Febre maculosa: fazenda onde três pessoas estiveram antes de morrer é fechada

Febre maculosa: fazenda onde três pessoas estiveram antes de morrer é fechada

A prefeitura de Campinas anunciou nesta terça-feira, 13, que a Fazenda Santa Margarida só poderá fazer novos eventos quando apresentar um plano de contingência ambiental e de comunicação. No local estiveram três pessoas que morreram vítimas de febre maculosa. Ainda de acordo com a prefeitura de Campinas, os responsáveis pela fazenda foram notificados sobre a importância da sinalização quanto ao risco da febre maculosa.

Transmitida pelo carrapato-estrela, a febre maculosa tem alto índice de letalidade. Nesta terça-feira, a Secretaria de Saúde de Campinas confirmou que as mortes do piloto Douglas Costa, de 42 anos, e de uma moradora de Hortolândia, de 28 anos, foram decorrentes da febre maculosa, segundo análises do Instituto Adolfo Lutz. Na segunda-feira, 12, o resultado já havia sido positivo para as amostras de outra vítima, a dentista Mariana Giordano, de 36 anos.

Com os três casos positivos, configura-se um surto de febre maculosa no distrito de Joaquim Egídio, que é mapeado como área de risco para a doença. O Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) de Campinas vai fazer uma pesquisa para verificar como está a infestação de carrapatos no local provável de infecção.

A Secretaria da Saúde do Estado informou que vai apoiar ações das prefeituras de prevenção à doença. Os casos estão concentrados na região de Campinas. De acordo com a pasta, o trabalho de campo para controle da doença compete aos municípios, mas a secretaria apoiará na prevenção com medidas educativas, como a distribuição de folders e cartazes na região

Em Campinas, a prefeitura iniciou uma campanha educativa no entorno da Fazenda Santa Margarida, um centro de shows e eventos, no distrito de Joaquim Egídio, onde as três possíveis vítimas da febre maculosa estiveram em uma festa no final de maio. Estão sendo distribuídos folders e folhetos explicativos sobre a doença. Uma pesquisa sobre a infestação de carrapatos deve ser iniciada nos próximos dias. Também será feita uma mobilização social envolvendo a população do distrito e trabalhadores da fazenda.

O empresário e piloto Douglas Costa, de 42 anos, sua namorada, a dentista Mariana Giordano, de 36, e uma moradora de Hortolândia morreram no mesmo dia, em 8 de junho.

A dentista, que morreu subitamente em São Paulo, após ser internada no dia 6 de junho, apresentando febre e dores de cabeça, relatou marcas de picada de inseto em seu corpo, após a viagem a Campinas com o namorado. Ele apresentou sintomas parecidos e foi internado em Jundiaí. Os dois estiveram também em Monte Verde (MG) na semana seguinte à ida para Campinas, provável local da infecção.

Também na tarde desta terça-feira, a Secretaria de Saúde identificou mais um caso suspeito de febre maculosa relacionado ao evento de 27 de maio na Fazenda Santa Margarida. É o quarto caso relacionado ao surto. Trata-se de uma adolescente de 16 anos, moradora de Campinas, que foi hospitalizada no dia 9 de junho em um serviço de saúde privado do município. Ela segue internada.

Conforme a pasta, a febre maculosa é transmitida pela picada do carrapato-estrela contaminado por bactérias do gênero Rickettsia. Na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), os registros são raros dada a urbanização da área. No interior, a doença passou a ser detectada a partir da década de 1980, nas regiões de Campinas, Piracicaba, Assis e em regiões periféricas da RMSP. Os municípios de Campinas e Piracicaba são atualmente os dois que apresentam o maior número de casos da doença.

Provável surto
De acordo com o infectologista Rodrigo Angerami, confirmado os casos de infecção no mesmo local, já se considera que Campinas vive um surto de febre maculosa. Considerando o tipo de vetor e o fato de não haver transmissão de pessoa para pessoa, ele não vê risco de disseminação em caráter epidêmico. "Novas áreas de transmissão bem geral surgem a partir de fatores que envolvem o deslocamento de hospedeiros com carrapatos infectados para essas áreas", disse. Além das capivaras, os carrapatos podem "viajar" em bois, cavalos e outros animais domésticos, como cães e gatos

Conforme a Secretaria estadual, as pessoas que moram ou se deslocam para áreas de transmissão precisam estar atentas ao menor sinal de febre e procurar um serviço médico informando que estiveram nessas regiões para fazer um tratamento precoce e evitar o agravamento da doença. As áreas onde sabidamente existem carrapatos devem ser evitadas. A maior ocorrência de casos de febre maculosa se dá entre os meses de junho e setembro

Distrito de Campinas é disputado por turistas
O distrito de Joaquim Egídio, mapeado como área de risco para a febre maculosa, fica a 15 km do centro de Campinas e se tornou ponto disputado pelos turistas devido às belezas naturais e à gastronomia. Em fins de semana, visitantes da capital, de outras cidades do interior e do próprio município fazem fila em bares e restaurantes locais. O Festival Gastronômico da Primavera chega a congestionar as ruas do lugar, que tem cerca de 2,5 mil moradores.

Margeado por antigas fazendas de café e áreas de mata, o distrito possui belezas naturais e atrativos turísticos, como o Observatório Municipal de Campinas, na Serra das Cabras. Nos últimos anos, houve investimento no ecoturismo, com a abertura de trilhas e pistas para bike, motos e jipes, tornando o local muito frequentado nos fins de semana.

Os turistas são atraídos também pelo roteiro gastronômico, que inclui bares e restaurantes de renome, e pelos centros de eventos, como a Fazenda Santa Margarida.

Sobre os casos de febre maculosa com possível infecção no local, a gestão da fazenda divulgou nota nesta terça-feira, 13, lamentando o ocorrido. "Cabe ressaltar que a responsabilidade pelo controle e prevenção da febre maculosa é atribuída ao município, conforme estabelecido pela legislação pertinente", disse. Ainda segundo a empresa, a cidade está em área endêmica para febre maculosa e nos locais onde comprovadamente ocorreu transmissão, o município instala placas de alerta.

Segundo a nota, na segunda-feira, 12, o Departamento em Vigilância em Saúde da prefeitura esteve nas dependências do centro de eventos para realizar a validação das medidas adotadas e para análise do local. "Ressaltamos que toda a documentação da Fazenda está em conformidade e regularidade com os órgãos competentes e as exigências legais, incluindo a prefeitura de Campinas. É importante destacar que, nos últimos anos, nunca houve qualquer caso semelhante a este."

Itens relacionados (por tag)

  • Zé Celso Martinez Corrêa morre em São Paulo

    Ao completar 80 anos, em 30 de março de 2017, o diretor José Celso Martinez Corrêa sentenciou categórico que não queria mais nada para si mesmo, estava satisfeito em sua individualidade. "Eu gostaria de viver mais uns dez anos e quero tudo para o teatro", afirmou, iluminado pelo sol da tarde de outono que entrava pela janela lateral do Teatro Oficina, no centro de São Paulo. Zé Celso falou como se aquilo fosse uma novidade. Não, não era, afinal, desde o final da década de 1950, quando abandonou a faculdade de direito para defender suas ideias no palco, era só nisso que ele pensava, no teatro.

    E foi assim até o fim. Ator, diretor, dramaturgo e militante das artes e da política, Zé Celso Martinez Corrêa morreu aos 86 anos em São Paulo, nesta quinta-feira (6), depois de sofrer graves queimaduras em um incêndio na manhã desta terça, 4, no seu apartamento, no bairro do Paraíso, na zona sul da capital, onde vivia com o marido, o ator Marcelo Drummond. A informação foi confirmada pelo ator Pascoal da Conceição, amigo de Zé Celso. Ainda não há informações sobre o velório e sepultamento do artista.

    Nascido em Araraquara, ele foi criado em uma família de sete filhos por uma rigorosa mãe descendente de espanhóis, de sangue quente, e um pai dócil, amante dos livros e do cinema, que o levava na infância para ver os filmes.

    O futuro garantido passava pela advocacia e, em um primeiro momento, o rebelde Zé Celso acatou uma tentativa de estabilidade profissional, como ditava a cartilha de sua geração. Mas foi na faculdade do Largo do São Francisco que tudo começou ao frequentar o Centro Acadêmico 11 de agosto e cruzar com dois colegas de faculdade, o carioca Renato Borghi e o mineiro Amir Haddad, que, junto dele, fundariam em 1958 o Teatro Oficina. Tratava-se da ambição de fazer um movimento diferente como respostas às influências europeias do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e o nacionalismo exacerbado do Teatro de Arena.

    Estudioso do método do russo Constantin Stanislavski, Zé Celso mudou o conceito da atuação brasileira. Por ele, as peças não seriam mais organizadas numa uma sucessão de falas justapostas, mas por um permanente (e fundamental) diálogo entre o elenco e a plateia. Em suas peças, o diretor procurava desconstruir o moralismo conservador, com nudez, sarcasmo e escatologia. Para ele, a transgressão era uma afronta necessária e elemento basilar da poética do Oficina, mesclando o profano e o sagrado no palco.

    Os primeiros textos montados são Vento Forte para Papagaio Subir (1958) e A Incubadeira (1959), de fortes tintas biográficas. Ficaria difícil nas décadas seguintes imaginar Zé Celso, de terno, gravata e toga, exercendo nos tribunais o ofício dos diplomados no Largo São Francisco. A lábia comum aos advogados, no entanto, nunca o abandonou e se tornou uma de suas maiores qualidades ao defender sua obra com base em discursos polêmicos e inovadores. Sempre conectado às transformações internacionais, Zé Celso colocou o Oficina no centro da vanguarda brasileira.

    A consagração se dá no mergulho do universo brasileiro e antropofágico do escritor Oswald de Andrade. O Rei da Vela, peça escrita pelo modernista em 1937, permanecia inédita nos palcos e foi encontrada por Borghi em um antigo livro que mofava na estante. Os dois viram naquela atualíssima crítica ao capitalismo disfarçada de alegoria a melhor resposta para os militares que endureciam cada vez mais o regime. O Rei da Vela estreou em 29 de setembro de 1967 e detonou a explosão tropicalista que tinha começado a ser desenhada pelo filme Terra em Transe, de Glauber Rocha, lançado em maio, e atingiria o público da música em 1968 com o disco Tropicália ou Panis et Circenses, capitaneado por Caetano Veloso e Gilberto Gil.

    Considerado o Dionísio brasileiro, Zé Celso foi saudado como uma fênix no anúncio de sua morte pelo Teatro Oficina. "Nossa fênix acaba de partir para a morada do Sol", disse a companhia em anúncio nas redes sociais.

    Preso pela ditadura
    Em 1974, Zé Celso foi preso numa solitária e torturado. Sem condições de trabalho no Brasil, o artista se exilou em Portugal, onde montou "Galileu Galilei", espetáculo inspirado na teoria do dramaturgo alemão Bertold Brecht. Em 2010, Zé Celso foi anistiado pelo Estado brasileiro, recebendo também uma indenização de R$ 570 mil.

    Nascido em Araraquara, no interior de São Paulo, Zé Celso estudou para ser advogado na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. No Centro Acadêmico 11 de Agosto, integrou o grupo de jovens que formaria o Teatro Oficina em sua fase amadora.

    Ao longo do tempo, o Oficina se tornou um centro de estudos da dramaturgia brasileira. No teatro, foram formados atores como Bete Coelho, Leona Cavalli e Esther Góes. Por ali, passaram também Augusto Boal, Fernanda Montenegro, Marieta Severo e Zezé Motta.

    A volta à cena se dá em 1991 com As Boas, adaptação da peça As Criadas do francês Jean Genet, em que, além de dirigir, contracena com Raul Cortez e Marcelo Drummond, seu novo parceiro de vida de arte. Zé Celso e Marcelo se casaram há cerca de um mês. Ele também estava presente no momento do incêndio, provocado por uma no aquecedor do quarto do casal, e segue internado em observação pois inalou muito mais fumaça do que sofreu queimaduras.

    No cinema, Zé Celso assinou o roteiro de Prata Palomares, de 1972, atuou em Um Homem Célebre, dois anos depois, e dirigiu o curta-metragem O Parto, em 1975. Em 2015, voltou a atuar, no filme Ralé, ao lado de Helena Ignez. Seu maior êxito no cinema foi a adaptação de O Rei da Vela, que arrematou os prêmios de melhor montagem e de melhor trilha sonora do Festival de Gramado.

    Durante quatro décadas, o artista brigou na Justiça com Silvio Santos. O apresentador e dono do SBT, que era proprietário do terreno, pretendia construir ali um conjunto residencial de três torres, cada uma com cem metros de altura. Já o artista brigava para que fosse construído um parque público no local.

    Zé Celso deixa o marido, Marcelo Drummond, ator do Oficina, com quem viveu durante 37 anos. Num prólogo da tragédia, os dois se casaram, no mês passado, na sede do teatro. Zé Celso apresentava o seu derradeiro ato, um espetáculo festejado pela classe artística, bacantes que comungavam juntos o amor, o humor e um revolucionário do teatro brasileiro.

    Volta aos palcos
    No começo de 2022, aliviada a pandemia, Zé Celso colocou no palco sua versão de Esperando Godot, investida na obra de Samuel Beckett, como metáfora para a paralisia de muitos setores diante dos desmandos do ex-presidente Jair Bolsonaro. O mesmo cenário serviu de inspiração para o espetáculo Fausto, de Christopher Marlowe (1564-1593).

    Entre agosto e setembro do ano passado, no clamor da eleição que reuniu Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva na disputa presidencial, Zé Celso colocou em cena a dicotomia entre o bem e o mal. "Criamos um Fausto brasileiro fazendo a travessia, que é essa grande transformação de sair de uma pandemia e de um governo que colocou o Brasil no baixo calão e esperar por dias mais democráticos", definiu Zé Celso, em entrevista ao Estadão.

    O último espetáculo criado e protagonizado por Zé Celso, no entanto, se deu em torno de um episódio de sua vida real. Na noite de 6 de junho, o diretor oficializou a união com o ator Marcelo Drummond, companheiro há 37 anos, em uma grande festa no Teatro Oficina que reuniu centenas de convidados, entre amigos, artistas, políticos e personalidades ligadas à cultura brasileira.

    As cantoras Marina Lima e Daniela Mercury interpretaram respectivamente as canções Fullgás e Terra, as atrizes Bete Coelho e Leona Cavalli realizaram performances e a bateria da escola de samba Vai-Vai terminou a celebração com todos os convidados aos gritos emocionados de "evoé", a saudação teatral que evoca Baco, o deus dos vinhos e das festas, uma representação do que Zé Celso representou - e continuará representando - na cena brasileira.

  • São Paulo cancela festa de réveillon e mantém uso de máscara obrigatório

    A cidade de São Paulo cancelou a festa de réveillon de 2021, devido à variante ômicron. A prefeitura também decidiu manter a obrigatoriedade do uso de máscara. As medidas foram anunciadas nesta quinta-feira (2).

    O governo do estado de São Paulo também recuou e desistiu de liberar o uso do equipamento ao ar livre. O uso permanecerá obrigatório em todos os ambientes, seja externos ou em áreas internas e no transporte público, inclusive dentro das estações e terminas de ônibus.

    "Atendendo recomendação do Comitê Científico, o Estado de SP vai manter a exigência do uso de máscara em espaços abertos. Todos os números demonstram que a pandemia está recuando em São Paulo, mas vamos optar pela precaução", anunciou João Doria, em publicação no Twitter nesta manhã. "O nosso maior compromisso é com a saúde da população", emendou.

    A desobrigação do uso de máscaras no Estado estava prevista para ocorrer a partir do dia 11. No entanto, com o descobrimento da variante Ômicron e a confirmação de três casos no Estado de São Paulo, Doria pediu uma reavaliação do Comitê Científico sobre o assunto.

    Na recomendação feita ao governo de São Paulo, o comitê apontou que há incertezas quanto ao impacto da variante Ômicron às vésperas do fim de ano. Os períodos de Natal e do Réveillon costumam provocar grandes aglomerações, o que facilita a transmissão de doenças respiratórias como a covid-19.

    O governador de São Paulo, junto ao prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), cumpre agenda em Nova York, nos Estados Unidos, onde deve dar mais detalhes sobre as novas medidas. O prefeito de São Paulo, ainda, deve fazer um anúncio sobre o cancelamento das festas de Réveillon e seguir, também, com a recomendação sobre a obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes abertos.

  • Como o avô, Bruno Covas morre em seu auge

    Duas décadas depois, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), repete o drama do avô. Mario Covas descobriu um câncer no auge da carreira política, após se reeleger governador de São Paulo. Ele rompeu uma tradição da política brasileira e manteve os cidadãos informados sobre a evolução da doença. Morreu em 2001, aos 70 anos.

    O prefeito de São Paulo morreu ontem às 8h20 aos 41 anos. Desde 2019, ele lutava contra um câncer no sistema digestivo com metástase nos ossos e no fígado. Deixa o filho Tomás, de 15 anos. Covas estava internado no Hospital Sírio-Libanês, no Centro da capital paulista, desde 2 de maio, quando se licenciou da prefeitura. Na sexta-feira (14), ele teve uma piora no quadro de saúde e a equipe médica informou que seu quadro havia se tornado irreversível.

    Familiares e amigos de Covas permaneceram no hospital desde então. Nas últimas horas de vida, o prefeito recebeu sedativos e analgésicos para não sentir dores. Na noite de sexta, um padre chegou a fazer a unção dos enfermos, um sacramento católico. Durante a noite de sábado (15), representantes de diversas religiões participaram de um ato ecumênico na porta do hospital, que durou 30 minutos e terminou com a oração Pai Nosso.

    O corpo foi levado para o Edifício Matarazzo, sede da prefeitura, para uma cerimônia breve para familiares e amigos próximos. Depois, seguiu em carro aberto até a Praça Oswaldo Cruz. O enterro, restrito à família, foi no Cemitério do Paquetá, em Santos, onde está sepultado o corpo de Mário Covas, ex-governador de São Paulo e avô de Bruno que também morreu em decorrência de um câncer, em 2001.

    Entre os presentes na cerimônia religiosa, que foi restrita a cerca de 20 pessoas, estavam o filho Tomás, de 15 anos, a ex-mulher Karen Ishiba, os pais, um irmão e o tio Mário Covas Neto, ex-vereador da capital. Havia também autoridades como o vice-prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o governador João Doria e sua mulher Bia Doria.

    Sobre o caixão fechado foram colocadas as bandeiras do Brasil e de São Paulo. O filho Tomás ajudou a carregar o caixão até o carro do Corpo de Bombeiros. Simpatizantes do prefeito aplaudiram a saída do corpo para o cortejo pelas principais ruas do Centro de São Paulo. Na Avenida Paulista, o carro dos bombeiros foi cercado por simpatizantes que queriam se despedir e seguravam faixas e cartazes.

    Política no DNA
    A ligação de Covas com a política remonta à sua adolescência. Antes mesmo de ingressar na graduação, Bruno Covas conseguiu um estágio privilegiado no mundo da política. Aos 15 anos, deixou a casa dos pais em Santos para viver no Palácio dos Bandeirantes, junto com o avô Mário Covas, que assumira, naquele ano de 1995, o governo de São Paulo. Foram seis anos como espectador privilegiado das decisões sobre os rumos do estado mais rico do país.

    Bruno se diferenciava dos visitantes do avô no palácio, não só pela idade, mas também pelo visual. Com cabelo comprido, o neto do governador quase sempre vestia camisas de bandas de rock, paixão que carregou pela vida. Apesar de não adotar o traje típico dos políticos, naquela época já não escondia o desejo de seguir a carreira do avô.

    Ainda criança, havia feito a carteirinha do “clubes dos tucaninhos”. Aos 17 anos, se filiou ao PSDB. Mário Covas alertava que era preciso estudar. O neto seguiu o conselho e fez duas faculdades: direito na USP e economia na PUC-SP. As lembranças de frases e feitos do avô seriam constantes ao longo da trajetória de Covas.

    O aspirante a político formou o seu grupo logo nos primeiros anos de PSDB. Amigos da época da juventude tucana, como os secretários Orlando Faria (Habitação) e Alexandre Modonezi (Subprefeituras), o acompanhariam pelo restante da carreira.

    Em 2006, resolveu tentar um voo solo e se candidatou a deputado estadual. Foi eleito com 122,3 mil votos. Assumiu o mandato aos 20 anos. Na Assembleia Legislativa teve uma atuação discreta. Ao contrário do avô, não se destacava como um grande orador. Tímido, se consolidou mais como político de bastidores.

    Impulsionado pelo sobrenome, não teve dificuldade para se reeleger em 2010. Foi o mais votado, com 239 mil votos. No ano seguinte, Geraldo Alckmin, o sucessor de seu avô no governo paulista, o convidou para assumir a Secretaria Estadual do Meio Ambiente. No posto, Bruno conseguiu consolidar o seu grupo político e passou a exercer papel de destaque no controle do diretório paulistano do PSDB.

    Em 2014, decidiu que era hora de se arriscar em Brasília. Foi o quarto deputado federal paulista mais votado, com 352.708 votos. Votou a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff. No mesmo ano, chegou a se inscrever para disputar as prévias tucanas que escolheriam o candidato a prefeito de São Paulo. No meio do processo, acabou desistindo para apoiar João Doria, que após se sagrar vitorioso no duelo interno do PSDB o escolheu para vice da chapa.

    Doria foi eleito prefeito de São Paulo no primeiro turno e nomeou Bruno secretário das Subprefeituras. Dez meses depois, diante das críticas sobre o serviço de zeladoria da cidade, tirou o vice do posto e o transferiu para a Secretaria de Governo, pasta com função exclusivamente de articulação política. A troca provocou tensão entre os grupos do prefeito e do vice.

    Foi no período como vice-prefeito que Bruno promoveu uma mudança radical em sua vida. Abandonou o sedentarismo, passou a controlar a alimentação, adotou uma rotina rigorosa de exercício. Perdeu 18 quilos. Também mudou o visual. Deixou os ternos de lado e passou a desfilar de calça jeans, camisetas e sapatênis. Assumiu a calvície raspando o cabelo e deixou a barba crescer.

    Seis meses depois de ser tirado da Secretaria das Subprefeituras, Bruno herdou a prefeitura de Doria, que renunciou ao comando da cidade para concorrer ao governo do estado. Bruno assumiu o mesmo cargo que havia sido ocupado por seu avô entre 1983 e 1985.

    O câncer
    À frente da maior cidade do país, adotou uma linha discreta, bem diferente do estilo espalhafatoso do antecessor. Teve dificuldade para impor uma marca. Em outubro de 2019, descobriu o câncer na cárdia, válvula entre o esôfago e o estômago. Fez quimioterapia e imunoterapia.

    Bruno Covas foi o primeiro prefeito da cidade de São Paulo a morrer durante o mandato. Os primeiros tumores foram descobertos há um ano e meio, quando ele investigava uma irritação na pele. Logo no início da luta, o câncer já se revelava metastático — quando se espalha por outros órgãos.

    Em outubro de 2019, Bruno foi diagnosticado com um câncer na região da cárdia, na transição entre o estômago e o esôfago, durante uma consulta para tratar uma infecção de pele. Na época, também foi diagnosticada uma metástase do câncer original, com linfonodos aumentados ao redor do pâncreas e um nódulo no fígado. Ainda em 2019, iniciou sessões de quimioterapia e radioterapia, que fizeram com que os tumores regredissem e diminuíssem de tamanho.

    Ele continuou o tratamento em 2020 com imunoterapia, sem a necessidade de se licenciar do cargo, pois apresentava boas condições clínicas. Em exames de rotina em junho de 2020, Covas testou positivo para Covid. Ele não apresentou sintomas e fez a quarentena em casa, sem necessidade de se internar.

    O novo prefeito
    Eleito vice-prefeito de São Paulo em 2020, Ricardo Nunes (MDB) assume em definitivo o comando da cidade. Ele estava como prefeito em exercício desde 2 de maio, quando Covas se licenciou para dar continuidade do tratamento contra o câncer. A oficialização de Nunes à frente da Prefeitura de São Paulo foi feita por meio de um ato da mesa diretora da Câmara de São Paulo, que se reuniu às 11h20 para extinguir o mandato de Covas após a morte do tucano, ocorrida hora antes.

    Em seu primeiro ato, o emedebista decretou luto oficial de 7 dias pela morte de Covas. "A dor toma conta, perder um amigo, um irmão, que é referência de integridade, companheirismo, generosidade, dói muito", postou Nunes após a morte do tucano.

    Antes de se eleger vice-prefeito na chapa de Bruno Covas em 2020, Nunes foi vereador por dois mandatos. Ele é ligado a associação de empresários da Zona Sul e à Igreja Católica. Durante o primeiro mandato, o então vereador fez lobby para anistiar e regularizar templos religiosos irregulares na lei de zoneamento em 2016.

    Uma lei proposta pelo então vereador em 2014 prevê um sistema de transporte público hidroviário em São Paulo na represa Billings, região do Cantinho do Céu, extremo sul da capital, um de seus redutos eleitorais. Na atual gestão, esse projeto, que foi sancionado pelo ex-prefeito Haddad, foi incluído no plano de metas. Além da hidrovia, Nunes propôs a criação de um aeródromo na região Sul da capital.

    Como integrante da Comissão de Finanças na Câmara, emedebista conseguiu barrar, em 2015, menções a termos como gênero no Plano Municipal de Educação (PME) da cidade. Na ocasião, argumentou que a sexualidade não deveria ser tema nas salas de aula do município.

    Em seu primeiro mandato, Nunes integrou a base de apoio à gestão de Fernando Haddad (PT), que acabou derrotado naquele ano por João Doria e Bruno Covas, ambos do PSDB, na disputa pela reeleição.

    Nunes, que se reelegeu vereador no mesmo pleito, passou então a fazer parte da base da gestão tucana até ser indicado a vice no ano passado, após uma articulação do próprio Doria, que então já ocupava o cargo de governador do estado.

    A escolha do emedebista para vice foi um dos principais motivos de críticas a Covas durante a campanha de 2020 – a mulher do emedebista registrou boletim de ocorrência em 2011 por violência doméstica. O tucano, na ocasião, saiu em defesa de seu parceiro de chapa.

    REPERCUSSÃO

    Jair Bolsonaro, presidente da República
    "Nossa solidariedade aos familiares e amigos do Bruno Covas, que faleceu hoje após uma longa batalha contra o câncer. Que Deus conforte o coração de todos!"

    João Doria, governador de São Paulo
    "A força de Bruno Covas vem do seu exemplo e do seu caráter. Foi leal à família, aos amigos, ao povo de São Paulo e aos filiados do seu partido, o PSDB. Sua garra nos inspira e seu trabalho nos motiva".

    Ricardo Nunes (MDB), prefeito em exercício de São Paulo
    "A dor toma conta, perder um amigo, um irmão, que é referência de integridade, companheirismo, generosidade, dói muito."

    Presidente nacional do Democratas, ACM Neto
    “É muito triste ver o país ter que se despedir tão cedo de uma jovem liderança com a vocação pública de Bruno Covas. Político da minha geração, sei que ainda tinha muito a contribuir com São Paulo e com o Brasil”, afirmou o ex-prefeito de Salvador.
    “Vamos continuar aqui com muita força, foco e fé, mas também com saudades de você, amigo Bruno. Um exemplo de político que deixou a marca do seu trabalho, perseverança, compromisso com a vida pública, e sempre leal com todos que tiveram o privilégio de sua convivência. Neste momento de profunda tristeza, quero prestar minha solidariedade aos familiares e amigos de Bruno Covas. Que Deus conforte a todos”

    Governador da Bahia, Rui Costa
    "Lamento profundamente o falecimento do prefeito de São Paulo, Bruno Covas. Muito triste sua partida assim tão jovem, deixando um filho adolescente. Que Deus, em sua infinita sabedoria, conforte a família e os amigos".

    Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República
    "Com a morte de Bruno Covas, São Paulo perde um bom prefeito e o PSDB, um bom quadro. Lamento pela perda tão jovem de uma vida, pela família e por todos nós que o respeitávamos e o tínhamos como um grande quadro político."

    Michel Temer, ex-presidente da República
    "Luto... Acabo de receber a tristíssima notícia do falecimento de Bruno Covas. Tão jovem, tão afável, tão idôneo. Com ele vai embora parte da nossa esperança. Descansa em paz."

    Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente da República
    "Meus sentimentos aos familiares, amigos e correligionários de Bruno Covas, que nos deixou hoje após travar uma longa e dura batalha contra o câncer. Que Deus conforte o coração de sua família."

    Dilma Rousseff, ex-presidente da República
    "Lamento a morte do prefeito Bruno Covas, aos 41 anos de idade. O Brasil perdeu um dos seus promissores líderes políticos. Quero manifestar meus sentimentos ao filho Tomás e a toda família Covas, além dos militantes e dirigentes do PSDB."

    Fernando Collor, ex-presidente da República
    "Lamento profundamente a morte precoce do prefeito de São Paulo, Bruno Covas. Aos paulistanos, familiares e amigos envio meu sentimento de pesar. Que Deus o receba em sua infinita bondade. Vá em paz, Bruno!"

    Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados
    "Lamento profundamente o falecimento do prefeito de São Paulo, Bruno Covas, um jovem talento na política, que travou com coragem e otimismo uma árdua batalha. Como deputado federal, foi meu colega na Comissão de Constituição e Justiça, em 2015, com quem tive a honra de trabalhar."

    Luiz Fux, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF)
    “Bruno Covas partiu ainda muito jovem, mas deixou valiosas lições de perseverança e esperança a todos nós. Deu grande exemplo de dedicação à vida pública. Toda a minha solidariedade à família, ao filho e aos amigos.”

    Deputado federal Adolfo Viana, presidente estadual do PSDB-Ba
    “Bruno Covas era um político de fino trato, querido por muitos e dedicado ao trabalho. Meus sentimentos à família, aos amigos e ao povo paulistano”, disse.

Deixe um comentário

Certifique-se de preencher os campos indicados com (*). Não é permitido código HTML.