do Conselho Estadual dos Secretários Municipais de Saúde da Bahia (Cosems-BA), da União dos Municípios da Bahia (UPB) e do Conselho Estadual de Saúde (CES), os municípios farão mutirões de limpeza, visitas aos imóveis nas áreas de maior incidência e distribuição de materiais informativos.

    A Bahia registra um aumento significativo de casos de Dengue, com 16.771 casos prováveis até 24 de fevereiro de 2024, quase o dobro em comparação ao mesmo período do ano anterior. Atualmente, 64 cidades estão em estado de epidemia, com a região Sudoeste sendo a mais afetada. Além disso, foram confirmados cinco óbitos decorrentes da doença nas localidades de Ibiassucê, Jacaraci, Piripá e Irecê.

    De acordo com a ministra da Saúde, Nísia Trindade, o cenário nacional é particularmente desafiador devido ao impacto das condições climáticas adversas e ao aumento exponencial dos casos de Dengue, incluindo a circulação de novos sorotipos (2 e 3), que exigem uma atenção mais integrada.

    Na avaliação da secretária da Saúde do Estado, Roberta Santana, o momento é de unir esforços para conter o aumento do número de casos e evitar mortes. "O Governo do Estado está aberto ao diálogo e pronto para apoiar todos os municípios, contudo, cada ente tem que fazer a sua parte. As prefeituras precisam intensificar as ações de atenção primária e limpeza urbana, a fim de eliminar os criadouros, e fortalecer a mobilização da sociedade, antes de recorrer ao fumacê. A dependência excessiva do fumacê, como último recurso, pode revelar uma gestão reativa em vez de proativa no combate à doença", afirma a secretária.

    A titular da pasta estadual da Saúde pontua ainda que o Governo do Estado fez a aquisição de novos veículos de fumacê e distribuirá 12 mil kits para os agentes de combate às endemias, além de apoiar os mutirões de limpeza urbana com o auxílio das forças de segurança e emergência. "Além disso, o Governo do Estado compartilhou com os municípios a possibilidade de adquirir bombas costais, medicamentos e insumos por meio de atas de registro de preço", ressalta Roberta Santana.

    Drones

    O combate à Dengue na Bahia ganhou mais uma aliada: a tecnologia. O Governo do Estado deu início ao uso de drones como nova estratégia para identificar em áreas de difícil acesso focos do mosquito Aedes aegypti, vetor de transmissão de Dengue, Zika e Chikungunya. As imagens capturadas pelos equipamentos são analisadas pelos agentes de endemias, que conseguem identificar locais com acúmulo de água parada e possíveis criadouros do mosquito, facilitando a ação das equipes e tornando o combate mais eficaz.

Deixe um comentário

Certifique-se de preencher os campos indicados com (*). Não é permitido código HTML.