O Jornal da Cidade

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O ex-secretário estadual da Cultura, professor Jorge Portugal, 63 anos, que estava internado em estado grave no Hospital Geral Roberto Santos (HGRS), em Salvador, morreu na noite desta segunda-feira (03), às 20h15, por falência cardíaca aguda, conforme informado pela assessoria do hospital.

"O Hospital Geral Roberto Santos (HGRS) comunica, com pesar, o falecimento de Jorge Portugal, por volta das 20h15 (horário de Brasília), de falência cardíaca aguda. O professor e ex-secretário de Cultura da Bahia estava internado na unidade de terapia intensiva (UTI) cardiovascular da instituição. A diretoria do HGRS apresenta sua solidariedade aos familiares e amigos ao tempo que se coloca em oração", diz a nota da unidade.

Ele, que completaria 64 anos na próxima quarta-feira (5), foi levado ao local no início da tarde desta segunda-feira (3), pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Só durante o trajeto, ele sofreu quatro paradas cardíacas.

Segundo a assessoria da unidade, Portugal foi admitido “em estado crítico” e estava em coma induzido até o início da noite. Assim que foi admitido no hospital, foi colhido material para teste RT-PCR, exame que identifica o novo coronavírus, o que tem sido uma medida protocolar.

Jorge Portugal era também compositor, poeta e apresentador. Natural de Santo Amaro, no Recôncavo, Portugal era um compositor e letrista aclamado, com parcerias de sucesso com Roberto Mendes, em ‘Só Se Vê Na Bahia’, e com Raimundo Sodré, em ‘A Massa’.

Deixou a Secretaria da Cultura da Bahia em 2017, alegando questões pessoais e profissionais. Na TV, foi o idealizador e apresentador do programa “Aprovado”, exibido na TV Bahia.

Emotiva ao atender a ligação, sua esposa Rita Portugal, não pode falar com a reportagem por estar na sala de espera da UTI (Unidade de Terapia Intensiva), onde aguardava mais notícias do marido. “Tô aqui orando”, disse Rita, às 19h50. Menos de 30 minutos depois, veio a notícia de sua morte.

“Portugal era um dos maiores letristas da música popular brasileira de todos os tempos. Era uma pessoa apaixonada pela Bahia, por Santo Amaro.”, definiu o cantor e compositor J. Velloso, amigo do músico. “Me tornei compositor muito mais pela convivência com Roberto [Mendes] e Portugal do que por ter nascido em uma família de artista.

“Presenciei pela primeira vez o que era a criação de uma música através do trabalho dele com Roberto. Foi ali que entendi”, relembra Velloso. “A influência dele em minha música sempre permeia, até quando eu não tenho consciência. Ele tinha uma precisão poética e a Bahia era bem pintada pelas palavras de Portugal. A Bahia vai se empobrecer”, reflete o compositor.

Depois de ter recebido a notícia que ele tinha sido internado, Velloso diz que a música que mais o lembrava de Portugal no momento era “Assim como ela é”, que foi gravada com Roberto Mendes.

O prefeito de Salvador, ACM Neto, lamentou a perda. Segundo o prefeito, “a Bahia e o Brasil perderam um grande mestre da língua portuguesa, responsável pela formação de milhares de estudantes, a quem generosamente ele entregava os seus conhecimentos para que conseguissem passar no vestibular e entrar na faculdade”.

“É um dia triste para a Bahia e para todo o povo de Santo Amaro, cidade onde nasceu. Jorge Portugal, além de um grande professor da nossa língua, foi também um grande compositor, autor de canções que marcaram a música popular brasileira. Quero manifestar a minha solidariedade aos seus familiares e amigos”, acrescentou ACM Neto.

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), decretou luto no estado nesta terça-feira (4). “Imensamente entristecidos, lamentamos a morte do ex-secretário de Cultura do Estado Jorge Portugal. Educador, poeta, compositor, Jorge era um homem de múltiplos talentos, exercidos com a energia e a simpatia que inspirava todos à sua volta. Era, antes de tudo, um homem apaixonado pela Bahia e pelo seu povo que estiveram sempre no centro do seu trabalho, fosse como administrador público, professor e artista. Como diz um dos seus versos: “Uma nação diferente, toda prosa e poesia, tudo isso finalmente, só se vê, só se vê na Bahia”. Nossos sentimentos para seus amigos e familiares por essa grande perda”.

O diretor teatral Fernando Guerreiro, presidente da Fundação Gregório de Mattos (FGM), também lamentou a morte do amigo e lembrou que ele é "um cidadão brasileiro, baiano e Santamarense de responsa, esse sempre foi Jorge Portugal. Impossível falar dele sem um sorriso nos lábios, uma leveza na alma e muita poesia no coração. Portugal ressignificou o ensino com sua excepcional verve comunicativa e valorizou, como ninguém, nosso jeito de ver o mundo e se relacionar com ele. Com sua partida, as palavras perdem seu brilho e a nossa língua perde um de seus melhores tradutores. Vá em paz grande mestre!".

A Bahia registrou 52 mortes (taxa de crescimento de 1,5%) e 915 novos casos de covid-19 (+0,5%) nas últimas 24 horas, de acordo com boletim divulgado pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) na tarde desta segunda-feira (3).

Dos 171.391 casos confirmados desde o início da pandemia, 155.700 já são considerados curados, mas 12.067 ainda encontram-se ativos. No atual boletim, 2.102 casos foram dados como curados (+1,4%). Ao todo, 3.624 já perderam a vida no estado por causa do novo coronavírus.

Os casos confirmados ocorreram em 409 municípios baianos, com maior proporção em Salvador (33,85%). Os municípios com os maiores coeficientes de incidência por 100.000 habitantes foram Almadina (3.861,64%), Dário Meira (3.632,12%) Gandu (3.601,52%), Itajuípe (3.445,42%) e Ipiaú (3.141,28%).

O boletim epidemiológico contabiliza ainda 340.290 casos descartados e 81.974 em investigação. Estes dados representam notificações oficiais compiladas pelo Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde da Bahia (Cievs-BA), em conjunto com os Cievs municipais e as bases de dados do Ministério da Saúde até as 17h desta segunda.

Na Bahia, 15.480 profissionais da saúde foram confirmados para Covid-19. Para acessar o boletim completo, clique aqui ou acesse o Business Intelligence.

A Sesab disponibiliza, para acesso público, a base de dados completa dos casos suspeitos, descartados, confirmados e óbitos relacionados ao coronavírus (covid-19). Para fazer o download, basta acessar o link bi.saude.ba.gov.br/transparencia/ e clicar no ícone localizado no topo da página. Segundo a pasta, a iniciativa amplia transparência e possibilita que qualquer cidadão, em qualquer lugar do mundo, possa acompanhar e analisar a evolução da pandemia na Bahia.

O ministro Luiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), revogou nesta segunda-feira (3) a decisão liminar (provisória) que determinou o compartilhamento de dados entre as forças-tarefa da Operação Lava Jato no Paraná, no Rio de Janeiro e em São Paulo com a Procuradoria-Geral da República (PGR).

Fachin é o relator da ação e revogou decisão do presidente da Corte, ministro Dias Toffoli, que autorizou o compartilhamento.

No dia 9 de julho, Toffoli atendeu a um pedido da PGR, que relatou ter enfrentado "resistência ao compartilhamento" e à "supervisão de informações" por parte dos procuradores da República.

Pela decisão do presidente do STF, as forças-tarefa deveriam entregar "todas as bases da dados estruturados e não-estruturados utilizadas e obtidas em suas investigações, por meio de sua remessa atual, e para dados pretéritos e futuros, à Secretaria de Perícia, Pesquisa e Análise do gabinete do procurador-geral da República".

Na decisão desta segunda-feira, Fachin determina que a ordem tem eficácia retroativa. Na prática, isso significa que eventuais dados compartilhados não poderão ser mais acessados pela PGR.

A procuradoria-geral informou que pretende recorrer da decisão.

Fachin afirma que o tipo de ação utilizada pela PGR, uma reclamação, não era cabível para tratar do compartilhamento de dados. Isso porque o recurso ao STF usou como base um julgamento do tribunal sobre deslocamentos de procuradores dentro do MPF.

“Decisão sobre remoção de membros do Ministério Público não serve, com o devido respeito, como paradigma para chancelar, em sede de reclamação, obrigação de intercâmbio de provas intrainstitucional. Entendo não preenchidos os requisitos próprios e específicos da via eleita pela parte reclamante”, escreveu o ministro.

Além de negar o recurso da PGR, Fachin retirou o sigilo da ação e considerou que o processo deve tramitar de forma pública. Ele lembrou que a Constituição prevê a publicidade dos atos processuais como regra. As exceções, citou o ministro, são os casos em que a defesa da intimidade ou do interesse social exigem o sigilo.

Dados lacrados
Em relatório técnico enviado ao STF em julho, a PGR detalhou o procedimento de armazenamento dos dados a ser repassados pelas forças-tarefa da Lava Jato.

O documento deixa claro que o material estará codificados, desde a origem até o destino, e à disposição do procurador-geral da República, Augusto Aras.

"As imagens forenses criptografadas permanecerão armazenadas em storage, localizado na sala-cofre da Procuradoria Geral da República e, caso necessário, em nuvem privada do Ministério Público Federal. O equipamento storage da Secretaria de Perícia, Pesquisa e Análise do Gabinete do Procurador-Geral da República está acondicionado em sala-cofre da Procuradoria Geral da República", prevê o relatório.

Segundo o documento, as "imagens forenses criptografadas não serão acessadas, nem decifradas, até que haja a solicitação formal para disponibilização do conteúdo para análise pelo Gabinete do Procurador-Geral da República".

Foro privilegiado
Um dos argumentos utilizados pelo vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques de Medeiros, no pedido ao STF foi o de que há suspeita de as investigações da Lava Jato terem atingido pessoas com foro privilegiado.

Medeiros afirmou que a força-tarefa da Lava Jato de Curitiba suprimiu sobrenomes dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, em uma ação que investiga lavagem de dinheiro ligada a contratos da Petrobras.

Os nomes sem os sobrenomes completos aparecem na denúncia da Lava Jato do Paraná oferecida à Justiça em dezembro do ano passado.

Os dois parlamentares têm foro privilegiado no STF. Os procuradores da Lava Jato negam ter investigado políticos com foro.

Segundo Fachin, esta questão está sendo discutida em outro processo em andamento no STF e que vai tratar da eventual usurpação da competência do Supremo nos casos dos presidentes da Câmara e do Senado.

A energia elétrica dos consumidores inadimplentes pode voltar a ser cortada a partir desta segunda-feira (3), desde que os consumidores sejam avisados. As interrupções estavam suspensas por determinação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) desde o dia 24 de março. Como o prazo final para a isenção ocorreu no sábado (1), os cortes só estão autorizados a acontecer a partir de hoje (3) porque o desligamento de serviços públicos não pode acontecer nas sextas-feiras, sábados, domingos e feriados.

Baixa renda
Segundo a Aneel, enquanto durar o estado de emergência da pandemia, continua proibido o corte para alguns grupos de consumidores. Conforme o Decreto Legislativo nº 6/2020, esse prazo atualmente vai até o final de 2020. Neste grupo estão consumidores de baixa renda; unidades onde more pessoa que dependa de equipamentos elétricos essenciais à preservação da vida; unidades que deixaram de receber a fatura impressa sem autorização do consumidor, além daquelas cobradas em locais sem postos de arrecadação em funcionamento como bancos e lotéricas, por exemplo, ou nos quais a circulação de pessoas seja restringida por ato do poder público.

O ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, admitiu o recebimento de caixa dois da JBS nas campanhas de 2012 e 2014, em acordo de não-persecução penal firmado com a Procuradoria-Geral da República (PGR). O ministro deverá pagar R$ 189 mil como prestação pecuniária para que seja encerrada a investigação sobre o assunto.

De acordo com informações do jornal O Globo, o valor corresponde a nove vezes o atual salário líquido do ministro de Jair Bolsonaro, que é R$ 21 mil. Segundo declarou nas eleições de 2018, Onyx tem patrimônio de cerca de R$ 1 milhão, mas sua defesa alegou que o ministro deverá contrair empréstimo bancário para pagar a dívida.

O acordo é o primeiro assinado pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, perante o Supremo Tribunal Federal (STF). O instrumento foi regulamentado na Lei Anticrime, aprovada no final de 2019, que estabelece a possibilidade de acordo de não-persecução para o caso de crimes sem violência e cuja pena mínima seja inferior a quatro anos.

No caso do crime de caixa dois, a legislação o configura como falsidade ideológica eleitoral e prevê pena de até cinco anos se o documento for público e de reclusão de até três anos, se particular. Para que o pagamento seja efetivado, é preciso que o acordo seja homologado pelo relator do caso, ministro Marco Aurélio Mello.

O caixa dois pago a Onyx Lorenzoni foi revelado na delação premiada dos executivos do grupo J&F, dono da JBS. A PGR solicitou que a investigação preliminar no STF fosse enviado à Justiça Eleitoral do Rio Grande do Sul, mas a defesa parlamentar recorreu para que o caso permanecesse na Suprema Corte.

O pré-candidato a prefeito de Salvador pelo Avante, deputado federal Pastor Sargento Isidório, disse nesta segunda-feira (3) ser natural que o governador Rui Costa (PT) tenha na Major Denice Santiago a sua principal aposta na disputa pela sucessão de ACM Neto (DEM), apesar de contar com outros nomes em sua base aliada.

“Isso é normal, porque todo o cidadão tem um partido político. O partido do governador é o PT. Então o PT tem a candidata, como o PCdoB tem Olívia candidata. Como o Podemos tem João Bacelar. Como o PSB tem Lídice da Mata. Como o PSD, de Otto Alencar, tem Eleusa Coronel. E o Avante tem Pastor Sargento Isidório. Isso é natural”, afirmou Isidório ao bahia.ba.

“Agora todos nós somos da base do governo. Tudo o que tem aí, metrô, encostas. Tudo o que tem mobilidade urbana, hospitais construídos, tudo isso, é força de um conjunto que elegeu o governador Wagner, elegeu o governador Rui e continua unido. Todo mundo sabe que não tem coligação partidária. Todo partido insiste pra lança candidato porque precisa eleger vereador. Então a gente não pode exigir do governador que ele pegue e sacrifique o partido do qual ele faz parte ainda”, acrescentou o parlamentar.

As declarações de Isidório foram dadas durante evento no qual o governador entregou 70 novas moradias a famílias de baixa renda no residencial Recanto Feliz, no bairro do Costa Azul.

Acabou o amor? A cantora Ivete Sangalo vem sendo alvo de especulações nas redes sociais desde o último vídeo postado pela artista no Instagram, no qual ela aparece sem aliança.

A ausência do bambolê no dedo da baiana foi o suficiente para os fãs cogitarem uma crise no casamento com Daniel Cady, que segundo o colunista Leo Dias, do site Metrópoles, é verdade.

O nutricionista também não está fazendo o uso da aliança e o jornalista afirma que além da situação com a joia, o casal estava passando a quarentena em casas separadas.

Cady estaria hospedado na casa do casal em Praia do Forte, enquanto Ivete estaria na casa da irmã, Cynthia Sangalo.

A assessoria da baiana se negou a responder os assuntos ligados a vida pessoal da artista.

Ivete e Daniel estão juntos desde 2008 e são pais de Marcelo, de 10 anos, e das gêmeas Marina e Helena, de 2.

Todos os dias, quatro vidas se perdem, como num ciclo, repetido 135 vezes. Uns dias mais, outros menos; em alguns poucos, a paz de nenhuma morte violenta registrada em Salvador e Região Metropolitana. O que chama a atenção nesses casos não são os números, mas o contexto: 606 pessoas tiveram mortes violentas durante a quarentena, quando a principal recomendação para evitar o contágio pelo coronavírus é o isolamento social.

Mas, mesmo com a rotina alterada, mais de 60% das mil mortes registradas este ano em Salvador e RMS aconteceram quando as pessoas tentaram ficar resguardadas em casa. No último dia 30, a milésima vítima do ano se foi. Um homem de identidade ignorada foi morto às 22h42, no bairro da Saramandaia.

Em alguns locais, o isolamento não provocou qualquer mudança em relação à segurança pública: nas periferias, o risco de morrer em decorrência da violência não diminuiu com o isolamento social – até aumentou e se somou a mais uma preocupação: a de morrer de covid-19. Em Salvador, o risco ficou ainda maior nos bairros de Sussuarana e Lobato. Eles somam 53 casos entre as primeiras mil mortes do ano em Salvador e RMS.

A pedagoga Michele Santos, 26 anos, que mora no Lobato há 25, confirma que a pandemia não diminuiu o medo por lá. “Ultimamente, temos tido mais medo por causa da frequência dos tiroteios. Tem acontecido conflitos entre rivais com frequência, até mesmo durante o dia”, conta.

Para o cientista social Luiz Cláudio Lourenço, um dos coordenadores do Laboratório de Estudos em Segurança Pública, Cidadania e Sociedade (Lassos/Ufba), algumas hipóteses podem ajudar a compreender o aumento da violência durante a quarentena, entre elas a disputa por controle do tráfico de drogas, o aumento da demanda por entorpecentes e, mesmo onde o isolamento não tem sido tão efetivo, as ruas mais vazias.

“As periferias tiveram uma baixa adesão ao isolamento. Por outro lado, há também um período de exceção, menos vigiado, em alguns horários com menos gente na rua. E, quando diminui o número de pessoas, também propicia a prática de atos ilícitos”, sugere.

Em bairros periféricos, o isolamento tem sido mesmo menor. Segundo a Ouvidoria Geral do Município, foram 2.527 denúncias de aglomeração em Sussuarana e outras 2.425 do Lobato, de um total de 133.145 demandas até 28 de julho. Mas essa baixa adesão, explica a cientista social Luciene Santana, não necessariamente é intencional.

Luciene é pesquisadora da Rede de Observatórios de Segurança na Bahia e da Iniciativa Negra por uma Nova Política Sobre Drogas e aponta que nesses locais, muita gente simplesmente não pode se isolar - precisa trabalhar fora, por exemplo. Ou seja, para elas, o cenário geral não mudou com a quarentena.

Em alta
Os números da violência em Salvador e RMS são maiores este ano do que em 2019, mas o mês de abril chama mais a atenção. A marca de 197 vítimas de crimes violentos letais intencionais (homicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte) em 30 dias, registrada nos boletins diários de ocorrências da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP), é 27,9% maior do que as 154 registradas em abril de 2019. Além disso, abril de 2020 tem o maior volume de mortes em um único mês desde janeiro de 2017.

No dia 21 de abril, uma terça-feira, feriado de Tiradentes em que o isolamento social na Bahia alcançou a marca de 52,4% e o fluxo de veículos estava 66% menor em Salvador, foram nove vítimas, três delas de uma só vez, no bairro de Sussuarana. Fernando, Davi e Laércio estavam algemados dentro de um carro na Avenida Gal Costa.

Foram mortos a tiros e o barulho chamou a atenção até de quem estava isolado em casa. Se o triplo homicídio ajuda a mostrar a situação de abril, vale dizer que nos quatro meses da quarentena iniciada em 17 de março, a alta se manteve: entre 17 de março e 30 de julho de 2019 foram 557 mortes violentas. Este ano, foram 606 nos mesmos 135 dias – 49 a mais.

O dia da milésima vida perdida também indica um aumento no número de CVLIs: este ano, em 30 de julho - 35 dias antes da data em que a marca foi alcançada em 2019, 3 de setembro.

Em nota, a SSP reconheceu que, após três anos de quedas de mortes violentas na Bahia, houve alta em março e abril - e atribuiu à soltura de presos ligados ao tráfico (leia ao lado).

Para a cientista social Luciene Santana, o aumento da violência durante a pandemia foi observado também em outros estados. Ela explica que, no início da quarentena, houve uma redução de casos, o que ela atribui a um certo tempo para que as forças de segurança se reorganizassem. Depois, os casos subiram.

“Se é um momento de pandemia, a gente imagina que as pessoas vão estar em suas casas e que esses crimes teriam uma redução - e a gente também imagina uma redução de incursões policiais. Mas, para a gente, ficou muito evidente que houve grandes operações”, destaca Luciene.

Operações policiais
Ela cita como exemplo o próprio bairro de Sussuarana. Somente durante a quarentena, foram 21 CVLIs lá - 37 desde o início do ano e 11 somente em abril. Naquele mês, após cinco mortes em uma semana, uma operação com 120 policiais militares ocupou o bairro.

“Como isso interferiu no bairro? As mortes continuaram acontecendo, tanto em decorrência de crimes, de tráfico de drogas, como até da pandemia”, aponta Luciene.

Entre maio e julho foram mais seis mortes, uma madrugada de terror e mais uma ocupação a partir do dia 1º de julho. No local, a Polícia Militar decidiu instalar uma base móvel, depois que um tiroteio entre traficantes do Bonde do Maluco (BDM) e da Tropa do A causou medo e deixou marcas.

“Lá na rua onde eu moro aconteceu aquele tiroteio e foi guerra interna entre as facções. A polícia teve que se fazer presente, mas não tem para onde correr.”, contou um morador, sob anonimato.

Segundo a SSP, diante do cenário, a pasta “ampliou as ações de inteligência e repressão, alcançando quedas seguidas no meses de maio e junho (menor número de 2020)”.

Dinâmica das facções
Para a cientista social Silvia Ramos, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), da Universidade Candido Mendes (Ucam), no Rio de Janeiro, a disputa por território do tráfico em Sussuarana é um exemplo do que vem e desenrolando em outros locais do Brasil durante a pandemia e contribuindo para um maior número de mortes violentas: dinâmicas internas de facções associadas a uma política de segurança pública que mais estimula que coíbe confrontos.

“Parece que, durante a pandemia, alguns grupos faccionados tomaram a decisão de disputar territórios, de se preparar, digamos assim, para um momento em que as atividades vão voltar ao ‘normal’. Isso combinado com políticas de segurança que são exclusivamente voltadas para a repressão armada, e não para a prevenção, acho que está contribuindo para essa situação difícil de explicar”, avalia Silvia Ramos.

A disputa por territórios do tráfico também chamou a atenção, durante a pandemia, em outros bairros de Salvador, como Saramandaia e Engenho Velho da Federação.

Luiz Cláudio Lourenço, do Lassos/Ufba, também vê um aumento na disputa entre facções e diz que uma das hipóteses pode ser o aumento na demanda por drogas. “Aqui em Salvador, esse movimento de disputa aumentou e uma das possibilidades, hipoteticamente falando, é que a demanda por drogas nesse período não diminuiu. Pelo contrário, ela tende a aumentar, os usuários tendem a ter uma fuga da realidade maior”, afirma.

Jornalista, doutor em Ciência Política e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP), Bruno Paes Manso diz que ainda é cedo para apontar respostas para esse quadro, mas cita dois fatores importantes: primeiro, o ciclo de vingança, em que a morte de uma liderança no tráfico acaba gerando reações de vingança em cadeia. Depois, a polícia como um terceiro elemento que ajuda a “jogar gasolina na fogueira”.

Mesmo que os números apresentados no boletim de ocorrências da SSP não incluam as mortes em decorrência de atividade policial, Paes Manso aponta que a polícia ajuda, sim, a aumentar a letalidade na medida em que usa uma política de incentivo à violência.

“Ninguém vai conseguir acabar com o mercado de drogas, mas se você consegue acabar com a violência, é uma redução de danos, é uma política pública bem sucedida”, aponta o pesquisador.

“Mas, a polícia vai lá e mata de um lado, desestabiliza o líder, aí vai o grupo rival e aproveita para invadir. A polícia acaba contribuindo, muitas vezes involuntariamente ou voluntariamente, porque faz parte da política do governo dividir para controlar”, completa Paes Manso.

Para Silvia Ramos, a falta de solução para os crimes também ajuda a aumentar a letalidade. “Se a pessoa mata um aqui e sabe que não vai acontecer nada, ela vai lá e mata de novo”, aponta.

Itinga reduz em 40% as mortes violentas
Se, em Salvador, Sussuarana viu a curva de crimes violentos letais intencionais subir de 2019 para 2020, o bairro de Itinga, em Lauro de Freias, viveu um movimento contrário. No ano passado, quando o CORREIO publicou um levantamento com os CVLIs lançados nos boletins diários da Secretaria de Segurança Pública desde janeiro de 2011, Itinga era o bairro com o maior número de mortes, num ranking que incluía todos os bairros de Salvador e da Região Metropolitana.

Este ano, o bairro da cidade vizinha registrou queda acentuada. Enquanto em 2019 foram contabilizadas 25 vítimas entre 1º de janeiro e 30 de julho, este ano o número caiu para 15 no mesmo período, uma redução de 40%. Já em Sussuarana, o aumento este ano em relação ao ano passado foi de 70,2%, saltando de 11 casos até o final de julho para 37 no mesmo período. No Lobato, o número de vítimas de janeiro até o final de julho caiu este ano em relação ao ano passado: tinham sido 25, agora são 15. Mesmo assim, o bairro segue na segunda posição com o maior número de registros.

Em nota, a Polícia Militar informou que a criminalidade atua de forma mutável e de acordo com várias circunstâncias.

“Onde há mais casos de crimes, há replanejamento de atuação com o envolvimento das companhias ou batalhões de área e apoio de especializadas e outras unidades. São realizadas operações constantes, ocupações, acompanhamento e estudo com ações específicas”, diz a nota.

A PM acrescentou que há peculiaridades para cada localidade. “Em alguns casos, há resultados mais rápidos, porém em algumas regiões há necessidade de um trabalho mais intenso, o que está sendo realizado”, diz a nota.

SSP atribui aumento de mortes violentas a soltura de detentos
Para a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP), a soltura de presos ligados ao tráfico de drogas durante a pandemia explica a alta no número de mortes violentas este ano, sobretudo nos meses de março e abril.

“Nesse mesmo período, pouco mais de três mil detentos envolvidos com tráfico de drogas foram colocados em prisão domiciliar, acirrando as disputas por pontos de venda de entorpecentes”, disse a SSP, em nota.

Desde o início da pandemia, de acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap), 1.841 detentos foram liberados de presídios baianos para prisão domiciliar e outros 2.502 receberam alvará de soltura e livramento condicional por conta da pandemia de coronavírus.

Para Luiz Cláudio Lourenço, um dos coordenadores do Laboratório de estudos em Segurança Pública, Cidadania e Sociedade (Lassos/Ufba), pra fazer uma relação direta entre o aumento do número de mortes violentas e a soltura de presos é preciso observar, também, se esses detentos foram vítimas de crimes violentos letais intencionais.

“Teria que ver se essas pessoas não foram vítimas e não apenas autores de homicídios, porque, muitas vezes, essas pessoas saem com dívidas de drogas e não conseguem arcar com isso. Manter elas presas é uma possibilidade de manter elas vivas, por incrível que pareça”, pondera.

 

Fonte: Jornal Correio*

Pouco mais de um mês e meio depois de receber alta do hospital, em 15 de junho, a farmacêutica Mariana Brizeno, 42, ainda convive com os resquícios da Covid-19. Depois de 28 dias internada — 14 deles na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e, destes, 11 sob intubação —, a dormência na lateral das pernas e no dorso do pé ainda está presente. Uma inflamação também ainda causa dores no ombro e limita o movimento do braço.

Depois de sair da UTI e ir para a enfermaria, Mariana passou por episódios de delírio persecutório por conta de medicações utilizadas. "Me assustou muito, me causou muito sofrimento, porque para mim era tudo real. Eu não dormia porque achava que, porque estavam querendo me matar, se eu dormisse, não acordaria mais. Então, não conseguia dormir, tinha muito medo do escuro", relata.

Outra sensação marcante para ela, após a volta para casa, foi um cansaço extremo. Caminhar do quarto ao banheiro e, em seguida, voltar ao quarto já era o suficiente para se sentir "exausta". Essa fadiga incompatível com a atividade realizada, em pacientes que tiveram Covid-19, tem chamado atenção de profissionais do Centro de Reabilitação do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

"Alguns chegam realmente bastante debilitados, com necessidade de uma terapia inicial para reaprender a ficar de pé e conseguir dar os primeiros passos. Mas a grande maioria, aqui, está saindo em outra fase, em que a fadiga é o principal (problema)", afirma Luciana Janot, cardiologista da instituição. O Centro de Reabilitação recebe pacientes que ficaram em estado grave, mas a médica explica que esse cansaço está presente inclusive naqueles casos mais leves da doença.

Ele é um dos sinais de uma síndrome que pode acometer os pacientes que necessitam da UTI de forma geral, não só pela Covid-19. A Síndrome Pós-Terapia Intensiva (SPTI), ou Síndrome do Doente Crítico, envolve sintomas cognitivos, psiquiátricos e clínicos e acontece por conta de intervenções como sedação, intubação e aplicação de medicamentos.

"Elas são necessárias, mas não são inócuas, não são isentas de algumas consequências", afirma o médico intensivista Paulo César de Souza, diretor de ensino e pesquisa da UnitedHealth Group (UHG) Brasil. Muitas das alterações surgem ainda durante a internação, e Luciana Janot acrescenta que o comprometimento no pós-alta também está relacionado à reabilitação intra-hospitalar.

Dores neuropáticas, por disfunção do sistema nervoso, também são comuns em pacientes acometidos pelo novo coronavírus. Elas dizem respeito, por exemplo, a uma sensação de dormência e uma fraqueza muscular nos membros — podendo gerar dificuldade para sentar ou caminhar. "Isso pode ser revertido, mas é importante entender que alguns pacientes vão necessitar de reabilitação ampla e prolongada", aponta o hematologista Paulo Roberto Souza, médico do Sistema Único de Saúde (SUS) e integrante do Coletivo Rebento, Médicos em Defesa da Ética, da Ciência e do SUS.

O médico aponta que pode haver sequelas em vários sistemas. O funcionamento dos rins, por exemplo, pode ser comprometido e, assim, ser necessária a realização de hemodiálise por um período. "O pulmão pode sofrer sequelas pelo tempo que o paciente passou intubado e/ou sedado. Pode haver também pioras funcionais em pacientes que já lidavam cronicamente com outras patologias antes de adoecerem de Covid-19", acrescenta.

Esses cuidados necessários com o paciente após a alta preocupam Paulo César de Souza em relação à capacidade do sistema de saúde de lidar com eles. "Meu foco é organizar um sistema capaz de dar conta delas (as alterações de saúde) após a alta e evitar que um paciente fique mais tempo no hospital de agudos porque o sistema fora do hospital não está organizado."

Cinco meses depois do primeiro caso confirmado de Covid-19 no Brasil, alguns aprendizados já tiveram impacto positivo também no estado de saúde posterior dos pacientes que sobrevivem aos casos mais graves da doença. Entre eles estão a mudança na orientação sobre quando buscar o serviço de saúde; os novos conhecimentos sobre a necessidade de intubação; e a realização precoce de fisioterapia.

"O tratamento convencional das insuficiências respiratórias era intubação rápida e ventilação mecânica, e essa doença tinha uma característica diferente que demorou um tempo para ser descrita. Então, criou-se tratamentos como cateter nasal de alto fluxo e botar o doente de barriga para baixo, o que chamamos de prona ativa", exemplifica Souza. "A chance de reabilitação, hoje, de um paciente grave de Covid-19 é muito maior do que era por causa dessas pequenas coisas."

ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR

Entre as áreas que podem atuar na reabilitação do paciente após a Covid-19 — sempre com atenção ao olhar individualizado para a realidade de cada um — podem estar:

Fisioterapia: de forma geral, o pilar da reabilitação é a fisioterapia motora e, se necessário, a respiratória;

Terapia ocupacional: os pacientes podem ter comprometimento da coordenação motora fina, necessitando de atividades para mãos e pés, para dessensibilizar as dores neuropáticas

Psicologia: distúrbios psicológicos são comuns em casos de Síndrome Pós-Terapia Intensiva (SPTI), como ansiedade, depressão e desordem do estresse pós-traumático;

Fonoaudiologia: alguns pacientes podem não conseguir alimentar-se por via oral, precisando de avaliação de um fonoaudiólogo.

ENTRE AS MAIORES SEQUELAS DA SPTI ESTÃO:

- Distúrbios cognitivos

Memória, atenção, visão espacial, alterações psico-motoras e impulsividade;

- Distúrbios psiquiátricos

Ansiedade, depressão, desordem de estresse pós-traumático

- Distúrbios clínicos

Dispnéia, alterações da função pulmonar, dor, disfunção sexual, redução da tolerância ao exercício, neuropatias, fraqueza muscular, paresias e fadiga importante.

 

Fontes: Luciana Janot, médica cardiologista do Centro de Reabilitação do Hospital Israelita Albert Einstein; Paulo César de Souza, médico intensivista e diretor de ensino e pesquisa da UnitedHealth Group (UHG) Brasil; e Yara Pessoa, fisioterapeuta intensivista adulto

Matéria originalmente publicada em O Povo

Pouco mais de um mês e meio depois de receber alta do hospital, em 15 de junho, a farmacêutica Mariana Brizeno, 42, ainda convive com os resquícios da Covid-19. Depois de 28 dias internada — 14 deles na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e, destes, 11 sob intubação —, a dormência na lateral das pernas e no dorso do pé ainda está presente. Uma inflamação também ainda causa dores no ombro e limita o movimento do braço.

Depois de sair da UTI e ir para a enfermaria, Mariana passou por episódios de delírio persecutório por conta de medicações utilizadas. "Me assustou muito, me causou muito sofrimento, porque para mim era tudo real. Eu não dormia porque achava que, porque estavam querendo me matar, se eu dormisse, não acordaria mais. Então, não conseguia dormir, tinha muito medo do escuro", relata.

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Outra sensação marcante para ela, após a volta para casa, foi um cansaço extremo. Caminhar do quarto ao banheiro e, em seguida, voltar ao quarto já era o suficiente para se sentir "exausta". Essa fadiga incompatível com a atividade realizada, em pacientes que tiveram Covid-19, tem chamado atenção de profissionais do Centro de Reabilitação do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

"Alguns chegam realmente bastante debilitados, com necessidade de uma terapia inicial para reaprender a ficar de pé e conseguir dar os primeiros passos. Mas a grande maioria, aqui, está saindo em outra fase, em que a fadiga é o principal (problema)", afirma Luciana Janot, cardiologista da instituição. O Centro de Reabilitação recebe pacientes que ficaram em estado grave, mas a médica explica que esse cansaço está presente inclusive naqueles casos mais leves da doença.

Ele é um dos sinais de uma síndrome que pode acometer os pacientes que necessitam da UTI de forma geral, não só pela Covid-19. A Síndrome Pós-Terapia Intensiva (SPTI), ou Síndrome do Doente Crítico, envolve sintomas cognitivos, psiquiátricos e clínicos e acontece por conta de intervenções como sedação, intubação e aplicação de medicamentos.

"Elas são necessárias, mas não são inócuas, não são isentas de algumas consequências", afirma o médico intensivista Paulo César de Souza, diretor de ensino e pesquisa da UnitedHealth Group (UHG) Brasil. Muitas das alterações surgem ainda durante a internação, e Luciana Janot acrescenta que o comprometimento no pós-alta também está relacionado à reabilitação intra-hospitalar.

Dores neuropáticas, por disfunção do sistema nervoso, também são comuns em pacientes acometidos pelo novo coronavírus. Elas dizem respeito, por exemplo, a uma sensação de dormência e uma fraqueza muscular nos membros — podendo gerar dificuldade para sentar ou caminhar. "Isso pode ser revertido, mas é importante entender que alguns pacientes vão necessitar de reabilitação ampla e prolongada", aponta o hematologista Paulo Roberto Souza, médico do Sistema Único de Saúde (SUS) e integrante do Coletivo Rebento, Médicos em Defesa da Ética, da Ciência e do SUS.

O médico aponta que pode haver sequelas em vários sistemas. O funcionamento dos rins, por exemplo, pode ser comprometido e, assim, ser necessária a realização de hemodiálise por um período. "O pulmão pode sofrer sequelas pelo tempo que o paciente passou intubado e/ou sedado. Pode haver também pioras funcionais em pacientes que já lidavam cronicamente com outras patologias antes de adoecerem de Covid-19", acrescenta.

Esses cuidados necessários com o paciente após a alta preocupam Paulo César de Souza em relação à capacidade do sistema de saúde de lidar com eles. "Meu foco é organizar um sistema capaz de dar conta delas (as alterações de saúde) após a alta e evitar que um paciente fique mais tempo no hospital de agudos porque o sistema fora do hospital não está organizado."

Cinco meses depois do primeiro caso confirmado de Covid-19 no Brasil, alguns aprendizados já tiveram impacto positivo também no estado de saúde posterior dos pacientes que sobrevivem aos casos mais graves da doença. Entre eles estão a mudança na orientação sobre quando buscar o serviço de saúde; os novos conhecimentos sobre a necessidade de intubação; e a realização precoce de fisioterapia.

"O tratamento convencional das insuficiências respiratórias era intubação rápida e ventilação mecânica, e essa doença tinha uma característica diferente que demorou um tempo para ser descrita. Então, criou-se tratamentos como cateter nasal de alto fluxo e botar o doente de barriga para baixo, o que chamamos de prona ativa", exemplifica Souza. "A chance de reabilitação, hoje, de um paciente grave de Covid-19 é muito maior do que era por causa dessas pequenas coisas."

ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR
Entre as áreas que podem atuar na reabilitação do paciente após a Covid-19 — sempre com atenção ao olhar individualizado para a realidade de cada um — podem estar:

Fisioterapia: de forma geral, o pilar da reabilitação é a fisioterapia motora e, se necessário, a respiratória;

Terapia ocupacional: os pacientes podem ter comprometimento da coordenação motora fina, necessitando de atividades para mãos e pés, para dessensibilizar as dores neuropáticas;

Psicologia: distúrbios psicológicos são comuns em casos de Síndrome Pós-Terapia Intensiva (SPTI), como ansiedade, depressão e desordem do estresse pós-traumático;

Fonoaudiologia: alguns pacientes podem não conseguir alimentar-se por via oral, precisando de avaliação de um fonoaudiólogo.

ENTRE AS MAIORES SEQUELAS DA SPTI ESTÃO:

- Distúrbios cognitivos
Memória, atenção, visão espacial, alterações psico-motoras e impulsividade;

- Distúrbios psiquiátricos
Ansiedade, depressão, desordem de estresse pós-traumático

- Distúrbios clínicos
Dispnéia, alterações da função pulmonar, dor, disfunção sexual, redução da tolerância ao exercício, neuropatias, fraqueza muscular, paresias e fadiga importante.

Fontes: Luciana Janot, médica cardiologista do Centro de Reabilitação do Hospital Israelita Albert Einstein; Paulo César de Souza, médico intensivista e diretor de ensino e pesquisa da UnitedHealth Group (UHG) Brasil; e Yara Pessoa, fisioterapeuta intensivista adulto

Matéria originalmente publicada em O Povo

Um relatório divulgado pela organização não governamental (ONG) Traffic mostrou que o Brasil ainda precisa melhorar no combate ao tráfico de animais silvestres. De acordo com o documento Wildlife Trafficking in Brazil (Tráfico de Vida Selvagem no Brasil, em tradução livre), o país precisa desenvolver uma estratégia de combate a esse crime.

O relatório, de autoria de Juliana Machado e Sandra Charity, também fez críticas sobre a coleta e o compartilhamento de dados a respeito do tráfico de animais silvestres. Ainda segundo o estudo, essa modalidade de crime tem influência em vários setores, desde ambientais até econômicos.

“Especialistas em vida selvagem são unânimes em afirmar que a captura descontrolada de animais e plantas para o tráfico tem sérias consequências na biodiversidade do Brasil, na economia nacional, no Estado de Direito e na boa governança. No entanto, os dados existentes raramente são consolidados e, portanto, incapazes de confirmar ou contestar essa percepção”, relata o documento.

Entre as principais recomendações das autoras às autoridades brasileiras estão o desenvolvimento de uma estratégia de combate ao tráfico de animais silvestres e a melhora na qualidade de coleta de dados, gestão e compartilhamento dessas informações entre as instituições. Para elas, a má gestão de dados compromete os esforços existentes das já sobrecarregadas forças policiais, além de subestimar o impacto do tráfico de animais.

“Um círculo vicioso esconde o tráfico ilegal de animais silvestres no Brasil – a falta de dados faz com que as ações de fiscalização e combate sejam relegadas, resultando em menos dados a serem coletados. Em última análise, é um ciclo vicioso que tem impactos graves e duradouros nos esforços locais de conservação, na economia e para o Estado de Direito”, disse Juliana Machado.

O Brasil abriga 60% do bioma Amazônia e tem grande parte da riqueza da biodiversidade do planeta, com mais de 13% da vida animal e vegetal do mundo. Os animais mais retirados ilegalmente de seu habitat são as tartarugas fluviais, peixes (ornamentais e frutos do mar) e aves.

Existe ainda um forte mercado interessado nas onças-pintadas e suas partes, como patas, crânio, presas e pele. É frequente também o comércio ilegal de carne de animais como capivara, paca, anta, veado e porco-queixada. A carne selvagem ilegal também é vendida nacionalmente e por meio das fronteiras locais, especialmente na tríplice fronteira do Brasil, Peru e Colômbia.