Mercado enxuto: construção civil tem menor número de empresas na Bahia em 8 anos

Mercado enxuto: construção civil tem menor número de empresas na Bahia em 8 anos

O setor de construção civil da Bahia está bem mais enxuto desde o início da pandemia, conforme revelado pela Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC), divulgada pelo IBGE nesta quinta-feira (17) com dados de 2019. Em 31 de dezembro daquele ano, estavam abertas 2.372 empresas da construção civil no estado, número 9,2% abaixo do registrado em 2018 (2.613) e o menor desde 2011. De acordo com economista ouvido pelo CORREIO, esse cenário não deve mudar no curto prazo. No entanto, a queda no número de CNPJ’s abertos não significa necessariamente um choque no setor e nem na sua capacidade de gerar empregos.

Pelo menos, é isso que garante Carlos Henrique Passos, diretor de relações institucionais do Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia (Sinduscon-BA), que cita que, em 2021, 7 dos 52 mil empregos gerados na Bahia foram na construção civil. “Como os negócios são muito individuais e não há grandes obras públicas ou imobiliárias, os contratos estão menos amplos, o que deixa empresas menores de fora. É preciso analisar o setor todo e não só olhar para o que se perdeu. Estamos relativamente bem dentro de uma economia complicada”, garante.

Um exemplo desse bom andamento do setor é a MRV Construtora. “Nosso nível de contratação de mão de obra, por exemplo, apresentou aumento para garantir o cumprimento de cronogramas de entregas e em função das várias obras que estão sendo iniciadas no estado. Em Salvador e Região Metropolitana foram lançados três empreendimentos nesta primeira metade de 2021 e novos lançamentos de imóveis vão ocorrer para atender clientes de diferentes faixas de renda”, afirmou a empresa em nota enviada à reportagem.

Para Passos, o fechamento de quase trezentas empresas poderia indicar uma alta na desocupação de postos de trabalho, mas não é o que tem acontecido segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que também são destacados por ele. “Quando o foco é o que se tem hoje e a economia que estamos lidando, estamos bem. Nós perdemos, em 2020, 638 postos de trabalho, o que é pouco se considerarmos a pandemia. O setor de serviços, por exemplo, perdeu cerca de 10 mil vagas. O segmento que gerou emprego foi basicamente a agropecuária, com 2 mil postos sendo ocupados”, salienta.

Realidade diferente

A necessidade de avaliar o setor com foco no que temos hoje como realidade econômica é reforçada pelas falas de Tiago Brito, economista e head de mercado de capitais da Arazul Capital, que explica que existe uma diferença considerável para o que se viu na Bahia - e no Brasil - até 2014, quando havia uma crescente na construção civil porque existia uma alta de investimento do governo em obras públicas, o que, segundo ele, é um dos principais indutores da construção civil.

“Antes, tínhamos refinarias sendo construídas, rodovias sendo duplicadas, usinas hidroelétricas, termoelétricas e o governo federal como carro chefe de todo esse cenário, mas o governo deixou de ter liquidez para tocar essas obras. O Brasil hoje é um canteiro de obras paradas e a Bahia também se encontra na mesma situação, o que maltratou a construção civil”, informa.

Mariana Viveiros, supervisora de disseminação de informações do IBGE, ratifica tanto as falas do economista como do diretor do Sinduscon, explicando que há uma mudança no perfil do setor e que, a partir dessa alteração, existe um crescimento que mostra recuperação da construção civil baiana. "O setor vem encolhendo a partir de 2015 e 2016, um movimento contínuo que a gente vem verificando com a redução de empresas que vão fechando as portas. O que parece é que há mesmo uma mudança de estrutura na construção civil do estado, que está mais enxuto, o que não quer dizer que é menos importante economicamente porque o valor agregado por ele mostra um crescimento recente", conta Mariana, citando a recuperação de 2018 e 2019 no ramo.

Motivos da queda

Para Passos, o encolhimento constatado quando o assunto é volume de empresas no setor em território baiano é resultado da soma de um problema da área imobiliária com os problemas nas obras públicas, reduzindo a oportunidade de serviços para empresas que contavam anteriormente com a execução de programas como o Minha Casa, Minha Vida. “Temos poucos investimentos em obras públicas e, quando elas existem, são na área de mobilidade urbana, logística ou mesmo de rodovias. Não são obras que geram oportunidades distintas também para os pequenos, como as de edificações. Começou a surgir até uma recuperação do mercado imobiliário em 2019, mas aí veio a pandemia”, relata.

Outro ponto que é crucial para explicar o processo de diminuição do número de empresas nos últimos anos é a "dilaceração" de grandes construtoras da construção civil baiana, como a Odebrecht e a OAS durante a Lava Jato. É o que diz Tiago Brito, que explica que essas empresas eram responsáveis por um volume alto de construtoras subcontratadas, gerando renda também para pequenas empresas no ramo.

“Eram grandes empregadores, também subcontratavam empresas menores, empresas satélites do próprio estado para tocar obras em todo território baiano. Sem dúvida nenhuma, a queda dessas construtoras baianas que foram alvo da Lava Jato diminuiu o tamanho dela e limitou também o alcance delas em serviços na Bahia, o que influencia bastante na queda da nossa construção civil”, afirma.

O último fator apontado pelo economista como vetor da queda do volume de contratação e o consequente fechamento das empresas é o crédito imobiliário, que é um dos principais ativos para incorporação imobiliária. “Com alto desemprego e alta informalidade, você não consegue crédito imobiliário. Se eu tô desempregado ou trabalhando no mercado informal, não consigo financiar um apartamento na Caixa Econômica pela fragilidade da minha renda. A Caixa não vai me conceder um empréstimo de 30 anos se eu não tiver uma renda comprovada. O mercado imobiliário depende de crédito imobiliário, depende de renda, das pessoas empregadas”, alerta.

 

Itens relacionados (por tag)

  • Chuva: 41 municípios em situação de emergência, 380 desabrigados e 2.227 desalojados

    Com base em informações recebidas das prefeituras, a Superintendência de Proteção e Defesa Civil da Bahia (Sudec) atualizou, nesta quarta-feira (28), os números referentes à população atingida pelas enchentes que ocorrem em municípios baianos.

    Até a situação presente, são 380 desabrigados e 2.227 desalojados em decorrência dos efeitos diretos do desastre. Segundo a Sudec, foram contabilizados seis óbitos. Os números correspondem às ocorrências registradas em 76 municípios afetados. É importante destacar que, desse total, 41estão com decreto de Situação de Emergência.

    O Governo do Estado segue mobilizado para atender as demandas de emergência, a fim de socorrer a população atingida pelas fortes chuvas em diversas regiões da Bahia.

  • Empresa brasileira vira concorrente da BYD pela antiga fábrica da Ford em Camaçari

    A BYD ganhou um concorrente pelo complexo da Ford nos minutos finais do prazo para a manifestação de interessados em comprar a antiga fábrica da montadora americana em Camaçari, fechada em janeiro de 2021 e que hoje pertence ao governo da Bahia. O empresário brasileiro Flávio Figueiredo Assis entrou na disputa para erguer ali a fábrica da Lecar e construir o futuro hatch elétrico da marca, que, diz, deve ter preço abaixo de R$ 100 mil.

    Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, Assis já tem um projeto de carro elétrico em fase de desenvolvimento, mas ainda procura um local para produzir o veículo. Em visita às antigas instalações da Ford para comprar equipamentos usados, como robôs e esteiras desativadas deixadas ali pela empresa americana, descobriu que o processo que envolve o futuro uso da área ainda estava aberto, já que o chamamento público feito pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado da Bahia (SDE) só se encerraria nessa quarta (28).

    O documento da SDE, ainda segundo a Folha, diz que a BYD havia apontado interesse no complexo industrial de Camaçari, mas outros interessados também poderiam "manifestar interesse em relação ao imóvel indicado e/ou apresentar impedimentos legais à sua disponibilização, no prazo de 30 (trinta) dias, contado a partir desta publicação".

    A montadora chinesa anunciou em julho passado, em cerimônia com o governador Jerônimo Rodrigues no Farol da Barra, um investimento de R$ 3 bilhões para construir no antigo complexo da Ford três plantas com capacidade de produção de até 300 mil carros por ano.

    A reportagem da Folha afirma que a BYD já está ciente da proposta e prepara uma resposta oficial a Lecar. E que pessoas ligadas à montadora chinesa acreditam que nada irá mudar nas negociações com o governo baiano porque Assis estaria atrás apenas de uma jogada de marketing. O empresário, por sua vez, disse ver uma oportunidade de bom negócio, pois os valores envolvidos são atraentes.

    Procurada pelo CORREIO, a BYD afirmou que não vai se pronunciar sobre o assunto, e que o cronograma anunciado está mantido.

    Em nota, a SDE apenas confirmou que a Lecar encaminhou e-mail ontem afirmando ter interesse na área da antiga Ford. A secretaria, diz a nota, orientou a empresa sobre como proceder, de acordo com as regras do processo legal de concorrência pública em curso.

    Entre as perguntas não respondidas pela pasta na nota estão o prazo para a conclusão da definição sobre a área e o impacto que a concorrência entre BYD e Lecar traz para a implantação de uma nova fábrica de veículos no estado.

  • Bahia adere ao Dia D de mobilização nacional contra a Dengue

    Em um esforço para combater a crescente ameaça da Dengue, o estado da Bahia se junta ao Dia D de mobilização nacional, marcado para o próximo sábado (2). A informação é da secretária da Saúde do Estado, Roberta Santana, que está em Brasília nesta quarta-feira (28) para uma reunião do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Esta iniciativa sublinha a necessidade de uma ação coletiva diária e destaca o papel vital que cada indivíduo desempenha na prevenção da doença. Com o apoio do Conselho Estadual dos Secretários Municipais de Saúde da Bahia (Cosems-BA), da União dos Municípios da Bahia (UPB) e do Conselho Estadual de Saúde (CES), os municípios farão mutirões de limpeza, visitas aos imóveis nas áreas de maior incidência e distribuição de materiais informativos.

    A Bahia registra um aumento significativo de casos de Dengue, com 16.771 casos prováveis até 24 de fevereiro de 2024, quase o dobro em comparação ao mesmo período do ano anterior. Atualmente, 64 cidades estão em estado de epidemia, com a região Sudoeste sendo a mais afetada. Além disso, foram confirmados cinco óbitos decorrentes da doença nas localidades de Ibiassucê, Jacaraci, Piripá e Irecê.

    De acordo com a ministra da Saúde, Nísia Trindade, o cenário nacional é particularmente desafiador devido ao impacto das condições climáticas adversas e ao aumento exponencial dos casos de Dengue, incluindo a circulação de novos sorotipos (2 e 3), que exigem uma atenção mais integrada.

    Na avaliação da secretária da Saúde do Estado, Roberta Santana, o momento é de unir esforços para conter o aumento do número de casos e evitar mortes. "O Governo do Estado está aberto ao diálogo e pronto para apoiar todos os municípios, contudo, cada ente tem que fazer a sua parte. As prefeituras precisam intensificar as ações de atenção primária e limpeza urbana, a fim de eliminar os criadouros, e fortalecer a mobilização da sociedade, antes de recorrer ao fumacê. A dependência excessiva do fumacê, como último recurso, pode revelar uma gestão reativa em vez de proativa no combate à doença", afirma a secretária.

    A titular da pasta estadual da Saúde pontua ainda que o Governo do Estado fez a aquisição de novos veículos de fumacê e distribuirá 12 mil kits para os agentes de combate às endemias, além de apoiar os mutirões de limpeza urbana com o auxílio das forças de segurança e emergência. "Além disso, o Governo do Estado compartilhou com os municípios a possibilidade de adquirir bombas costais, medicamentos e insumos por meio de atas de registro de preço", ressalta Roberta Santana.

    Drones

    O combate à Dengue na Bahia ganhou mais uma aliada: a tecnologia. O Governo do Estado deu início ao uso de drones como nova estratégia para identificar em áreas de difícil acesso focos do mosquito Aedes aegypti, vetor de transmissão de Dengue, Zika e Chikungunya. As imagens capturadas pelos equipamentos são analisadas pelos agentes de endemias, que conseguem identificar locais com acúmulo de água parada e possíveis criadouros do mosquito, facilitando a ação das equipes e tornando o combate mais eficaz.

Deixe um comentário

Certifique-se de preencher os campos indicados com (*). Não é permitido código HTML.