Sequestro do Pix: após facilidade bancária, bandidos miram em comerciantes e empresários

Sequestro do Pix: após facilidade bancária, bandidos miram em comerciantes e empresários

Durante um assalto no bairro de Piatã, homens armados exigiram que um casal de amigos fizesse transferências bancárias através do Pix, mas o empresário Marcos Augusto, de 28 anos, recusou e o corpo dele foi encontrado com marcas de tiro na Fazenda Cassange no último dia 25. Da mesma forma que a facilidade de movimentar dinheiro caiu no gosto da população, a transação também atraiu criminosos. E a polícia baiana dispara um alerta: bandidos estão migrando do sequestro-relâmpago para a extorsão mediante sequestro, via Pix.

De acordo com dados da Coordenação de Repressão a Extorsão Mediante Sequestro, unidade do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), no primeiro trimestre do ano passado foram 12 casos contra 14 neste ano da nova modalidade em Salvador - um aumento de 17%. Já na região metropolitana, a proporção é maior. Foram 5 casos em 2022 contra 7 neste ano, elevação de 40%. Na capital, teve registros em Pau da Lima, Cabula, Cajazeiras, Sete de Abril, Cidade Baixa, Mussurunga, Imbuí, Patamares e em bairros do Subúrbio Ferroviário.

“Os criminosos vão para fazer o sequestro-relâmpago, mas, durante a ação, eles se deparam com uma das medidas de segurança das agências bancárias: hoje, há um limite de saques a partir das 20h. É aí que entra a extorsão mediante sequestros. Diante da situação de não poder realizar grandes saques, os bandidos ligam para as famílias e amigos das vítimas, que estão mantidas reféns, atrás de transferências de valores através do Pix”, declarou o delegado Adailton Adan, coordenador de Repressão a Extorsão Mediante Sequestro. A maioria das vítimas é formada por comerciantes ou empresários.

No último dia 25, Marcos Augusto conversava com Maria Rodrigues, 26, dentro de um carro, em Piatã, quando foram surpreendidos pelos criminosos. O vereador Joceval Rodrigues (Cidadania), pai de Maria, disse que um dos bandidos se aproximou e mandou abrir a porta do carro. Dentro do veículo, exigiu que as vítimas desbloqueassem o celular e fizessem as transferências em Pix, mas o empresário lutou com um dos bandidos. Maria foi libertada com vida. Já o empresário, que foi sequestrado, acabou morto e teve o corpo localizado horas depois na Estrada das Pedreiras, no bairro de Fazenda Cassange.

O Pix surgiu como uma forma inovadora de pagamentos e transferências bancárias instantâneas e sem custo. A tecnologia foi lançada em 2020 e se popularizou no ano seguinte, em plena pandemia.

“Há subnotificação, como no caso dos ciganos. Eles resistem em vir à delegacia, porque temem represálias dos bandidos”, explicou o delegado Adailton Adan. Em janeiro deste ano, o CORREIO publicou reportagem sobre como o povo cigano estava na mira de sequestradores. Foram pelos menos seis casos denunciados pelo Instituto Cigano do Brasil (ICB) em 2022. Ainda na reportagem, o presidente do ICB, Rogério Ribeiro, disse que, em 2021, foram mais de 20 ocorrências, algumas envolvendo policiais e ex-policiais.

Policiais
O coordenador de Repressão a Extorsão Mediante Sequestro do Draco não descarta a participação de servidores públicos nos casos de extorsão mediante sequestro. “Não descartamos o envolvimento de integrantes das forças de segurança (policiais, ex-policiais, policiais penais), além de agentes socioeducadores. O servidor público que acha que vai contar com a proteção da polícia, está enganado. Tivemos casos que conseguimos provar e prender”, garantiu o Adailton Adan.

A participação de servidores públicos está relacionada ao perfil da vítima, na maioria dos casos. Algumas dessas pessoas sequestradas têm envolvimento com a criminalidade, pelo volume da movimentação de dinheiro com o tráfico de drogas. Mas as facções também estão praticando a extorsão mediante sequestro. Na semana passada, a polícia encontrou o corpo de Davi dos Santos depois que homens arrombaram um apartamento no Residencial Paraguari I, condomínio ao lado do Hospital do Subúrbio, em Periperi. Davi, que já tinha sido preso por tráfico, roubo e diversos estupros, foi morto mesmo após a família pagar pelo resgate.

“Ele estava numa casa abandonada em Simões Filho, com marcas de tiro, agressões e o órgão sexual mutilado. Esses grupos têm conduta entre eles e não perdoam quem comete crimes sexuais”, explicou o delegado.

Ainda de acordo com ele, 94% dos inquéritos foram elucidados e, com isso, constatado que as ações eram realizadas, em sua maioria, por três a quatro pessoas. No entanto, o especialista em Direito Bancário, do Consumidor e Empresarial, o advogado Mateus Nogueira, ponderou sobre o trabalho da polícia. "Deve ser focado na inteligência para combater essas quadrilhas. Localizar e prender não só quem está fazendo o sequestro, mas também as pessoas que recebem o dinheiro na conta, que são os ‘laranjas’, que têm uma comissão para emprestar a conta”, declarou.

O especialista comentou como as quadrilhas percebem a facilidade de arrancar dinheiro das vítimas. “Aqui na Bahia a gente vem percebendo o crescimento dessa modalidade, principalmente pela falta de cuidado que as pessoas têm em relação ao Pix. No Carnaval, por exemplo, a gente via muitas coisas sendo vendidas com o Pix e as pessoas não tinham nenhum cuidado para abrir o aplicativo do banco, para comprar cerveja ou churrasquinho, sem se preocupar com quem estava a sua volta”, disse Nogueira.

Pelo país
A nova modalidade não é tão nova assim, pelo menos na maior cidade do país. Desde o segundo semestre do ano passado, a Justiça de São Paulo começou a aplicar as primeiras condenações de membros das "Quadrilhas do Pix", como são chamados lá, os grupos de criminosos que praticam sequestros e roubos de telefone celular para exigir senhas bancárias e transferir o máximo de dinheiro das contas correntes das vítimas. As penas impostas aos réus variaram de dez anos a 46 anos de prisão em regime fechado.

Os ataques às vítimas são tipificados pela Polícia Civil como roubo, extorsão e também como associação criminosa, quando mais de três criminosos agem juntos. A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou essa modalidade de crime cresceu 39,1% de janeiro a julho de 2021, em comparação com igual período do ano anterior.

Dicas
Em caso de sequestro, é importante seguir as instruções dos sequestradores e cooperar, a fim de assegurar a segurança da vítima. A polícia deve ser notificada imediatamente e é importante evitar compartilhar informações com terceiros, a menos que autorizado pela polícia.

Algumas medidas preventivas para evitar o "Sequestro do Pix", segundo o Draco

1. Evitar permanecer nas áreas onde os sequestros-relâmpagos são comuns.

2. Se estiver em uma área de risco, fique atento às notícias locais e siga as recomendações das autoridades.

3. Evite sair sozinho à noite e se possível, fique em grupo.

4. Evite transporte público, especialmente à noite ou em áreas muito isoladas.

5. Evitar exibir sinais de riqueza, como carros caros, aparelhos de celular de última geração ou joias nas redes sociais.

6. Evitar discutir sua vida pessoal ou profissional com estranhos.

7. É importante lembrar que os sequestros-relâmpagos são eventos imprevisíveis e que mesmo tomando todas as precauções, ainda há um risco de ocorrência.

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    Renata e André Luís Sena de Oliveira eram casados há vinte anos e estavam em processo de separação, já vivendo em casas diferentes. Eles deixam um filho de 15 anos.

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    O relatório Elas Vivem, organizado pela Rede de Observatórios da Segurança em 2022, registrou que a Bahia é o estado do Nordeste com maior índice de violência contra a mulher. Larissa Neves, pesquisadora e organizadora do projeto, afirma que 75% dos feminicídios são cometidos pelos companheiros das vítimas.

    “É muito importante que as mulheres conversem sobre o que sentem. Que elas tenham ali pessoas de confiança para sinalizar o que ela está passando. Elas precisam externalizar, porque muitas vezes a gente naturaliza esses ciclos da violência, justamente porque a gente não sabe que isso é violência. A gente acredita que isso faz parte da relação e acaba não falando, porque nós temos vergonha de dizer e sinalizar que estamos sendo controladas”, diz a pesquisadora.

    Relembre casos de feminicídio registrados este ano
    Jéssica Bartolomeu Souza, 32

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    Maria Alice dos Santos Nascimento, de 43 anos, foi morta a facadas na noite do dia 6 de novembro, em Arraial D'Ajuda, Porto Seguro. De acordo com a delegada Rosângela Santos, titular da Delegacia da Mulher (Deam) de Porto Seguro, o ex-marido é o principal suspeito. Maria Alice foi assassinada após assinar os papéis do divórcio. A vítima morava em Porto Seguro e, segundo a delegada, o ex-marido não aceitava o fim do relacionamento. "Ele desconfiava que ela tinha uma namorada", informou a titular.

    Jessica Judite dos Santos, 17
    No dia 1º de novembro, uma adolescente de 17 anos foi morta a facadas em Juazeiro, norte do estado. O principal suspeito pelo crime é o companheiro da vítima, um homem de 31 anos que também ficou ferido e está custodiado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do município.

    As primeiras informações são de que o crime aconteceu em meio a uma briga do casal. Na discussão, Jessica Judite dos Santos foi esfaqueada e morreu no local. O suspeito, que não teve nome divulgado, também se feriu - não foi informado se ele foi ferido pela vítima ou se ele mesmo se autoinflingiu ferimentos.

    Sara Mariano, 35

    A cantora gospel e pastora Sara Mariano, de 35 anos, dada como desaparecida desde o dia 24 de outubro, foi encontrada morta no dia 27 do mesmo mês, perto de Dias D’Ávila, na Região Metropolitana de Salvador. Os restos mortais estavam carbonizados e em um matagal ao lado da BA 093, e o corpo foi reconhecido pelo marido, Ederlan Mariano. No mesmo dia, ele foi preso pela autoria do crime.

    Segundo informações do delegado Euvaldo Costa, titular da 25ª Delegacia Territorial (DT/Dias D'Ávila), o planejamento da morte da pastora começou um mês antes do crime, no dia 24 de setembro. A motivação do crime seriam problemas conjugais, segundo o delegado. Quatro suspeitos já foram presos; os executores receberam, no total, R$2 mil de Ederlan pelo assassinato.

    Raquel da Silva Almeida, 34
    No dia 24 de setembro, Raquel da Silva Almeida, de 34 anos, foi morta a facadas pelo marido dentro de sua casa, no bairro de Massaranduba, em Salvador. Ela foi encontrada com diversos ferimentos pelo corpo. O filho dela, um menino de 11 anos, também foi ferido com golpes de arma branca.

    Diego Andrade, com quem Raquel tinha um relacionamento há três anos e era casada há um, se entregou à polícia no dia seguinte e foi liberado no mesmo dia. De acordo com a Polícia Civil, Diego foi dispensado por não haver os requisitos legais para a prisão em flagrante. A família diz que não havia sinais de que Raquel sofria violência física e que ela nunca se queixou disso. Mas os parentes contam que havia muita agressão verbal, especialmente contra a criança - o menino de 11 anos era filho de Raquel de outra relação. Parentes chegaram a testemunhar Diego batendo no garoto, de quem não gostava.

    Simone Maria Santos, 51

    Na manhã do dia primeiro de maio, a enfermeira Simone Maria Santos, de 51 anos, foi morta a pedradas em sua casa, no quarto andar do Edifício Porto do Sol, na Rua Arthur D'Almeida Couto, em Salvador, pelo homem com quem estava casada há 30 anos e tinha dois filhos já adultos. Descrita pelos colegas como generosa e discreta, Simone trabalhou como técnica de enfermagem por 17 anos, até ter sua vida interrompida precocemente.

    De acordo com moradores, que preferiram não se identificar, Simone queria o fim do casamento e esse teria sido o fator que motivou o crime, uma vez que o marido não aceitava o término da relação. Antes de ir a óbito, a vítima ligou para um dos filhos pedindo socorro. O jovem ligou para a polícia, mas não chegou a tempo de socorrer a mãe.

    Natalina Silva, 37
    No dia 25 de abril, Natalina Silva, de 37 anos, teve sua casa invadida e foi morta pelo ex-companheiro. O crime aconteceu no bairro da Liberdade, e o homem foi preso em flagrante. Ele não aceitava o fim do relacionamento e, além de atacar a vítima com golpes de faca, ele ainda atingiu o genro dela.

    De acordo com o coordenador da 3ª Delegacia de Homicídios (DH/BTS), delegado Ademar Tanner, o criminoso confessou a autoria do crime e não demonstrou arrependimento. Ele ainda declarou que já ficou preso por oito anos, após matar a mãe do filho dele e o companheiro dela, na cidade de Piraí do Norte, em 2014, e foi solto em 2022.

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