Fim de linha: Santana Transportes deixa de operar e demite quase 550 funcionários

Fim de linha: Santana Transportes deixa de operar e demite quase 550 funcionários

São mais de 80 anos de história acabados em menos de dois anos de pandemia. Isso é o que sente colaboradores, passageiros e até sindicalistas sobre a saída da Santana Transportes das linhas intermunicipais operadas na Bahia. A empresa, que já vinha em crise financeira, não conseguiu equilibrar as contas com o embarque da covid-19 no estado. As quase 40 linhas intermunicipais sob sua responsabilidade, que cortam 45 cidades baianas, foram transferidas para a Cidade Sol. A nova empresa já começa a atuar no dia 1º de setembro de 2021.

Até lá, cerca de 270 trabalhadores da Santana serão desligados, totalizando quase 550 demissões de funcionários somente durante a pandemia, segundo a estimativa do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes de Feira de Santana (Sintrafs). Ficarão apenas 18 trabalhadores responsáveis pelo fretamento e turismo, os únicos serviços que continuarão sendo mantidos pelo grupo.

“É muito pouco. São 18 trabalhadores que rodam para o polo e o turismo praticamente não existe com a pandemia. A empresa não acaba totalmente, mas, para o que vai ficar, sobra praticamente nada”, lamenta José de Souza, vice-presidente do Sintrafs. O sindicato intermediou a negociação com a empresa, que garantiu pagar tudo o que os trabalhadores têm direito na rescisão.

“É multa, aviso prévio, FGTS, férias vencidas, a vencer... nessa questão, não tem problema, pois a empresa não quebrou”, explica José, que só consegue falar coisas boas da Santana.

“A gente não tinha o que falar mal! Eles sempre cumpriam as obrigações, sempre honraram até agora na reta final, quando vão sair sem dar calote, sem deixar o nome sujo como tantas fazem”, diz

Santana é uma das pioneiras no transporte intermunicipal na Bahia
O sentimento do sindicalista é explicado, em partes, pela história da empresa de transportes. A Santana foi fundada no ano de 1937, sendo uma das pioneiras no estado no transporte intermunicipal, chegando em cidades que antes não tinham linhas de ônibus, principalmente no Recôncavo baiano, como São Félix e Cachoeira. “Ela abriu os roteiros diretos de Salvador para essas cidades”, explica o busólogo Felipe Pessoa.

De acordo com o site de busólogos Ônibus Paraibanos, a empresa teve dois donos diferentes antes de ser comprada, em outubro de 1985, pela Auto Viação Camurujipe, representada pelos sócios Pedro de Freitas Barros Junior e José de Luís Barros. Em fevereiro de 1999, a Santana se desvinculou da Camurujipe e passou a ser administrada pelo Grupo Pedro Barros, hoje comandada pelos herdeiros Izabella Barros e Décio Barros, com quem entramos em contato, mas não tivemos retorno.

“É um grupo familiar. O perfil deles e até a postura que eles tinham era de ser uma família. Pedro Barros, que todos chamavam de seu Pedrinho, fazia com que fosse assim”, disse o jornalista Bruno Leite, natural de Feira de Santana e usuário frequente dos ônibus da empresa. O busólogo Felipe Pessoa afirma que essa relação familiar era vista no comportamento dos trabalhadores e na qualidade do serviço prestado.

“A Santana foi a primeira empresa na Bahia a disponibilizar ar-condicionado para viagens de até duas horas de duração. Alguns ônibus já tinham televisão, água a bordo, wifi e poltronas com espaçamento numa época em que isso não era comum”, lembra.

Em 2016, quando já era conhecida pelos veículos de forte tom azul, a Santana lançou o Ônibus Rosa, em prol da campanha Outubro Rosa. Na época, parte do valor das passagens foram revertidos para o Hospital Aristides Maltez, para fortalecer a luta contra o câncer de mama.

Apesar das ações, na última década, já era perceptível que a empresa enfrentava uma crise. “Antes da pandemia já era notável que ela não renovava a frota das linhas intermunicipais. Além disso, há algum tempo já era perceptível que os colaboradores não trabalhavam mais com aquele sorriso no rosto característico dos empregados da Santana”, afirma Pessoa.

Crise econômica e aumento do transporte irregular foram fatores determinantes
O anúncio da saída da Santana foi feito na última quinta-feira (12), em comunicado interno. No texto, assinado por Izabella e Décio Barros, a empresa afirma que a crise econômica gerada na pandemia e o aumento do transporte irregular foram fatores determinantes para a decisão de passar as linhas para a Cidade Sol.

“A redução de passageiros transportados, o crescimento da concorrência pelo transporte informal, tem comprometido a capacidade de pagamento e de investimento por parte, principalmente, das empresas de pequeno e médio porte do setor”, disseram.

A Cidade Sol também emitiu um comunicado para seus colaboradores confirmando que vai assumir as operações da Santana. “Diante da necessidade de equilibrar o faturamento das empresas, a Cidade Sol, que já possui toda a estrutura física e de gestão para operação na cidade de Salvador e região, irá enfrentar mais um desafio, assumindo as linhas que operam nos municípios de Feira de Santana, Itacaré, Valença, Santo Amaro e São Félix”, disseram.

Ambas empresas não divulgaram detalhes das negociações e valores envolvidos, mas o busólogo Felipe Pessoa acredita que não se trate de algo barato. “Com certeza, foi um valor muito expressivo, pois a Santana passou uma das linhas mais disputadas no Nordeste, que é Salvador-Feira de Santana. Então, o valor deve ter sido bem generoso, na casa das dezenas de milhões”, aponta.

A Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba) foi procurada, mas não respondeu até o fechamento da reportagem. Alguns funcionários da Santana também foram procurados, mas não quiseram falar sobre o assunto, pois preferiram aguardar o posicionamento oficial da empresa de como vai ficar a situação deles. Nós não conseguimos o contato da empresa Cidade Sol.

Passageiros relatam relação de carinho com a Santana
Uma das lembranças mais antigas que o jornalista Bruno Leite, 23 anos, tem é dele indo com a família de Feira de Santana para Cachoeira visitar a tia num ônibus da Santana. Na época, nem passava por sua cabeça que, anos depois, ele iria fazer aquele mesmo trajeto diariamente, dessa vez para estudar na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).

Em 2019, ele se mudou – num ônibus da Santana - para Salvador e outras duas linhas entraram de vez na sua vida: Salvador-Feira de Santana e Salvador-Cachoeira. “Eu saía de Salvador muito cedi e já levava meu almoço. Para voltar, esquentava a comida na faculdade e ia comendo dentro do ônibus. Tudo isso para conseguir chegar na capital de tarde e não faltar o estágio. A Santana sempre foi pontual e os ônibus nunca quebraram no meio do caminho”, lembra.

Também natural de Feira de Santana e estudante, mas da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Maria Lara, 22 anos, teve sua vida cruzada com a da Santana em 2018, quando ela se mudou para estudar em Salvador. “Como eu ia visitar a família no final de semana, sempre ia de Santana. Se a saída deles fosse a um tempo atrás, iria me atrapalhar muito, pois eu não pego os carros irregulares, os chamados ligeirinhos, e sou muito acostumado com a empresa”, diz.

Por causa da pandemia, Maria Lara está morando novamente em Feira de Santana. Ela espera que a próxima empresa mantenha o nível da qualidade da Santana. “Eu não sei como vai ser meu vai e vem sem a segurança da Santana. Eles são conhecidos pela pontualidade. Eu me sentia segura nos ônibus executivos, não tinha problema com a higiene do veículo ou lotação. A empresa tinha credibilidade”, garante.

O busólogo Felipe Pessoa também é cliente da Santana. Ele se desloca pelo menos duas vezes na semana para Feira de Santana por causa da sua empresa. Mesmo conhecedor do serviço prestado, ele não acredita que acontecerá algum impacto com a chegada da Cidade Sol.

“Não vai ter diferença, pois os operacionais da Santana e Cidade Sol são basicamente os mesmos. Muda apenas a empresa, mas o padrão é o mesmo. A Cidade Sol também é conhecida pela qualidade do serviço e tem a capacidade até de elevar o mesmo. Quem vai sentir impacto são os profissionais, que não sabem ainda qual será seu futuro e, com certeza, a empresa não vai conseguir manter todos”, lamenta.

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    Drones

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