Novas manchas de óleo no mar da Baía de Todos os Santos assustam população

Novas manchas de óleo no mar da Baía de Todos os Santos assustam população

A Baía de Todos os Santos e seus moradores voltaram a viver dias de preocupação parecidos com os de 2019, ano em que manchas de óleo causaram um desastre ecológico ao atingirem mais de mil locais no nordeste.

No último domingo (13), na área litorânea de Coqueiro Verde, em Candeias, na Região Metropolitana de Salvador, novos vestígios de óleo apareceram em diversos pontos do local e da Ilha de Maré.

Um material que, de acordo com Francisco Kelmo, biólogo e diretor do instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), ainda não tem origem definida. Ainda segundo o diretor, apesar de causar preocupação, o óleo encontrado está em um volume 'muito inferior' ao que foi encontrado há três anos.

"Comparada com 2019, é uma quantidade pequena. Viemos de uma catástrofe que atingiu quase todo litoral do nordeste e temos, agora, manchas isoladas dentro de duas ilhas na Baía de Todos os Santos. Não existe necessidade de alarmar a população", indica Kelmo, dizendo que é muito cedo para saber se novas manchas podem aparecer.

Medo da contaminação
Para saber se as manchas podem aumentar, é preciso saber de onde o óleo vem e em que quantidade ele estava concentrado. Ainda sem ter a resposta, os moradores de Ilha de Maré preocupam-se com a possibilidade de contaminação do mar, de onde boa parte dos cidadãos tiram seu sustento com pesca e mariscaria, por exemplo.

Josemar de Jesus, 40 anos, mora na ilha e é pescador. Um dos primeiros a ver as manchas, ele tem perdido o sono pensando se o novo vazamento vai prejudicar seu trabalho.

"Quando isso acontece, contamina o peixe e ninguém consegue negociar. Temos que pescar para comer, mas também vender. Sem isso, não dá para pagar as outras contas. A gente tira do mar o sustento", diz.

Líder comunitária e marisqueira, Eliete Paraguaçu, 42, faz um relato parecido e conta que todos que moram no norte da ilha, área atingida pelo óleo, estão preocupados.

"Estamos aflitos porque é mais um desastre sem solução, sem responsabilidade. Nós ficamos recebendo esses impactos sociais e ambientais. Estão desde o último domingo tentando tirar, mas o óleo tá indo para todo canto", fala.

A preocupação não é à toa. O espaço tomado pelo óleo é fundamental, principalmente, para as atividades das marisqueiras da ilha.

"É uma região central muito explorada e que tem 13km de manguezal. Isso significa dizer que toda nossa cadeia produtiva está ameaçada. Um problema repetido já que também em 2018 houve um vazamento causado pela Petrobrás", lembra Eliete, dizendo acreditar que esse óleo tem a mesma origem.

Procurada pela reportagem, a Petrobrás não respondeu até o fechamento desta matéria. A Marinha disse acompanhar o caso de perto com um trabalho conjunto de membros da Capitania dos Portos da Bahia (CPBA), do Inema e do Centro de Defesa Ambiental da Transpetro.

Informou ainda que, na Ilha dos Frades, foram encontradas e recolhidas manchas dispersas em baixa concentração, de cerca de 15cm de extensão, nos rochedos.

Óleo tóxico
Apesar de novo, pastoso e exalar cheiro de combustível, o óleo de 2022 se assemelha ao encontrado em 2019 em um quesito: é tóxico. Isso é o que garante o diretor Francisco Kelmo ao falar sobre as características já observadas através de imagens.

"É um material tóxico, especialmente, por estar em uma forma próxima da natural. Ele continua com elementos voláteis. E pode causar problemas se inalado e também em contato com a pele", afirma.

Por isso, o mais apropriado ao dar de cara com uma das manchas não é fazer a retirada e, sim, procurar órgãos como Ibama, Inema ou Marinha para informar a localização do material e solicitar a coleta.

Isso porque é necessário utilizar luvas especiais, óculos de proteção, máscaras de filtragem e outro Equipamentos de Proteção Individual (EPI's) adequados para o serviço.

O aviso dos órgãos capazes de fazer a retirada dos vestígios de óleo deve ser realizado da maneira mais rápida possível, segundo Kelmo. Ele afirma que a permanência do material na areia pode trazer problemas ainda piores.

"Se esse óleo for deixado nas praias, quando o sol estiver bem quente, o óleo derrete. Nessa forma, quando ele for derretido e formar uma nata sobre a água, pode ser ingerido acidentalmente pelos animais", explica.

Além de ser um risco para os animais que podem morrer ao ingerir o óleo, isso colocaria a vida de seres humanos em perigo, já que pessoas desavisadas poderiam consumir animais infectados pelo material.

No Ceará

Os problemas com manchas de óleo em 2022 não são exclusividade da Baía de Todos os Santos. No estado do Ceará, as manchas já atingiram 60 praias em mais de 10 municípios diferentes, segundo a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema).

O problema começou no começo de janeiro e uma análise da Marinha indica que todo o óleo espalhado nas praias tem uma mesma fonte, apesar desta ser ainda desconhecida pelos investigadores.

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    Drones

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