O Jornal da Cidade

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Nos primeiros 15 dias deste mês de maio, o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-BA) registrou um aumento de 32% dos casos positivos para coronavírus.

De acordo com a diretora-geral da unidade, Arabela Leal, a taxa de positividade para a doença ficou em 49,27% na última semana. Ela também informa que houve um crescimento do número de amostras recebidas nos últimos dias.

“Na última média, a gente ficou com 49,27% de positividade na semana. De sábado para cá, nós tivemos um aumento muito grande no número de amostras. Entre sexta e segunda, nós recebemos mais de 18 mil amostras. Tivemos um volume grande em novembro, fevereiro e agora outra vez”, disse Arabela.

Nessa terça-feira (18), a Bahia ultrapassou a marca de 20 mil óbitos por covid-19. Das 417 cidades do estado, somente 173 possuem uma população maior do que a quantidade de mortes causadas pela pandemia. É como se Ubaíra, de 19.877 habitantes, deixasse de existir em pouco mais de um ano. O índice alarmante foi atingido quando o boletim epidemiológico da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) registrou 82 novas mortes. 

No total, são 20.054 óbitos registrados no boletim da Sesab e 961.157 casos de covid-19. Isso significa que o estado tem uma taxa de letalidade da doença de 2,09%, a sexta menor do Brasil, atrás de Amapá, Santa Catarina, Roraima, Tocantins e Acre.  Das pessoas que foram infectadas, 925 mil são consideradas recuperadas e outras 16 mil pessoas lutam para vencer a doença. 

Mas não se trata apenas de números. Das 20 mil vítimas da doença, o CORREIO separou 20 histórias que foram interrompidas pelo vírus. São artistas, políticos, ídolos do futebol e da música e trabalhadores comuns que batalhavam diariamente para sobreviver à pandemia e às dificuldades da vida. São 20 representantes de um universo mil vezes maior e que, com vacinação a conta-gotas e menos medidas de segurança, pode se multiplicar. Confira a lista:

Elsimar Coutinho, cientista baiano referência internacional em planejamento familiar 

O médico Elsimar Metzker Coutinho, no auge dos seus 90 anos, passou  quase um mês internado lutando para vencer a covid-19. Morreu no dia 17 de agosto de 2020, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, local para onde ele foi transferido após ter dado entrada no Hospital Aliança, em Salvador.

Coutinho era baiano da cidade de Pojuca, Região Metropolitana de Salvador (RMS). Estudou em Salvador, Paris, Nova York e se tornou um cientista pioneiro no desenvolvimento de anticoncepcionais femininos e na fabricação de implantes hormonais. Ele deixou a esposa Tereza Coutinho, filhos e netos. 

 

(Foto: Marina Silva/Arquivo CORREIO)

 

Em Salvador, Coutinho se formou nos cursos de Farmácia e Medicina pela Universidade Federal da Bahia (Ufba). Em seu mais de meio século de carreira, fundou o Centro de Pesquisa e Assistência em Reprodução Humana (Ceparh), no bairro da Federação. Ele era autoridade mundial em tratamentos de infertilidade provocada por endometriose e miomatose. 

 

Keko Pires, músico

Além de ser conhecido como um exímio instrumentista de ritmos como rock, jazz e soul, Keko Pires era figura muito querida no meio musical soteropolitano por sua alegria e gentileza. O músico, compositor e multi-instrumentista foi internado no Hospital Jorge Valente pouco antes do Réveillon. após ser diagnosticado com covid-19. Ele faleceu no dia 7 de janeiro de 2021.  

(Foto: reprodução)

Keko dedicou grande parte dos seus 55 anos a projetos musicais no cenário baiano, onde conheceu grandes amigos, como os cantores Armandinho Macêdo e Gerônimo Santana. Foi com esse último, inclusive, que Pires lançou um clipe da sua nova música de trabalho, Retrato, em setembro de 2020, no seu canal do YouTube. Confira: 

 

Aracy Gomes, uma pioneira no feminismo baiano. 

Mulher que usou biquíni quando nenhuma outra tinha coragem e dirigiu em uma época que só os homens faziam isso, Aracy Esteve Gomes se formou na primeira turma de matemática da Bahia e fez da fotografia um hobby. Ela é pioneira no feminismo baiano. Foi forte o suficiente para fazer história, mas nos seus 97 anos, não resistiu à covid-19. 

(Foto: arquivo pessoal)

Ela nasceu em Santo Antônio de Jesus, morou em Amargosa e, depois, em Salvador, onde construiu a sua carreira. Aracy ficou internada no Hospital Português e faleceu no dia 3 de março de 2021. Seu genro, o neurocirurgião Luiz Antônio Coelho Silva, também foi uma vítima da doença. Ele faleceu 22 dias depois da sogra. Luciana Gomes, gerente comercial do CORREIO, filha de Luiz Antônio e neta de Aracy, lembra com orgulho da avó:

“O maior legado que ela deixa é a questão da liberdade. Homens e mulheres precisam ter direitos iguais. Ela sempre pregou isso e era à frente do seu tempo. Dizia sempre para a gente nunca procurar e olhar o defeito dos outros. Eu tenho muito orgulho de ser neta dela”, disse.

 

Irmão Lázaro, cantor, pastor e vereador de Salvador

Olhando para a trajetória de Irmão Lázaro é possível ter noção do quanto a vida pode ser complexa. Ele morreu no dia 19 de março de 2021 como cantor gospel e vereador de Salvador eleito pelo Partido Liberal (PL). Mas ele não era só isso. 

Sua vida foi marcada por várias outras coisas: dos tambores do Olodum à Síndrome do Pânico desenvolvida durante a luta contra o vício em cocaína. Do medo de ter o mesmo destino de seu irmão mais velho, fuzilado pela Polícia, às pregações com tom redentor. Do Melô do Pompompom ao Eu Sou de Jesus. De Lázaro Negrume ao Irmão Lázaro. Complexo. Paradoxal. Assim como é a vida.

(Foto: Agência Câmara)

Irmão Lázaro tinha 54 anos e morreu em Feira de Santana, onde ficou internado em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital São Matheus. Foi em 2014 que ele tentou pela primeira vez um cargo eletivo e foi o terceiro deputado federal mais votado na Bahia com mais de 161 mil votos. Em 2018, foi candidato ao senado, mas perdeu. Em 2020, tentou seu primeiro mandato na Câmara Municipal de Salvador (CMS) e foi eleito. 

 

Herzem Gusmão, prefeito de Vitória da Conquista    

Prefeito reeleito de Vitória da Conquista, Herzem Gusmão não conseguiu trabalhar no segundo mandato. Eleito em novembro de 2020, um mês depois foi diagnosticado com covid-19, no dia 7 de dezembro. Pouco mais de uma semana depois, foi internado no Hospital Samur, em Conquista, com complicações pulmonares causadas pela doença e, posteriormente, foi transferido para o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde morreu no dia 18 de março de 2020, após três meses de luta. 

(Foto: divulgação)

Herzem iniciou sua carreira trabalhando em uma rádio, aos 20 anos. Ele é formado em Direito e pós-graduado em Comunicação e Jornalismo pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). Em 2014, foi eleito deputado estadual suplente. Um ano depois, assumiu o mandato onde ficou por 15 meses. A saída da Assembleia Legislativa foi para assumir o cargo de prefeito em sua cidade Natal em 2016. Em 2020 foi reeleito com 54% dos votos. 

Quem tomou posse no dia 1º de janeiro de 2021 foi a sua vice, Sheila Lemos (DEM), que seguirá no cargo pelos próximos três anos. 

 

Clara Mascarenhas, filha do cantor Canindé

Com apenas 22 anos e uma enorme carreira musical pela frente, a estudante Clara Mascarenhas, filha do cantor Canindé, morreu no domingo (16). Clara estava internada na UTI do hospital regional Vicentina Goulart, em Jacobina, mas não resistiu ao quadro de covid-19.

 

(Foto: reprodução)

Sua mãe, a empresária Luciana Mascarenhas, também contraiu a doença, mas recebeu alta na segunda-feira (10), segundo informou o portal Augusto Urgente. Clara estudava Música na Universidade Federal da Bahia (Ufba) e integrava o Grupo de Violoncelos da instituição.  

A direção da Escola de Música definiu Clara como talentosa musicista, "dona de uma simpatia enorme e de uma personalidade acolhedora". A jovem, inclusive, fez uma participação no DVD gravado pelo pai, em 2020, tocando violoncelo numa música composta por Canindé em homenagem a ela. Assista:

 

Daniel Rios, vereador de Salvador

Ele era o caçula dos cinco filhos do casal Jessé Carneiro Rios e Eurides da Silva Rios. Irmão do médico e deputado estadual David Rios (PSDB), o vereador de Salvador Daniel Rios foi outro parlamentar baiano vítima da covid-19. Daniel morreu no dia 14 de fevereiro de 2021. Ele estava em sua segunda legislatura, tinha 46 anos e era filiado ao Patriota. Em 2016, foi eleito para a Câmara com 10.761 votos, tornando-o 15º mais votado. 

(Foto: divulgação)

Daniel era formado em Ciências Contábeis pela Universidade do Estado da Bahia (Uneb), mas atuava como empresário, músico e produtor musical. Nasceu em Pé de Serra, município da Bacia do Jacuípe, mas ainda cedo mudou-se com a família para Feira de Santana, onde cresceu e realizou os primeiros estudos. 

Sua morte trouxe comoção no meio político. O prefeito Bruno Reis, por exemplo, chegou a desmarcar uma coletiva de imprensa e decretou luto oficial na capital baiana por três dias.

“Ele deixa um legado incontestável de serviços prestados às comunidades mais carentes e sempre será lembrado por isso”, disse, na época.

 

Haroldo Lima, dirigente histórico do PCdoB

Ex-deputado federal, dirigente histórico do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), sobrevivente à prisão e tortura, Haroldo Lima, em seus 81 anos e depois de muita luta, como sempre, não resistiu às complicações da covid-19. Ele morreu no dia 24 de março de 2020, no Hospital Aliança, local onde foi internado no dia 8 de março por causa da covid-19. 

 

(Foto: divulgação/APUB)

Sua voz contundente já dava lugar a um tom rouco e abatido. Seu corpo foi cremado no cemitério Campo Santo, na Federação, em cerimônia restrita a familiares. Ele deixou a esposa, Solange Lima, 83 anos, as filhas Lene, Valéria e Julieta e as netas Clara, Letícia e Beatriz.

Haroldo nasceu em Caetité e foi um dos construtores do PCdoB na Bahia. A paixão pela política começou cedo, ainda no curso de engenharia elétrica da Universidade Federal da Bahia (Ufba), de 1958 a 1963, quando participou intensamente do movimento estudantil. Ele se dizia revolucionário em tempo integral e todas as suas ações envolviam a luta pela igualdade e pela liberdade. Foi crítico da exploração dos mais vulneráveis e das ideias neoliberais. 

 

Maria de Fátima Cunha de Oliveira, a professora que morreu após testar duas vezes por covid 

Esse caso chamou a atenção pela crueldade do vírus. A professora Maria de Fátima Cunha de Oliveira tinha 38 anos e morava na sua cidade natal, Valente, a 238 quilômetros de Salvador. Ela morreu de covid-19 no dia 17 de janeiro de 2021 e, de acordo com a sua irmã, Maise Cunha de Oliveira, 29 anos, Maria já tinha sido contaminada anteriormente com a doença, em outubro de 2020. Segundo a família, os dois testes positivos foram confirmados através de exames do tipo RT-PCR. A versão também foi confirmada pela prefeitura da cidade.  

 

Maria de Fátima era professora municipal (Foto: arquivo pessoal)

Em 2021, quando os sintomas da covid voltaram a aparecer, a professora registrou sua situação em uma publicação no Facebook a favor da vacinação contra a covid-19. “Se você não quer tomar [a vacina], mantenha distância e tomara que nunca tenha o covid. Tive em outubro e faz três dias que perdi o olfato e paladar, além da febre alta que dá trabalho de baixar”, escreveu Maria, no dia 9 de janeiro. 

Na época, a Sesab disse não ter sido notificada sobre nenhum óbito relacionado à reinfecção por covid-19 no estado. Já a enfermeira Eloisa Helena, coordenadora da vigilância epidemiológica de Valente, disse em nota que, logo após o acontecimento, comunicou o caso ao Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (Cievs), que faz parte da Sesab.

“Eles me deram as orientações, agora [o caso] irá para análise de um infectologista. Nós enquanto município não temos condições de afirmar que foi uma reinfecção, pois essa analise depende de avaliação laboratorial, que será feita pelo Lacen central, em Salvador”, afirmou, na época. 

 

Siegfrid Frazão Keysselt, coronel da Polícia Militar da Bahia

Siegfrid Frazão Keysselt tinha 70 anos e uma vida de serviço prestado à Policia Militar da Bahia. Ele morreu na madrugada do dia 26 de fevereiro de 2021, quando a Bahia sofria com uma segunda onda de contaminações da covid-19. Ele estava internado no Hospital Aliança. 

(Foto: reprodução)

 

O militar entrou na corporação em 1971 e entre as funções que exerceu está o cargo de diretor do Departamento de Comunicação Social da PM (DCS). Na época que Siegfrid morreu, os agentes de segurança ainda não podiam receber a vacina da covid-19, o que só foi acontecer no final de março de 2021.  

 

Valdemir Novaes Pina, defensor público estadual

Ele fez parte do Conselho Superior da Defensoria Pública do Estado da Bahia (DPE-BA) como membro conselheiro, em 2004, e recebeu menção honrosa no prêmio “Conciliar é Legal”, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) na categoria “Mediação e Conciliação Extrajudicial”. Valdemir Novaes Pina tinha atuação reconhecida e destacada, principalmente após o sucesso da instalação do Centro de Mediação e Conciliação (CMC) para questões relacionadas ao direito das famílias. A coivd-19 não foi capaz de apagar esse seu legado. 

(Foto: divulgação)

 

Valdemir morreu no dia 12 de abril de 2021, em Salvador, com apenas  64 anos. Ele ficou um mês internado no Hospital Couto Maia, na capital baiana, devido a doença. Tinha 20 anos de serviço e era defensor público de classe final. Nasceu em Vitória da Conquista, onde foi sepultado. Mas sua carreira foi construída em Salvador, onde ele se formou em Direito pela Universidade Católica do Salvador (Ucsal). Valdemir deixou a esposa, dois filhos e uma neta. 

 

Ialorixá Mãe Laura Sandoiá, referência em Ilhéus 

Uma das maiores lideranças religiosas do sul da Bahia, a ialorixá Laura Maria da Silva, mais conhecida como Mãe Laura Sandoiá, foi uma das vítimas da covid-19. Ela partiu com 72 anos, no dia 27 de março de 2021, após ficar internada na UTI do Hospital de Ilhéus, na cidade nova. Mãe Laura era a sacerdotisa do Terreiro Guainia de Oiá, localizado no bairro do Pontal.

 

 

(Foto: reprodução)

 

A prefeitura de Ilhéus lamentou a morte da ialorixá em uma nota oficial divulgada na ocasião. "Mãe de Santo há 56 anos, Mãe Laura deixa um legado de devoção e fé, sobretudo muitas saudades para todos os seus seguidores e admiradores. Ela, uma referência da religião de matriz africana, organizava com muito esmero as festas de Iemanjá na Maramata. Sempre próxima da comunidade, ao longo de sua jornada, ela trabalhou em favor dos pontalenses e do desenvolvimento da cidade. Ilhéus perdeu uma grande personalidade, que será sempre lembrada por sua dedicação e amor", escreveram, na época.

 

Clebson Pereira da Silva, 31 anos, o jovem taxista morto por covid

Ele atuava em um supermercado na Vasco da Gama e chegou a pedir ao pai, também taxista, que parasse de trabalhar. Clebson Pereira da Silva, 31 anos, não imaginava que seria vítima da covid-19. O taxista tinha apenas 31 anos e morreu no dia 8 de maio de 2020. Segundo a Associação Geral dos Taxistas (AGT), a morte do rapaz trouxe comoção a toda categoria. 

(Foto: Reprodução)

 

Na época, o trabalhador foi atendido em duas Unidades de Pronto Atendimento (UPA) da cidade. Na primeira, ele foi medicado e liberado para que retornasse para casa. Após o quadro se agravar, retornou à UPA de Brotas e foi a óbito no dia seguinte. Ele ficou aguardando na Central de Regulação do Sistema Único de Saúde (SUS) para ser transferido para um hospital, mas não resistiu.

 

Jotinha, humorista que conquistou a internet  

Famoso por áudios de WhatsApp, no qual costumava usar o bordão "papá", e amigo de famosos como o jogador Neymar, o humorista e radialista José Luiz Almeida da Silva, conhecido como Jotinha, morreu no dia 5 de novembro de 2020. Com 52 anos, ele chegou a ficar de coma e teve falência de múltiplos órgãos após contrair a covid-19. 

 

(Foto: reprodução)

Muito querido, a notícia da sua morte foi confirmada pelo secretário estadual da Saúde, Fábio Vilas-Boas. Artistas chegaram a fazer uma campanha para que ele fosse transferido para um hospital público, já que estava internado em estado grave num hospital particular de Santo Antônio de Jesus, no Recôncavo. Sua família não tinha condições de mantê-lo no local. 

Segundo Vilas-Boas, devido a gravidade de saúde do rapaz, a transferência não poderia ser feita. Jotinha também era torcedor do Bahia e chegou a ser garoto-propaganda do clube, participando de diversas ações de marketing do tricolor. Sua morte repercutiu internacionalmente, ganhando homenagem no obituário do jornal The News York Times. Ele foi sepultado em Elísio Medrado, a cidade em que vivia. 

 

Maria Luiza Câmera, fundadora da Associação Baiana de Deficientes Físicos (Abadef), 

Uma vida inteira dedicada a luta. A defensora e ativista pelos direitos das pessoas com deficiência (PCD) e fundadora da Associação Baiana de Deficientes Físicos (Abadef), Maria Luiza Câmara, também lutou para vencer a covid-19. Ela tinha 75 anos e ficou cerca de 15 dias internada no Hospital da Bahia, no bairro da Pituba, A defensora até chegou a se recuperou da doença, mas dias depois voltou a ser internada com pneumonia.

 

(Foto: divulgação)

Nascida em Itabuna, no interior da Bahia, Luiza se mudou para Salvador junto com a mãe ainda na infância por conta dos estudos. Ainda jovem foi diagnosticada com a doença de Still – autoimune, que gera inflamações no corpo, desgastes progressivos nas articulações – e perdeu o movimento nas pernas. Desde então, passou a ser referência nacional na luta pelos diretos das PCD. Em meados do ano de 1980, fundou a Abadef. 

Ela chegou a receber a Comenda Dorina de Gouvêa Nowill, concedida pelo Senado Federal (SF) para personalidades que tenham oferecido contribuição relevante à defesa das pessoas com deficiência no Brasil. Também se candidatou quatro vezes para o cargo de vereadora de Salvador, mas não foi eleita. Luiza Câmara também fundou o Bloco Me Deixe à Vontade, que há 24 anos leva alegria e mensagem de respeito e inclusão às ruas durante o Carnaval de Salvador.

 

Sapatão, ídolo do Bahia

Élcio Nogueira da Silva, ou simplesmente Sapatão, fez sucesso jogando com a camisa do Bahia durante as décadas de 1970 e 1980. Ele atuou em toda a campanha que deu ao tricolor o inédito e até hoje inigualado heptacampeonato baiano de 1973 a 1979. Aos 72 anos, no dia 5 de junho de 2020, morreu vítima da covid-19. 

 

 

(Foto: Betto Jr./Arquivo CORREIO)

Ele estava internado na UTI do Hospital da Bahia após passar mal em casa, com quadro de hipertensão. O ex-zagueiro precisou ser intubado, passou a respirar com a ajuda de aparelhos e foi diagnosticado com a covid supostamente contraída no hospital. 

Além do Esquadrão, Sapatão passou ainda por Flamengo, Fluminense de Feira - pelo qual foi campeão baiano de 1969 -, Santa Cruz e Catuense. Após encerrar a carreira nos gramados, se tornou treinador e dirigiu equipes como Ypiranga, Camaçari, Galícia, América-SE e União São João-SP. Ao todo, com a camisa tricolor, Sapatão entrou em campo 450 vezes e marcou 12 gols. 

 

MC Dumel, cantor

Terrível. Essa é a palavra que define Diego Albert Silveira Santos, o MC Dumel, morto no dia 16 de abril em decorrência da covid-19. O uso do adjetivo não significa uma ofensa. Terrível era a forma como o funkeiro de 28 anos se referia àquilo de que gostava. Dumel tinha apenas 28 anos e foi a 36ª vítima da doença na Bahia.

(Foto: reprodução)

Em março de 2020, o MC estava no Rio de Janeiro, sua cidade natal, em uma turnê que se iniciou após o carnaval. Lá ele foi infectado e começou a apresentar os sintomas da doença. Todos achavam que era uma gripe. Com a iminência da pandemia e o cancelamento dos shows, o artista antecipou a volta para a Bahia, local onde ele escolheu como sua casa.   

A esposa Andreza Bacellar, 22 anos, também foi infectada e ficou curada. Os dois testaram positivo e foram internados no Hospital Geral Menandro de Faria, em Lauro de Freitas. De lá, o casal foi transferido para o Instituto Couto Maia, onde Dumel veio a óbito. 

 

Maria da Conceição Silva Santos (Janaína), a primeira baiana de acarajé vítima da covid-19 

Como a maioria das baianas de acarajé, Maria da Conceição Silva Santos aprendeu o ofício com a mãe. Ela era conhecida como Janaína porque nasceu no dia 2 de fevereiro. Sempre impecável, fazia muitos eventos e vendia acarajé na porta de casa, na rua do Japão, Liberdade. A pandemia não a deixou mais realizar seu serviço. Janaína morreu de covid no dia 14 de maio de 2021. Ela foi a primeira baiana de acarajé morta pela doença, segundo a Associação Nacional de Baianas de Acarajé, Mingau, Beiju e Similares (Abam).

Janaína, a terceira da esq. para a dir., vestida de azul, e outras quatro baianas mortas pela covid na Bahia

(Foto: Acervo Pessoal)

 

A família acredita que Janaína foi contaminada quando teve que levar o pai dela, seu avô, à uma UPA. Dias depois, estava sentindo falta de ar e a filha a encontrou completamente prostrada. Do candomblé, a mãe disse à filha que tinha visto sua morte no jogo de búzios se fosse ao hospital. A filha ligou para a Samu e a informação era de que elas precisariam ir para a unidade.

Com a ajuda de duas pessoas, foi levada para a UPA dos Barris. Na madrugada, foi transferida para o Hospital de Campanha Memorial do Itaigara, onde foi intubada. Janaína lutou por 18 dias, mas não resistiu. 

 

Fernando Neves, ator 

Ele era um dos mais renomados atores do teatro baiano, Formado em Direção Teatral e Licenciatura em Artes Cênicas, pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), Fernando Neves foi professor de teatro do Colégio Estadual Severino Vieira e diretor de teatro infantil da Ufba durante três anos. No dia 26 de junho de 2020, faleceu por complicações da covid-19.

 

(Foto: divulgação)

Fernando era natural de Belém do Pará, onde começou a atuar, em 1955. Ele encenou diversos espetáculos na Bahia, como “O sonho” e “Check-up”, que ficou em temporada entre 1977 a 1987 no Teatro Gamboa. Um dos seus últimos trabalhos foi na peça Em Família, que chegou a ser indicada no Prêmio Braskem de Teatro.

 

Gilmar Vasconcelos, cinegrafista da TV Aratu 

A covid-19 também atingiu os profissionais da imprensa. O repórter cinematográfico Gilmar Vasconcelos tinha apenas 50 anos e morreu na noite do dia 16 de março de 2020, em Salvador, por complicações respiratórias causadas pela covid. Ele atuava há cerca de 15 anos na TV Aratu e tinha passagens por outras emissoras da capital baiana.

(Foto: reprodução)

 

No início de fevereiro, apresentou sintomas da doença, testou positivo e se afastou das atividades. Com os sintomas mais graves, foi internado no Hospital Santa Izabel, em Salvador, onde estava há cerca de 40 dias. Seu sepultamento aconteceu no Cemitério Bosque da Paz, na capital baiana. Ele vivia com a companheira, Arlete, e deixou cinco filhos.

 

20 mil mortes na Bahia: relembre 20 personalidades vítimas da covid

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, é um dos alvos da Operação Akuanduba, realizada nesta quarta-feira (19) com o objetivo de investigar a exportação ilegal de madeira para Estados Unidos e Europa.

Ao todo, 160 policiais federais cumprem 35 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal, no Pará e em São Paulo.

Além das buscas determinadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), houve ainda o afastamento preventivo de dez agentes públicos ocupantes de cargos e funções de confiança.

São, ao total, 10 agentes que trabalhavam no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e no Ministério do Meio Ambiente (MMA).

O STF também determinou a suspensão imediata da aplicação de um despacho, emitido em fevereiro de 2020, que permitiu a exportação de produtos florestais sem a necessidade de emissão de autorizações de exportação.

"Estima-se que o referido despacho, elaborado a pedido de empresas que tiveram cargas não licenciadas apreendidas nos EUA e Europa, resultou na regularização de mais de 8 mil cargas de madeira exportadas ilegalmente entre os anos de 2019 e 2020", informou a PF.

As investigações iniciaram em janeiro, segundo a Polícia Federal, a partir de informações "obtidas de autoridades estrangeiras" que noticiavam um "possível desvio de conduta de servidores públicos brasileiros no processo de exportação de madeira".

Uma visitante diferente apareceu no Condomínio Recanto do Jambeiro, no bairro da Boca da Mata, em Salvador. Na última quarta, um cachorro-do-mato foi capturado por agentes da Guarda Civil Municipal. Algo que chama a atenção, principalmente pela quantidade de animais selvagens sendo resgatados com frequência em área urbana. No sábado (15), por exemplo, um jacaré-anão foi resgatado próximo ao Shopping Paralela. 

O animal, que estava ferido, era uma fêmea pesando pouco mais 3kg. Ela foi encaminhada ao Cetas/Inema, para que pudesse receber atendimento e posteriormente ser devolvida à natureza. Comandante da guarnição deslocada para o resgate, o GCM Adroaldo Brito afirmou que a solicitação apontava que tratava-se de uma raposa.

 

"Quando chegamos, averiguamos que era um cachorro-do-mato. Não foi difícil fazer o resgate por conta do estado do animal, que estava muito debilitado", disse o comandante.

Especialista em Meio Ambiente do Inema, Marianna Pinho afirma que esses animais também vivem no ambiente urbano e muitas espécies se adaptam com tranquilidade porque Salvador é uma cidade com muita área verde. Normalmente, os animais avançam para a área urbana por conta do desmatamente e supressão de seus habitats. 

Veterinário do Centro Estadual de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), Nestor Blanco também alerta que o avanço de construções mata adentro acaba influenciando para que os bichos apareçam nas cidades.

A fêmea de cachorro-do-mato chegou ao Cetas muito desidratada e com dificuldade de ficar em pé, conforme relata o veterinário que prestou atendimento.

"Fizemos os primeiros atendimentos, colocamos no soro, hidratamos bem, e logo depois da hidratação ela se levantou, se alimentou, a nossa suspeita é que ela está com algum problema oftálmico, não está enxergando muito bem", explicou o veterinário.

Por conta do aparente problema na visão, o animal está com um comportamento arisco, um pouco agressiva, principalmente quando escuta movimentos.

Blanco explica que ela não receberá nenhum nome porque o Inema não cria vínculo com o animal, algo que é mais comum em zoológicos, onde os bichos ficam por mais tempo. Depois da recuperação, ela será solta na natureza.

A bióloga Marianna Pinho afirma que há várias espécies de cachorro do mato - a raposa é uma delas. A mais abundante, por sinal. Para a soltura, os animais recebem um microchip. O Inema libertará a cachorra do mato numa área chamada de Asas (Área de Soltura de Animais Silvestres), que são previamente cadastradas pelo órgão.

"A gente vê em qual dessas áreas tem ocorrência do animal. E caso ele seja resgatado novamente, a gente consegue identificá-la", disse Nelson Blanco.

A quantidade de animais resgatados pela Guarda Civil Municipal caiu bastante quando comparada com o mesmo período do ano passado. Em 2020, foram 607 animais resgatados pela GCM entre janeiro e maio. O número caiu para 350 em 2021.

De acordo com a GCM, as três espécies mais resgatadas no ano são Sariguês, Serpentes e Jiboias.

Uma visitante diferente apareceu no Condomínio Recanto do Jambeiro, no bairro da Boca da Mata, em Salvador. Na última quarta, um cachorro-do-mato foi capturado por agentes da Guarda Civil Municipal. Algo que chama a atenção, principalmente pela quantidade de animais selvagens sendo resgatados com frequência em área urbana. No sábado (15), por exemplo, um jacaré-anão foi resgatado próximo ao Shopping Paralela. 

O animal, que estava ferido, era uma fêmea pesando pouco mais 3kg. Ela foi encaminhada ao Cetas/Inema, para que pudesse receber atendimento e posteriormente ser devolvida à natureza. Comandante da guarnição deslocada para o resgate, o GCM Adroaldo Brito afirmou que a solicitação apontava que tratava-se de uma raposa.

"Quando chegamos, averiguamos que era um cachorro-do-mato. Não foi difícil fazer o resgate por conta do estado do animal, que estava muito debilitado", disse o comandante.

Especialista em Meio Ambiente do Inema, Marianna Pinho afirma que esses animais também vivem no ambiente urbano e muitas espécies se adaptam com tranquilidade porque Salvador é uma cidade com muita área verde. Normalmente, os animais avançam para a área urbana por conta do desmatamente e supressão de seus habitats. 

Veterinário do Centro Estadual de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), Nestor Blanco também alerta que o avanço de construções mata adentro acaba influenciando para que os bichos apareçam nas cidades.

A fêmea de cachorro-do-mato chegou ao Cetas muito desidratada e com dificuldade de ficar em pé, conforme relata o veterinário que prestou atendimento.

"Fizemos os primeiros atendimentos, colocamos no soro, hidratamos bem, e logo depois da hidratação ela se levantou, se alimentou, a nossa suspeita é que ela está com algum problema oftálmico, não está enxergando muito bem", explicou o veterinário.

Por conta do aparente problema na visão, o animal está com um comportamento arisco, um pouco agressiva, principalmente quando escuta movimentos.

Blanco explica que ela não receberá nenhum nome porque o Inema não cria vínculo com o animal, algo que é mais comum em zoológicos, onde os bichos ficam por mais tempo. Depois da recuperação, ela será solta na natureza.

A bióloga Marianna Pinho afirma que há várias espécies de cachorro do mato - a raposa é uma delas. A mais abundante, por sinal. Para a soltura, os animais recebem um microchip. O Inema libertará a cachorra do mato numa área chamada de Asas (Área de Soltura de Animais Silvestres), que são previamente cadastradas pelo órgão.

"A gente vê em qual dessas áreas tem ocorrência do animal. E caso ele seja resgatado novamente, a gente consegue identificá-la", disse Nelson Blanco.

A quantidade de animais resgatados pela Guarda Civil Municipal caiu bastante quando comparada com o mesmo período do ano passado. Em 2020, foram 607 animais resgatados pela GCM entre janeiro e maio. O número caiu para 350 em 2021.

De acordo com a GCM, as três espécies mais resgatadas no ano são Sariguês, Serpentes e Jiboias.

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), anunciou, em transmissão online na noite desta terça-feira (18), três mudanças no secretariado estadual, anunciando a indicação dos novos titulares da Secretaria de Relações Institucionais (Serin), da Secretaria da Agricultura (Seagri) e da Secretaria do Turismo (Setur).

Conforme anunciado pelo governador, o ex-prefeito de Camaçari, Luiz Caetano (PT), assumirá a Serin no lugar de Jonival Lucas Júnior; o atual secretário de Meio-Ambiente, João Carlos Oliveira, foi deslocado para a Seagri; e o novo comandante da Setur trata-se de Maurício Bacelar (Podemos).

Ainda em negociação, o novo secretário do Meio-Ambiente, para substituir a João Carlos Oliveira, não foi anunciado por Rui.

Na esteira da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que determinou a realização do Censo Demográfico em 2022, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou nesta terça-feira, 18, em comunicado, que prepara um plano para realizar a pesquisa, que incluirá a necessidade de recursos orçamentários a serem repassados ainda este ano. Segundo o órgão, é urgente a recomposição do orçamento de 2021 para dar conta das etapas preparatórias do Censo 2022.

"A Direção do IBGE prepara um plano para cumprimento da decisão judicial que estabeleceu a realização do Censo Demográfico em 2022. O projeto descreverá as demandas de recursos a serem repassados ao Instituto ainda este ano, para que o Censo ocorra no ano que vem - por enquanto, sem data definida. A prioridade, agora, é fechar a proposta, já que há necessidade urgente de recomposição do orçamento para conclusão de etapas preparatórias essenciais ao longo de 2021", diz um comunicado divulgado nesta terça pelo IBGE.

O comunicado não informa um prazo exato para a conclusão do plano. "Após a elaboração do plano de trabalho, serão retomadas reuniões com as áreas técnica, consultiva e operacional, que vão definir as melhores condições e o período adequado para realização do Censo em 2022", continua o texto.

Na sexta-feira, 14, quando o Plenário do STF tomou a decisão, o IBGE já havia informado que estava trabalhando em um plano para levar o Censo Demográfico a campo em 2022, mas não havia ressaltado a necessidade de recomposição orçamentária em 2021, para dar conta das etapas preparatórias.

Realizado a cada dez anos, o Censo Demográfico visita todos os cerca de 71 milhões de lares brasileiros. O levantamento foi orçado inicialmente pela equipe técnica do IBGE em cerca de R$ 3 bilhões, para ir a campo em 2020, como previsto. Em meio a pressões do governo pela redução no orçamento, os questionários originais foram enxugados, e a verba encolheu para R$ 2,3 bilhões, ainda em 2019.

Ano passado, diante da pandemia de covid-19, o IBGE suspendeu todas as entrevistas presenciais em suas pesquisas. O Censo foi adiado para 2021. Nessa ocasião, o governo federal reduziu ainda mais o montante previsto no projeto de lei orçamentária de 2021 para o Censo, para R$ 2 bilhões.

Nas discussões no Congresso, o valor acabaria cortado para R$ 71 milhões. O Orçamento sancionado e publicado no Diário Oficial da União trouxe um veto do presidente Jair Bolsonaro, que cortou o valor ainda mais, para R$ 53 milhões. Esse montante é tido como insuficiente para realizar o Censo e motivou o pedido de demissão da então presidente do IBGE, Susana Cordeiro Guerra.

No fim de abril, antes da decisão do STF, o novo presidente do IBGE, Eduardo Rios Neto, afirmou que o órgão estava preparado tecnicamente para realizar o Censo Demográfico em 2021, "a depender das condições sanitárias" e da recomposição integral do orçamento de R$ 2 bilhões. Mesmo assim, os recursos precisariam chegar a tempo de os preparativos serem retomados de forma a levar a campo a coleta ainda este ano. O plano de iniciar a coleta em agosto já não seria cumprido.

Uma agência da Caixa ficou destruída após ser atacada por assaltantes na madrugada desta terça-feira (18). O banco fica na Rua Direta de São Marcos, em Pau da Lima.

Moradores da região contaram à TV Bahia que ouviram muitos tiros e que alguns rodoviários que passavam no local viraram reféns dos bandidos. Um caminhão também foi usado para bloquear a via e facilitar a ação dos criminosos, que explodiram a agência.

Segundo informações da Polícia Militar, policiais foram acionados pelo Cicom para atender a ocorrência, mas, ao chegarem ao local, nenhum suspeito foi encontrado e a agência já estava destruída. Ninguém foi preso.

Apesar do avanço na vacinação, algumas cidades da Bahia enfrentam o pior momento da pandemia. Nessa segunda-feira (17), hospitais de 16 municípios do interior estavam com 100% de ocupação nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), de acordo com os dados da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab). Essa realidade está acompanhada por um momento de explosão de novos casos e também falta de medicamentos para o tratamento da covid.

Essa é a situação de Paulo Afonso, por exemplo, cidade localizada a quase 500 quilômetros de distância de Salvador. O município de 120 mil habitantes já é o quinto na Bahia com mais casos ativos de covid-19: 379, segundo os dados da Sesab, mas 455, segundo o último boletim epidemiológico do município. Por lá, o Hospital Municipal Aroldo Ferreira está com os 10 leitos de UTI ocupados e há falta de medicamentos.

“No momento, estamos passando por um caos em Paulo Afonso. Não tenho como colocar mais pacientes, estou correndo para abrir leitos e preciso do apoio de todo mundo. Quem tiver insumos, medicações que possam nos ajudar, vejam, nos ajudem, enviem. Estou com meus processos em andamentos, com meus fornecedores para entregar. Tenho fornecedores que dizem que os fabricantes não têm matéria prima para entregar o que a gente comprou. Então, para dar suporte a todos vocês, preciso que vocês me ajudem”, disse o secretário interino de Saúde de Paulo Afonso, Adonel Júnior.

Essa declaração foi dada em um áudio vazado dirigido para os colegas das cidades vizinhas. A veracidade da gravação foi confirmada pela prefeitura e pelo próprio secretário.

“Estamos vivenciando um verdadeiro caos, porque diariamente recebemos centenas de pessoas de toda uma região e, por mais que tenhamos insumos e profissionais, tem um momento que os medicamentos não atendem a alta demanda”, disse.

Mas não é só a região Norte da Bahia, onde Paulo Afonso está localizada, que sofre com a ocupação das UTIs. As 16 cidades com hospitais lotados estão espalhadas em oito das nove macrorregiões. Confira a lista completa das unidades de saúde ocupadas e seus respectivos municípios no final do texto.

Barreiras está no pior momento da pandemia
No Oeste do estado, a cidade-polo de Barreiras também enfrenta o pior momento da pandemia. Segundo os dados da Sesab, são 441 casos ativos, mas o boletim epidemiológico municipal revela muito mais: 1.162 pessoas estão com a covid-19 atualmente, o que a coloca no segundo lugar da lista de cidades com mais casos ativos da Bahia. Lá tem 50 leitos de UTIs divididos em dois hospitais (Central e do Oeste). 49 estão ocupados – apenas o Hospital do Oeste tinha um leito vago na tarde dessa segunda-feira.

Por causa desse cenário, na última sexta-feira (14), a prefeitura determinou o fechamento do comércio não essencial por 10 dias. Um dia depois, o governo do estado determinou que toda a região Oeste entrasse em lockdown parcial até 25 de maio. Por ser a maior cidade da região, os hospitais de Barreiras recebem pacientes das cidades vizinhas. O secretário de Saúde, Melchisedec Neves, aprovou a decisão.

“O atual momento da pandemia no nosso município nos levou a tomar medidas urgentes que visam o enfrentamento do quadro mais grave já deparado por nós desde março do ano passado. (..) Os números são alarmantes e não encontramos mais médicos para contratar. Os que estão atuando, já estão exaustos devido à sobrecarga dos trabalhos intensos. Por isso, precisamos da colaboração de todos”, disse.

No total, são 36 cidades do Oeste, incluindo Barreiras, que estão com lockdown parcial: Angical, Baianópolis, Barra, Barreiras, Bom Jesus da Lapa, Brejolândia, Brotas de Macaúbas, Buritirama, Canápolis, Catolândia, Cocos, Coribe, Correntina, Cotegipe, Cristópolis, Formosa do Rio Preto, Ibotirama, Ipupiara, Jaborandi, Luís Eduardo Magalhães, Mansidão, Morpará, Muquém do São Francisco, Oliveira dos Brejinhos, Paratinga, Riachão das Neves, Santa Maria da Vitória, Santa Rita de Cássia, Santana, São Desidério, São Félix do Coribe, Serra do Ramalho, Serra Dourada, Sítio do Mato, Tabocas do Brejo Velho e Wanderley.

No Nordeste da Bahia, municípios declaram “lockdown” por conta própria
Se as grandes cidades não têm vagas nos leitos de UTis, as pequenas, que não têm essa infraestrutura hospitalar mais complexa, ficam reféns da fila da regulação. Esse é o caso de Monte Santo e Ribeira do Pombal, municípios localizados no Nordeste da Bahia, que entraram em lockdown para frear a contaminação e evitar o aumento de casos e mortes na cidade.

Em Monte Santo, a decisão veio depois que, em menos de uma semana, dois óbitos por covid-19 foram confirmados na cidade. Atualmente, o município de 50 mil habitantes tem 150 casos ativos e outros 51 suspeitos. No total, são 33 mortes desde o início da pandemia. Lá, o lockdown já começa nessa terça-feira, 18 de maio, e vai até o próximo domingo (23).

“Diante de um cenário onde do dia 1º de maio até hoje tivemos confirmados vários casos, acendeu o sinal vermelho. Eu convidei os vereadores e representantes da sociedade civil de Monte Santo. Ficou decidido pela maioria a necessidade de fazermos um lockdown. Serão seis dias em que eu peço para os cidadãos refletirem e fazerem sua parte, para assim vencermos a pandemia”, disse a prefeita da cidade, Silvania Matos.

Já Ribeira do Pombal, com seus pouco mais de 50 mil habitantes, encontra-se com quase o dobro de casos ativos do que Monte Santo. São 290, no total, o que coloca a cidade na oitava colocação da lista dos que mais tem casos ativos na Bahia, segundo a Sesab. O lockdown por lá começou na sexta-feira (14) e vai até às 5h dessa quinta-feira (20).

“Eu peço a cada um de vocês que nos ajude. [Essa] é a única forma de conter o crescimento do vírus na cidade”, disse o prefeito Eriksson Silva, em vídeo gravado para a população da cidade. No total, Ribeira do Pombal tem 46 mortes por covid-19. Em toda região Nordeste, onde as duas cidades estão localizadas, há apenas um hospital com leitos de UTI. É o Regional Dantas Bião, em Alagoinhas, que também está com 100% de ocupação.

Governador disse acompanhar a situação
Em uma rede social, o governador Rui Costa classificou a realidade do oeste do estado como “crítica” e a de Paulo Afonso como “preocupante”. Ele disse que o governo do estado está acompanhando e tomando medidas.

“A situação do Oeste da Bahia é muito crítica. A região de Paulo Afonso também nos preocupa, então, o Governo do Estado, juntamente com as prefeituras, já está tomando medidas para frear a transmissão do coronavírus nessas localidades”, disse.

A Sesab disse que também acompanha a situação. “A Sesab segue monitorando as cidades e, caso seja necessário, transferindo pacientes para outras unidades”, afirmaram, em nota. Também nessa segunda-feira, Rui criticou as festas com aglomerações, o que para ele tem sido um grande centro de reprodução da covid-19. Por isso, a governadoria já antecipou que vai suspender o transporte intermunicipal no período das festas juninas.

“Não permitiremos a realização de festas de São João em nenhuma cidade, nenhuma região da Bahia. Temos que ter responsabilidade neste momento. Fazer festa agora é desrespeitar a vida humana”, escreveu.

"Se não frear a contaminação, a tendência é piorar”, alerta cientista.
Coordenador do portal Geocovid, que analisa os dados da pandemia no Brasil, o professor Washington Franca-Rocha alerta da necessidade de se fazer medidas de isolamento que possam diminuir os números preocupantes. “Se não frear a contaminação, a tendência é piorar. A projeção dos dados é que esses locais continuem numa situação ruim nos próximos dias. É preciso medidas mais duras de isolamento”, diz. Na avaliação do professor, três regiões da Bahia encontram-se com a situação mais preocupante: Oeste, Norte e Sudeste.

“Quando a gente olha os números de mortes, tem municípios como Correntina, Baianópolis, Santa Maria da Vitória, Carinhanha, Xique-Xique, Sobradinho, Campo Formoso, Uauá e Jeremoabo com números assustadores. Em casos, a gente vê uma situação mais grave nos municípios próximos à fronteira de Minas Gerais”, alerta.

Outro fator de destaque para que haja redução nos números da pandemia é o aumento da vacinação. “Nas faixas etárias mais novas, o percentual de vacinados é baixíssimo. O problema é que as variantes que estão circulando são mais agressivas e atingem pessoas mais jovens. A vacinação precisa avançar também nos mais jovens para que a situação melhore”, defende.

Lista dos hospitais com 100% de ocupação da UTI na Bahia:

Na região Centro-leste:
Hospital De Feira De Santana
Hospital Da Chapada, em Itaberaba
Hospital Regional Da Chapada, em Seabra

Na região Extremo-sul:
Hospital De Tratamento Covid19, em Eunápolis

Na região Leste:
Hospital Santa Helena, em Camaçari
Hospital Regional de Santo Antônio de Jesus

Na região Nordeste:
Hospital Regional Dantas Bião, em Alagoinhas

Na região Norte:
Hospital Municipal Aroldo Ferreira, em Paulo Afonso
Hospital Regional de Juazeiro

Na região Oeste:
Hospital Central de Barreiras

Na região Sudoeste:
Hospital Municipal de Caetité
Hospital Regional de Guanambi
Hospital São Vicente de Paulo, em Vitória da Conquista

Na região Sul:
Hospital Vida Memorial, em Ilhéus
Hospital Calixto Midlej Filho, em Itabuna
Hospital São Vicente em Jequié

Morto a tiros durante uma incursão neste domingo (16) em Camaçari, Região Metropolitana de Salvador (RMS), o soldado Joedson dos Santos Andrade fazia parte de um grupo de extermínio que agia em Vila de Abrantes. Ele trabalhava na 59 Companhia Independente (59ª CIMP/Vila de Abrantes) e foi um dos presos em maio do ano passado no Operação Assepsia I, ação de uma Força-Tarefa que investiga grupos de polícias suspeitos de crime de extermínio e extorsão, além de sequestros em Salvador e RMS.

As informações são da Corregedoria-geral da Secretaria de Segurança Pública (SSP), à frente da Força-Tarefa. Segundo Nelson Gaspar, corregedor-geral da SSP, Joedson foi um dos quatro PMs presos no dia 18 de maio do ano passado, quando a Força-Tarefa cumpriu mandados de prisão e busca e apreensão na 59ª CIMP, por conta das mortes dos irmãos Hiago Nascimento Tavares e Thiago Nascimento Tavares, ocorridas no dia 7 de fevereiro do mesmo ano, em Barra de Pojuca, município de Camaçari.

Ainda segundo Gaspar, Hiago, alvo do grupo armado, possuía envolvimento com tráfico de drogas. O irmão dele acabou sendo morto por ter presenciado a ação da quadrilha. O corpo da segunda vítima foi enterrado numa cova rasa e depois localizado. As mortes foram por disparo de arma de fogo.

Joedson e os outros três policiais trabalhavam no Pelotão Especial (Peto) da 59ª CIMP. Todas as CIPM, assim como as em que atuavam os policiais, têm um núcleo formado por policiais especializados, que estão em ação geralmente em situações consideradas mais complexas.

Trata-se de uma tropa de reação imediata que o comandante tem na unidade e que atua em ocorrências relacionadas aos crimes mais perigosos, como a presença de traficantes nas ruas ou a circulação de homens armados.

Na ocasião das prisões dos policiais, a SSP informou que Hiago era o alvo do grupo armado e possuía envolvimento com tráfico de drogas. O irmão acabou sendo morto por tabela, apenas por ter presenciado a ação dos PMs.

A SSP afirmou também que havia indícios de que os policiais integravam um grupo de extermínio, mas disse que detalhes da investigação e das prisões não poderiam ser repassadas por conta da lei de abuso.

Crime
Segundo a Polícia Militar, este ano já foram oito PMs mortos, sendo dois em serviço, três de folga e dois da reserva remunerada. O órgão afirmou apenas que Joedson morreu a tiros quando realizava rondas nas imediações da localidade conhecida como Fonte das Águas, em Arembepe.

Colegas do policial deram mais detalhes do fato ao CORREIO. Contaram que o crime aconteceu no fundo da Companhia. Joedson foi baleado aparentemente por dois disparos na altura do peito, quando realizava ronda na função de motorista do coordenador de área, um subtenente, a bordo da viatura 9.5922.

“O que ficamos sabendo é que o colega recebeu a informação de homens armados atrás da Companhia, um local onde está crescendo a movimentação do tráfico de drogas, e ele foi fazer averiguação. Os elementos correram atirando. Ele fez o acompanhamento e foi baleado”, contou um policial da unidade. Segundo ele, no entorno da 59ª CIMP, a liderança do tráfico é do Comando da Paz (CP), filial do Comando Vermelho (CV).

Ferido, o soldado foi socorrido para Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Arembepe. “Foi solicitado o apoio, mas o colega veio a óbito”, completou o policial.

Em uma nota de pesar, a PM disse que “O soldado Joedson prestou excelente serviço nos seus 11 anos dedicados à Corporação. Ele deixa esposa e um filho”. O CORREIO manteve contato com a esposa do policial, mas ela preferiu não falar sobre o assunto.

Duas décadas depois, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), repete o drama do avô. Mario Covas descobriu um câncer no auge da carreira política, após se reeleger governador de São Paulo. Ele rompeu uma tradição da política brasileira e manteve os cidadãos informados sobre a evolução da doença. Morreu em 2001, aos 70 anos.

O prefeito de São Paulo morreu ontem às 8h20 aos 41 anos. Desde 2019, ele lutava contra um câncer no sistema digestivo com metástase nos ossos e no fígado. Deixa o filho Tomás, de 15 anos. Covas estava internado no Hospital Sírio-Libanês, no Centro da capital paulista, desde 2 de maio, quando se licenciou da prefeitura. Na sexta-feira (14), ele teve uma piora no quadro de saúde e a equipe médica informou que seu quadro havia se tornado irreversível.

Familiares e amigos de Covas permaneceram no hospital desde então. Nas últimas horas de vida, o prefeito recebeu sedativos e analgésicos para não sentir dores. Na noite de sexta, um padre chegou a fazer a unção dos enfermos, um sacramento católico. Durante a noite de sábado (15), representantes de diversas religiões participaram de um ato ecumênico na porta do hospital, que durou 30 minutos e terminou com a oração Pai Nosso.

O corpo foi levado para o Edifício Matarazzo, sede da prefeitura, para uma cerimônia breve para familiares e amigos próximos. Depois, seguiu em carro aberto até a Praça Oswaldo Cruz. O enterro, restrito à família, foi no Cemitério do Paquetá, em Santos, onde está sepultado o corpo de Mário Covas, ex-governador de São Paulo e avô de Bruno que também morreu em decorrência de um câncer, em 2001.

Entre os presentes na cerimônia religiosa, que foi restrita a cerca de 20 pessoas, estavam o filho Tomás, de 15 anos, a ex-mulher Karen Ishiba, os pais, um irmão e o tio Mário Covas Neto, ex-vereador da capital. Havia também autoridades como o vice-prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o governador João Doria e sua mulher Bia Doria.

Sobre o caixão fechado foram colocadas as bandeiras do Brasil e de São Paulo. O filho Tomás ajudou a carregar o caixão até o carro do Corpo de Bombeiros. Simpatizantes do prefeito aplaudiram a saída do corpo para o cortejo pelas principais ruas do Centro de São Paulo. Na Avenida Paulista, o carro dos bombeiros foi cercado por simpatizantes que queriam se despedir e seguravam faixas e cartazes.

Política no DNA
A ligação de Covas com a política remonta à sua adolescência. Antes mesmo de ingressar na graduação, Bruno Covas conseguiu um estágio privilegiado no mundo da política. Aos 15 anos, deixou a casa dos pais em Santos para viver no Palácio dos Bandeirantes, junto com o avô Mário Covas, que assumira, naquele ano de 1995, o governo de São Paulo. Foram seis anos como espectador privilegiado das decisões sobre os rumos do estado mais rico do país.

Bruno se diferenciava dos visitantes do avô no palácio, não só pela idade, mas também pelo visual. Com cabelo comprido, o neto do governador quase sempre vestia camisas de bandas de rock, paixão que carregou pela vida. Apesar de não adotar o traje típico dos políticos, naquela época já não escondia o desejo de seguir a carreira do avô.

Ainda criança, havia feito a carteirinha do “clubes dos tucaninhos”. Aos 17 anos, se filiou ao PSDB. Mário Covas alertava que era preciso estudar. O neto seguiu o conselho e fez duas faculdades: direito na USP e economia na PUC-SP. As lembranças de frases e feitos do avô seriam constantes ao longo da trajetória de Covas.

O aspirante a político formou o seu grupo logo nos primeiros anos de PSDB. Amigos da época da juventude tucana, como os secretários Orlando Faria (Habitação) e Alexandre Modonezi (Subprefeituras), o acompanhariam pelo restante da carreira.

Em 2006, resolveu tentar um voo solo e se candidatou a deputado estadual. Foi eleito com 122,3 mil votos. Assumiu o mandato aos 20 anos. Na Assembleia Legislativa teve uma atuação discreta. Ao contrário do avô, não se destacava como um grande orador. Tímido, se consolidou mais como político de bastidores.

Impulsionado pelo sobrenome, não teve dificuldade para se reeleger em 2010. Foi o mais votado, com 239 mil votos. No ano seguinte, Geraldo Alckmin, o sucessor de seu avô no governo paulista, o convidou para assumir a Secretaria Estadual do Meio Ambiente. No posto, Bruno conseguiu consolidar o seu grupo político e passou a exercer papel de destaque no controle do diretório paulistano do PSDB.

Em 2014, decidiu que era hora de se arriscar em Brasília. Foi o quarto deputado federal paulista mais votado, com 352.708 votos. Votou a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff. No mesmo ano, chegou a se inscrever para disputar as prévias tucanas que escolheriam o candidato a prefeito de São Paulo. No meio do processo, acabou desistindo para apoiar João Doria, que após se sagrar vitorioso no duelo interno do PSDB o escolheu para vice da chapa.

Doria foi eleito prefeito de São Paulo no primeiro turno e nomeou Bruno secretário das Subprefeituras. Dez meses depois, diante das críticas sobre o serviço de zeladoria da cidade, tirou o vice do posto e o transferiu para a Secretaria de Governo, pasta com função exclusivamente de articulação política. A troca provocou tensão entre os grupos do prefeito e do vice.

Foi no período como vice-prefeito que Bruno promoveu uma mudança radical em sua vida. Abandonou o sedentarismo, passou a controlar a alimentação, adotou uma rotina rigorosa de exercício. Perdeu 18 quilos. Também mudou o visual. Deixou os ternos de lado e passou a desfilar de calça jeans, camisetas e sapatênis. Assumiu a calvície raspando o cabelo e deixou a barba crescer.

Seis meses depois de ser tirado da Secretaria das Subprefeituras, Bruno herdou a prefeitura de Doria, que renunciou ao comando da cidade para concorrer ao governo do estado. Bruno assumiu o mesmo cargo que havia sido ocupado por seu avô entre 1983 e 1985.

O câncer
À frente da maior cidade do país, adotou uma linha discreta, bem diferente do estilo espalhafatoso do antecessor. Teve dificuldade para impor uma marca. Em outubro de 2019, descobriu o câncer na cárdia, válvula entre o esôfago e o estômago. Fez quimioterapia e imunoterapia.

Bruno Covas foi o primeiro prefeito da cidade de São Paulo a morrer durante o mandato. Os primeiros tumores foram descobertos há um ano e meio, quando ele investigava uma irritação na pele. Logo no início da luta, o câncer já se revelava metastático — quando se espalha por outros órgãos.

Em outubro de 2019, Bruno foi diagnosticado com um câncer na região da cárdia, na transição entre o estômago e o esôfago, durante uma consulta para tratar uma infecção de pele. Na época, também foi diagnosticada uma metástase do câncer original, com linfonodos aumentados ao redor do pâncreas e um nódulo no fígado. Ainda em 2019, iniciou sessões de quimioterapia e radioterapia, que fizeram com que os tumores regredissem e diminuíssem de tamanho.

Ele continuou o tratamento em 2020 com imunoterapia, sem a necessidade de se licenciar do cargo, pois apresentava boas condições clínicas. Em exames de rotina em junho de 2020, Covas testou positivo para Covid. Ele não apresentou sintomas e fez a quarentena em casa, sem necessidade de se internar.

O novo prefeito
Eleito vice-prefeito de São Paulo em 2020, Ricardo Nunes (MDB) assume em definitivo o comando da cidade. Ele estava como prefeito em exercício desde 2 de maio, quando Covas se licenciou para dar continuidade do tratamento contra o câncer. A oficialização de Nunes à frente da Prefeitura de São Paulo foi feita por meio de um ato da mesa diretora da Câmara de São Paulo, que se reuniu às 11h20 para extinguir o mandato de Covas após a morte do tucano, ocorrida hora antes.

Em seu primeiro ato, o emedebista decretou luto oficial de 7 dias pela morte de Covas. "A dor toma conta, perder um amigo, um irmão, que é referência de integridade, companheirismo, generosidade, dói muito", postou Nunes após a morte do tucano.

Antes de se eleger vice-prefeito na chapa de Bruno Covas em 2020, Nunes foi vereador por dois mandatos. Ele é ligado a associação de empresários da Zona Sul e à Igreja Católica. Durante o primeiro mandato, o então vereador fez lobby para anistiar e regularizar templos religiosos irregulares na lei de zoneamento em 2016.

Uma lei proposta pelo então vereador em 2014 prevê um sistema de transporte público hidroviário em São Paulo na represa Billings, região do Cantinho do Céu, extremo sul da capital, um de seus redutos eleitorais. Na atual gestão, esse projeto, que foi sancionado pelo ex-prefeito Haddad, foi incluído no plano de metas. Além da hidrovia, Nunes propôs a criação de um aeródromo na região Sul da capital.

Como integrante da Comissão de Finanças na Câmara, emedebista conseguiu barrar, em 2015, menções a termos como gênero no Plano Municipal de Educação (PME) da cidade. Na ocasião, argumentou que a sexualidade não deveria ser tema nas salas de aula do município.

Em seu primeiro mandato, Nunes integrou a base de apoio à gestão de Fernando Haddad (PT), que acabou derrotado naquele ano por João Doria e Bruno Covas, ambos do PSDB, na disputa pela reeleição.

Nunes, que se reelegeu vereador no mesmo pleito, passou então a fazer parte da base da gestão tucana até ser indicado a vice no ano passado, após uma articulação do próprio Doria, que então já ocupava o cargo de governador do estado.

A escolha do emedebista para vice foi um dos principais motivos de críticas a Covas durante a campanha de 2020 – a mulher do emedebista registrou boletim de ocorrência em 2011 por violência doméstica. O tucano, na ocasião, saiu em defesa de seu parceiro de chapa.

REPERCUSSÃO

Jair Bolsonaro, presidente da República
"Nossa solidariedade aos familiares e amigos do Bruno Covas, que faleceu hoje após uma longa batalha contra o câncer. Que Deus conforte o coração de todos!"

João Doria, governador de São Paulo
"A força de Bruno Covas vem do seu exemplo e do seu caráter. Foi leal à família, aos amigos, ao povo de São Paulo e aos filiados do seu partido, o PSDB. Sua garra nos inspira e seu trabalho nos motiva".

Ricardo Nunes (MDB), prefeito em exercício de São Paulo
"A dor toma conta, perder um amigo, um irmão, que é referência de integridade, companheirismo, generosidade, dói muito."

Presidente nacional do Democratas, ACM Neto
“É muito triste ver o país ter que se despedir tão cedo de uma jovem liderança com a vocação pública de Bruno Covas. Político da minha geração, sei que ainda tinha muito a contribuir com São Paulo e com o Brasil”, afirmou o ex-prefeito de Salvador.
“Vamos continuar aqui com muita força, foco e fé, mas também com saudades de você, amigo Bruno. Um exemplo de político que deixou a marca do seu trabalho, perseverança, compromisso com a vida pública, e sempre leal com todos que tiveram o privilégio de sua convivência. Neste momento de profunda tristeza, quero prestar minha solidariedade aos familiares e amigos de Bruno Covas. Que Deus conforte a todos”

Governador da Bahia, Rui Costa
"Lamento profundamente o falecimento do prefeito de São Paulo, Bruno Covas. Muito triste sua partida assim tão jovem, deixando um filho adolescente. Que Deus, em sua infinita sabedoria, conforte a família e os amigos".

Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República
"Com a morte de Bruno Covas, São Paulo perde um bom prefeito e o PSDB, um bom quadro. Lamento pela perda tão jovem de uma vida, pela família e por todos nós que o respeitávamos e o tínhamos como um grande quadro político."

Michel Temer, ex-presidente da República
"Luto... Acabo de receber a tristíssima notícia do falecimento de Bruno Covas. Tão jovem, tão afável, tão idôneo. Com ele vai embora parte da nossa esperança. Descansa em paz."

Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente da República
"Meus sentimentos aos familiares, amigos e correligionários de Bruno Covas, que nos deixou hoje após travar uma longa e dura batalha contra o câncer. Que Deus conforte o coração de sua família."

Dilma Rousseff, ex-presidente da República
"Lamento a morte do prefeito Bruno Covas, aos 41 anos de idade. O Brasil perdeu um dos seus promissores líderes políticos. Quero manifestar meus sentimentos ao filho Tomás e a toda família Covas, além dos militantes e dirigentes do PSDB."

Fernando Collor, ex-presidente da República
"Lamento profundamente a morte precoce do prefeito de São Paulo, Bruno Covas. Aos paulistanos, familiares e amigos envio meu sentimento de pesar. Que Deus o receba em sua infinita bondade. Vá em paz, Bruno!"

Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados
"Lamento profundamente o falecimento do prefeito de São Paulo, Bruno Covas, um jovem talento na política, que travou com coragem e otimismo uma árdua batalha. Como deputado federal, foi meu colega na Comissão de Constituição e Justiça, em 2015, com quem tive a honra de trabalhar."

Luiz Fux, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF)
“Bruno Covas partiu ainda muito jovem, mas deixou valiosas lições de perseverança e esperança a todos nós. Deu grande exemplo de dedicação à vida pública. Toda a minha solidariedade à família, ao filho e aos amigos.”

Deputado federal Adolfo Viana, presidente estadual do PSDB-Ba
“Bruno Covas era um político de fino trato, querido por muitos e dedicado ao trabalho. Meus sentimentos à família, aos amigos e ao povo paulistano”, disse.