Queda de quase 30% no repasse do mês inviabiliza prefeituras baianas

Queda de quase 30% no repasse do mês inviabiliza prefeituras baianas

A cada repasse feito pelo Governo Federal, a crise que afeta as cidades do interior da Bahia fica mais longe do fim. A receita do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) registrou queda de 28,22% no primeiro repasse de setembro em comparação com o ano passado. O FPM é a fonte de sobrevivência de seis em cada 10 cidades baianas. Diante do desequilíbrio de contas públicas, cerca de 150 prefeitos se reuniram na sede da União dos Municípios da Bahia (UPB), em Salvador.

Prefeitos de todas as regiões do estado participaram da reunião emergencial, convocada pela diretoria da UPB, na tarde de segunda-feira (11). Durante o evento, os gestores municipais desabafaram sobre os impactos da diminuição dos repasses, que tem obrigado as prefeituras a reduzir gastos com a máquina pública. Tendo em vista as eleições municipais do ano que vem, os prefeitos evitam ao máximo demissões e redução de serviços essenciais.

O FPM é formado por parcelas dos recursos do Imposto de Renda (IR) e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e os repasses são feitos pelo Tesouro Nacional três vezes a cada mês. “O FPM recebido pelos municípios no último dia 8 corresponde a distribuição dos valores líquidos arrecadados pela União no último decêndio de agosto, que é impactado pelo desempenho da arrecadação federal”, explica o consultor governamental Fernando Carlos Almeida. Nacionalmente, a queda dos repasses chega a R$1,8 bilhão.

De acordo com estudos técnicos divulgados pela Confederação Nacional dos Municípios, a queda está associada ao aumento de R$1,6 bi nas restituições do Imposto de Renda e redução de R$5,1 bi na arrecadação do Imposto sobre a Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ). Em agosto, a queda no FPM foi de 7,95%.

A diminuição da receita obriga os gestores a fazerem malabarismo com as contas públicas para tentar fechar o mês. “Diversos serviços estão comprometidos e alguns municípios têm dificuldades para honrar com seus compromissos, o que implica diretamente na vida do povo interiorano, uma vez que as cidades menores são as mais dependentes do FPM”, disse Quinho Tigre (PSD), presidente da UPB e prefeito de Belo Campo.

Engrossam o caldo da crise as perdas de R$6,8 bi com a desoneração do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) dos combustíveis, aumento do salário mínimo e redução de 73% de emendas parlamentares em comparação com o ano passado. O caos econômico contribuiu para que 200 das 417 cidades baianas fechassem o primeiro semestre deste ano com as contas no vermelho.

O consultor governamental Fernando Carlos Almeida explica que os municípios de pequeno e médio porte do país são os mais dependentes das transferências constitucionais, as quais não possuem controle. Mesmo assim, a boa gestão de recursos públicos ajuda a mitigar crises diante de oscilações da receita. “Se faz necessário a adoção de boas práticas de gestão, qualificação de quadros de servidores e estabelecer fluxos de processos”, analisa.

O cenário de crise se repete em outros estados, especialmente da região Nordeste, onde as cidades menores dependem mais dos repasses federais. Joacir Júnior, vice-presidente da Associação dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece), esteve no evento realizado pela UPB e falou sobre a situação do estado. "Em torno de 60% dos municípios estão com as contas do vermelho e muitos atrasam salários e pagamento de fornecedores. As quedas de agosto e setembro inviabilizaram muitos pagamentos", disse.

Reivindicações
A reunião emergencial que aconteceu no Centro Administrativo da Bahia (CAB) foi marcada por desabafos de gestores municipais e palavras de ordem contra a queda de repasses do Governo Federal. Prefeitos e prefeitas da base do governo e da oposição fizeram coro às reivindicações, que ficaram acaloradas em diversos momentos. “Esta é a pior crise que já enfrentei nesses dois anos e oito meses de gestão. A situação está difícil porque as contas da saúde e da educação nunca fecham, as demandas aparecem todos os dias”, disse Carine de Ataíde (PP), prefeita de Aporá, cidade de 17 mil habitantes.

Entre as ações defendidas para minimizar os impactos da crise está a criação de um Auxílio Financeiros aos Municípios (AFM) que aumente em 1,5% os repasses de março do FPM, previsto na Proposta de Emenda à Constituição 25/222. Além da redução de 22,5% para 8% da alíquota patronal dos municípios ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), presente no Projeto de Lei 334/2023.

Há uma discussão entre os próprios prefeitos se as oscilações dos repasses da União devem ser tratadas como queda. Isso porque há expectativa de que a receita aumente no segundo semestre do ano e se iguale ao ano passado. “Precisamos de reparação para nossas perdas através do Auxílio Financeiro, mas não devemos falar em queda porque, ao final do ano, a redução do FPM pode não se concretizar”, defendeu Thiancle Araújo (PSD), prefeito de Castro Alves e presidente da Federação dos Consórcios Públicos da Bahia (FECBahia).

Prefeitos farão protestos em Brasília em outubro
O encontro realizado na sede da União dos Municípios da Bahia (UPB) também serviu para que os gestores municipais alinhassem os planos para a Mobilização Municipalista que acontecerá entre os os dias 3 e 4 de outubro, em Brasília. Prefeitos da Bahia vão aderir à manifestação nacional, que tentará intensificar as resoluções para crise junto ao Congresso Nacional. No dia 30 de agosto, as prefeituras baianas realizaram uma paralisação das atividades em protesto contra a queda de repasses do Governo Federal.

“As conversas de gabinete não adiantam mais. Não adianta procurar senador e deputado, temos que partir para a mobilização nacional e fazer barulho, claro que respeitando a todos, ou vamos voltar de Brasília com os mesmos problemas”, defendeu Carlos Matos (União Brasil), prefeito de Riachão de Jacuípe. A expectativa é que ao menos 150 prefeitos viagem até a capital federal para protestar com cartazes e palavras de ordem.

Questionado sobre a diminuição de repasses e crise dos municípios através da assessoria de imprensa, o Ministério da Fazenda se limitou a enviar como resposta uma fala do ministro Fernando Haddad, proferida em 29 de agosto. “Nós estamos completamente abertos a sentar com os municípios para conversar. Houve uma queda da arrecadação forte em julho, mas não podemos nos deixar impactar por um mês”, pontuou. A pasta não respondeu sobre a diminuição dos repasses de agosto e setembro.

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    Com base em informações recebidas das prefeituras, a Superintendência de Proteção e Defesa Civil da Bahia (Sudec) atualizou, nesta quarta-feira (28), os números referentes à população atingida pelas enchentes que ocorrem em municípios baianos.

    Até a situação presente, são 380 desabrigados e 2.227 desalojados em decorrência dos efeitos diretos do desastre. Segundo a Sudec, foram contabilizados seis óbitos. Os números correspondem às ocorrências registradas em 76 municípios afetados. É importante destacar que, desse total, 41estão com decreto de Situação de Emergência.

    O Governo do Estado segue mobilizado para atender as demandas de emergência, a fim de socorrer a população atingida pelas fortes chuvas em diversas regiões da Bahia.

  • Empresa brasileira vira concorrente da BYD pela antiga fábrica da Ford em Camaçari

    A BYD ganhou um concorrente pelo complexo da Ford nos minutos finais do prazo para a manifestação de interessados em comprar a antiga fábrica da montadora americana em Camaçari, fechada em janeiro de 2021 e que hoje pertence ao governo da Bahia. O empresário brasileiro Flávio Figueiredo Assis entrou na disputa para erguer ali a fábrica da Lecar e construir o futuro hatch elétrico da marca, que, diz, deve ter preço abaixo de R$ 100 mil.

    Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, Assis já tem um projeto de carro elétrico em fase de desenvolvimento, mas ainda procura um local para produzir o veículo. Em visita às antigas instalações da Ford para comprar equipamentos usados, como robôs e esteiras desativadas deixadas ali pela empresa americana, descobriu que o processo que envolve o futuro uso da área ainda estava aberto, já que o chamamento público feito pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado da Bahia (SDE) só se encerraria nessa quarta (28).

    O documento da SDE, ainda segundo a Folha, diz que a BYD havia apontado interesse no complexo industrial de Camaçari, mas outros interessados também poderiam "manifestar interesse em relação ao imóvel indicado e/ou apresentar impedimentos legais à sua disponibilização, no prazo de 30 (trinta) dias, contado a partir desta publicação".

    A montadora chinesa anunciou em julho passado, em cerimônia com o governador Jerônimo Rodrigues no Farol da Barra, um investimento de R$ 3 bilhões para construir no antigo complexo da Ford três plantas com capacidade de produção de até 300 mil carros por ano.

    A reportagem da Folha afirma que a BYD já está ciente da proposta e prepara uma resposta oficial a Lecar. E que pessoas ligadas à montadora chinesa acreditam que nada irá mudar nas negociações com o governo baiano porque Assis estaria atrás apenas de uma jogada de marketing. O empresário, por sua vez, disse ver uma oportunidade de bom negócio, pois os valores envolvidos são atraentes.

    Procurada pelo CORREIO, a BYD afirmou que não vai se pronunciar sobre o assunto, e que o cronograma anunciado está mantido.

    Em nota, a SDE apenas confirmou que a Lecar encaminhou e-mail ontem afirmando ter interesse na área da antiga Ford. A secretaria, diz a nota, orientou a empresa sobre como proceder, de acordo com as regras do processo legal de concorrência pública em curso.

    Entre as perguntas não respondidas pela pasta na nota estão o prazo para a conclusão da definição sobre a área e o impacto que a concorrência entre BYD e Lecar traz para a implantação de uma nova fábrica de veículos no estado.

  • Bahia adere ao Dia D de mobilização nacional contra a Dengue

    Em um esforço para combater a crescente ameaça da Dengue, o estado da Bahia se junta ao Dia D de mobilização nacional, marcado para o próximo sábado (2). A informação é da secretária da Saúde do Estado, Roberta Santana, que está em Brasília nesta quarta-feira (28) para uma reunião do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Esta iniciativa sublinha a necessidade de uma ação coletiva diária e destaca o papel vital que cada indivíduo desempenha na prevenção da doença. Com o apoio do Conselho Estadual dos Secretários Municipais de Saúde da Bahia (Cosems-BA), da União dos Municípios da Bahia (UPB) e do Conselho Estadual de Saúde (CES), os municípios farão mutirões de limpeza, visitas aos imóveis nas áreas de maior incidência e distribuição de materiais informativos.

    A Bahia registra um aumento significativo de casos de Dengue, com 16.771 casos prováveis até 24 de fevereiro de 2024, quase o dobro em comparação ao mesmo período do ano anterior. Atualmente, 64 cidades estão em estado de epidemia, com a região Sudoeste sendo a mais afetada. Além disso, foram confirmados cinco óbitos decorrentes da doença nas localidades de Ibiassucê, Jacaraci, Piripá e Irecê.

    De acordo com a ministra da Saúde, Nísia Trindade, o cenário nacional é particularmente desafiador devido ao impacto das condições climáticas adversas e ao aumento exponencial dos casos de Dengue, incluindo a circulação de novos sorotipos (2 e 3), que exigem uma atenção mais integrada.

    Na avaliação da secretária da Saúde do Estado, Roberta Santana, o momento é de unir esforços para conter o aumento do número de casos e evitar mortes. "O Governo do Estado está aberto ao diálogo e pronto para apoiar todos os municípios, contudo, cada ente tem que fazer a sua parte. As prefeituras precisam intensificar as ações de atenção primária e limpeza urbana, a fim de eliminar os criadouros, e fortalecer a mobilização da sociedade, antes de recorrer ao fumacê. A dependência excessiva do fumacê, como último recurso, pode revelar uma gestão reativa em vez de proativa no combate à doença", afirma a secretária.

    A titular da pasta estadual da Saúde pontua ainda que o Governo do Estado fez a aquisição de novos veículos de fumacê e distribuirá 12 mil kits para os agentes de combate às endemias, além de apoiar os mutirões de limpeza urbana com o auxílio das forças de segurança e emergência. "Além disso, o Governo do Estado compartilhou com os municípios a possibilidade de adquirir bombas costais, medicamentos e insumos por meio de atas de registro de preço", ressalta Roberta Santana.

    Drones

    O combate à Dengue na Bahia ganhou mais uma aliada: a tecnologia. O Governo do Estado deu início ao uso de drones como nova estratégia para identificar em áreas de difícil acesso focos do mosquito Aedes aegypti, vetor de transmissão de Dengue, Zika e Chikungunya. As imagens capturadas pelos equipamentos são analisadas pelos agentes de endemias, que conseguem identificar locais com acúmulo de água parada e possíveis criadouros do mosquito, facilitando a ação das equipes e tornando o combate mais eficaz.

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